As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quinta-feira, 6 de março de 2014

Parte I - Ucrânia e Rússia: relações de tensão seculares

A atual crise política na Ucrânia e por conseguinte, a intervenção da Rússia com tropas na região da Crimeia pode parecer um fato novo, fruto exclusivo de desdobramentos atuais, mas num exame mais detalhado, pode-se verificar que aquela região é um foco de tensão há pelo menos três séculos, um período longo que podemos dividir em três momentos: as lutas contra o Império Turco quanto nas relações entre os interesses russos e as intervenções ocidentais(séc. XV-XIX); a mudança com a Revolução Russa e o surgimento da URSS (1917-1991) e o período mais recente com o fim da URSS e a reorganização geopolítica da ex-URSS até o presente (1991-2014).

Farei a apresentação dos três momentos em 3 postagens diferentes.

Boa leitura!

Parte I: 
A expansão russa e turca sobre a Ucrânia (séc. XV-XIX)

A região da Ucrânia foi foco de disputa entre dos grandes impérios em franca expansão entre os séculos XV-XVI : no sentido norte-sul, os desdobramentos da expansão russa a partir do Grão-Ducado de Moscou (também conhecido como Moscóvia) que foi conquistando amplas áreas nas planícies férteis dos rios Don, Desna e Seym, aproximando-se cada vez mais do vale do rio Dnieper e da península da Crimeia.

O Grão-Ducado de Moscou era fruto de disputas internas entre famílias de nobres (boiardos) que buscavam manter sua autonomia dentro do território moscovita e ao mesmo tempo, tentavam preservar suas conquistas contra as pressões vindas do oeste, como era o caso dos reinos rivais da Polônia e Lituânia, grandes potências do leste europeu no século XV.

Entre 1598 e 1613, os conflitos acabaram por controlados e assim ascendeu como elemento de centralização, Miguel Romanov, que fora eleito o 1o czar (título que deriva da expressão latina caesar, tendo o sinônimo de imperador) pela Assembleia de Nobres, fundando a dinastia que reinou até a deposição pela Revolução Russa de 1917.

Já no sentido leste-oeste, a constante expansão do Império Turco foi responsável por derrubar o Império Romano do Oriente em 1453, chegando a pressionar as bacias do Mar Cáspio e Mar Negro, bem como o Mediterrâneo oriental em direção à Península Balcânica.























A estabilização interna gradativamente construída pela Dinastia Romanov fez com que o Grão-Ducado de Moscou fosse constituindo a base para a formação de um vasto império, que na sua maior parte foi fruto de conquistas militares: entre 1640 e 1686, lutas contra a Suécia, Lituânia e Polônia se concretizaram na ampliação dos domínios russos. Em 1648, os cossacos (grupo étnico, provavelmente, de origem tártara-mongol que se estabeleceu no século XIII nos vales do Don e Dnieper) atacando a Polônia  e jurando lealdade ao czar Aleksei I (1645-1676), que não viu a conclusão do conflito, mas possibilitou que seu sucessor, Teodoro III(1676-1682) e Pedro I, o Grande (1682-1725)  saíssem vitoriosos, firmando um tratado com a Polônia em 1686, no qual a cidade de Kiev (cidade fundada por volta do séc. V d.C.) e as terras do vale médio do Dnieper passariam para a Rússia.

Fonte: Atlas Histórico Mundial 

No mapa acima, encontramos na região da Crimeia, o termo "Kanato" que é uma herança da dominação mongol, vinda com Gengis Khan e seus sucessores, especialmente o neto, Kublai Khan, que conseguira preservar um grande parte da dominição sobre a Ásia, estabelecendo relações de vassalagem e tais áreas ganhavam o nome de "Kanatos" e assim, o foco de tensão sobre o Mar Negro provinha da disputa entre os russos e os turcos. A saída dos mongóis favoreceu a ampliação da influência turca na Crimeia.

Apesar da ação militar intensa, Pedro I não conseguiu assumir o controle pleno do Mar Negro, mas seus sucessores retomaram a empreitada e a mais bem sucedida, Catarina II (1762-1796) consolidou o domínio russo sobre o Kanato da Crimeia, tendo suma importância o porto de Sebastopol e depois a fundação da cidade de Odessa em 1794, fariam o contato principal com as exportações destinadas ao Mediterrâneo.

Após o Congresso de Viena, em 1815, a ordem absolutista tentou ser reafirmada com a derrota definitiva de Napoleão em Waterloo. A Rússia, uma das potências que o derrotaram buscou se fortalecer, entrando em atrito direto com o Império Turco entre 1853 e 1856, o qual foi apoiado pela Inglaterra, França e Reino da Sardenha-Piemonte. 

A Guerra da Crimeia (1853-56)


Em 1853, as forças russas invadiram as províncias turcas no Danúbio, obtendo assim, o controle do Mar Negro. Como contra-ataque, França e Grã-Bretanha invadiram a Crimeia, sendo que a Áustria consegui a retirada das tropas russas dos Balcãs, mas ali posicionou seus exércitos e dessa forma, o revés sofrido pela Rússia não foi revertido, cabendo ao czar Alexandre II, aceitar o Tratado de Paris em 1856, a paz seria restabelecida, mas nenhuma força naval seria concentrada em bases militares no Mar Negro, preservando sua livre navegabilidade, bem como a dos estreitos de Bósforo e Dardanelos no acesso ao mar Mediterrâneo.

Sugestão do Gabinete:

Carga da Brigada Ligeira . Direção de Tony Richardson, 1968. Duração: 115 min.


A Carga da Brigada Ligeira foi uma desastrosa carga de cavalaria, dirigida por lorde Cardigan no decorrer da Batalha de Balaclava, na Guerra da Crimeia. Passou para a história como tema do célebre poema “The Charge of the Light Brigade”, de Alfred Tennyson, cujos versos dizem:  “Não há nenhuma razão / só há que agir e morrer”, fazendo desta carga um símbolo do absurdo da guerra.
Este acontecimento é descrito como um dos episódios mais heroicos ou mais desastrosos de toda a história militar britânica. Lorde James Cardigan realiza uma carga de cavalaria da Brigada Ligeira contra a bem defendida artilharia russa durante a Guerra da Crimeia. Os britânicos ultrapassariam a Batalha de Balaclava quando Cardigan recebeu a ordem de atacar os russos, chefiados por Pavel Liprandi. A sua cavalaria carregou sobre os inimigos sem hesitar, mas foi dizimada pelas armas pesadas dos russos, sofrendo 40% de baixas em poucos minutos. Posteriormente, soube-se que a ordem foi o resultado de um erro e não foi dada intencionalmente.

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