O processo de colonização europeu implantado em diferentes partes do globo buscou se sustentar pelo controle da terra, de seus recursos e de suas populações e assim, transportou-se o modo de vida europeu, concedendo a estes a primazia e aos dominados, a subserviência.
A civilização europeia se apresentava como hegemônica sobre os povos conquistados, impondo seus valores em todas as esferas e também colaborando para a estruturação de mecanismos de controle e segregação, criando distâncias, fronteiras e fragmentações, as quais separavam os "europeus" dos "outros".
Na América ibérica, a ação catequizadora foi vital para a dominação, obrigando os povos indígenas sobreviventes a adotar os modos e costumes europeus, numa ação de aculturação intensa, que fez com que suas identidades culturais fossem de diluindo e fragmentando, a ponto de muitas culturas desaparecerem, já que não havia sido transmitida às gerações mais novas.
A aculturação foi acompanhada da exploração e de exclusão, pois os diferentes grupos indígenas foram sendo perseguidos, reprimidos e massacrados e quanto aos sobreviventes e mestiços, o que se esperava era a participação como mão-de-obra explorada, tendo só muito tardiamente, o reconhecimento da posse de algumas terras demarcadas pelo governo do Brasil no século XX.
Ao índio restou uma mera menção no calendário no dia 19 de abril e a infeliz citação para um programa/projeto de natureza duvidosa ou fracassada, usamos por exemplo, a expressão "programa de índio".
Enquanto o indígena foi expropriado e espoliado, ao mesmo tempo, milhões de negros foram escravizados por quase quatro séculos(séc.XV-XIX), majoritariamente na América portuguesa e em algumas regiões da América espanhola (litoral caribenho da América do sul e Antilhas).
Na América inglesa, a essência da Declaração de
Independência assinada pelas treze colônias em 1776 era a defesa da liberdade
que lhes foi negada como cidadãos ingleses, levando-os à luta armada. Àquela
altura, era muito ambicioso o projeto de romper os laços com a terra ancestral
e, dali em diante, construir um novo país, com leis escritas pelos homens
livres da América. A partir do êxito dessa empreitada, essa terra não era mais
inglesa, mas sim a primeira nação livre de todo o continente americano.
Mas, apesar dessa defesa
incondicional de um direito que se dizia inalienável, nem a liberdade presente
na Declaração de Independência nem a da Constituição se estendia aos indígenas,
aos negros ou às mulheres, todos excluídos da prática política e sem direitos
reconhecidos por lei. Isso só foi resolvido em 1862, no contexto da Guerra de
Secessão (1861-1865), quando o republicano Abraham Lincoln aboliu a escravidão.
Em 1920, as mulheres passaram a votar, e só em 1961 os direitos civis foram igualados, extinguindo-se inclusive a segregação racial que vigorava nos estados do sul. No caso dos indígenas, os sobreviventes da colonização perderam suas terras e foram “deportados” para reservas no remoto oeste, entre desertos e montanhas, um percurso muito bem sintetizado na expressão “caminho das lágrimas”, afinal, nas palavras dos desbravadores do Oeste selvagem era comum ouvir a terrível expressão: "Índio bom era o índio morto!", mesmo que alguns não compartilhassem dessas e ideias e procurassem um convívio pacífico e amistoso com os nativos, o que predominava era a exclusão.
Em 1920, as mulheres passaram a votar, e só em 1961 os direitos civis foram igualados, extinguindo-se inclusive a segregação racial que vigorava nos estados do sul. No caso dos indígenas, os sobreviventes da colonização perderam suas terras e foram “deportados” para reservas no remoto oeste, entre desertos e montanhas, um percurso muito bem sintetizado na expressão “caminho das lágrimas”, afinal, nas palavras dos desbravadores do Oeste selvagem era comum ouvir a terrível expressão: "Índio bom era o índio morto!", mesmo que alguns não compartilhassem dessas e ideias e procurassem um convívio pacífico e amistoso com os nativos, o que predominava era a exclusão.
Os linchamentos de negros no sul dos EUA: "cidadãos de bem" aplicando a justiça (1930)
Oklahoma, 1911.
Ação da Ku Klux Klan
mais um linchamento
Enquanto isso, no Brasil de hoje:
Suspeitos de envolvimento num assalto no Rio de Janeiro, 1982: transportados para a delegacia como, possivelmente, seus ancestrais, no período colonial.
Rapaz envolvido em roubo, preso a um poste depois de ser surrado por populares em Ipanema, Rio de Janeiro, 2014.
Linchamento de uma mulher no Guarujá, SP. Acusação: envolvimento com rituais de magia negra e sacrifício de crianças. Nenhuma prova concreta, morreu no hospital em decorrência dos ferimentos recebidos dos vizinhos que "achavam estar fazendo justiça". Deixou marido e uma filha à espera de justiça pelos tribunais.
Apesar da derrota sulista em 1865, o ideal
racista não desapareceu. Organizou-se a Ku
Klux Klan (Derivado do grego kuklos, que significa círculo, e assim temos “o clã do círculo”, cujos integrantes usavam uma túnica com o desenho da cruz celta, uma cruz dentro de um círculo.),
um movimento formado por ex-oficiais confederados e outros que não aceitavam a
integração dos negros à sociedade estadunidense, que se valeu de todo tipo de
crime (espancamento, estupro, assassinato, incêndios e sequestros) para
instaurar um clima de terror entre negros, mestiços e simpatizantes da causa
negra.
Nos uniformes é visível, na altura do peito, a "cruz dentro do círculo", símbolo da ideologia WASP (white, angle-saxon and protestant, isto é, branca, anglo-saxã e protestante)defendida pela Ku Klux Klan.
No período de reconstrução do
país, intensificou-se a industrialização, favorecendo a continuidade da
expansão territorial graças também ao grande contingente de imigrantes. Em
pouco tempo, a extensão do parque industrial, fruto da ênfase do governo na
ampliação das fábricas e na exploração dos diferentes recursos naturais, bem
como a implantação de ferrovias e portos abriram caminho para os EUA se
consolidarem como potência regional e, depois de 1914, mundial, ocupando
gradativamente o lugar da antiga Metrópole, a Grã-Bretanha.
Os negros precisaram esperar mais
um século para ter igualdade de direitos com os brancos, e não foi um processo
pacífico. Nos estados sulistas, havia um violento sistema de segregação racial:
negros não podiam frequentar os mesmos lugares que os brancos (escolas,
transporte coletivo, praias, banheiros etc.) e essa situação só começou a ser
combatida nos governos de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963) e Lyndon Johnson
(1963-1968), sob uma intensa pressão do movimento negro, que viu assassinados
líderes como Malcom X (1965) e Martin Luther King (1968).
Mesmo depois de tantas lutas e
dificuldades, a sociedade estadunidense ainda convive com o racismo. Mesmo
estando hoje atenuado, ele subjaz aos ditos “valores nacionais”, que procuram
excluir também os imigrantes – ilegais ou legais – de várias origens que vivem
no país. Ao mesmo tempo, os EUA continuam querendo ser reconhecidos pelo mundo
como “a terra das oportunidades”.
O Brasil conseguiu criminalizar o racismo, mas ainda precisa lutar contra suas manifestações encobertas sobre a comum de desculpa esfarrapada de "brincadeira", a qual é sempre usada quando alguém tem sua integridade atingida e o agressor, buscando escapar, transforma a agressão, a ofensa em "piada". Falta muito para conseguirmos uma atenção maior sobre este tema, livrando-o dessa pseudo-infantilização, pois racismo é crime e deve ser tratado como tal, e a justiça aplicada na devida condição de seus termos.
Mais exemplos das ditas "brincadeiras" que escondem ódio e racismo:
Trote aplicado por veteranos da faculdade de Direito da UFMG em Diamantina: "lê-se claramente: Caloura Chica da Silva", acorrentada com seu "dono". Ação totalmente inaceitável, ainda mais de estudantes do curso de Direito.
Ótimo texto professor. Eu me pergunto até quando estaremos olhando para as outras pessoas e ao invés de enxergar a humanidade, enxergar uma cor de pele, uma religião ou um modo de agir/pensar.
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