A QUESTÃO PLATINA -
O controle da Província Cisplatina estava relacionado com a retaliação praticada contra a Coroa de Espanha por D. João, assim que chegou ao Brasil, fato que seria uma reação ao apoio dos Bourbons ao ataque a Portugal em 1807 pelos franceses. Mesmo após a derrota definitiva de Napoleão em 1815, as tropas portuguesas não desocuparam a região, concretizando um velho interesse luso desde os
tempos da colonização, quando a região foi agitada pelas disputas entre castelhanos e portugueses pela Colônia de Sacramento.
Em 1825, durante o Primeiro Reinado, um movimento popular
apoiado pela Argentina tentou anexar a região àquele país, provocando violentos
choques com o governo de D. Pedro I. A questão somente foi resolvida em 1828,
com um acordo assinado por Brasil e Argentina, no qual os dois países
concordavam com a independência da região sob o nome de República Oriental do
Uruguai. Porém, as pretensões do Brasil e da Argentina não cessaram.
Na Argentina,
no Uruguai , os partidos Blanco (unitarista) e Colorado (federalista)
disputavam o poder. Essa "unidade ideológica", que não respeitava
fronteiras, provocava fatalmente o envolvimento de todas as partes em cada
revolta ocorrida na região.
Quanto a
Dom Pedro II, sempre houve a preocupação de impedir o aparecimento de um país
forte na região platina ou de que ocorresse uma união territorial entre
argentinos, uruguaios e paraguaios, uma vez que os brasileiros esforçavam-se
para estabelecer a livre navegação nos rios platinos, únicas vias regulares de
acesso à parte centro-oeste do território do Brasil.
Em 1828,
foram realizadas eleições presidenciais no Uruguai, opondo os latifundiários,
unidos em torno do blanco Manuel Oribe, que, inclusive, tinha
o apoio do argentino Juan Manuel Rosas, contra o colorado Frutuoso Rivera, que representava os comerciantes da região e
tinha o apoio explícito do governo imperial brasileiro e do líder político
argentino, José Urquiza, que, como governador da província de Corrientes,
era o principal opositor de Rosas na Argentina. A vitória coube ao candidato colorado.
Os blancos acusaram os colorados de fraude e
pediram ajuda aos blancos dos países
vizinhos. Em 1834, depois de vencer as eleições e tornar-se o novo presidente,
Oribe aproximou-se de Rosas, provocando a fuga de seu predecessor, Rivera, que
se refugiou no Rio Grande do Sul aliando-se ao líder farroupilha, Bento
Gonçalves.
Rivera
organizou um exército e tomou o poder no Uruguai, aproveitando-se dos problemas
enfrentados por Rosas na Argentina. Alguns fazendeiros brasileiros realizaram
incursões no Uruguai para garantir suas propriedades, pois estas eram
frequentemente invadidas e saqueadas pelas facções em luta dos vizinhos. Em
1839, Rosas conseguiu resolver seus problemas internos na Argentina e anexou o
Uruguai, o que causou protestos da Inglaterra, da França e do Brasil. Os
ataques às propriedades de brasileiros continuaram de ambos os lados da
fronteira, provocando a entrada do Brasil na guerra.
O General
Urquiza, comandante das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios,
revoltou-se contra Rosas e aliou-se ao Brasil e ao uruguaio Rivera. As forças
brasileiras, comandadas pelo Duque de Caxias e apoiadas pelo
bloqueio naval do almirante Greenfeld, tomaram Montevidéu e, a seguir,
invadiram a Argentina, depondo Rosas.
Argentina
e Uruguai celebraram com o Brasil um tratado de livre comércio e navegação no
Rio da Prata, garantindo aos brasileiros o vital acesso à província do Mato
Grosso, bem como a “permissão” para comandar os acontecimentos na desembocadura
do Rio da Prata.
As lutas
entre blancos e colorados prosseguiam no Uruguai a cada eleição e, em 1864, o colorado Venâncio Flores tentou
tomar o poder de Atanásio Aguirre, através da luta armada. O Brasil apresentou
um protesto junto ao governo do Uruguai, devido aos constantes ataques às
propriedades de brasileiros, mas foi ignorado pelo presidente Aguirre. O País
decidiu, então, intervir novamente no Uruguai, enviando a Montevidéu um
exército comandado por Caxias, enquanto a marinha bloqueava o litoral uruguaio.
O presidente Aguirre renunciou e fugiu para o Paraguai, onde pediu auxílio ao
ditador Francisco Solano Lopez. Enquanto isso, Flores, o novo
presidente do Uruguai, cedia às exigências brasileiras.
O Paraguai
foi, desde sua emancipação em 1811, uma exceção na região. A independência do
país não foi obra da elite criolla,
como no resto da América espanhola, mas, sim, fruto da união entre os índios
guaranis e uma camada militarizada nacionalista, que implantou no Paraguai um
modelo de desenvolvimento ligado à realidade local. Durante os longos governos
de José Domingos Francia (1811-1840) e Carlos Antônio Lopez (1840-1862), as
grandes propriedades foram confiscadas e transformadas em Estâncias da Pátria, que
abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas.
Nesse
período, o Paraguai não pode ser visto como uma democracia. Mas a escravidão
foi abolida, o analfabetismo foi erradicado, fábricas de armas e de pólvora
foram implantadas, assim como indústrias siderúrgicas, estradas de ferro,
telégrafo e estaleiro. Tal quadro de relativo sucesso econômico e social e de
autonomia internacional foi acompanhado durante o governo de Francisco
Solano Lopez, iniciado em 1862, de uma política de ênfase no setor
militar, mas muito longe de ser uma potência ameaçadora aos interesses ingleses.
Em 11 de novembro de 1864, Lopez apreendeu o navio brasileiro
Marques de Olinda, que navegava no Rio Paraguai, provocando a declaração de
guerra por parte do Brasil.
A GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)
Os
paraguaios tentaram tomar a província do Mato Grosso, mas foram repelidos pelas
forças brasileiras. Optaram, então, pela libertação do Uruguai, mas, para isso,
foi necessário invadir parte do território da Argentina, o que provocou a
entrada do país na guerra.
Em maio de
1865, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, que
entregava o comando do bloco belicista ao presidente da Argentina, Bartolomé Mitre. Os aliados
puderam contar ainda com empréstimos e equipamentos vindos da Inglaterra. As operações navais, sob o
comando do Almirante Tamandaré, foram inteiramente favoráveis ao Brasil,
enquanto as operações em terra beneficiaram os paraguaios.
O Brasil foi
obrigado a financiar um exército profissional recrutado pelo Uruguai e também a
recrutar negros que seriam alforriados após o conflito. Tal contingente ficou
conhecido como os “Voluntários da Pátria”.
Charge de Angelo Agostini sobre a dura realidade dos "voluntários da Pátria"
De 1866 a
1869, o comando do exército brasileiro foi entregue ao Duque de Caxias, que
conseguiu expressivas vitórias sobre a força paraguaia, obrigando Lopez a
refugiar-se no norte do país. O comando passou, então, ao Conde d'Eu, Louis Phillipe Gaston d’Orleans, genro do
Imperador, que comandou verdadeiros massacres junto à população paraguaia enquanto
perseguia Solano Lopez, que fora morto em 1º de março de 1870 por soldados
brasileiros depois da batalha de Cerro Corá.
As consequências da Guerra do Paraguai foram catastróficas
para todos os envolvidos. O Paraguai perdeu cerca de 70 % de sua população
masculina, segundo as estatísticas mais confiáveis, metade da população
paraguaia foi dizimada: de 406.000 habitantes em 1864 para 231.000 em
1872.Apesar da vitória militar, Brasil, Argentina e Uruguai aumentaram seu
endividamento em relação à Inglaterra, que foi, em última análise, beneficiada indiretamente
com o conflito.
O "legado" brasileiro no Paraguai
Em pesquisas
mais recentes, a Guerra do Paraguai não é mais entendida como uma ação
“maquiavélica” da Grã-Bretanha que estava tendo seus interesses ameaçados pela
potência em ascensão que seria o Paraguai, pois o conflito foi muito mais uma
disputa pelo controle e acesso da bacia Platina, que naquele contexto, era o
elo de integração das regiões litorâneas com a região central do continente e
nesse caso, a livre-navegação pelos rios da Bacia do Prata era uma questão de
Estado para as nações da região.
O Exército
brasileiro praticamente formou-se enquanto força militar durante essa guerra,
mas isso não significou maior reconhecimento perante a aristocracia imperial
brasileira. Tal animosidade jogaria os militares nos braços do movimento republicano.
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