As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Há 150 anos: A Guerra do Paraguai

A QUESTÃO PLATINA - 

O controle da Província Cisplatina estava relacionado com a retaliação praticada contra a Coroa de Espanha por D. João, assim que chegou ao Brasil, fato que seria uma reação ao apoio dos Bourbons ao ataque a Portugal em 1807 pelos franceses. Mesmo após a derrota definitiva de Napoleão em 1815, as tropas portuguesas não desocuparam a região, concretizando um velho interesse luso desde os tempos da colonização, quando a região foi agitada pelas disputas entre castelhanos e portugueses pela Colônia de Sacramento. 



Em 1825, durante o Primeiro Reinado, um movimento popular apoiado pela Argentina tentou anexar a região àquele país, provocando violentos choques com o governo de D. Pedro I. A questão somente foi resolvida em 1828, com um acordo assinado por Brasil e Argentina, no qual os dois países concordavam com a independência da região sob o nome de República Oriental do Uruguai. Porém, as pretensões do Brasil e da Argentina não cessaram.

Na Argentina, no Uruguai , os partidos Blanco (unitarista) e Colorado (federalista) disputavam o poder. Essa "unidade ideológica", que não respeitava fronteiras, provocava fatalmente o envolvimento de todas as partes em cada revolta ocorrida na região.

Quanto a Dom Pedro II, sempre houve a preocupação de impedir o aparecimento de um país forte na região platina ou de que ocorresse uma união territorial entre argentinos, uruguaios e paraguaios, uma vez que os brasileiros esforçavam-se para estabelecer a livre navegação nos rios platinos, únicas vias regulares de acesso à parte centro-oeste do território do Brasil.

Em 1828, foram realizadas eleições presidenciais no Uruguai, opondo os latifundiários, unidos em torno do blanco Manuel Oribe, que, inclusive, tinha o apoio do argentino Juan Manuel Rosas, contra o colorado Frutuoso Rivera, que representava os comerciantes da região e tinha o apoio explícito do governo imperial brasileiro e do líder político argentino, José Urquiza, que, como governador da província de Corrientes, era o principal opositor de Rosas na Argentina. A vitória coube ao candidato colorado.


Os blancos acusaram os colorados de fraude e pediram ajuda aos blancos dos países vizinhos. Em 1834, depois de vencer as eleições e tornar-se o novo presidente, Oribe aproximou-se de Rosas, provocando a fuga de seu predecessor, Rivera, que se refugiou no Rio Grande do Sul aliando-se ao líder farroupilha, Bento Gonçalves.

Rivera organizou um exército e tomou o poder no Uruguai, aproveitando-se dos problemas enfrentados por Rosas na Argentina. Alguns fazendeiros brasileiros realizaram incursões no Uruguai para garantir suas propriedades, pois estas eram frequentemente invadidas e saqueadas pelas facções em luta dos vizinhos. Em 1839, Rosas conseguiu resolver seus problemas internos na Argentina e anexou o Uruguai, o que causou protestos da Inglaterra, da França e do Brasil. Os ataques às propriedades de brasileiros continuaram de ambos os lados da fronteira, provocando a entrada do Brasil na guerra.

O General Urquiza, comandante das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, revoltou-se contra Rosas e aliou-se ao Brasil e ao uruguaio Rivera. As forças brasileiras, comandadas pelo Duque de Caxias e apoiadas pelo bloqueio naval do almirante Greenfeld, tomaram Montevidéu e, a seguir, invadiram a Argentina, depondo Rosas.
Argentina e Uruguai celebraram com o Brasil um tratado de livre comércio e navegação no Rio da Prata, garantindo aos brasileiros o vital acesso à província do Mato Grosso, bem como a “permissão” para comandar os acontecimentos na desembocadura do Rio da Prata.

As lutas entre blancos e colorados prosseguiam no Uruguai a cada eleição e, em 1864, o colorado Venâncio Flores tentou tomar o poder de Atanásio Aguirre, através da luta armada. O Brasil apresentou um protesto junto ao governo do Uruguai, devido aos constantes ataques às propriedades de brasileiros, mas foi ignorado pelo presidente Aguirre. O País decidiu, então, intervir novamente no Uruguai, enviando a Montevidéu um exército comandado por Caxias, enquanto a marinha bloqueava o litoral uruguaio. O presidente Aguirre renunciou e fugiu para o Paraguai, onde pediu auxílio ao ditador Francisco Solano Lopez. Enquanto isso, Flores, o novo presidente do Uruguai, cedia às exigências brasileiras.

O Paraguai foi, desde sua emancipação em 1811, uma exceção na região. A independência do país não foi obra da elite criolla, como no resto da América espanhola, mas, sim, fruto da união entre os índios guaranis e uma camada militarizada nacionalista, que implantou no Paraguai um modelo de desenvolvimento ligado à realidade local. Durante os longos governos de José Domingos Francia (1811-1840) e Carlos Antônio Lopez (1840-1862), as grandes propriedades foram confiscadas e transformadas em Estâncias da Pátria, que abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas.

Nesse período, o Paraguai não pode ser visto como uma democracia. Mas a escravidão foi abolida, o analfabetismo foi erradicado, fábricas de armas e de pólvora foram implantadas, assim como indústrias siderúrgicas, estradas de ferro, telégrafo e estaleiro. Tal quadro de relativo sucesso econômico e social e de autonomia internacional foi acompanhado durante o governo de Francisco Solano Lopez, iniciado em 1862, de uma política de ênfase no setor militar, mas muito longe de ser uma potência ameaçadora aos interesses ingleses.

 Em 11 de novembro de 1864, Lopez apreendeu o navio brasileiro Marques de Olinda, que navegava no Rio Paraguai, provocando a declaração de guerra por parte do Brasil.

A GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Os paraguaios tentaram tomar a província do Mato Grosso, mas foram repelidos pelas forças brasileiras. Optaram, então, pela libertação do Uruguai, mas, para isso, foi necessário invadir parte do território da Argentina, o que provocou a entrada do país na guerra.

Em maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, que entregava o comando do bloco belicista ao presidente da Argentina, Bartolomé Mitre. Os aliados puderam contar ainda com empréstimos e equipamentos vindos da Inglaterra. As operações navais, sob o comando do Almirante Tamandaré, foram inteiramente favoráveis ao Brasil, enquanto as operações em terra beneficiaram os paraguaios. 

O Brasil foi obrigado a financiar um exército profissional recrutado pelo Uruguai e também a recrutar negros que seriam alforriados após o conflito. Tal contingente ficou conhecido como os “Voluntários da Pátria”.

Charge de Angelo Agostini sobre a dura realidade dos "voluntários da Pátria"


De 1866 a 1869, o comando do exército brasileiro foi entregue ao Duque de Caxias, que conseguiu expressivas vitórias sobre a força paraguaia, obrigando Lopez a refugiar-se no norte do país. O comando passou, então, ao Conde d'Eu, Louis Phillipe Gaston d’Orleans, genro do Imperador, que comandou verdadeiros massacres junto à população paraguaia enquanto perseguia Solano Lopez, que fora morto em 1º de março de 1870 por soldados brasileiros depois da batalha de Cerro Corá.




As consequências da Guerra do Paraguai foram catastróficas para todos os envolvidos. O Paraguai perdeu cerca de 70 % de sua população masculina, segundo as estatísticas mais confiáveis, metade da população paraguaia foi dizimada: de 406.000 habitantes em 1864 para 231.000 em 1872.Apesar da vitória militar, Brasil, Argentina e Uruguai aumentaram seu endividamento em relação à Inglaterra, que foi, em última análise, beneficiada indiretamente com o conflito.

O "legado" brasileiro no Paraguai


Em pesquisas mais recentes, a Guerra do Paraguai não é mais entendida como uma ação “maquiavélica” da Grã-Bretanha que estava tendo seus interesses ameaçados pela potência em ascensão que seria o Paraguai, pois o conflito foi muito mais uma disputa pelo controle e acesso da bacia Platina, que naquele contexto, era o elo de integração das regiões litorâneas com a região central do continente e nesse caso, a livre-navegação pelos rios da Bacia do Prata era uma questão de Estado para as nações da região.


O Exército brasileiro praticamente formou-se enquanto força militar durante essa guerra, mas isso não significou maior reconhecimento perante a aristocracia imperial brasileira. Tal animosidade jogaria os militares nos braços do movimento republicano.

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