Portugal lançou mão de um artifício que já havia alcançado
bons resultados em ilhas do Atlântico e foi oficialmente introduzido aqui em 1534. Nesse ano, por ordem do rei Dom
João III, o Brasil foi dividido em 15 faixas perpendiculares à linha da costa,
criando-se, assim, as capitanias hereditárias.
D. João III de Avis (1521-57)
O objetivo
básico era delegar a particulares a
tarefa de colonizar a América Portuguesa, uma vez que tal empreitada
mostrava-se muito dispendiosa. O capitão-donatário
(responsável pela capitania) recebia as terras através de um documento
chamado Carta de Doação, e havia uma
série de direitos, estabelecidos pela Carta
de Foral, dentre outros:
-
distribuir lotes de terra, as sesmarias, aos colonos de sua
confiança;
-
fundar vilas;
-
impor a justiça;
-
escravizar os habitantes nativos;
-
cobrar impostos;
-
catequizar os indígenas e impor a religião
católica.
Apesar de
ter a posse de fato das terras, era
vedado ao donatário vender a capitania, pois a propriedade de direito era
do rei de Portugal. Desta forma, as
capitanias constituíram-se num regime politicamente descentralizado, fundado em
unidades autônomas e que, se
numa certa medida, lembram a estrutura política do feudalismo, economicamente visavam à exportação para a
metrópole, no caso, Portugal.
Mapa das Capitanias Hereditárias na América Portuguesa
A medida
não atingiu resultados satisfatórios, uma vez que somente as capitanias de São Vicente, administrada por Martim
Afonso de Souza, e Pernambuco, sob a responsabilidade de Duarte Coelho, puderam prosperar devido ao sucesso
da cultura canavieira. As demais, entregues à pequena nobreza portuguesa ou a
cristãos-novos, não atingiram sucesso por vários motivos, seja pelos ataques
indígenas, seja pela falência dos donatários ou simplesmente por causa do
desinteresse da parte de outros nobres que sequer chegaram a viajar para a colônia.
Em 1548,
através do Regimento, instituído por Dom João III, foi criado o primeiro Governo-Geral
do Brasil, com o objetivo de auxiliar as
capitanias e representar o rei na colônia. O primeiro titular desse cargo foi
Tomé de Souza, que trouxe consigo
colonos, degredados, as primeiras cabeças de gado e escravos africanos. Com o
governador, chegou também um pequeno grupo de jesuítas, comandado por Padre
Manuel da Nóbrega, que criou o primeiro colégio da colônia, na recém-fundada
cidade de Salvador. Seus auxiliares diretos ocupariam os cargos de ouvidor-mor (responsável pela aplicação
da justiça) e provedor-mor (responsável
por todos os negócios ligados à Fazenda Real).
Durante o
governo de Tomé de Souza, a escravização de índios ganhou novos critérios,
determinando-se que só a partir da “guerra
justa” (ataques de portugueses a índios que se mostraram hostis) os nativos
poderiam ser escravizados.
O segundo
Governo-Geral, comandado por Duarte da
Costa (1553/58), foi marcado por atos autoritários e sofríveis. O filho do
governador-geral, Álvaro da Costa, por liderar uma campanha pela livre
escravização dos índios, desentendeu-se com o Bispo Pero Fernandes Sardinha, que tentou regressar a
Portugal para comunicar ao rei os despropósitos praticados na colônia. Acabou
falecendo no litoral nordestino, devorado por índios antropófagos após o
naufrágio de seu navio.
Mesmo
assim, com idas e vindas do governante, várias vilas foram fundadas; uma delas
no planalto da capitania de São Vicente, chamada inicialmente de São Paulo de Piratininga em 1554. Essa
cidade fiou praticamente isolada de outras vilas, uma vez que, para chegar até
ela, era necessário ultrapassar a “muralha”, nome pelo qual os exploradores se
referiam à atual Serra do Mar.
Nesse mesmo
período, ocorreu a invasão de
franceses huguenotes (calvinistas) no
Rio de Janeiro, liderados por Nicolas de Villegagnon.
O sucesso dos franceses deveu-se a uma eficaz aliança com os indígenas locais,
criando a Confederação dos Tamoios.
Tal situação foi fruto da inabilidade política do governador que, ao permitir a
livre escravização de indígenas, ameaçou inclusive tribos que outrora eram
aliadas dos portugueses. Os franceses fundaram
a França Antártica em 1555 e uma fortificação na atual Baía de Guanabara
(Forte Coligny) e, a partir daí, os portugueses sofreram várias derrotas na
tentativa de expulsar os invasores. O governo de Duarte da Costa foi um
fracasso no sentido de resguardar a autonomia territorial.
Mapa da França Antártica
Essa união
de franceses e indígenas tamoios só foi derrotada durante a presença do
terceiro governador-geral, Mem de Sá
(1558/72). A fundação da vila se deu em 1 de março de 1565. Em 1567, seu sobrinho, Estácio
de Sá, aliou-se ao cacique
Arariboia e alguns índios que mantinham rivalidades com os tamoios. Mais ao
sul, na região de Iperoig (Ubatuba), foi fundamental a intervenção dos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta,
que se infiltraram entre os índios, convencendo-os a mudar sua posição
de se manterem aliados aos franceses. Anchieta chegou a ser aprisionado pelos
indígenas, mas estes, temendo o poder bélico luso, decidiram ajudar na expulsão
dos invasores. Após serem vitoriosos nos embates contra os comandados de Villegagnon, os portugueses construíram um forte,
batizando a localidade com o nome de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
A vila de São Sebastião do Rio de Janeiro: proteção e controle da Guanabara
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