A economia da colônia nasceu sob o signo do maior lucro possível com o menor
investimento. Após o escambo do pau-brasil, surgiu na colônia o desenvolvimento
daquilo que Caio Prado Jr. em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo (1935)
chamou de nosso primeiro "produto rei": a cana-de-açúcar.
A monocultura da cana deu-se em regime de latifúndio (grandes propriedades com
baixa produtividade). Porém, em algumas regiões as propriedades puderam ser
classificadas como plantations (latifúndio, monocultura e
escravismo). O auge do chamado ciclo da cana-de-açúcar durou até fins
do séc. XVII entrando em declínio devido à concorrência das colônias holandesas
nas Antilhas.
A decadência do açúcar e
as fabulosas descobertas espanholas no Peru e no México incentivaram os
portugueses a buscar outras fontes de riqueza, enfrentando os perigos do
“sertão” (toda área muito adentro do território era assim tratada), sendo
importantes nesse processo, as expedições bandeirantes, ávidas pelo ouro e
pedras preciosas, além de servirem também para o combate às tribos hostis,
escravizando os sobreviventes pelo conceito da “guerra justa” ou ainda, a
repressão dos quilombos que começaram a se formar com a introdução da
escravidão africana, já que os escravos fugitivos tentavam se reorganizar,
longe das fazendas, num modo de vida próximo ao que tiveram na África.
A escravidão: do índio ao
africano
Com a
necessidade de empreender a plantação em larga escala de cana-de-açúcar, os
nativos foram sistematicamente escravizados. Porém, não havia consenso entre os
portugueses que viviam no Brasil sobre o emprego de trabalhadores compulsórios
locais, sendo que a oposição da Igreja era muito forte, já que se interessava
pela evangelização dos nativos e o trabalho destes em suas missões espalhadas
pela colônia.
A
escravidão dos indígenas foi proibida no Brasil, sendo reforçada pela
bula Veritas Ipsa do Papa Paulo III de 1537, a qual condenava a
escravidão dos nativos do Novo Mundo no que foi seguido por
numerosas legislações da Coroa portuguesa. Porém, isso não significou a automática suspensão da escravização do índio, sendo praticamente ignorado pelos colonizadores, afinal, era uma mão-de-obra abundante e barata.
O
primeiro caso de escravidão negra de que se tem notícia ocorreu em 1539 quando
Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, requereu junto ao rei D. João III, uma
permissão para trazer "alguns escravos de Guiné". Em virtude do
gradativo crescimento da produção da cana, ocorreu um aumento considerável da importação
de negros, acabando por tornar-se um monopólio régio. Desde então foram
trazidos aos milhares como mão de obra para os mais variados ofícios, sendo que
alguns autores estimam que, entre os séculos XVI e XIX, tenham chegado
aproximadamente, cerca de 3.500.000 africanos.
A
partir de então o tráfico negreiro intensificou-se,
transformando-se em uma nova e lucrativa atividade econômica para a
Coroa portuguesa. Os
negros capturados nas guerras internas e que seriam trocados por mercadorias no
comércio interno, passaram a ser encarcerados em cidadelas na costa africana
por tribos "amigas dos portugueses" como no Senegal ou Angola, que os
trocavam por tabaco, aguardente ou armas. Lá eram embarcados nos navios
negreiros, também conhecidos como “tumbeiros”. As mortes devido a fome, sede e
doenças chegavam a dizimar a maior parte dos cativos já em alto mar.
Gradativamente
os negros tentaram a viver na colônia de acordo com seus costumes ancestrais,
adorando os orixás e apesar da perseguição movida pela Igreja Católica, que
guardadas as devidas proporções, deram origem posteriormente às variantes do
Candomblé e mais recentemente(fins do séc. XIX-XX) à Umbanda, sendo que a esta foram acrescidos os
elementos cristãos e espíritas relacionados ao espiritismo, que se fundiram e se
modificaram, constituindo aquilo que entendemos por sincretismo religioso.
As
formas de resistência negra variaram tanto quanto as
funções desempenhadas por esses escravos. Das formas de resistência, os quilombos parecem
ter sido a que atingiu maior notoriedade, e dentre eles o dos Palmares o
maior e o que mais resistiu aos ataques dos holandeses e portugueses. Era uma
verdadeira confederação de tribos protegidas por um engenhoso sistema de
armadilhas; desenvolveu-se no atual estado de Alagoas por volta de 1644 e,
beneficiado pela desorganização provocada pelas invasões holandesas, chegou a
contar mais de 10.000 negros fugidos das fazendas da região, além de mulatos,
mestiços e brancos de origem pobre que lá viviam e faziam o intercâmbio da
produção agrícola do quilombo com as vilas e povoados da região.
Os
líderes de maior destaque foram Ganga Zumba e seu filho, Zumbi, este último tem
sido recuperado pela atual historiografia como um verdadeiro herói popular. Tal
comunidade só foi destruída em 1694, graças à união de esforços do bandeirante
paulista Domingos Jorge Velho e de vários governadores da região.
Entretanto
não foi essa a única forma de resistência negra à escravidão. Eram comuns o
suicídio, as fugas, os assassinatos de senhores, os abortos provocados pelas
próprias mães, dentro de um contexto de extrema violência que os escravos
estavam submetidos.
A União Ibérica 1580-1640
A vitória na guerra da
Reconquista, séculos antes, fez com que o ideal de Cruzada ainda permanecesse
vivo na alma dos nobres portugueses, que direcionavam sua atenção para o
noroeste da África, um desdobramento do avanço em direção ao Atlântico. Com a
morte de D. João III em 1554, o trono passou para seu neto D. Sebastião com
apenas 3 anos com a regência de sua mãe Maria d’Áustria e do Cardeal D.
Henrique.
Educado
dentro de uma visão conservadora e muito religiosa, o jovem rei Dom Sebastião
(1565-1578) partiu para uma empreitada militar no Magreb, atual Marrocos.
"D.
Sebastião - Rei de Portugal" Cristóvão de Morais, c. 1571-74, Museu nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal
Apesar
de todos os apelos, o rei não se interessou em recuar, já que os êxitos da
batalha de Lepanto em 1571(derrota dos turcos por uma aliança de forças cristãs
no Mediterrâneo oriental) ainda estavam vivos entre os cristãos. Porém, o pior
se abateu sobre Portugal, com a derrota e morte de D. Sebastião em
Alcácer-Quibir (1578). Estabeleceu-se, portanto, uma grave crise
dinástica, porque o rei não deixou herdeiros diretos e, como ainda havia laços
de parentesco entre a nobreza lusitana e espanhola, os portugueses corriam
novamente o risco de perderem a autonomia.
O
Inquisidor-mor de Portugal e tio-avô de D.Sebastião. Mosteiro de Tibaes, Portugal.
Na sucessão de Dom
Sebastião assumiu o trono seu tio-avô, o cardeal D. Henrique (além de cardeal,
ocupava o cargo de Inquisidor-Mor de Portugal), que vem a falecer pouco tempo
depois, em 1580, e por ser membro do clero católico, também não deixou herdeiros,
cabendo a uma junta de juízes estabelecer entre os parentes, quem seria o novo
rei. Em virtude das pressões políticas e militares, a escolha recaiu em Felipe
II de Habsburgo, rei de Espanha, neto pelo lado materno, do rei
português Dom Manuel I.
O
rei da Espanha, entretanto, prometeu respeitar a dignidade portuguesa, tratando
Portugal como “reino unido” e não como província. Os funcionários do governo
português foram mantidos em seus cargos, bem como a estrutura administrativa
não foi alterada, o que significou para o Brasil uma transição sem problemas
para o controle espanhol. Mas a política externa da Espanha trouxe importantes
consequências para a América portuguesa. Felipe
II de Espanha e I de Portugal, era o senhor de um império onde o "sol nunca se
punha"!
"Felipe II de Espanha", Ticiano, c.1551, Museu do Prado, Madrid, Espanha.
Naquela época, os
holandeses ou flamengos mantinham estreitas relações econômicas com Portugal,
sendo o principal financiador da produção de açúcar nas colônias portuguesas.
A Espanha,
entretanto, era inimiga dos flamengos e estava em guerra com a
Holanda desde quando esta luta por sua independência em relação aos nobres
Habsburgos, que detinham o controle de Flandres (Países Baixos), que desde sua
conversão ao calvinismo, almejam romper com o jugo espanhol. Já no caso de
Portugal, a consequência imediata foi a adesão aos interesses de Espanha, a
qual proibiu o comércio do açúcar produzido na América portuguesa com os
holandeses, ao mesmo tempo que juntava a marinha portuguesa à sua para
formar uma frota naval capaz de estabelecer o predomínio espanhol nos mares: a“Invencível
Armada”, como diziam as autoridades hispânicas.
Como consequência
do domínio espanhol, as cidades de Lisboa e do Porto decaíram em
importância, já que o comércio ultramarino passou a ser centralizado nas
cidades espanholas. Enquanto isso, enfrentando a poderosíssima marinha inglesa,
a frota portuguesa foi destruída juntamente com a Invencível Armada espanhola
em 1588, depois da derrota provocada pela fracassada tentativa de invadir a
Inglaterra, debilitando-se assim, a proteção ao litoral colonial brasileiro.
Dessa forma, em meio à decadência marítima de Portugal e às atitudes
titubeantes da Espanha, os holandeses viram uma clara possibilidade de ter
acesso direto às terras da América e explorar o açúcar nordestino.
Os holandeses invadiram o nordeste da
América Portuguesa primeiramente em Salvador (1624-25), mas foram
derrotados em virtude da resistência local e do apoio recebido pelos espanhóis.
Já na segunda tentativa, o sucesso foi maior, tendo início em Pernambuco e dali
atingiu um arco que se espalhou do Rio Grande do norte até o norte da Bahia,
além de ter sido o período de maior ocupação (1630-1654). Nesta segunda
invasão, os holandeses encontraram os plantadores de cana ávidos por
compradores para seus produtos. Desta forma, grande parte os colonos
colaboraram com os invasores para manter viva sua atividade econômica, apesar
de alguns terem fugido para as regiões controladas pelos portugueses e outros
terem optado pelo retorno ao reino.
No que se refere à
dominação holandesa no nordeste do Brasil, devemos destacar a figura do
conde Johan Maurits van Nassau-Siegen (Maurício
de Nassau), que governou a região de 1637 a 1644 em nome da Companhia
da Índias Ocidentais (WIC), empresa holandesa que explorava e financiava a
produção de cana.
"Johan Maurits van Nassau-Siegen", Jan de Baen, c-1668-70, Galeria Real de Pinturas da casa de Maurício (Mauritshuis), Haia, Holanda.
Nassau acreditava que era
fundamental ganhar a confiança dos colonos, pois qualquer atitude repressiva
apenas prejudicaria a presença holandesa. Dessa forma, Pernambuco viveu uma
fase de prosperidade econômica, liberdade religiosa (os holandeses eram calvinistas,
mas não houve sanções aos colonos, que eram na maioria católicos), foi criada a
Câmara dos Escabinos, assembléia de representantes das várias Câmaras
Municipais da região, e o próprio Nassau desenvolveu uma linha de crédito
facilitado para os plantadores de cana, chegando mesmo a perdoar e renegociar
dívidas.
Durante o governo de
Nassau, as mudanças foram visíveis, especialmente com a construção de
pontes na cidade de Recife, a reforma de Olinda e o planejamento e construção
uma cidade nova, denominada Mauritia. Além disso, sendo um nobre de formação
erudita, incentivou a vinda de artistas, pintores e cientistas que fundaram
inclusive um observatório astronômico na cidade.
Mas qual seria o motivo
para tantos especialistas?
Conhecer para melhor explorar e dominar, seria um
esboço de começo de resposta. E justamente, entre aqueles que estavam
colaborando nesse processo, os pintores Frans Post e Albert Eckhout
desempenharam um papel importantíssimo, pois construíram uma vasta documentação
de imagens que fizeram parte da construção do imaginário sobre o mundo
colonial, seja para os europeus daquele contexto que pouco sabiam sobre as
terras tropicais, seja para nossa época, que olha para as mesmas telas,
tentando recuperam o que teria sido aquele período.
Hoje, estas obras se
encontram no Museu Nacional de Arte da Dinamarca, em Kopenhagen, uma vez que
Nassau presenteou seu primo e rei da Dinamarca, Frederico III em 1654.
A construção de um olhar
Foi na pintura holandesa
do século XVII que se consagrou o tema da natureza-morta como um exercício da
pintura e da captação dos elementos visíveis: a composição de uma cena, dotada
de vários objetos, dispostos sobre uma determinada estrutura e assim, meticulosamente
montados, servem de experiência para a captação do real ou pelo menos, daquilo
que seria mais próximo do real, numa exuberância de cores, texturas,
entremeadas de luz e sombra.
Eckhout registrou a
riqueza das cores e formas da flora colonial com algumas naturezas-mortas, numa
disposição muito particular: os frutos estão dispostos sobre uma bancada de
madeira, a qual lembra a estrutura de uma janela em imediato contraste com a
imensidão do céu com seu vasto azul e nuvens de diferente coloração.
Outra contribuição
significativa de Eckhout foi o registro dos diferentes habitantes da colônia
(índios, mestiços e negros) numa busca que mesclava a curiosidade inquietante
sobre o desconhecido mundo tropical e a população local de um lado e o
interesse artístico em representar com elegância e realidade aquilo que era
visível de outro, testemunhando de modo ímpar o que era aquela nova terra.
Apesar do realismo das
pinturas, questionamentos devem ser feitos sobre estas imagens produzidas: o
quão real elas são? O que de fato foi visto pelo próprio pintor e o que foi
contado para ele dali desenvolver determinada composição?
Podemos
começar este questionamento com a "Dança dos Tapuias" :
"Dança dos tapuias", Albert Eckhout, c. 1637-44, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
O grupo de guerreiros nus
e pintados dança se preparando para entrar em combate, brandindo seus arcos,
flechas e bordunas (bastões de madeira) e num plano secundário, 2 mulheres
também nuas cochicham, observando a movimentação dos homens e tudo isso tem
como pano de fundo, a floresta emoldurada pelo céu azul.
O papel da dança ritual é
importantíssimo para a organização dos ritos e do ciclo das ações cotidianas,
quando a celebração de um evento tão importante como a guerra ganha a dimensão
estratégica no mundo físico e espiritual, já que se evocava a força dos deuses,
dos antepassados para trazer a vitória a tribo, além de prisioneiros que seriam
sacrificados e devorados, completando a ponte com o sagrado, pois “a força dos
bravos que morreram passaria para aqueles que os devoram”, segundo suas
tradições.
Quanto ao sacrifício
ritual, este era entendido como um ato de barbárie pelo europeu, sendo assim,
um exemplo de “ausência de cultura e de fé”, fatores que justificavam a
repressão destes indígenas antropófagos. Porém, entre os cristãos também
ocorria a representação do sacrifício ritual: a entrega ao fiéis do corpo e
sangue de Cristo no momento da Eucaristia, mas nesse caso, os europeus se
colocavam com superiores e seu ritual, “o mais santo e puro” de todos.
Na representação deste
“mundo bárbaro”, Eckhout construiu um retrato particular, tendo como personagem
uma índia tapuia:
"Mulher tapuia", Albert Eckhout, c. 1641, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
Nua, tendo de modo
particular a exaltação de sua condição selvagem, o fato de segurar parte de um
braço humano em uma das mãos, enquanto colhe ervas e na cabeça, porta um cesto
de palha que traz um pote e outro pedaço de carne humana, representada por um
pé.
A cena
singular tem como ambiente a Natureza, marcada pela árvore gigante ao seu lado,
o curso de água aos seus pés, o cão do mato e o gigantismo do céu, campinas e
árvores, numa comunhão direta, colocando-a como parte deste intrigante e
misterioso mundo que os europeus estavam se familiarizando e buscando impor
suas normas e vontades.
Como um par para a índia
tapuia vista acima, temos um solitário guerreiro, representando com seus
atributos:
"Guerreiro tapuia", Albert Eckhout, c. 1641, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
De corpo nu, usando
plumas na cabeça, tendo a borduna e seus dardos nas mãos e mais uma vez, a
Natureza cumpre o papel de oferecer abrigo e nas condições de uma “vasta casa”,
dotada de imensa extensão que se perde aos olhos no uso da perspectiva.
Ambos os tapuias se
encontro nus, mas de modo diferenciado, pois Eckhout se preocupou em esconder a
genitália feminina com uma ramagem discretamente amarrada, enquanto o guerreiro
aparece naturalmente, exibindo inclusive o estojo de fibra vegetal usado para
proteger seu pênis.
Esta Natureza crua e
selvagem pode ser contrastada pela manifestação do “processo civilizatório”
implementado pelos europeus que buscava pela educação e catequese “levar o
selvagem para uma vida mais adequada” dentro dos padrões europeus e nisso temos
outro casal de imagens, dois mamelucos (mestiços resultantes da união entre o
europeu e o indígena):
"Mameluca", Albert Eckhout, c. 1641, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
A mulher, coberta com um
grande vestido branco, levemente erguido para não sujar sua barra, expondo os
pés nus e noutra mão, o cesto, repleto de flores, exercendo um contraste bem
grande com a tapuia antropófaga, pois a mestiça vestida procura exaltar a
delicadeza e beleza resultantes do contato com os europeus, mas ao mesmo tempo,
se ignora a violência vigente nesse processo de aculturação.
"Mestiço", Albert Eckhout, c. 1637-44, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
Na mesma referência da
aculturação temos um mameluco (mestiço do índio e branco) que posa descalço,
vestindo uma túnica branca, coberto com colete e armado com um mosquete e
espada, semelhante a um soldado holandês, mas sendo diferente pelos traços
físicos e pela falta de botas e o elmo.
Eckhout
construiu dentro das tradições representativas do século XVII um repertório de
símbolos que dialogam entre si, já que serviram para a organização de um
“imaginário” sobre o que era o Novo Mundo e sua gente, sublinhando as
diferenças de vida e organização, construindo também um repertório de
informações sobre o que era viver na colônia.
"Homem africano", Albert Eckhout, c. 1641, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
Outro elemento externo a
terra, mas integrado pela força foi o escravo, braço movente da produção
açucareira, mas ao mesmo tempo foco de tensão, especialmente com a articulação
dos quilombos. O guerreiro negro aparece junto à Natureza, próximo de uma
palmeira, trajando uma tanga de panos traçados, mas armado com lanças e uma
espada suntuosa, característica dos guerreiros islâmicos, provavelmente um
acréscimo que remetesse às origens deste africano, oriundo talvez de uma região
islamizada do ocidente africano, além de ter perto de si, uma presa de elefante
(marfim) e dessa forma, parece mais livre do que escravo.
"Mulher africana", Albert Eckhout, c. 1641, Galeria Nacional de Arte, Kopenhagen, Dinamarca.
A não menção dos signos
da escravidão no guerreiro negro não se manifesta na mulher negra acompanhada
de seu filho: seminua, porta um cesto, semelhante à índia de túnica branca, mas
ostenta a condição de escrava porque tem sobre seus seios, no lado esquerdo, a
marca feita a ferro, sinal de sua condição inferior e ao seu lado, aparece seu
filho, o qual brinca inocentemente com um pássaro, mas sendo filho de ventre
escravo, escravo também seria.
A mudança das peças no tabuleiro europeu: a ascensão dos
Bragança
"Coroação de D.João IV", Veloso Salgado, 1908, Museu
Militar de Lisboa, Portugal.
Na década de 1640, uma
nova casa da nobreza ocupou o trono de Lisboa, quando D. João , duque de
Bragança liderou a guerra de Restauração com a ajuda da
monarquia inglesa, expulsando os representantes espanhóis e estabelecendo a
independência de Portugal, assim nasceu a dinastia de Bragança, liderada por D.
João IV, o Libertador. Apesar da ruptura do domínio espanhol, a Coroa
portuguesa estreitou os laços com os ingleses, colocando-se na órbita dos
interesses ingleses, situação em que sobreviveu até o século XIX.
Na colônia, Nassau entrou
em divergência com os mantenedores da Companhia das Índias Ocidentais, esta,
preocupada com a situação financeira de seus acionistas não entendia porque era
necessária tanta proximidade entre administradores locais e colonos, além das
crescentes despesas com as guerras contra os espanhóis e a demanda de lucros
maiores em escala mais rápida.
Com a demissão de Nassau
que foi substituído por uma junta governativa em 1644, da Holanda vinham ordens
para que fosse dado início a uma política de arrocho fiscal no Nordeste
holandês. Tal atitude desagradou os colonos pernambucanos, que a partir de
então, estavam cada vez mais interessados no afastamento dos flamengos, o mais
rápido possível.
"A batalha de Guararapes", de Vítor Meirelles,
1875-79, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ.
Com a Restauração
portuguesa, na perspectiva dos colonos, a luta pela expulsão dos holandeses
ganhara então um novo alento até triunfar em 1654, mas do ponto de vista
oficial, a Coroa portuguesa não estava apoiando tal movimento já que havia
estabelecido uma trégua com os holandeses para que estes os apoiassem na Europa
contra a Espanha e dessa forma, o conjunto de confrontos que opôs os colonos
pró-Portugal, liderados por João Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Felipe
Camarão e Henrique Dias e os invasores holandeses ficou conhecido como Insurreição Pernambucana.
Expulsos do Brasil, os
holandeses dirigiram-se para as Antilhas, na América Central, onde passaram a
desenvolver o plantio de açúcar e entraram em franca concorrência com o produto
brasileiro.
No final do século XVII,
os engenhos brasileiros já davam sinais de decadência, momento em que as
expedições bandeirantes foram ganhando mais intensidade, adentrando o sertão na
busca de ouro, pedras preciosas, índios para escravizar, além de combater os
quilombos, favorecendo uma melhor compreensão do território, das suas riquezas,
num processo que desbravou trilhas, fundou vilas e povoados, fato que mais
tarde, em 1750, colaborou para a expansão dos domínios lusitanos com o Tratado
de Madrid, porém já se tratava de um outro contexto: o processo que deu origem à formação da
sociedade do ouro, mas isso será tema para uma outra postagem.
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