domingo, 9 de março de 2014

Parte II - Ucrânia e Rússia: relações de tensão seculares

Parte II: A mudança com a Revolução Russa e o surgimento da URSS (1917-1991)

Em fevereiro de 1917, o czar Nicolau II (1896-1917) foi deposto pela ação do movimento menchevique (socialistas moderados), sob a liderança de Aleksandr Kerensky, que rapidamente organizou um Governo Provisório, buscando evitar um perigoso "vácuo de poder".



No entanto, a Rússia encontrava-se envolvida com a " Grande Guerra", lutando ao lado da Tríplice Entente, junto com a França e a Grã-Bretanha, que rapidamente prometeram ao novo governo apoio financeiro e estratégico em troca da manutenção da Rússia no conflito.


A situação militar russa naquela altura era de penúria, pois o Exército russo lutava em condições bastante desiguais, se comparados aos alemães, os quais tinham ocupado amplas extensões de terra da Rússia ocidental e tinham centenas de milhares de soldados nestes territórios ocupados com trincheiras.
Em abril de 1917, o líder bolchevique (socialistas radicais) Lênin, publicou uma série de propostas conhecidas como "Teses de Abril" que, entre outras ideias, defendia a saída incondicional da Rússia da guerra, a reforma agrária e a distribuição de comida para a população faminta, além de propor a organização de assembleias com poder de decisão (soviets) compostas por camponeses e operários.



A movimentação bolchevique não se contentava com apenas a proposição política, mas também, se estruturava na organização de um exército sob a liderança de Lênin e de seu maior colaborador, Trostky.
Em outubro de 1917, Lênin depôs o Governo Provisório e começou a articulação para a composição de um acordo em separado com a Alemanha, retirando a Rússia da guerra: o acordo de Brest-Litovsk, assinado em março de 1918.



Apesar do tratado, a paz não alcançou a Rússia e tal fato estava relacionado com a resistência menchevique nas regiões Oeste e sudoeste da Rússia, contando com apoio militar das Potências ocidentais ( EUA , França e Grã-Bretanha) com armas, munições e dinheiro para os mencheviques que passavam a ser conhecidos como " russos brancos" que buscavam a deposição dos "russos vermelhos", os bolcheviques, num conflito que se arrastou entre 1917 e 1921, a Guerra Civil Russa.


Neste contexto, algumas regiões buscaram a emancipação, como foi o caso bem sucedido das Repúblicas Bálticas ( Estônia, Letônia e Lituânia), Bielo Rússia e da Ucrânia, ambas não concretizadas: o movimento de caráter anarquista liderado por Néstor Makhno.


A primeira tentativa de implantação do comunismo libertário deu-se durante a Revolução Russa de 1917-1921, na região onde atualmente localiza-se a Ucrânia. O movimento iniciou-se no vilarejo de Gulai-Pole, sob a influência do anarquista Nestor Makhno, e se alastrou pelas regiões vizinhas de Aleksandrovsk até alcançar Kiev. Makhno foi eleito presidente do soviet de Gulai-Pole em agosto de 1917, e organizou uma pequena milícia para expropriar os latifúndios e dividi-los entre os camponeses mais pobres.


Após o tratado de Brest-Litovsk de 1918, que cedeu a Ucrânia ao Império Austro-Húngaro, uma nova milícia Makhnovista se formou e executou com sucesso ações de guerrilha contra o exército invasor. Com o armistício de 11 de Novembro de 1918, as tropas estrangeiras retiraram-se. A milícia Makhnovista se voltou contra o líder nacionalista ucraniano Petliura. Em seguida, Petliura foi derrotado pelo Exército Vermelho, e durante o embate entre Vermelhos e Brancos, Gulai-Pole ficou sob o domínio dos Makhnovistas, pois nenhuma outra facção era forte o suficiente para atacá-los.

Makhno aproveitou a calmaria para convocar congressos de camponeses com a finalidade de reformar a sociedade com vistas a implantar o comunismo libertário. Entretanto, as discussões se voltaram principalmente para a defesa da região contra outros exércitos, já que havia uma guerra civil. O poder real permaneceu com o grupo de Makhno. Atos de anti-semitismo, muito comuns na época, passaram a ser punidos com a pena de morte. Aconteceram esforços para se criar uma economia de trocas livres entre o campo (Gulai-Pole, Aleksandrovsk) e a cidade (Kiev, Moscou, Petrogrado).

A calmaria terminou em 15 de Junho de 1919, quando, após atritos menores entre Exército Insurgente Makhnovista e Vermelhos, o IV Congresso Regional de Gulai-Pole convidou os soldados da base do Exército Vermelho a enviar representantes. Isto foi um desafio direto à hierarquia de comando Comunista, já que aquele exército não funcionava, como o Makhnovista, em regime de democracia direta. Em 4 de Julho de 1919, um decreto do governo comunista proibiu o congresso e tornou o movimento Makhnovista ilegal. As tropas comunistas atacaram Gulai-Pole e dissolveram as comunas criadas na região. Poucos dias depois as forças de Denikin chegaram à região, obrigando a ambas facções a aliarem-se novamente.

Durante os meses de Agosto e Setembro, Denikin avancou a passo firme em direção a Moscou, enquanto Makhnovistas e comunistas eram obrigados a retroceder, chegando até as fronteiras ocidentais da Ucrânia. Então, em Setembro de 1919, Makhno surpreende Denikin lançando um ataque vitorioso à aldeia de Peregonovka, perto da cidade de Uman, cortando as linhas de abastecimento do general branco e semeando pânico e desordem na retaguarda. Este foi o primeiro revés sério sofrido por Denikin em sua campanha, e ao final do ano o Exército Vermelho o forçaria a bater em retirada até as margens do Mar Negro.

O primeiro ato de Makhno (foto abaixo) após entrar nessas cidades (após esvaziar as prisões) foi colocar cartazes anunciando aos cidadãos que a partir de este momento eram livres para organizarem suas vidas conforme preferissem, e que o Exército Insurgente Makhnovista "não lhes ditaria nem ordenaria nada".




Se proclamaram a liberdade de imprensa, palavra e reunião, e em Ekaterinoslav surgiram imediatamente meia dezena de periódicos que representavam uma ampla gama de tendências políticas. Mas Makhno, embora fomentasse a liberdade de expressão, não estava disposto a tolerar aquelas organizações políticas que tratavam de impor sua autoridade sobre o povo. Portanto dissolveu os "comitês revolucionários" dos Bolcheviques em Ekaterinoslav e Aleksandrovsk, aconselhando seus membros a se unirem a eles.

Entretanto, a classe operária urbana não respondeu ao movimento Makhnovista com o mesmo entusiasmo dos camponeses, e ao final de 1919, as relações com o governo comunista voltaram a azedar. Ao negar-se a abandonar o território ucraniano por ordem de Trotsky, o movimento Makhnovista foi novamente declarado ilegal.


O Exército Vermelho então voltou a combatê-los, e durante os oito meses que se seguiram ambos os lados sofreram pesadas baixas. Então, em outubro de 1920, o barão Wrangel, sucessor de Denikin no Sul, lançou uma importante ofensiva, partindo da Crimeia rumo ao Norte. Novamente o Exército Vermelho solicitou a ajuda dos Makhnovistas, e novamente a frágil aliança se refez. Menos de um mês mais tarde, já com a guerra civil ganha, a aliança foi desfeita.


Em 25 de Novembro de 1920, os líderes do Exército Makhnovista, reunidos na Criméia por ocasião da vitória sobre Wrangel, foram presos e executados sumariamente. No dia seguinte, por ordem de Trotsky, Gulai-Pole foi atacada e os Makhnovistas presos ou executados. Makhno conseguiu fugir e se exilar na França.
Com a vitória bolchevique, o governo de Lênin organizou a. União Soviética em 1922, tendo a Ucrânia como uma de suas Repúblicas. Mas sob o governo de Stálin(1924-1953), a articulação de uma estrutura de poder centralizadora, autoritária, centrada no culto da personalidade de seu líder, proporcionou um processo de " russificação" da URSS, impondo a língua e cultura russa em detrimento das culturas locais, pois Stálin pretendia sepultar qualquer tendência separatista daquilo que fora o Império Russo e naquele contexto, de certa forma, " o Império Soviético".



Todo este período de tensão entre 1914 e 1924, conjuntamente com os desdobramentos da ascensão de Stálin, provocaram a formação de ondas de refugiados, que na escala de milhões, buscaram fugir das guerras, miséria, abusos de autoridade e toda sorte de mazelas e assim, destinaram-se à Europa ocidental, América do Norte e América Latina, compondo uma ampla colônia que genericamente, ficara conhecida como eslava.

Em 29 de agosto de 1939, o Pacto de Não-Agressão Germano-Soviético, garantiu temporariamente a integridade territorial da URSS e ainda possibilitou por parte de Stálin a ocupação do leste da Polônia e das independentes Repúblicas Bálticas. A eclosão da II Guerra Mundial em 01 de setembro de 1939 foi um desdobramento da invasão nazista à Polônia. O pacto entre inimigos mortais como o III Reich de Hitler e a URSS de Stálin deve ser visto como uma tomada estratégica de tempo entre ambas as partes, alias, Hitler buscava evitar o erro da I Guerra Mundial: a abertura de duas frentes de batalha.

Quando em 1941, a região ocidental da Europa estava praticamente sobre o controle de Hitler com a Grã-Bretanha acuada e os EUA fora da guerra, Hitler desencadeou a chamada "Operação Barbarossa": a partir dos contingentes militares estacionados no leste da Europa, Hitler ordenou a invasão da URSS e nesse caso, o processo foi visto pela população de duas formas: para quem era favorável ao regime comunista, os alemães eram "invasores", enquanto que, para quem era contrário ao comunismo, os alemães seriam recebidos como "libertadores" e este foi o caso das repúblicas Bálticas e Ucrânia.

Fonte: Atlas da História do Mundo

A Ucrânia ocupada pelos nazistas se converteu no "Comissariado Alemão da Ucrânia", tendo Kiev como sua capital e assim, foi se compondo uma estrutura de poder que aproveitava os inimigos do comunismo para a manutenção do controle da região, inclusive, com a organização de uma Guarda ucraniana pró-nazista "Wolfsangel". No entanto, gradativamente a percepção de uma parcela dos ucranianos mudou de posição face às arbitrariedades que os alemães começavam a praticar, tendo os próprios ucranianos como alvo, além dos já visados : judeus, ciganos, comunistas e outros que fossem considerados "inimigos do III Reich".

A partir de 1942 os exércitos do Eixo começaram a ser contra-atacados firmemente na União Soviética, África e Pacífico. A derrota na batalha de Stalingrado (set/42-fev/43), no extremo leste da Ucrânia, junto ao rio Volga, marcou o fim da expansão alemã em território soviético, pois neste momento iniciou-se a expulsão dos alemães.


Já no início de 1945 a guerra indicava a vitória aliada devido ao cerco das tropas alemãs em seu próprio território, graças à ação conjunta das frentes ocidental e oriental. Os soviéticos foram os primeiros a entrar em Berlim, tomando a cidade e encontrando Hitler e a cúpula nazista morta no quartel general do Führer após suicídio, terminando com a guerra na Europa em 8 de maio de 1945.

A Segunda Guerra Mundial se encerrou com um altíssimo saldo de mortos – entre números controversos de várias fontes, algo por volta de 50 milhões, sendo que deste número, 20 milhões seriam de soviéticos, demonstrando um elevado custo que a guerra tivera àquele país.

Com a morte de Stálin em 1953, ascendeu ao controle da URSS, Nikita Sergeyevich Khushchev, que transferiu o controle da Crimeia da Rússia para a Ucrânia e assim ficou até o fim da URSS em 1991.




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