Em fevereiro de 1917, o czar Nicolau II (1896-1917) foi deposto pela ação do movimento menchevique (socialistas moderados), sob a liderança de Aleksandr Kerensky, que rapidamente organizou um Governo Provisório, buscando evitar um perigoso "vácuo de poder".
No entanto, a Rússia encontrava-se envolvida com
a " Grande Guerra", lutando ao lado da Tríplice Entente, junto com a
França e a Grã-Bretanha, que rapidamente prometeram ao novo governo apoio
financeiro e estratégico em troca da manutenção da Rússia no conflito.
A situação militar russa naquela altura era de
penúria, pois o Exército russo lutava em condições bastante desiguais, se
comparados aos alemães, os quais tinham ocupado amplas extensões de terra da
Rússia ocidental e tinham centenas de milhares de soldados nestes territórios
ocupados com trincheiras.
Em abril de 1917, o líder bolchevique
(socialistas radicais) Lênin, publicou uma série de propostas conhecidas como
"Teses de Abril" que, entre outras ideias, defendia a saída
incondicional da Rússia da guerra, a reforma agrária e a distribuição de comida
para a população faminta, além de propor a organização de assembleias com poder
de decisão (soviets) compostas por camponeses e operários.
A movimentação bolchevique não se contentava com
apenas a proposição política, mas também, se estruturava na organização de um
exército sob a liderança de Lênin e de seu maior colaborador, Trostky.
Em outubro de 1917, Lênin depôs o Governo
Provisório e começou a articulação para a composição de um acordo em separado com
a Alemanha, retirando a Rússia da guerra: o acordo de Brest-Litovsk, assinado
em março de 1918.
Apesar do tratado, a paz não alcançou a Rússia e
tal fato estava relacionado com a resistência menchevique nas regiões Oeste e
sudoeste da Rússia, contando com apoio militar das Potências ocidentais ( EUA ,
França e Grã-Bretanha) com armas, munições e dinheiro para os mencheviques que
passavam a ser conhecidos como " russos brancos" que buscavam a
deposição dos "russos vermelhos", os bolcheviques, num conflito que
se arrastou entre 1917 e 1921, a Guerra Civil Russa.
Neste contexto, algumas regiões buscaram a
emancipação, como foi o caso bem sucedido das Repúblicas Bálticas ( Estônia,
Letônia e Lituânia), Bielo Rússia e da Ucrânia, ambas não concretizadas: o movimento de caráter
anarquista liderado por Néstor Makhno.
A primeira tentativa de implantação do comunismo
libertário deu-se durante a Revolução Russa de 1917-1921, na região onde
atualmente localiza-se a Ucrânia. O movimento iniciou-se no vilarejo de
Gulai-Pole, sob a influência do anarquista Nestor Makhno, e se alastrou pelas
regiões vizinhas de Aleksandrovsk até alcançar Kiev. Makhno foi eleito
presidente do soviet de Gulai-Pole em agosto de 1917, e organizou uma pequena
milícia para expropriar os latifúndios e dividi-los entre os camponeses mais
pobres.
Após o tratado de Brest-Litovsk de 1918, que
cedeu a Ucrânia ao Império Austro-Húngaro, uma nova milícia Makhnovista se
formou e executou com sucesso ações de guerrilha contra o exército invasor. Com
o armistício de 11 de Novembro de 1918, as tropas estrangeiras retiraram-se. A
milícia Makhnovista se voltou contra o líder nacionalista ucraniano Petliura.
Em seguida, Petliura foi derrotado pelo Exército Vermelho, e durante o embate
entre Vermelhos e Brancos, Gulai-Pole ficou sob o domínio dos Makhnovistas,
pois nenhuma outra facção era forte o suficiente para atacá-los.
Makhno aproveitou a calmaria para convocar
congressos de camponeses com a finalidade de reformar a sociedade com vistas a
implantar o comunismo libertário. Entretanto, as discussões se voltaram
principalmente para a defesa da região contra outros exércitos, já que havia
uma guerra civil. O poder real permaneceu com o grupo de Makhno. Atos de
anti-semitismo, muito comuns na época, passaram a ser punidos com a pena de
morte. Aconteceram esforços para se criar uma economia de trocas livres entre o
campo (Gulai-Pole, Aleksandrovsk) e a cidade (Kiev, Moscou, Petrogrado).
A calmaria terminou em 15 de Junho de 1919,
quando, após atritos menores entre Exército Insurgente Makhnovista e Vermelhos,
o IV Congresso Regional de Gulai-Pole convidou os soldados da base do Exército
Vermelho a enviar representantes. Isto foi um desafio direto à hierarquia de
comando Comunista, já que aquele exército não funcionava, como o Makhnovista,
em regime de democracia direta. Em 4 de Julho de 1919, um decreto do governo
comunista proibiu o congresso e tornou o movimento Makhnovista ilegal. As
tropas comunistas atacaram Gulai-Pole e dissolveram as comunas criadas na
região. Poucos dias depois as forças de Denikin chegaram à região, obrigando a
ambas facções a aliarem-se novamente.
Durante os meses de Agosto e Setembro, Denikin
avancou a passo firme em direção a Moscou, enquanto Makhnovistas e comunistas
eram obrigados a retroceder, chegando até as fronteiras ocidentais da Ucrânia.
Então, em Setembro de 1919, Makhno surpreende Denikin lançando um ataque
vitorioso à aldeia de Peregonovka, perto da cidade de Uman, cortando as linhas
de abastecimento do general branco e semeando pânico e desordem na retaguarda.
Este foi o primeiro revés sério sofrido por Denikin em sua campanha, e ao final
do ano o Exército Vermelho o forçaria a bater em retirada até as margens do Mar
Negro.
O primeiro ato de Makhno (foto abaixo) após entrar nessas
cidades (após esvaziar as prisões) foi colocar cartazes anunciando aos
cidadãos que a partir de este momento eram livres para organizarem suas vidas
conforme preferissem, e que o Exército Insurgente Makhnovista "não lhes
ditaria nem ordenaria nada".
Se proclamaram a liberdade de imprensa, palavra
e reunião, e em Ekaterinoslav surgiram imediatamente meia dezena de periódicos
que representavam uma ampla gama de tendências políticas. Mas Makhno, embora
fomentasse a liberdade de expressão, não estava disposto a tolerar aquelas
organizações políticas que tratavam de impor sua autoridade sobre o povo.
Portanto dissolveu os "comitês revolucionários" dos Bolcheviques em
Ekaterinoslav e Aleksandrovsk, aconselhando seus membros a se unirem a eles.
Entretanto, a classe operária urbana não
respondeu ao movimento Makhnovista com o mesmo entusiasmo dos camponeses, e ao
final de 1919, as relações com o governo comunista voltaram a azedar. Ao
negar-se a abandonar o território ucraniano por ordem de Trotsky, o movimento
Makhnovista foi novamente declarado ilegal.
O Exército Vermelho então voltou a combatê-los,
e durante os oito meses que se seguiram ambos os lados sofreram pesadas baixas.
Então, em outubro de 1920, o barão Wrangel, sucessor de Denikin no Sul, lançou
uma importante ofensiva, partindo da Crimeia rumo ao Norte. Novamente o
Exército Vermelho solicitou a ajuda dos Makhnovistas, e novamente a frágil
aliança se refez. Menos de um mês mais tarde, já com a guerra civil ganha, a
aliança foi desfeita.
Em 25 de Novembro de 1920, os líderes do
Exército Makhnovista, reunidos na Criméia por ocasião da vitória sobre Wrangel,
foram presos e executados sumariamente. No dia seguinte, por ordem de Trotsky,
Gulai-Pole foi atacada e os Makhnovistas presos ou executados. Makhno conseguiu
fugir e se exilar na França.
Com a vitória bolchevique, o governo de Lênin
organizou a. União Soviética em 1922, tendo a Ucrânia como uma de suas
Repúblicas. Mas sob o governo de Stálin(1924-1953), a articulação de uma
estrutura de poder centralizadora, autoritária, centrada no culto da
personalidade de seu líder, proporcionou um processo de "
russificação" da URSS, impondo a língua e cultura russa em detrimento das
culturas locais, pois Stálin pretendia sepultar qualquer tendência separatista
daquilo que fora o Império Russo e naquele contexto, de certa forma, " o
Império Soviético".
Todo este período de tensão entre 1914 e 1924,
conjuntamente com os desdobramentos da ascensão de Stálin, provocaram a
formação de ondas de refugiados, que na escala de milhões, buscaram fugir das
guerras, miséria, abusos de autoridade e toda sorte de mazelas e assim,
destinaram-se à Europa ocidental, América do Norte e América Latina, compondo
uma ampla colônia que genericamente, ficara conhecida como eslava.
Em 29 de agosto de 1939, o Pacto de Não-Agressão Germano-Soviético, garantiu temporariamente a integridade territorial da URSS e ainda possibilitou por parte de Stálin a ocupação do leste da Polônia e das independentes Repúblicas Bálticas. A eclosão da II Guerra Mundial em 01 de setembro de 1939 foi um desdobramento da invasão nazista à Polônia. O pacto entre inimigos mortais como o III Reich de Hitler e a URSS de Stálin deve ser visto como uma tomada estratégica de tempo entre ambas as partes, alias, Hitler buscava evitar o erro da I Guerra Mundial: a abertura de duas frentes de batalha.
Quando em 1941, a região ocidental da Europa estava praticamente sobre o controle de Hitler com a Grã-Bretanha acuada e os EUA fora da guerra, Hitler desencadeou a chamada "Operação Barbarossa": a partir dos contingentes militares estacionados no leste da Europa, Hitler ordenou a invasão da URSS e nesse caso, o processo foi visto pela população de duas formas: para quem era favorável ao regime comunista, os alemães eram "invasores", enquanto que, para quem era contrário ao comunismo, os alemães seriam recebidos como "libertadores" e este foi o caso das repúblicas Bálticas e Ucrânia.
Fonte: Atlas da História do Mundo
A Ucrânia ocupada pelos nazistas se converteu no "Comissariado Alemão da Ucrânia", tendo Kiev como sua capital e assim, foi se compondo uma estrutura de poder que aproveitava os inimigos do comunismo para a manutenção do controle da região, inclusive, com a organização de uma Guarda ucraniana pró-nazista "Wolfsangel". No entanto, gradativamente a percepção de uma parcela dos ucranianos mudou de posição face às arbitrariedades que os alemães começavam a praticar, tendo os próprios ucranianos como alvo, além dos já visados : judeus, ciganos, comunistas e outros que fossem considerados "inimigos do III Reich".
A partir de 1942 os exércitos do Eixo começaram
a ser contra-atacados firmemente na União Soviética, África e Pacífico. A
derrota na batalha de Stalingrado (set/42-fev/43), no extremo leste da Ucrânia, junto ao rio Volga, marcou o fim da expansão alemã em território soviético, pois neste momento
iniciou-se a expulsão dos alemães.
Já no
início de 1945 a guerra indicava a vitória aliada devido ao cerco das tropas
alemãs em seu próprio território, graças à ação conjunta das frentes ocidental
e oriental. Os soviéticos foram os primeiros a entrar em Berlim, tomando a
cidade e encontrando Hitler e a cúpula nazista morta no quartel general do
Führer após suicídio, terminando com a guerra na Europa em 8 de maio de 1945.
A Segunda Guerra Mundial se encerrou com um altíssimo saldo de mortos –
entre números controversos de várias fontes, algo por volta de 50 milhões, sendo que deste número, 20 milhões seriam de soviéticos, demonstrando um elevado custo que a guerra tivera àquele país.
Com a morte de Stálin em 1953, ascendeu ao controle da URSS, Nikita Sergeyevich Khushchev, que transferiu o controle da Crimeia da Rússia para a Ucrânia e assim ficou até o fim da URSS em 1991.
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