quarta-feira, 12 de março de 2014

Parte III - Ucrânia e Rússia: relações de tensão seculares

Parte III: o fim da URSS e a reorganização geopolítica da ex-URSS  (1991-2014).


Os anos de Guerra Fria esgotaram a economia da URSS, forçando a população do país a acumular sacrifícios, enquanto as verbas eram destinadas para as despesas militares e para a corrida espacial (outro campo de competição entre as superpotências). No plano interno, a Guerra Fria provocou uma "caça as bruxas" contra os críticos do regime. O terror stalinista perpetuou-se com seus seguidores, Nikita Khrushchev e Leonid Brejnev. Nesse período, as tentativas de participação  popular foram classificadas como "revisionistas" ou de "espionagem imperialista" e violentamente reprimidas.

É bem verdade que, durante o governo de Khrushchev, tentou implantar um processo durante o "degelo", que era uma tentativa de eliminar o lado personalista do poder soviético, inclusive divulgando os terrores do governo de Stálin durante o XX Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), além de ensaiar uma pequena abertura. Mas as perseguições continuaram e nem o próprio dirigente era aceito pelo Partido Comunista, pois tinha acatado a ordem de retirar os mísseis nucleares de Cuba em 1962 e buscado aproximar-se dos EUA na sua política denominada “coexistência pacífica”.


A aproximação foi maior após a assinatura de acordos de redução de armas nucleares (em 1972, o presidente Nixon assinou o SALT-1), conversações sobre a limitação de armas estratégicas juntamente com o dirigente soviético Leonid Brejnev (1964-1982) e de tratados de cooperação técnica, econômica e espacial.

Os protestos no interior da União Soviética levaram o Comitê Central do Partido Comunista a liberalizar o regime, indicando Mikhail Gorbachev para ocupar o cargo de Secretário Geral do Partido Comunista e por sua vez, o governo da URSS. As palavras Glasnost (transparência política) e Perestroika (reestruturação econômica) passaram a fazer parte do vocabulário do novo líder. Atendendo às pressões populares, Gorbachev foi obrigado a equilibrar-se entre a "linha dura” do PCUS (velhos comunistas, stalinistas, militares e funcionários graduados do governo) e os reformistas radicais, simbolizados por Boris Yeltsin, que exigiam reformas mais amplas, profundas e rápidas.

Ocorreu em 26 de abril de 1986, o acidente nuclear de Chernobil, na Usina Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Ilyich Lenin) na Ucrânia (então parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400 vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima. Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação e deslocamento de aproximadamente 200 mil pessoas para novas áreas onde pudessem , na medida do possível, retomar suas vidas. Quanta à contaminação além da Ucrânia, aproximadamente 60% de radioatividade caiu em território bielorrusso.
O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os agora separados países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde devidos ao acidente de Chernobil. É difícil dizer com precisão o número de mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da Organização das Nações Unidas de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e nove crianças com câncer de tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças relacionadas com o acidente. O Greenpeace, entre outras organizações governamentais ou não, contestam as conclusões do estudo.
O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial, até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:

"Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobil. Ele afetou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle."
Em 1990, a "linha dura" reagiu às mudanças, tentando depor Gorbachev. Mas a população saiu às ruas contra o golpe, e os generais foram julgados por alta traição (dois deles suicidaram-se). Boris Yeltsin se apresentou como "símbolo" da resistência ao comunismo e contra a "incapacidade" de Gorbachev. A União Soviética foi extinta e substituída pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI) para a qual Boris Yeltsin foi eleito presidente, aprofundando as reformas econômicas e implantando o sistema capitalista no leste europeu. 

                   


Por outro lado, a Rússia, desde 1991 até o presente momento, buscou uma aproximação com o mundo ocidental, por exemplo sendo incluída junto ao influente G7, que passou a ser conhecido como "G8" (as sete nações mais industrializadas do mundo e a partir de 1998, acrescido da Rússia), mas isso não representou para a população russa melhoria de vida - muito pelo contrário. Os russos, endividados, ainda são temidos, pois são detentores do segundo maior arsenal nuclear do mundo. Recentemente, deram mostras de sua determinação em não perder o status de potência militar ao realizarem uma agressiva intervenção militar na Tchechênia (1999-2000) que, assim como, na luta contra a Geórgia em 2008,  nas regiões de Ossétia do Sul e Abkhazia, buscando agregar territórios de maioria russa, bem como ocorre a disputa pelas jazidas de petróleo e gás natural.

Fonte: http://www.bbc.co.uk




Fonte: Wikipedia.org.pt


Comunidade dos Estados Independentes (CEI)  
A CEI é uma organização supranacional envolvendo 11 repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética (Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguízia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão, ) fundada em 8 de dezembro de 1991. Este novo acordo de união política teve como principal impulsionador o presidente russo Boris Yeltsin e marcou a dissolução da União Soviética. Desde 26 de agosto de 2005, o Turcomenistão não é mais membro permanente da entidade, atuando apenas como membro associado. As três repúblicas fundadoras da CEI concordaram num certo número de pontos fundamentais, nomeadamente nos seguintes: cada estado-membro mantinha a sua independência; as outras repúblicas da antiga União Soviética seriam bem-vindas como novos membros da Comunidade; qualquer república seria livre de abandonar a CEI após ter anunciado essa intenção com um ano de antecedência; os membros deveriam trabalhar em conjunto para o estabelecimento de economias de mercado; o antigo rublo soviético é a moeda comum dos estados-membros; a Comunidade fica sediada em Minsk, Alma-Ata e São Petersburgo. As Repúblicas Bálticas: Lituânia, Estônia e Letônia nunca fizeram parte do grupo.
A Geórgia se integrou ao Grupo em 1994, mas o seu Parlamento aprovou por unanimidade em 14 de agosto de 2008 a saída do país da Comunidade dos Estados Independentes, devido ao apoio russo às causas de independência da Abkhazia e da Ossétia do Sul.

O colapso da União Soviética em 1991 permitiu a convocação de um referendo que resultou na proclamação da independência da Ucrânia. Após isso, o país experimentou uma profunda desaceleração econômica, maior do que a de algumas das outras ex-repúblicas soviéticas. Durante a recessão, a Ucrânia perdeu 60% do seu PIB entre 1991 e 1999, além de ter sofrido com taxas de inflação de cinco dígitos. Insatisfeitos com as condições econômicas, bem como as taxas de crime e corrupção, os ucranianos protestaram e organizaram greves.
A economia ucraniana estabilizou-se até o final da década de 1990. A nova moeda, o hryvnia, foi introduzida em 1996. Desde 2000, o país teve um crescimento econômico real constante, com média de expansão do PIB de cerca de 7% ao ano.
A nova constituição ucraniana, que foi adotada durante o governo do presidente Leonid Kuchma em 1996, acabou por tornar a Ucrânia uma república semi-presidencial e estabeleceu um sistema político estável. Kuchma foi, no entanto, criticado por adversários por corrupção, fraude eleitoral, desestimulação da liberdade de expressão e muita concentração de poder em seu cargo. Ele também transferiu, por várias vezes, propriedades públicas para as mãos de políticos fiéis a ele.
Em 2004, Viktor Yanukovych, então primeiro-ministro, foi declarado vencedor das eleições presidenciais, que tinham sido largamente manipuladas, como o Supremo Tribunal da Ucrânia constatou mais tarde. Os resultados causaram um clamor público em apoio ao candidato da oposição, Viktor Yushchenko, que desafiou o resultado oficial do pleito. Isto resultou na pacífica "Revolução Laranja", que trouxe Viktor Yushchenko e Yulia Tymoshenko ao poder, enquanto lançou Viktor Yanukovych à oposição.
Yanukovych retornou a uma posição de poder em 2006, quando se tornou primeiro-ministro da Aliança de Unidade Nacional, até que eleições antecipadas em setembro de 2007 tornaram Tymoshenko primeiro-ministro novamente.
Disputas com a Rússia sobre dívidas de gás natural interromperam brevemente todos os fornecimentos de gás à Ucrânia em 2006 e novamente em 2009, levando à escassez do produto em vários outros países europeus. Viktor Yanukovych foi novamente eleito presidente em 2010, com 48% dos votos.
O protestos começaram em novembro de 2013, quando os cidadãos ucranianos exigiram uma maior integração do país com a União Europeia (UE). As manifestações foram provocadas pela recusa do governo ucraniano em assinar um acordo de associação com a UE, que Yanukovych descreveu como sendo desvantajoso para a Ucrânia. Com o tempo, o movimento Euromaidan promoveu uma onda de grandes manifestações e agitação civil por todo o país, o contexto que evoluiu para incluir clamores pela renúncia do presidente Yanukovich e de seu governo.


Fonte: www.g1.globo.com

A violência intensificou-se depois de 16 de janeiro de 2014, quando o governo aceitou as leis Bondarenko-Oliynyk, também conhecidas como leis anti-protestos. Os manifestantes anti-governo então ocuparam edifícios do centro de Kiev, incluindo o prédio do Ministério da Justiça, e tumultos deixaram 98 mortos e milhares de feridos entre os dias 18 e 20 fevereiro. Em 22 de fevereiro de 2014, o Parlamento da Ucrânia destituiu Yanukovych por considerar o presidente incapaz de cumprir seus deveres e definiu uma eleição para 25 de maio para selecionar o seu substituto.

No entanto, o Parlamento local da Crimeia, aprovou a declaração de independência em relação à Ucrânia e já estabeleceu para o dia 16 de março, um referendo para que a população local voto sobre a anexação da Crimeia à Rússia. A Crimeia está ocupada militarmente por tropas russas, algo em torno de 20.000 soldados, além da presença de blindados e aviões de guerra, no entanto, o presidente Putin entende que "não houve invasão" e que a movimentação de tropas na região obedece os acordos assinados com a Ucrânia sobre o uso das bases militares do Mar Negro, sendo que Putin entende se há alguma movimentação de tropas, são de "forças militares da Crimeia pró-Rússia", mas não é este o ponto de vista das potências ocidentais. Alias, estas "forças militares locais" usam uniformes sem identificação, podendo assim, ser compreendido como uma espécie de "cortina de fumaça" para a intervenção russa.


Fonte: www.g1.globo.com


 Paira no ar uma sensação de tensão que extrapola as fronteiras do Leste Europeu, pois UE, EUA observam e calculam com atenção os passos face à reação de Putin sobre aquilo que seria uma "intromissão" do Ocidente onde sempre a Rússia (na época do Império Russo ou da URSS) entendeu como "seu" espaço (área de influência) e quais serão os próximos desdobramentos, porém, quando olhamos para História, alguns se lembram dos resultados da "Conferência de Munique" de 1938, quando França e Grã-Bretanha barganharam com Hitler, cedendo às suas chantagens e permitiram a desintegração da Tchecoslováquia, entregando-a aos nazistas, mas aquilo era um "sacrifício" em nome da Paz. Sabemos que no ano seguinte explodiu a II Guerra Mundial. Estaria, a História, se repetindo?

Sugestões do Gabinete:

"Nothing and Never". Direção: Dmitriy Nepochatov. (2006) 45min: documentário premiado que apresenta de modo breve mas intenso o processo da chamada "Revolução Laranja" na Ucrânia em 2004. O documentário é falado em ucraniano com legendas em inglês.




















"Adeus, Lênin". Direção: Wolfgang Berger. (2003), 118 min. : Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.




















"Senhor das Armas". Direção: Andrew Niccol. (2005), 122 min. : Yuri Orlov (Nicolas Cage) é um imigrante ucraniano, radicado nos EUA e que explorou toda forma de comércio de armas que realizan do negócios nos mais variados locais do planeta, inclusive aproveitando o desmonte do arsenal soviético com o fim da Guerra Fria. Estando constantemente em perigosas zonas de guerra, Yuri tenta sempre se manter um passo a frente de Jack Valentine (Ethan Hawke), um agente da Interpol, e também de seus concorrentes e até mesmo clientes, entre os quais estão alguns dos mais famosos ditadores do planeta.



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