A participação brasileira na Primeira
Guerra Mundial (1914-18), embora pequena, pois inicialmente o Brasil declarou-se neutro, mas em 1917, o governo de Venceslau Brás (1914-18) declarou guerra ao Império Alemão em virtude do afundamento de 2 navios mercantes brasileiros (o Tijuca em 22/05/1917 e o Paraná em 25/10/1917),
demonstrou o atraso da tecnologia militar brasileira frente às novas armas
utilizadas no conflito.
Venceslau Brás
Com o fim da guerra, chegou ao País uma missão militar
francesa incumbida de instruir a oficialidade brasileira quanto ao manejo das
armas modernas. Os alunos da missão francesa eram os jovens oficiais do Exército
que, entre outras coisas, acabaram influenciados pelas ideias positivistas e
passaram a defender a participação dos militares na política, como forma de
impor a moralização dos costumes. Estes foram os personagens que ficariam
conhecidos como tenentes, e já davam
seus primeiros passos como movimento durante o governo de Epitácio Pessoa (1918-1922).
Epitácio Pessoa
O Tenentismo
é comumente definido como uma reação da jovem oficialidade, representante das
camadas médias urbanas que estavam marginalizadas da política desde a época da
proclamação da República e que almejavam, de alguma forma, participar mais
ativamente. A principal característica do movimento era o desejo quase utópico
de moralizar o País, mas não havia propostas concretas de como fazê-lo nem um
programa de governo definido. Acreditavam que a alta oficialidade estava a
serviço das elites e que, com a implantação do voto secreto, seriam eliminados
os vícios que permitiam aos oligarcas se manterem no poder.
Durante as
eleições para a sucessão de Epitácio Pessoa, houve uma articulação entre os
Estados do Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, conhecida como Reação Republicana, no sentido de lançar
Nilo Peçanha para a presidência e impedir a vitória de Arthur Bernardes,
candidato da aliança Minas-São Paulo. Este último foi acusado de ser o
protagonista do episódio das “cartas falsas”, publicadas no jornal Correio da Manhã e que continham uma
série de afirmações ofensivas ao Exército. Apesar do clima de tensão que cercou
o pleito, a vitória coube a Arthur Bernardes (1922-1926). Seu
governo foi realizado quase que integralmente sob estado de sítio.
Arthur Bernardes
O primeiro ato dos tenentes, como reação à vitória de
Bernardes, foi a tomada do Forte de Copacabana em 5 de julho de
1922, seguida de ataques ao quartel general do Exército. Cercados pelas forças
leais ao governo, os rebeldes não concordaram em se render e, preferindo
morrer, marcharam pela praia e enfrentaram os tiros contra eles disparados.
Desse episódio, que ficou conhecido como a Revolta dos 18 do Forte, houve apenas
dois sobreviventes: os tenentes Siqueira
Campos e Eduardo Gomes. Embora tenha sido sufocada, a Revolta do Forte de
Copacabana tornou-se um símbolo das lutas armadas que marcaram a década de
1920.
"Os 17 militares e 01 civil" do 18 do Forte de Copacabana em 1922.
Em 1924,
rebeldes tomaram a cidade de São Paulo, dando início a outro levante
tenentista: a Revolução de 1924. Exigiam reformas eleitorais, a convocação de uma Assembleia
Constituinte e o voto secreto. Sob o comando de Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, os tenentes conseguiram dominar
a capital paulista por 23 dias, pois o presidente do Estado (governador) Carlos de Campos foi obrigado a fugir às pressas da capital, evitando assim sua prisão pelos tenentes.
O presidente Arthur Bernardes declarou estado de sítio e enviou tropas para conter os rebeldes, que tentavam expandir seu controle para outras cidades. O tenente Juarez Távora tentou ocupar a cidade de Três Lagoas, mas foi derrotado com a concentração de tropas do governo federal em Bauru.
A cidade de São Paulo não resistiu muito tempo aos bombardeios e ao
fogo de artilharia, que atingiram os bairros do Brás, Mooca e Perdizes, além de outras partes da cidade como o centro: uma bala de canhão atingiu o claustro do Mosteiro de São Bento.
Destruição causada por bombardeio das forças federais contra os rebeldes na Av. Tiradentes em São Paulo.
Bombardeio das forças federais na Rua João Teodoro, centro de São Paulo.
A dificuldade da manutenção das posições ocupadas, os poucos recursos militares e o cerco das tropas federais foi crucial para a derrota do movimento que teve 509 mortos e cerca de 5000 feridos, sendo então
desalojados pelo Exército em 02 de agosto de 1924, favorecendo o retorno de Carlos de Campos para o palácio dos Campos Elísios, sede da Presidência do Estado, no centro da capital.
Em 1925,
nas proximidades de Foz do Iguaçu, os paulistas juntaram-se a outra coluna
revolucionária que vinha do Rio Grande do Sul com o intuito de tomar a capital,
Rio de Janeiro, e que também lutava contra o governo de Arthur Bernardes. Desse
encontro, nasceu a Coluna Prestes.
Luís Carlos Prestes (LCP) é o "número 2"
Sob a
liderança de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes, conhecido como “o Cavaleiro
da Esperança", os rebeldes percorreram 25 mil km em todo o território
nacional, tentando sublevar as populações do interior contra o governo federal.
Porém, a tentativa de conscientizar as massas populares contra a exploração das
oligarquias não obteve sucesso. Os membros da Coluna acabaram por asilar-se na Bolívia, cansados, sem
munição e sem armas em 1927. A luta para levantar o Brasil contra a imoralidade
fracassara, mas a República Velha também já dava sinais de intensa agonia.
Durante o mandato de Washington Luís (1926-1930), a crise
econômica já se implantara e o governo se debatia, tentando contornar seus
efeitos. A esse carioca que fez carreira política em São Paulo são atribuídas
as frases "Governar é abrir estradas" e "A questão social é um
caso de polícia", que demonstram a óptica das oligarquias cafeeiras.
Washington Luís
Com o Crash da Bolsa de Nova York em 1929,
a cafeicultura brasileira entrou em crise e o governo viu-se
"obrigado" a comprar toda a produção, que acabou sendo destruída por
falta de local para armazenagem, e provocou questionamento por todo o País,
além de ocasionar estragos na aliança política entre mineiros e paulistas.
Washington
Luís, representante da oligarquia paulista, decidiu romper com Minas Gerais,
lançando a candidatura de seu ministro Júlio
Prestes, outro paulista, para a presidência. A cisão das oligarquias fez
que os mineiros, liderados pelo frustrado governador Antônio Carlos, se unissem
ao Rio Grande do Sul e a alguns políticos nordestinos, formando a Aliança
Liberal, que lançou como candidato de oposição o gaúcho Getúlio
Dorneles Vargas, ex-ministro de Washington Luís.
A máquina
eleitoral funcionou mais uma vez, dando a vitória ao candidato situacionista,
que recebeu cerca de um milhão de votos, 200 mil a mais do que Vargas, tudo
isso sob intensas acusações de fraude. Mas a oposição não se deu por vencida e
ensaiava uma reação para a derrota.
Pouco depois das eleições, ocorreu o assassinato de João Pessoa, governador da Paraíba e
candidato a vice-presidente na chapa de Vargas. O crime, que teve como autor certo
João Dantas, estava ligado a questões passionais e problemas da política local
da Paraíba, mas acabou servindo como pretexto para os opositores, que culparam
políticos de São Paulo pelo crime.
Luís Carlos Prestes, que estava exilado na Argentina, foi
convidado para comandar o movimento revolucionário, mas ele já não mais
compartilhava os ideais do tenentismo, passando a defender o movimento
comunista, ao qual se filiara, recebendo orientações diretas do regime
soviético. A Aliança Liberal transformou-se, assim, no comando revolucionário e
o golpe estava em marcha.
A Revolução de 1930, que irrompeu em 3 de outubro, foi liderada pelos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, que receberam o auxílio dos tenentes refugiados na Bolívia.
Num movimento articulado, as regiões do Brasil foram, aos poucos, caindo nas mãos dos rebeldes. Depois do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina também aderiram, indo em direção a São Paulo, reduto dos donos do poder.
No Nordeste, Juarez Távora tomou o Recife com apoio da população local e, pouco tempo depois, todos os Estados nordestinos estavam sob o controle dos revolucionários. Em Minas Gerais, houve forte resistência por parte de grupos fiéis ao presidente, mas os rebeldes dominaram a situação.
Em São Paulo, talvez pudesse oferecer uma resistência maior e daí poderiam ocorrer combates mais violentos. Na região de Itararé, divisa com o Paraná, começavam os primeiros tiroteios, quando, em 24 de outubro, chegou a notícia de que o alto comando das Forças Armadas havia deposto o presidente Washington Luís, o que abreviou os possíveis conflitos.
O presidente Washington Luís (de chapéu) no momento de sua deposição pelos militares.
O governo foi entregue a Getúlio Vargas e a Constituição de 1891 foi abolida. A economia sofreria modificações, a agricultura seria diversificada e a indústria passaria a ser incentivada. Porém, essas modificações pouco alteraram a relação de forças que governavam o País, uma vez que o operariado continuou a ser explorado enquanto as camadas dominantes ainda estavam intimamente ligadas ao capital externo.
Vitorioso no golpe de Estado, Getúlio Vargas foi empossado presidente pelos militares.
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