sexta-feira, 29 de maio de 2015

O mundo islâmico

O Islamismo surgiu primeiramente entre os árabes que habitavam a atual Arábia Saudita. Antes do advento de Maomé, esse povo vivia em tribos nômades, governadas por um patriarca, vagando de oásis em oásis conduzindo rebanhos de ovelhas e cabras. Eram politeístas, tendo cada tribo vários deuses representados por objetos e imagens sagradas.
A fome e as guerras por disputas políticas ou por motivos religiosos eram constantes. A expectativa de vida era bastante baixa e a poligamia surgia como forma de compensar os homens mortos nas guerras. Em meio a essa realidade, nasceu Maomé, na cidade de Meca, no ano 570. Este homem era um comerciante da tribo coraixita, que participou de inúmeras caravanas, e tal atividade lhe permitiu conhecer a cidade de Jerusalém, onde entrou em contato com cristãos e judeus, circulando de um lado para outro no exercício do comércio.

Quando tinha cerca de 40 anos, Maomé afirmou ter tido uma visão, na qual o anjo Gabriel, mensageiro de Allah, lhe transmitira as bases da religião islâmica. Os homens deveriam abandonar os cultos idólatras e reconhecer que Allah era o único e verdadeiro deus.
Tal proposta não foi bem aceita inicialmente. Em 622, Maomé foi perseguido pelos comerciantes da cidade de Meca, que temiam perder os lucros obtidos com as vendas de artigos ligados às religiões pagãs. O pregador foi obrigado a fugir para a cidade de Yatrib, que, posteriormente, recebeu o nome de Medina (Madina al Nabi) - “cidade do profeta”.

O profeta Maomé, com seu rosto velado, retratado numa viagem mística


A fuga de Maomé de Meca para Medina passou posteriormente a ser o marco inicial do calendário muçulmano, recebendo o nome de Hégira. Em Medina, Maomé conseguiu reunir grande número de seguidores que poderiam formar uma espécie de exército com profundas motivações religiosas. As tropas comandadas pelo novo profeta invadiram a cidade de Meca, destruindo todos os símbolos pagãos, poupando apenas a Caaba (uma pedra negra que, segundo a lenda, fora enviada por Deus aos homens). Todos os que se opuseram à nova religião foram mortos.



Os discípulos de Maomé reuniram os princípios de sua religião em um livro sagrado, denominado Alcorão. Nele, estão os Cinco Pilares do Islã:

- Crença em Allah
- Oração: cinco vezes ao dia, com a face voltada para Meca;
- Purificação: jejuar durante o mês do Ramadã;
- Caridade: ajudar aos pobres;
- Peregrinação: visitar a cidade de Meca pelo menos uma vez na vida

O Hajj: a peregrinação à Meca, tendo ao centro da foto, a famosa Caaba.


Existem outros costumes que também são observados pelos seguidores do Islã, como por exemplo, abster-se de álcool e de carne de porco.
O Islã tem entre seus conceitos importantes a Jihad, palavra árabe que significa “esforço, empenho” em relação à palavra de Allah, podendo no entanto, se converter numa ação militar de caráter defensivo ou ofensivo, dependendo do contexto e nesse caso, ganha a dimensão de “Guerra Santa”.
Aqueles que morressem na Guerra Santa teriam todos os seus pecados perdoados e direito ao Paraíso, onde haveria fartura de comida, bebida e mulheres. O fanatismo resultante dessa pregação levou os muçulmanos a conquistar um imenso império, tomando todo o Império Persa, bem como o Egito, a Palestina e a Síria, que estavam sob o domínio Bizantino.

De 661 a 750, os muçulmanos foram governados pela Dinastia Omíada, que transferiu sua capital para Damasco, na Síria. Essa dinastia conquistou a Índia, o norte da África e a Península Ibérica. Tentou tomar também a Gália, em poder do Reino dos Francos, mas foram derrotados na Batalha de Poitiers (732), sendo obrigados a recuar.
A Dinastia Abássida (750 - 1258) não conseguiu manter a unidade dos islâmicos e assistiu à fragmentação do Império em numerosos Califados independentes. Também nessa época, os abássidas sofreram novas derrotas, como as invasões mongóis e turcas a leste e a vitória dos cristãos na Guerra da Reconquista da Península Ibérica.


Mapa com a expansão islâmica e os califados entre os séculos X-XI

Assim como qualquer outra religião, o islamismo não suportou o próprio crescimento, o que provocou a divisão entre os seguidores. Existem dois grupos que dividem o islamismo mundialmente:
·       Sunitas: surgiram após a morte de Maomé. Além de seguirem os ensinamentos de Alcorão, aceitam os ensinamentos contidos no Suna (significa costume), espécie de biografia de Maomé, que mescla eventos da vida do Profeta aos costumes do povo árabe. Defendem a separação entre o poder laico e o religioso. Para eles, os chefes de Estado não precisam ser sacerdotes, considerados infalíveis, mas reunir sólidas virtudes. Representam a grande maioria dos muçulmanos até hoje.
·       Xiitas: acreditam que os chefes de Estado deveriam ser da linhagem de Maomé, isto é, descendentes de Fátima (filha de Maomé) e de Ali (genro). Portanto, a palavra xiita tem origem na expressão árabe "shi’ at’ Ali" : partidários de Ali. O governante deve ser também um guia espiritual (imã). Para os xiitas, o Corão é a única fonte de ensinamento da verdade.

Nos povos islâmicos, a grande atividade econômica era o comércio, já bastante característico das populações de origem árabe. Porém, também as manufaturas e a agricultura tiveram extraordinário desenvolvimento .
A influência árabe foi marcante dentro da Europa Ocidental em virtude da grande sofisticação desta civilização, responsável pela introdução do cultivo da cana-de-açúcar, laranja, algodão e arroz; pelas técnicas de fabricação do vidro e do aço ( técnica vinda de Damasco e instalada na cidade de Toledo).
Do ponto de vista intelectual, os árabes tinham profundos conhecimentos em Medicina, Física, Astronomia, Matemática (desenvolvimento da aritmética e utilização dos algarismos hindus, depois denominados arábicos) e Química. Ademais, os árabes já possuíam várias universidades, destacando-se nas cidades de Bagdá (atual Iraque), Cairo (atual Egito), Isfahan (atual Irã) e Córdoba (atual Espanha) e podiam estudar Medicina, Teologia, Direito, Matemática e Filosofia.

Alhambra, a "Fortaleza Vermelha", construída pelos árabes entre os séculos XII-XIII, em Granada, sede do poder mouro no Al-Andaluz (hoje Andaluzia, sul da Espanha). Crédito: Elias Feitosa


Na cultura, os árabes desenvolveram grandes conhecimentos em matemática, astronomia, medicina (destacando-se o persa Ibn Sina(980-1037), conhecido no Ocidente como Avicena) e filosofia, com o médico e filósofo Ibn Roshd (conhecido no Ocidente como Averróis), tradutor e comentarista de Aristóteles que viveu entre 1126 e 1198 no Al-Andaluz(domínio mouro na Península Ibérica). Na literatura, destacam-se obras conhecidíssimas até hoje, como As Mil e Uma Noites , tradição oral, posteriormente registrada em vários manuscritos e Rubayat, versos do poeta persa Omar Khayan.




A escultura e a pintura figurativas receberam pouca atenção, uma vez que eram interpretadas como produção de caráter idólatra. Em relação a escultura e arquitetura, os árabes construíram mesquitas grandiosas(como a  de Córdoba), ricamente decoradas, utilizando a técnica dos arabescos(cúpulas e rendilhados esculpidos em pedra) e faianças, como também de palácios, destacando-se o Palácio Alhambra em Granada. Percebemos que a tradição figurativa não teve um grande desenvolvimento na cultura islâmica em virtude da condenação às imagens existentes no Islã, sendo predominante a utilização de motivos geométricos ou abstratos, associados à caligrafia árabe, denominados como arabescos.


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