Uma
ideia muito importante a ser compreendida é que a formação da Europa Medieval e
das estruturas feudais não se fez de um momento para outro. Ela ocorreu num
processo gradativo de transformação a partir da decadência do Império Romano e
da somatória de elementos exteriores ao império que favoreceram a sua queda e
consequente modificação.
Este
período de quase mil anos pode ser entendido como um processo de três fases distintas:
a germinação das estruturas feudais entre os séculos V e VIII; o apogeu do
feudalismo nos séculos IX a XI e, por fim, sua decadência entre os séculos XII
e XV. Além disso, deve-se considerar que o feudalismo teve como elementos
formadores os fatores internos (a crise do Império Romano) e fatores externos
(as invasões dos povos germânicos).
O estudo de Idade Média nada mais é do que exercício de reflexão
sobre o processo de formação das futuras
nações europeias após a desagregação do Império Romano do Ocidente. O nome Idade Média carrega em si uma série
de preconceitos, o que pode levar o estudante menos atento a pensar este
período como uma fase de ignorância, atraso, ausência de desenvolvimento e assim, usar a velha e superada expressão "Idade das Trevas". É
importante tomar cuidado para não assimilar essa visão, pois há mais de 40 anos que os medievalistas tem mostrado que o período foi exatamente o contrário.
Este termo,
“medieval”, criado pelos renascentistas, deve ser visto apenas como o período
histórico europeu compreendido entre os séculos V e XV. Para facilitar o estudo
– e tão somente isso - os historiadores criaram arbitrariamente a seguinte
divisão: Alta Idade Média (do século V
ao X) e Baixa Idade Média (que se estendeu até o século XV).
As
características básicas da Alta Idade Média Ocidental foram a formação e a
desagregação dos reinos bárbaros e o desenvolvimento do feudalismo, como
veremos a seguir. Foi assim que surgiram os reinos bárbaros.
IMPÉRIO BIZANTINO
Com a decadência do Império
Romano do Ocidente, Constantinopla
permaneceu como último reduto da cultura romana. Construída sobre a colônia
grega chamada de Bizâncio, localizada em uma posição estratégica, entre a Ásia
e a Europa, próxima aos estreitos de Bósforo e Dardanelos, essa cidade dominava
as rotas marítimas entre o Mar Egeu e o Mar Negro, bem como as rotas terrestres
daquela região. Foi esse conjunto de fatores que incentivou o imperador romano
Constantino a reforma-la em 330, rebatizando-a e depois, no reinado depois no final do reinado de Teodósio, se tornou a capital do
Império Oriental: “a Roma do Oriente”.
A
proximidade com a Grécia fez que Constantinopla recebesse forte influência da
cultura helenística, tornando o grego sua segunda língua. Ao longo dos séculos
V e VI, a cidade foi um movimentado entreposto comercial de lã, linho, seda,
objetos de cobre, ouro e prata vindos da África, Pérsia, China e Índia,
conferindo a Constantinopla o
cognome de “Porta do Oriente”.
As
principais atividades econômicas eram: comércio, devido à localização geográfica,
ponto de convergência de várias rotas de comércio
e agricultura, praticada com o trabalho escravo, mas
também com a produção de pequenos proprietários livres. Apesar de
existir a possibilidade de tais atividades serem desenvolvidas por
particulares, toda a economia era fortemente controlada pelo Estado, dando a
esse setor uma característica marcadamente intervencionista.
Justiniano (acima) e sua imperatriz Teodora (abaixo)
Sob o governo de Justiniano (527-565), o
Império Bizantino viveu a sua fase mais grandiosa. Ele estabeleceu a paz
com o Império Persa e procurou reconstruir o antigo Império Romano do Ocidente,
retomando as terras que estavam nas mãos dos bárbaros germânicos.
No plano
interno, Justiniano mandou construir hospitais, novos muros para aumentar a
segurança da cidade, e numerosas igrejas, dentre as quais se destaca Hagia Sophia, que significa Divina
Sabedoria em grego, uma das marcas da arquitetura e da arte
bizantina.
Outras questões, estas de caráter religioso, movimentaram a
população bizantina, que se envolvia em profundos debates entre os membros do
clero oriental. As mais famosas foram o monofosismo
(crença apenas na natureza divina de Cristo, negando sua natureza humana) que
foi combatida e definitivamente negada com o concílio de Calcedônia em 451, quando foi estabelecido que Jesus é detentor das
duas naturezas (divina e humana) e a questão
iconoclasta, que abertamente defendia a destruição de imagens, provocando
vários conflitos que destruíram templos e também provocaram muitas mortes e
somente no II Concílio de Nicéia em 787
a resolução definitiva foi tomada: as imagens seriam utilizadas em caráter
pedagógico e doutrinal, assumindo a dimensão de “Bíblia dos Pobres”, pois o
importante é a mensagem que trazem e não o objeto religioso em si, mas isso não
evitou que muitos fiéis se comportassem como idólatras ou preservassem
superstições que vinham das tradições pagãs.
Por
ordem de Justiniano, os juristas
bizantinos compilaram a legislação romana, bem como toda a jurisprudência
dos seus tribunais em uma obra que ficou conhecida como Corpus Juris Civilis (Corpo do Direito Civil) ou Código Justiniano.
Com o
crescimento do cristianismo, as igrejas das grandes cidades passaram a
organizar-se em torno de um padre denominado Bispo. Com o passar do tempo,
estes bispos começaram a estender seu poder muito além dos limites de suas
cidades, rivalizando-se. Por volta do século V, os bispos de Jerusalém,
Alexandria, Antioquia, Constantinopla e Roma firmaram-se como os mais poderosos
entre os cristãos.
Justiniano foi a tentativa de
reconquistar o Império do Ocidente, recuperando o litoral do norte da África, a
península Itálica e a porção sul da península Ibérica. Justiniano também
conseguiu conter os ataques na porção oriental do império, principalmente, dos
persas sassânidas e dos búlgaros nos Balcãs. A
sustentação deste império, no entanto, foi mantida através de um grande
exército e de uma extensa burocracia, sendo ambos sustentados pelos inúmeros
impostos pagos pela população.
Mapa de Constantinopla
Por volta
do século VII, com o advento do Império Islâmico, as cidades de Jerusalém,
Alexandria e Antioquia foram dominadas pelos muçulmanos. O mundo cristão viu-se
ameaçado e, como campos sólidos dessa religião, restaram tão somente os bispos
de Constantinopla e Roma. Entretanto, a figura do papa incomodava os
imperadores bizantinos, que se sentiam coagidos pelo líder cristão. Crescia,
então, a força do cesaropapismo, ou seja, a submissão da Igreja ao Estado.
As
divergências teológicas e doutrinais, a influência da cultura grega e a pressão
exercida pelo poder imperial bizantino prolongaram os conflitos entre Roma e
Constantinopla, os quais continuaram até 1054, quando ocorreu o Cisma do Oriente, que acabou dividindo
o cristianismo da seguinte forma:
- Igreja Católica Apostólica Romana -
sob a hegemonia do Bispo de Roma, que assumiu os títulos de Papa e Sumo
Pontífice, dominando a Europa Ocidental.
- Igreja Católica Apostólica Ortodoxa -
sob a hegemonia do Bispo de Constantinopla, que assumiu o título de Patriarca ,
porém era claramente sem autonomia e submisso ao imperador.
Os muros da
cidade garantiram a paz e a prosperidade durante um longo período. Mas os
sucessores de Justiniano sequer tentaram assemelhar-se ao grande imperador,
permitindo avanços de povos estrangeiros. Os muçulmanos conquistaram grande
parte dos territórios pertencentes ao Império Romano do Oriente, até sua queda
definitiva em 1453, quando Constantinopla foi invadida pelos turcos otomanos.
Nessa
oportunidade, vários estudiosos da
cultura clássica (greco-romana) abandonaram a capital bizantina. Muitos
deles dirigiram-se para o Ocidente, na busca
de refúgio. Um dos locais escolhidos foi a Península Itálica, onde a
cultura da Antiguidade seria revigorada e relida, séculos depois, no processo conhecido como Renascimento.
Sob domínio
muçulmano, a cidade de Constantinopla passou a chamar-se Istambul, sendo a capital do Império Otomano até 1922, quando o sultão Mehmed VI foi deposto e se estabeleceu o regime republicano, surgindo assim, a República da Turquia, liderada por Mustafá Kemal(1923-38), que ficara conhecido como Atatürk, "o pai dos turcos"
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