POLÍTICA EXTERNA
No plano
externo, a política externa do II Reinado foi bastante tumultuada, envolvendo incidentes
diplomáticos, questões de limites e até mesmo três guerras. Pode-se até dizer que, em certa medida, o Brasil adotou uma
prática intervencionista perante seus vizinhos do Prata, fato que se
assemelhava às estratégias das potências imperialistas que caracterizaram o século
XIX e XX.
As
relações entre Brasil e Inglaterra deterioravam-se rapidamente. Em 1842, a
Rainha Vitória recusou-se a aceitar a Grã-Cruz do Cruzeiro do Sul, maior
condecoração brasileira, oferecida pelo Imperador Dom Pedro II, piorando ainda
mais as relações entre os dois países.
Em 1844, o Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco, tentou
corrigir décadas de defasagem na política aduaneira, elevando as tarifas
alfandegárias dos produtos ingleses em até 30 % para mercadorias sem similares
nacionais e 60% em caso contrário, revogando, assim, a condição de nação mais
favorecida que a Inglaterra desfrutava desde 1810.
Por outro lado, a Inglaterra, em plena Revolução Industrial,
pressionava todas as nações do mundo para que abolissem o tráfico de escravos.
No Brasil, a pressão inglesa chocava-se com os interesses dos grandes
proprietários escravocratas e dos comerciantes de escravos, que possuíam
representação no governo e no Legislativo e, dessa forma, fizeram valer seu
poder, e, por um bom tempo, as pressões inglesas foram ignoradas, mas os
ingleses dispunham de um poder militar muito maior e através das armas
defenderam o “Bill Aberdeen”, um ato aprovado pelo Parlamento Britânico em
1847, influenciado pelo ministro das Relações Exteriores Lord Aberdeen, que
dava o direito da marinha britânica atacar e apreender navios negreiros, bem
como aprisionar a tripulação, julgar os envolvidos em tribunais britânicos.
As Tarifas
Alves Branco, como ficaram conhecidas, provocaram uma tímida tentativa
de industrialização por parte da burguesia brasileira, além de um vigoroso
protesto por parte dos ingleses, uma vez que seus produtos haviam encarecido
bastante para os brasileiros. Embora a nova política protecionista não formasse
uma barreira intransponível nem estimulasse decisivamente o mercado interno,
foi um importante passo nesse sentido, sem dúvida.
Esses
protestos dos ingleses acabaram se traduzindo em ameaças e, por fim, no
rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. É importante
ressaltar que a situação se agravou devido à inabilidade do embaixador inglês
no Brasil, William Dougall Christie.
D. Pedro II. João Maximiano Mafra, c. 1851, Museu do estado de Pernambuco, Recife.
QUESTÃO CHRISTIE
Em
1861, o navio inglês Príncipe de Gales
naufragou no litoral do Rio Grande do Sul e teve sua carga saqueada pela
população local. O embaixador britânico no Brasil classificou tal ato como
pirataria e exigiu que o governo brasileiro indenizasse a Inglaterra em 3.200
libras esterlinas por toda a carga. No ano seguinte, enquanto ainda não havia
sido tomada uma decisão em relação à indenização pedida por Christie, alguns
oficiais e marinheiros de um navio de guerra inglês, trajando roupas civis,
embebedaram-se no Rio de Janeiro e provocaram arruaças na cidade. Presos pela
polícia local, negaram-se a se identificar e passaram a noite presos. No dia
seguinte, com os ânimos serenados, os marinheiros se identificaram e foram
soltos.
O fato
serviu de pretexto para que o embaixador Christie exigisse desculpas oficiais
do governo brasileiro e pressionasse para que os policiais envolvidos na prisão
dos marinheiros fossem demitidos, retomando a polêmica do "Príncipe de
Gales". Diante de nova negativa do governo brasileiro, o embaixador foi
instruído a apresar navios brasileiros na Baía da Guanabara e levá-los para a
ilha de Palmas, no Atlântico Sul.
A questão
foi submetida a arbitramento internacional, sendo convidado como árbitro o rei
Leopoldo I, da Bélgica. Tentando resolver a questão amistosamente, ou temendo
um resultado desfavorável, Dom Pedro II antecipou-se e pagou a indenização aos
ingleses. No entanto, o rei belga acabou dando ganho de causa ao Brasil em
1863. O País, então, passou da defensiva à ofensiva no campo diplomático,
exigindo desculpas formais do governo inglês. Já se sabia que a Inglaterra não
iria se desculpar e, devido a isso, o embaixador brasileiro deixou Londres em
1863 e, logo a seguir, o embaixador britânico partiu do Rio de Janeiro de volta
à Inglaterra. As relações diplomáticas somente foram reatadas em 1865, devido
ao interesse inglês na guerra que se iniciava contra o Paraguai.
QUESTÕES PLATINAS
O Uruguai já despertava o interesse do Brasil desde os
tempos da colonização, quando a região foi incorporada à colônia com o nome de
Província Cisplatina. Em 1825, durante o Primeiro Reinado, um movimento popular
apoiado pela Argentina tentou anexar a região àquele país, provocando violentos
choques com o governo de D. Pedro I. A questão somente foi resolvida em 1828,
com um acordo assinado por Brasil e Argentina, no qual os dois países
concordavam com a independência da região sob o nome de República Oriental do
Uruguai. Porém, as pretensões do Brasil e da Argentina não cessaram.
Na Argentina,
no Uruguai , os partidos Blanco (unitarista) e Colorado (federalista)
disputavam o poder. Essa "unidade ideológica", que não respeitava
fronteiras, provocava fatalmente o envolvimento de todas as partes em cada
revolta ocorrida na região.
Quanto a
Dom Pedro II, sempre houve a preocupação de impedir o aparecimento de um país
forte na região platina ou de que ocorresse uma união territorial entre
argentinos, uruguaios e paraguaios, uma vez que os brasileiros esforçavam-se
para estabelecer a livre navegação nos rios platinos, únicas vias regulares de
acesso à parte centro-oeste do território do Brasil.
Em 1828,
foram realizadas eleições presidenciais no Uruguai, opondo os latifundiários,
unidos em torno do blanco Manuel Oribe, que, inclusive, tinha
o apoio do argentino Juan Manuel Rosas, contra o colorado Frutuoso Rivera, que representava os comerciantes da região e
tinha o apoio explícito do governo imperial brasileiro e do líder político
argentino, José Urquiza, que, como governador da província de Corrientes,
era o principal opositor de Rosas na Argentina. A vitória coube ao candidato colorado.
Os blancos acusaram os colorados de fraude e
pediram ajuda aos blancos dos países
vizinhos. Em 1834, depois de vencer as eleições e tornar-se o novo presidente,
Oribe aproximou-se de Rosas, provocando a fuga de seu predecessor, Rivera, que
se refugiou no Rio Grande do Sul aliando-se ao líder farroupilha, Bento
Gonçalves.
Rivera
organizou um exército e tomou o poder no Uruguai, aproveitando-se dos problemas
enfrentados por Rosas na Argentina. Alguns fazendeiros brasileiros realizaram
incursões no Uruguai para garantir suas propriedades, pois estas eram
frequentemente invadidas e saqueadas pelas facções em luta dos vizinhos. Em
1839, Rosas conseguiu resolver seus problemas internos na Argentina e anexou o
Uruguai, o que causou protestos da Inglaterra, da França e do Brasil. Os
ataques às propriedades de brasileiros continuaram de ambos os lados da
fronteira, provocando a entrada do Brasil na guerra.
O General
Urquiza, comandante das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios,
revoltou-se contra Rosas e aliou-se ao Brasil e ao uruguaio Rivera. As forças
brasileiras, comandadas pelo Duque de Caxias e apoiadas pelo
bloqueio naval do almirante Grenfelld, tomaram Montevidéu e, a seguir,
invadiram a Argentina, depondo Rosas.
Argentina
e Uruguai celebraram com o Brasil um tratado de livre comércio e navegação no
Rio da Prata, garantindo aos brasileiros o vital acesso à província do Mato
Grosso, bem como a “permissão” para comandar os acontecimentos na desembocadura
do Rio da Prata.
As lutas
entre blancos e colorados prosseguiam no Uruguai a cada eleição e, em 1864, o colorado Venâncio Flores tentou
tomar o poder de Atanásio Aguirre, através da luta armada. O Brasil apresentou
um protesto junto ao governo do Uruguai, devido aos constantes ataques às
propriedades de brasileiros, mas foi ignorado pelo presidente Aguirre. O País
decidiu, então, intervir novamente no Uruguai, enviando a Montevidéu um
exército comandado por Caxias, enquanto a marinha bloqueava o litoral uruguaio.
O presidente Aguirre renunciou e fugiu para o Paraguai, onde pediu auxílio ao
ditador Francisco Solano Lopez. Enquanto isso, Flores, o novo
presidente do Uruguai, cedia às exigências brasileiras.
A GUERRA DO PARAGUAI (1864-70)
O Paraguai
foi, desde sua emancipação em 1810, uma exceção na região. A independência do
país não foi obra da elite criolla,
como no resto da América espanhola, mas, sim, fruto da união entre os índios
guaranis e uma camada militarizada nacionalista, que implantou no Paraguai um
modelo de desenvolvimento ligado à realidade local. Durante os longos governos
de José Domingos Francia (1811-1840) e Carlos Antônio Lopez (1840-1862), as
grandes propriedades foram confiscadas e transformadas em Estâncias da Pátria, que
abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas.
Nesse
período, o Paraguai não pode ser visto como uma democracia. Mas a escravidão
foi abolida, o analfabetismo acabou erradicado, fábricas de armas e de pólvora
foram implantadas, assim como indústrias siderúrgicas, estradas de ferro,
telégrafo e estaleiro. Tal quadro de relativo sucesso econômico e social e de
autonomia internacional foi acompanhado durante o governo de Francisco
Solano Lopez, iniciado em 1862, de uma política de ênfase no setor
militar.
A
intervenção brasileira no Uruguai e o pedido de auxílio formulado por Aguirre
ao Paraguai forneceram o pretexto que desencadeou a maior guerra de toda a
América Latina. Em 11 de novembro de 1864, Lopez apreendeu o navio brasileiro
Marques de Olinda, que navegava no Rio Paraguai, provocando a declaração de
guerra por parte do Brasil.
Os
paraguaios tentaram tomar a província do Mato Grosso, mas foram repelidos pelas
forças brasileiras. Optaram, então, pela libertação do Uruguai, mas, para isso,
foi necessário invadir parte do território da Argentina, o que provocou a
entrada do país na guerra.
Em maio de
1865, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, que
entregava o comando do bloco belicista ao presidente da Argentina. Os aliados
puderam contar ainda com empréstimos e equipamentos vindos da Inglaterra, uma
vez que a esta interessava a destruição do Paraguai. As operações navais, sob o
comando do Almirante Tamandaré, foram inteiramente favoráveis ao Brasil,
enquanto as operações em terra beneficiaram os paraguaios. O Brasil foi
obrigado a financiar um exército profissional recrutado pelo Uruguai e também a
recrutar negros que seriam alforriados após o conflito. Tal contingente ficou
conhecido como os “Voluntários da Pátria”.
De 1866 a
1869, o comando do exército brasileiro foi entregue ao Duque de Caxias, que
conseguiu expressivas vitórias sobre a força paraguaia, obrigando Lopez a
refugiar-se no norte do país. O comando passou, então, a Louis Phillipe Gaston d’ Orleans, o Conde d'Eu, genro do
Imperador, que comandou verdadeiros massacres junto à população paraguaia enquanto
perseguia Solano Lopez, que fora morto em 1º de março de 1870 por soldados
brasileiros depois da batalha de Cerro Cora.
As consequências da Guerra do Paraguai foram catastróficas
para todos os envolvidos. O Paraguai perdeu cerca de 70 % de sua população
masculina, segundo as estatísticas mais confiáveis, metade da população
paraguaia foi dizimada: de 406.000 habitantes em 1864 para 231.000 em
1872.Apesar da vitória militar, Brasil, Argentina e Uruguai aumentaram seu
endividamento em relação à Inglaterra , que foi, em última análise, beneficiada indiretamente
com o conflito.
crítica à violência promovida na Guerra do Paraguai
Em pesquisas
mais recentes(ver o livro "Maldita Guerra" do Prof. Dr. Francisco Doratioto, da Universidade de Brasília), a Guerra do Paraguai não é mais entendida como uma ação
“maquiavélica” da Grã-Bretanha que estava tendo seus interesses ameaçados pela
potência em ascensão que seria o Paraguai, pois o conflito foi muito mais uma
disputa pelo controle e acesso da bacia Platina, que naquele contexto, era o
elo de integração das regiões litorâneas com a região central do continente e
nesse caso, a livre-navegação pelos rios da Bacia do Prata era uma questão de
Estado para as nações da região.
ECONOMIA E IMIGRAÇÃO
A economia
brasileira, desde o período colonial, foi marcada pela tríade monocultura, escravismo e produção para a
exportação. O mercado consumidor do País estava além-mar e a produção local
era definida segundo os interesses da metrópole portuguesa. Quando o Brasil
tornou-se independente, tal tríade foi mantida e, até a primeira metade do
século XIX, a cana-de-açúcar continuava a ser o carro-chefe das exportações.
Entretanto,
outro produto começou a fazer parte do conjunto de artigos exportáveis do
Brasil, para juntar-se à já citada cana, ao algodão, ao fumo e às drogas do
sertão. Tratava-se do café.
Essa planta, de origem africana, chegou ao Brasil ainda na
primeira metade do século XVIII, mas sua utilização comercial só começou por
volta de 1830, na região da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. O destino da
produção era a Europa, especialmente a França.
O café ganhou espaço na região Sudeste, avançando para a Zona
da Mata Mineira e para o Vale do Paraíba. Algumas cidades desenvolveram-se nas
redondezas em função dessas plantações, mas, na medida em que o café dirigia-se
para o Oeste, tais localidades perdiam a função, sendo que algumas delas, se
transformaram em cidades “mortas” ou “fantasmas”. Em toda essa área, os
trabalhadores eram predominantemente escravos negros.
O café
chegou à Província de São Paulo na segunda metade do século XIX e avançou
rapidamente para a parte oeste. Isso aconteceu porque o solo (terra roxa) e o
clima da região favoreciam a cultura cafeeira, além de haver o próprio
interesse do governo em ocupar a região. O problema é que a expansão do café em
terras paulistas coincidiu com o aumento das pressões inglesas pela extinção do
trabalho compulsório em terras americanas, o que provocou a aprovação do
polêmico Bill Aberdeen, que dava aos britânicos o “direito” de
aprisionar navios negreiros que se direcionavam para este continente.
O café
precisava de mais braços, mas o País ainda se agarrava ao anacrônico e
decadente sistema escravista. A solução adotada provisoriamente foi a
transferência de trabalhadores negros de fazendas canavieiras nordestinas em
crise. Mas esse tráfico interno de escravos não era eficiente, pois ainda
mantinha alto o preço da mão-de-obra. Finalmente, o governo resolveu atender às
sugestões de fazendeiros paulistas, em especial do senador Nicolau Pereira Campos Vergueiro,
e passou a incentivar a vinda de trabalhadores europeus para o Brasil. Em 1846, chegavam da Alemanha e da Suíça mais de 350 famílias
de imigrantes para trabalhar nas fazendas do senador, especialmente a de
Ibicaba, próxima da cidade de Limeira, no interior de São Paulo.
A primeira
experiência concreta de trabalho europeu e assalariado em fazendas brasileiras
recebeu o nome de sistema de parceria, e tinha regras muito simples. Os
trabalhadores deveriam dividir a produção com o fazendeiro e seriam
responsáveis pelo seu próprio sustento. Caso juntassem dinheiro suficiente,
poderiam comprara sua própria terra. Era com essa proposta que alguns homens, chamados
arregimentadores, desembarcavam na
Europa, alardeando o fácil enriquecimento aos desiludidos do Velho Mundo,
fossem eles agricultores ou operários desempregados.
Chegando
ao Brasil, esses homens e mulheres percebiam o quanto haviam sido enganados. O
regime de trabalho nas fazendas era muito semelhante à servidão medieval. Os
colonos, italianos, portugueses, espanhóis, suíços, alemães, entre outros,
endividavam-se com os fazendeiros e não poderiam sair enquanto não saldassem as
dívidas. Suas correspondências eram censuradas, caso relatassem a exploração e,
não raro, eram castigados nos mesmos moldes dos escravos negros.
Em 1857, explodiu uma revolta de imigrantes contra o Senador
Vergueiro: a revolta dos Parceiros. A situação tornou-se tão dramática que o
governo imperial alemão chegou a proibir a emigração para o Brasil.
Tentando reverter a situação, o governo brasileiro
suspendeu o sistema de parceria, que foi substituído pela imigração subvencionada,
na qual se assinava um contrato com o imigrante - este receberia ajuda de custo
do governo imperial para a sua viagem e assinaria um contrato de trabalho, que
permitia a ele e seus familiares mudarem-se do trabalho ao final do prazo
acordado. Mas isso não impediu que histórias de exploração dos trabalhadores
continuassem a acontecer
O Brasil
passou a receber novas levas de imigrantes. Desta vez, predominavam italianos, espanhóis e portugueses. Os
primeiros eram majoritários, principalmente por causa das guerras pela
unificação de seu país. Para cá, vieram desde fugitivos do conflito até aqueles
que, por defenderem ideais políticos liberais ou anarquistas, eram perseguidos
em seus países.
Com a
chegada de mais europeus, cresceu a disputa pela terra. Isso precipitou a
aprovação da Lei de Terras (1850), pela qual foi criada uma série de
impedimentos para o acesso dos imigrantes à propriedade de uma fazenda. A nova
lei extinguia definitivamente o antigo modelo colonial de sesmarias, isto é,
doação de terras, estabelecendo que, a partir daquela data, a terra pública só
poderia ser comprada.
Com essa
lei, os grandes proprietários procuraram dificultar o acesso à terra por parte
das pessoas de poucos recursos, pois, se a terra fosse facilmente adquirida por
qualquer um, os fazendeiros ficariam sem mão-de-obra disponível.
Os
imigrantes, geralmente pobres, chegavam ao Brasil na vigência dessa lei e iam
trabalhar nos cafezais. Nascia um novo regime de trabalho, chamado colonato,
segundo o qual cada família de imigrantes, agora colonos, recebia um
pagamento proporcional aos pés de café entregues para serem cuidados por ela.
Na época da colheita, os colonos eram remunerados com uma espécie de
gratificação, de acordo com a quantidade de café colhido.
É
importante ressaltar que, no colonato, havia a permissão para que os colonos
cultivassem produtos para subsistência nos intervalos dos cafezais, dos quais
tinham o direito de dispor livremente, inclusive vendendo o excedente. Mais ao
Sul, imigrantes organizavam-se em pequenas propriedades, produzindo para o
mercado interno. Também havia cidades que, fundadas por empresas estrangeiras,
atraíam trabalhadores imigrantes e nacionais.
A formação
da Associação Auxiliadora da Colonização sistematizou a vinda de imigrantes,
providenciando alojamento, alimentação etc. A partir daí, a imigração cresceu
rapidamente no Brasil e nova levas trouxeram outros tipos estrangeiros. Ainda
chegavam italianos, mas, agora, acompanhados de povos eslavos e de mais alemães.
No final do século XIX e início do XX, até japoneses
passaram a tentar a sorte no Brasil.
Com o
desenvolvimento da cafeicultura, um novo equilíbrio econômico foi estabelecido.
Desde 1860, os superávits tornaram-se constantes nas relações comerciais com o
exterior, ajustando novamente a economia brasileira ao mercado internacional.
Assim, em contraste com o período anterior da Regência, bastante conturbado,
teve início no Brasil uma nova era de relativa prosperidade. A reunião de
fatores favoráveis, como as tarifas Alves Branco, a abolição do tráfico
negreiro em 1850 e a ascensão do café, estimularam uma onda de novos
empreendimentos.
Nesse
surto de empreendimentos, destacou-se, quase como um símbolo desse tempo, Irineu Evangelista de Sousa (imagem ao lado), mais
conhecido como Barão de Mauá, um ousado empresário que investiu nos mais
variados setores da economia. Os sucesso inicial de suas empresas estimulou o
surgimento de outras e atraiu o capital privado inglês.
Em 1845,
Mauá adquiriu o Estaleiro Ponta de Areia, no Rio de Janeiro, produzindo vários
barcos a vapor. Ali, também criou uma fundição e, posteriormente, passou a
investir no setor de transportes, criando a Companhia de Rebocadores para o Rio
Grande do Sul e incentivando a construção da primeira ferrovia do Brasil.
No campo
das comunicações, empreendeu a montagem de um cabo telegráfico submarino,
ligando o Brasil à Europa. Fundou também o Banco Mauá, que chegou a ter filiais
na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França, no Uruguai, na Argentina e nas
principais cidades brasileiras. Também deu atenção ao setor público urbano,
implantando iluminação a gás e abastecimento de água na capital do País.
Em 1860,
devido às pressões do comércio importador, geralmente dominado por ingleses, a
tarifa Alves Branco foi substituída pela tarifa Silva Ferraz. A partir de
então, foram reduzidas as taxas de importação para máquinas, ferragens e armas,
o que representou um dos primeiros golpes para Mauá, especialmente para a
fundição. Outro fator que contribuiu para a derrocada do Barão foi o
antagonismo entre seus interesses e os que envolviam o capital estrangeiro,
principalmente o inglês. Irineu Evangelista não recebeu apoio das forças
governamentais, que viam com antipatia suas ideias políticas liberais e
abolicionistas, e foi definitivamente malvisto pelo governo assim que se
manifestou contrário ao envolvimento do Brasil na Guerra do Paraguai. As
tentativas empresariais de Mauá falharam e ele foi obrigado a sucumbir,
vendendo suas empresas para os estrangeiros.
ALÉM DO CAFÉ
O café não
foi o único produto agrícola importante no Império. O açúcar, o algodão, o
cacau, o tabaco e a borracha representaram parte significativa de nossa
produção agrícola. No período de 1861 a 1870, o algodão foi a segunda
maior fonte de riqueza para o Brasil, pois a produção dos Estados Unidos, que
era o grande produtor da época, estava seriamente comprometida devido aos
desdobramentos da Guerra de Secessão.
A produção
e exportação de açúcar foram diminuindo aos poucos, pois esse produto sofria a
concorrência de outros no mercado internacional, como os similares produzidos
na América Central e até mesmo o açúcar feito de beterraba.
O Brasil
interessou-se pela exportação de borracha em meados do século XIX,
quando se descobriu que, a partir do látex, era possível obter um produto mais
resistente. Na década de 1860, o surto de borracha tomou conta do País,
primeiro na região do Pará e, depois, no Amazonas. Com o desenvolvimento do
automóvel em nível mundial, e sendo o Brasil detentor de 90% do comércio
internacional da borracha, a economia da região transformou-se e Manaus viu
como o dinheiro poderia fazer uma cidade no meio da floresta tropical se tornar
uma das mais ricas e luxuosas do País. Houve até o interesse e a concretização
da aquisição do Acre, região que pertencia à Bolívia e que atraiu a atenção dos
brasileiros por ser rica em seringueiras.
A extração
do látex era feita, geralmente, utilizando-se mão-de-obra de migrantes
nordestinos que fugiam das secas. Na condição de seringueiro, os trabalhadores
eram explorados duramente pelos donos dos seringais. Porém, os altos ganhos dos
seringalistas e exportadores duraram pouco. Já no começo do século XX, os
ingleses deram início ao cultivo da seringueira nas selvas da Malásia e do
Ceilão (atual Sri-Lanka), ganhando o mercado internacional e levando a produção
brasileira para níveis insignificantes.
O cacau
teve uma trajetória semelhante. Cultivado no sul da Bahia, atendeu à demanda do
mercado internacional, que cresceu no final do século XIX com a expansão das
indústrias de chocolates. Também utilizava como trabalhadores os fugitivos da
seca, com especial destaque para as mulheres.
O volume
das exportações brasileiras era muito maior do que o das importações. Entretanto,
aqui se produziam gêneros agrícolas muito baratos, ao passo que manufaturados e
industrializados caros eram importados. Dessa forma, pouco se pôde aproveitar
em relação aos lucros das exportações.
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