A
independência das treze colônias inglesas da América do Norte compõe mais um
episódio no longo capítulo das chamadas “revoluções burguesas”, que se estendeu
até o século XIX com a consolidação do modelo industrial capitalista de
produção.
Como já foi
visto anteriormente, a Inglaterra desenvolveu em terras americanas uma política
diferente de Portugal e Espanha, mandando para o novo mundo grandes
contingentes populacionais proibidos de retornar à metrópole. A colônia de
povoamento tinha por objetivo garantir a posse das terras, e somente em um
momento posterior auferir algum tipo de lucro.
A
colonização se deu basicamente durante a Reforma Anglicana e as perseguições
religiosas na Inglaterra. Os perseguidos eram forçados a deixar o país sob pena
de execução e, dessa forma, mudaram-se com suas famílias, em grupos fechados,
sem intenção de retornar.
Com a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) entre
a França e a Inglaterra, as colônias inglesas ficaram "abandonadas"
pela metrópole e foram obrigadas a se autogovernar. Com o fim da guerra, a
Inglaterra decidiu aumentar os impostos sobre as colônias como forma de
recuperar suas finanças. A Guerra dos Sete Anos também repercutiu na América,
gerando as chamadas guerras intercoloniais, nas quais colonos ingleses e
franceses lutaram, principalmente, por causa das dificuldades enfrentadas para
penetrar no interior, atrás de peles raras de animais. Também havia a
necessidade de aumentar a arrecadação para viabilizar a ocupação militar do
Canadá, bem como de ilhas no Caribe e de portos na Índia.
Outro fator
que obrigou os ingleses a mudar de postura foi a industrialização. Com a
Revolução Industrial, a Inglaterra viu-se obrigada a buscar novos mercados, mas
isso entrava em contradição com a autonomia econômica que caracterizava a
maioria das colônias. Ainda assim, novas taxas foram criadas pelo governo
britânico.
A Guerra dos Sete Anos e seus desdobramentos
A primeira
delas foi a Lei do açúcar (1764), que fixou
taxas elevadas para o açúcar que não viesse das outras colônias britânicas. A
lei prejudicou os produtores locais de melado, utilizado na produção de rum. Um
ano depois, foi imposta a Lei do selo,
que obrigava os colonos a selar certidões, jornais e até baralhos com um selo
vendido pela Coroa. Isso elevava o preço final dos produtos, pois era uma
cobrança direta de imposto. Tal lei provocou a criação de uma assembleia em
Nova York, na qual os presentes decidiram boicotar os produtos ingleses, uma
vez que, no Parlamento da Inglaterra, onde eram tomadas as decisões, não havia
nenhum representante dos colonos. A lei acabou suspensa diante da defesa dos
colonos apresentada pelo advogado Benjamim Franklin.
A Lei do chá,
criada em 1767 pelo ministro das Finanças, Charles Townshend, concedia o
monopólio do comércio de chá, chumbo e vidro a uma companhia inglesa cujo maior
acionista era o próprio governo. Em protesto, alguns colonos fantasiados de
índios invadiram um navio inglês no porto de Boston e jogaram sua carga de chá ao
mar. A Inglaterra reagiu com extremo rigor contra a chamada “Festa do chá de
Boston” e outras manifestações antimetropolitanas. Em Boston, que era o
principal porto colonial, as tropas inglesas dispararam contra uma multidão de manifestantes, ocasionando o
chamado Massacre de Boston.
As
hostilidades se sucederam em outras localidades das colônias, levando o governo
britânico a radicalizar. O Parlamento aprovou medidas que impunham severas
punições aos colonos. Tais medidas ficaram conhecidas como Leis Intoleráveis e seus
principais pontos eram:
- Interdição do porto de Boston até o pagamento dos
prejuízos;
- Julgamento dos culpados por tribunais em Londres;
- Aquartelamento de tropas britânicas em Boston, nas casas
dos colonos;
- Construção de um forte na cidade às expensas dos colonos.
Os colonos
reuniram-se, então, no Primeiro Congresso da Filadélfia, em setembro de 1774,
de onde enviaram ao rei uma petição à qual deram o nome de Declaração de
Direitos. Com ela, pretendiam ter seus direitos igualados aos dos cidadãos
moradores da Inglaterra.
O rei
inglês, George III, não aceitou os pedidos e ainda impediu que os colonos
ocupassem as terras do oeste do Canadá, que ficaram sob a responsabilidade do
governador de Quebec.
Com a promulgação do chamado Ato de Quebec,
prejudicial aos colonos, foi reunido o Segundo Congresso da Filadélfia, que
promulgou a Declaração de Independência (4/7/1776), redigida pelo jovem
jurista Thomas Jefferson, profundo conhecedor e admirador de John
Locke.
A separação
tornou-se um caminho sem volta. Para liderar as tropas rebeldes, foi escolhido
o grande proprietário e experiente militar, George Washington. A
guerra de independência durou mais de seis anos. A primeira grande vitória foi
na Batalha de Saratoga. Posteriormente, os americanos passaram a contar com o
apoio de inimigos dos ingleses. Benjamin Franklin foi o responsável
pela representação dos colonos em nível internacional, conseguindo milicianos
para combater ao lado deles e, principalmente, objetivando o reconhecimento da
independência americana.
Os colonos
receberam a ajuda da França, principalmente o apoio tático dos generais La
Fayette e Rochanbeau, enquanto a Espanha fornecia material bélico. Finalmente,
em 1781, os ingleses foram derrotados na Batalha de Yorktown e obrigados a
retirar suas tropas da costa oeste dos atuais Estados Unidos. O reconhecimento
da independência norte-americana se deu em 1783, pela assinatura do Tratado de
Versalhes.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS
Uma vez obtida a independência, os políticos americanos
passaram a discutir a forma de governo a ser adotada, existindo duas propostas:
o centralismo e o federalismo (onde a primeira defendia um poder central forte
e a segunda defendia a autonomia do poder local).
A
Constituição de 1787, influenciada pelas idéias de Montesquieu, criou a
estrutura de uma república federativa presidencialista, sob a liderança do
presidente da República como manifestação do poder executivo; o poder
legislativo era representado pelo Congresso Nacional, através da Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal; por fim o Judiciário era representado pela
Suprema Corte de Justiça e pelos tribunais estaduais.
A
República dos Estados Unidos da América representou a síntese das duas
propostas iniciais, favorecendo a autonomia das províncias e a autoridade
concentrada na pessoa do presidente da República, sendo que o primeiro a ser
eleito foi o líder das tropas americanas durante a guerra de independência
George Washington.
George Washington comandante do Exército dos EUA(1776-83) e presidente dos EUA (1789-1797) representado com os signos da Maçonaria, da qual era integrante.
A formação
dos Estados Unidos foi extremamente importante para o processo de independência
das colônias latino-americanas ao longo do século XIX.
Os
Estados Unidos eram inicialmente constituídos pelas treze colônias atlânticas
até a região dos Apalaches, e em 1783 foi acrescentada a área até o Mississipi.
A expansão para o oeste foi vinculada à forte imigração européia, à expulsão
dos indígenas e seu conseqüente massacre, ou então ao seu confinamento em
reservas.
O
território americano foi ampliado também através de ações diplomáticas para a
cessão ou compra de novas áreas. Foram comprados os territórios da Louisiana
(por 15 milhões de dólares da França), da Flórida (por 5 milhões de dólares da
Espanha) e o Alasca (por 7 milhões de dólares da Rússia). Em 1848 a região do
Oregon foi cedida pela Inglaterra num tratado de definição de fronteiras entre
os Estados Unidos e o Canadá. No entanto, a expansão não foi totalmente
pacífica, pois as áreas do Texas, Novo México e Califórnia foram anexados após
conflitos com o México em 1845 e 1848.
A
expansão territorial representou a formação de uma nova configuração social nas
áreas adquiridas, com interesses e dimensões distintas: o sul era conservador,
com a aristocracia rural baseada no sistema de plantation; o centro e oeste um
grupo emergente de pioneiros na expansão com a criação de gado e lavoura, e ao
norte e leste uma burguesia industrial e comercial com grande poder aquisitivo
e também com grande número de operários organizados.
As
transformações da sociedade americana, no entanto, tinham ainda a presença de
uma instituição colonial: a escravidão negra. Dessa forma, a economia sulista
estava calcada no trabalho escravo (concentrado na produção agrícola) e livre
cambista, com sua economia voltada para a exportação, principalmente
comercializando com a Inglaterra, que comprava os produtos sulistas em troca de
seus produtos manufaturados.
O norte pretendia expandir o mercado
consumidor interno, como também favorecer os produtos nacionais
industrializados com o protecionismo alfandegário e produzir com o trabalho
assalariado, o que constituía um embate de forças entre os interesses
industriais do norte e os interesses agrícolas sulistas.
No Sul,
predominavam as grandes propriedades rurais, produtoras de algodão, tabaco e
açúcar em regime de plantation, tendo
a Inglaterra como seu principal comprador. Essas fazendas dependiam do trabalho
escravo e pretendiam tarifas alfandegárias baixas, que lhes permitissem manter
estreitos laços comerciais com a antiga metrópole.
As
divergências entre o Norte industrializado e o Sul escravocrata puderam ser
contornadas durante algum tempo, graças ao sistema federativo, que conferia uma
grande autonomia aos Estados, bem como a representação no Senado - que garantia
dois votos a cada Estado.
Por volta
de 1819, os nortistas tinham 105 deputados contra 81 do Sul. Essa divisão era
percebida pela organização partidário-política: o Partido Republicano
representava os industriais do Norte, enquanto o Partido Democrata era o
porta-voz da aristocracia sulista.
Durante o
século XIX, as regiões central e
noroeste, que, durante o período colonial, já possuíam sociedade urbana e
economia diversificada, despertavam ainda mais interesse dos industriais do
Norte.
A Questão
do Missouri quase provocou um conflito entre estados abolicionistas e
escravistas, mas foi contornada pelo Compromisso do Missouri (1820), que previa
a sua entrada na União como Estado escravista e a incorporação do território do
Maine como não-escravista. Entretanto, o rápido crescimento da população do
Norte deixava clara a impossibilidade de manter uma igualdade de representação
entre o Norte e o Sul. Prevendo uma possível derrota na eleição de 1860, os
sulistas passaram a defender a tese de que os Estados poderiam retirar-se da
Federação, caso tivessem seus interesses prejudicados.
Fonte: Atlas de História Geral - Editora Scipione, 2002.
GUERRA DE SECESSÃO (1861 – 1865)
A vitória
do republicano Abraham Lincoln
na eleição presidencial de 1860 provocou a saída da Carolina do Sul da
federação, seguida por dez outros Estados. Os "rebeldes" formaram os
Estados Confederados da América, tendo Jefferson Davis como presidente,
e atacaram um forte do exército da União. Os sulistas contavam com o apoio da
Europa, pois esta era dependente de seu algodão, mas não contavam com o
bloqueio naval imposto pelo Norte e pelos estoques estratégicos dos industriais
ingleses, que haviam previsto o conflito.
Já em 1863,
em meio à guerra, Lincoln decretou o fim da escravidão, visando desestabilizar a economia sulista, mas esta medida só teria valor durante o "estado de Guerra" e assim, até 1865, Lincoln buscou obtenção de apoio no Congresso para a aprovação da 13a emenda, em janeiro de 1865, abolindo de vez, a escravidão.
Abraham Lincoln
A guerra
prosseguiu sem fatos significativos até a nomeação de Ulisses Grant como
comandante do exército nortista (o
quarto em três anos). Alcunhado de "o carniceiro" pelos seus próprios
soldados, Grant fez valer a superioridade numérica do Norte, ordenando ataques
maciços contra as posições do Sul. Um de seus generais conseguiu furar as
defesas sulistas e transformou o Vale do Shanandoa, produtor de alimentos do
Sul, em uma imensa fogueira. Estrangulados e sem condições de se defender, os
confederados renderam-se ao final da Batalha de Appomatox, em 9 de abril de 1865, pondo fim a uma
guerra que custou mais de 600 mil mortos.
Logo depois
da guerra, o presidente Lincoln foi assassinado dentro de um teatro por John
Wilkes Booth, um fanático sulista. Os estados sulistas foram reincorporados à
União e obrigados a reconhecer o fim da escravidão. Como consequência do final
da guerra civil e da insatisfação dos brancos ao verem que as famílias negras
recebiam ajuda do governo federal, foram criadas sociedades secretas de caráter
racista, como a Ku-Klux-Klan, que se
empenharam para manter um rígido sistema de segregação racial, que sobreviveu oficialmente
até 1961, mas não deixou
de gerar vítimas como os assassinatos das lideranças negras como Malcom X(1965) e
Matin Luther King(1968).
Nenhum comentário:
Postar um comentário