sexta-feira, 31 de março de 2017

31 de março de 1964: o golpe de Estado civil militar

Imagem do documentário "O dia que durou 21 anos".
Fonte: Divulgação


O governo João Goulart foi o marco da crise do populismo brasileiro. Os complicados anos 60, entremeados com movimentos sociais, revoluções no comportamento, guerras e mobilizações estudantis, polarizaram a sociedade brasileira. Nesse sentido, o trabalhismo, que nos anos 30 e 40 era visto como estratégia para conter o crescimento dos comunistas, agora era visto como tão perigoso quanto. Assim, apesar de não possuir o perfil de líder comunista, Jango se aproximou da esquerda, amedrontando cada vez mais os empresários e militares.

O período parlamentarista foi instável, pois não havia uma base partidária sólida de sustentação do chanceler. Os quatro primeiros-ministros dessa fase foram, respectivamente, Tancredo Neves, Moura Andrade, Francisco de Paula Brochado da Rocha e Hermes Lima.
João Goulart bateu-se contra o parlamentarismo até conseguir sua extinção em 1963, antecipando o plebiscito através da Emenda Capanema e de uma enorme movimentação nacional que ficou conhecida como “Campanha da Legalidade”. Em janeiro de 1963, com 9,5 milhões de votos entre 12 milhões de eleitores, o presidencialismo venceu, mas a oposição contra Jango, apesar de não ser numerosa, abrangia os setores mais influentes da sociedade.

Em 1963, o ministro do Planejamento, Celso Furtado, anunciava o Plano Trienal, com objetivo de reduzir a taxa de inflação e estimular o crescimento econômico, mas tal projeto não recebeu apoio dos organismos internacionais nem da burguesia nacional.       Jango, então, anunciou as "Reformas de Base", atendendo às reivindicações de vários setores reformistas da sociedade brasileira. Tudo isso ocorria sob a vigilância das Forças Armadas, da burguesia conservadora e dos Estados Unidos.

No dia 13 de março de 1964, Jango convocou um comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no qual anunciou a nacionalização das empresas de petróleo e a assinatura do primeiro decreto de reforma agrária. O projeto previa a utilização das terras improdutivas que estivessem próximas à ferrovias e rodovias, ou seja, não havia a intenção de desapropriar os tradicionais latifúndios. Mas tal medida foi o suficiente para que João Goulart passasse a ser considerado um “perigoso comunista”. Para piorar, ele discursou diante de 2 mil sargentos manifestando apoio a um motim de marinheiros, o que desagradou os altos escalões das Forças Armadas.


Em represália ao comício, a classe média paulistana protestou, realizando uma grande manifestação em 19 de março com o nome de "Marcha da Família com Deus pela Liberdade",que reuniu mais de 100 mil mulheres na capital, e exigiu que o exército depusesse o presidente.
Na noite de 31 de março de 1964, iniciou-se um levante militar em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo que culminou com a deposição de Jango. O golpe teve o apoio logístico da CIA e das Forças Armadas dos EUA, num evento que foi chamado de “Operação Brother Sam”.
No intuito de evitar um derramamento de sangue, Jango voou de Brasília para Porto Alegre na noite de 1º de abril, enquanto o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade declarou vago o cargo da Presidência da República, sendo que o cargo foi assumido interinamente pelo presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli.



A operação "Brother Sam"

"Documentos do Departamento de Estado norte-americano, recentemente revelados à opinião pública, evidenciam o grau de participação e de envolvimento dos EUA na conspiração e execução do golpe de abril de 1964. Examinemos aqui apenas o caso da chamada "operação Brother Sam". No dia 31 de março aprovou-se, numa reunião do Departamento de Estado um plano militar que consistia no envio às costas brasileiras um porta-aviões de ataque pesado (o Forrestal), destróieres de apoio, petroleiros bélicos, navios de munições e navios de mantimentos; aviões transportando armas e munições (110 toneladas), aviões de caça, aviões tanques e um posto de comando-transportado deveriam se deslocar para o Rio de Janeiro. O objetivo de toda esta aparatosa operação era a de fornecer "apoio logístico, material e militar" aos golpistas.[...]
Três dias após o golpe, Carlos Lacerda ouviria de Mr. Gordon (embaixador norte-americano no Brasil) a seguinte declaração: "Vocês fizeram uma coisa formidável !  Essa revolução sem sangue e tão rápida ! E com isso pouparam uma situação que seria profundamente triste, desagradável e com consequências imprevisíveis no futuro de nossas relações: vocês evitaram que tivéssemos que intervir no conflito".


TOLEDO, Caio Navarro. O Governo Goulart e o Golpe de 64.São Paulo: Ed. Brasiliense,1993, p.52.

Sugestão do Gabinete:



"O dia que durou 21 anos". Direção:  Camilo Tavares, 2013, 67 min: 

Enquanto alguns documentários históricos desejam informar ou persuadir, preocupando-se mais com a pedagogia do que com a estética, O Dia que Durou 21 Anos chama a atenção pelo próprio uso da linguagem cinematográfica. O emprego de fotografias de arquivo animadas, de trilha sonora pulsante durante as imagens de manifestação, ou ainda a montagem acelerada sugerem uma preocupação em seduzir o espectador, entretê-lo. Este é um dos raros filmes sobre a ditadura que oferece ao público mais do que exige dele.

Por um lado, esta escolha traz suas vantagens. Com a curta duração de 77 minutos, o ritmo da produção é acelerado, envolvente. A sugestão de que um filme deveria ser exibido nas salas de aula costuma equivaler a uma insinuação depreciativa por parte da crítica, como se a obra fosse limitada ao didatismo e às boas intenções, mas neste caso, as instituições de ensino poderiam fazer bom uso da exposição empolgante deste episódio central do passado brasileiro. Poucas vezes a História foi tão agradável de assistir, não devendo nada a grandes ficções americanas em termos de suspense e requinte de produção.

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