As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Há 450 anos morria Michelangelo Buonarroti

Durante a Baixa Idade Média ocorreu o renascimento comercial e urbano, o qual favoreceu em especial algumas regiões da Europa como Flandres (região que hoje compreende Bélgica e Holanda) e o norte da Itália. Nesse momento, começou o fortalecimento do poder monárquico em detrimento da nobreza. No entanto, na Itália não se formou uma monarquia nacional centralizada, uma vez que aquela região era dominada por pequenos Estados sob o controle da burguesia (as repúblicas de Florença, Gênova, Lucca, Siena e Veneza); da nobreza (os ducados de Milão, Módena, Ferrara, Savoia) e da Igreja (região central da Itália). A região de Flandres era uma possessão dos duques de Borgonha (passando no final do século XV para o domínio dos Habsburgo) e era dotada também de intensa atividade comercial, tendo porém uma burguesia desinteressada em nobilitar-se como era o caso da italiana.

O enriquecimento das cidades italianas fez com que as famílias burguesas controlassem o governo das comunas a partir do podestá (líder político), que tinha sob seu controle um exército de mercenários liderado pelo condottieri (chefe de armas ou capitão de guerra). Em Veneza, porém, havia a figura do doge (duque de Veneza e chefe da república) apoiado pelo Senado e pelo Conselho dos Dez (órgão sigiloso com poderes de vida e morte sobre os cidadãos, composto por membros da aristocracia veneziana).

Destacaram-se como importantes membros da burguesia italiana os Médici em Florença, os Baglioni em Perúgia e os Bentivoglio em Bolonha; em algumas cidades os próprios condottieri controlavam o poder, como os Sforza em Milão.

A estética renascentista propôs o retorno aos valores clássicos: arte mimética (a imitação da realidade com o objetivo de buscar a perfeição, segundo Aristóteles, forjando a ideia de respeitar o modelo adotado e dentro dele a busca da superação, fruto da ação do artista); a harmonia, a sobriedade (contenção dos sentimentos) e além dessa recuperação da Antiguidade, o tema central foi o antropocentrismo (o homem como a medida de todas as coisas) em oposição ao teocentrismo, favorecendo o surgimento de uma forma de cultura laica (não-religiosa), a qual valorizava o individualismo.

Quanto à temática, não foram abandonados os temas religiosos, como a vida de santos e as passagens da Bíblia, mas houve uma mudança de foco: ao invés de imagens que representavam a divindade como algo intocável e misterioso, os artistas buscaram uma representação mais humanizada dos personagens sagrados. Tal fato é perceptível em vários trabalhos, como por exemplo, no Juízo Final pintado por Michelangelo na Capela Sistina. Outro tema recorrente foi a mitologia greco-romana, pois os mitos foram resgatados e ganharam uma roupagem adequada ao gosto burguês, quando muitos queriam demonstrar sua erudição no conhecimento dessas narrativas ou ainda associar as virtudes de um herói ou deus à sua pessoa.

A Capela Sistina foi pensada pelo papa Sisto IV para servir de espaço para as cerimônias de caráter mais privado da corte papal e também como espaço para a realização do conclave (eleição do papa pelo Colégio dos Cardeais). A decoração interna das paredes laterais foi realizada por vários pintores: Boticelli, Rafael, Cosimo Rosseli, Luca Segnorelli, Perugino, Ghirlandaio e Pinturicchio. Já as pinturas do teto em abóbada (1508-1512) e a parede do altar principal (1535-1541) foram feitas por Michelangelo, retratando os temas bíblicos desde a Criação e terminando no Juízo Final.

A riqueza de detalhes acompanhada de uma manifestação muito clara dos movimentos dos personagens impõem ao observador um desafio gigantesco: a dificuldade de contemplá-la por completo num único olhar, fazendo de sua observação um processo semelhante à leitura, pois o observador avança de uma parte para outra tal qual um leitor que percorre o texto ao longo de seus parágrafos.

Michelangelo dotou suas imagens de cores e gestos de vigorosa intensidade, cuja manifestação confere uma aparência realista aos temas retratados, diferente de uma representação estática e sobrenatural, pois justamente a ideia de naturalidade ou ainda de uma idealização da natureza se colocam presentes na composição, nos traços, cores e volumes.


Ao observarmos, por exemplo, o detalhe da Criação do homem, vemos a materialização de um canto gregoriano Veni Criator (Venha Criador em latim), segundo o qual se evoca a presença divina. Diferente do texto bíblico, onde o Criador esculpiu o homem no barro dando-lhe vida, Michelangelo apresenta Deus como um vigoroso ancião que se move em direção ao homem e com o toque lhe concede a vida, evidenciada pela ação divina em relação ao humano.




















Fonte: http://pt.wikipedia.org/

Sugestões do Gabinete:

Agonia e êxtase. Direção de Carol Reed, 1965, 138 min. : A vida de Michelangelo e a tensa relação que ele teve com o papa Júlio II durante a realização das pinturas na Capela Sistina. A partir do filme podemos compreender as sutilezas que envolviam as relações entre os mecenas e seus protegidos.






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