Durante a Baixa Idade Média ocorreu o renascimento
comercial e urbano, o qual favoreceu em especial algumas regiões da Europa como
Flandres (região que hoje compreende Bélgica e Holanda) e o norte da Itália. Nesse momento, começou
o fortalecimento do poder monárquico em detrimento da nobreza. No entanto, na
Itália não se formou uma monarquia nacional centralizada, uma vez que aquela região era dominada por
pequenos Estados sob o controle da burguesia (as repúblicas
de Florença, Gênova, Lucca, Siena e Veneza);
da nobreza (os ducados de Milão, Módena,
Ferrara, Savoia) e da Igreja (região central
da Itália). A região de Flandres era
uma possessão dos duques de Borgonha (passando
no final do século XV para o domínio dos Habsburgo)
e era dotada também de intensa atividade comercial, tendo porém uma burguesia
desinteressada em nobilitar-se como era o caso da italiana.
O enriquecimento das cidades italianas fez com que
as famílias burguesas controlassem o governo
das comunas a partir do podestá (líder
político), que tinha sob seu controle um exército
de mercenários liderado pelo condottieri (chefe de armas ou capitão
de guerra). Em Veneza, porém, havia a figura
do doge (duque
de Veneza e chefe da república) apoiado pelo
Senado e pelo Conselho dos Dez (órgão sigiloso com
poderes de vida e morte sobre os cidadãos, composto por membros da aristocracia
veneziana).
Destacaram-se como importantes membros da burguesia
italiana os Médici em Florença, os Baglioni em Perúgia e os Bentivoglio em
Bolonha; em algumas cidades os próprios condottieri controlavam o poder, como os Sforza em Milão.
A estética renascentista propôs o retorno aos
valores clássicos: arte mimética (a imitação da realidade com o objetivo de
buscar a perfeição, segundo Aristóteles, forjando a ideia
de respeitar o modelo adotado e dentro dele a busca da superação, fruto da ação
do artista); a harmonia, a sobriedade (contenção
dos sentimentos) e além dessa recuperação da
Antiguidade, o tema central foi o
antropocentrismo (o homem como a medida de todas as coisas) em oposição ao teocentrismo, favorecendo o surgimento
de uma forma de cultura laica (não-religiosa), a qual valorizava o
individualismo.
Quanto à temática, não foram abandonados os temas
religiosos, como a vida de santos e as passagens da Bíblia, mas houve uma mudança de foco: ao invés de imagens que
representavam a divindade como algo intocável e
misterioso, os artistas buscaram uma
representação mais humanizada dos personagens sagrados.
Tal fato é perceptível em vários trabalhos, como por exemplo, no Juízo Final pintado por Michelangelo na
Capela Sistina. Outro tema recorrente foi a mitologia greco-romana, pois os
mitos foram resgatados e ganharam uma roupagem adequada ao gosto burguês,
quando muitos queriam demonstrar sua erudição no conhecimento dessas narrativas
ou ainda associar as virtudes de um herói ou deus à sua pessoa.
A Capela Sistina foi pensada pelo papa Sisto IV para
servir de espaço para as cerimônias de caráter mais privado da corte papal e
também como espaço para a realização do conclave (eleição do papa pelo Colégio
dos Cardeais). A decoração interna das paredes laterais foi realizada por
vários pintores: Boticelli, Rafael, Cosimo Rosseli, Luca Segnorelli, Perugino,
Ghirlandaio e Pinturicchio. Já as pinturas do teto em abóbada (1508-1512) e a
parede do altar principal (1535-1541) foram feitas por Michelangelo, retratando
os temas bíblicos desde a Criação e terminando no Juízo Final.
A riqueza de detalhes acompanhada de uma
manifestação muito clara dos movimentos dos
personagens impõem ao observador um desafio gigantesco: a dificuldade de
contemplá-la por completo num único olhar,
fazendo de sua observação um processo semelhante à leitura, pois o observador avança
de uma parte para outra tal qual um leitor que percorre o texto ao longo de seus parágrafos.
Michelangelo dotou suas imagens de cores e gestos de
vigorosa intensidade, cuja manifestação confere uma aparência realista aos
temas retratados, diferente de uma representação estática e sobrenatural, pois
justamente a ideia de naturalidade ou ainda
de uma idealização da natureza se colocam
presentes na composição, nos traços, cores e volumes.
Ao observarmos, por exemplo, o detalhe da Criação do
homem, vemos a materialização de um canto gregoriano Veni Criator (Venha Criador em latim), segundo o qual se evoca a presença divina. Diferente
do texto bíblico, onde o Criador esculpiu o homem no barro dando-lhe vida,
Michelangelo apresenta Deus como um vigoroso ancião que se move em direção ao
homem e com o toque lhe concede a vida, evidenciada pela ação divina em relação
ao humano.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Sugestões do Gabinete:
Agonia e êxtase. Direção de Carol Reed, 1965, 138 min. : A vida de Michelangelo e a
tensa relação que ele teve com o papa Júlio
II durante a realização das pinturas na Capela Sistina. A partir do filme podemos compreender as sutilezas que
envolviam as relações entre os mecenas e seus protegidos.
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