domingo, 16 de março de 2014

Pensando um pouco sobre a História

Muitas vezes, a percepção que se tem sobre a História é de "uma longa lista de datas e acontecimentos" colocados no tempo passado. Fatos e  acontecimentos fazem parte da História, mas são vistos atualmente, como ferramentas para buscarmos os seus "agentes responsáveis": as diferentes sociedades humanas que viveram no tempo passado.

Historicizar é tentar dar vida ao passado e tal processo, infelizmente, é sempre fragmentário e provisório, pois o trabalho do historiador está associado às fontes documentais que ele dispõe, sua metodologia de análise e daí virão os resultados de suas pesquisas: maiores ou menores, mais ou menos consistentes, porém, descomprometidos de apresentar uma "Verdade" intocável.

Entendendo, portanto, o discurso histórico como uma construção elaborada, geração à geração, o saber histórico hoje acumulado poderá ser revisto pelas gerações futuras, fornecendo à História um movimento dinâmico que busca entender melhor e mais precisamente o passado.

Como uma provocação, tentando incitar a curiosidade, bem como gerar desconforto em "verdades" aparentemente estabelecidas ou pelo menos aceitas por estudantes menos questionadores, apresento o início de minhas aulas com o clip do Pearl Jam, "Do the evolution", produzido em 1995, criando desse modo, um ponto de contraste com a "visão de história" dos alunos, do clip e por conseguinte, da própria música para podermos repensar ou reavaliar algumas ideias.

Muitos alunos conversam comigo depois, dizendo que gostaram outros já se colocam um pouco assustados, mas de um modo geral, este processo acaba sendo uma espécie de "terapia de choque" para pensar a História e seu processo de construção.

Eis o clip:




Segue abaixo a letra e tradução:

Do The Evolution – Pearl Jam

Woo...
I'm ahead, I'm a man
Estou à frente, sou um homem
I'm the first mammal to wear pants, yeah
Sou o 1º mamífero a usar calças cumpridas
I'm at peace with my lust
Estou em paz com minha luxúria
I can kill 'cause in God I trust, yeah
Posso matar porque confio em Deus
It's evolution, baby
É a evolução, baby!

I'm at peace, I'm the man
Estou em paz, sou um homem
Buying stocks on the day of the crash
Compro ações no dia que a Bolsa quebra
On the loose, I'm a truck,
Quando estou livre, sou um trator
All the rolling hills, I'll flatten 'em out, yeah
descendo montanhas, eu as nivelo ao chão
It's herd behavior, uh huh
É o comportamento-padrão!
It's evolution, baby
É a avolução, baby!

Admire me, admire my home
Admire-me, Admire a minha casa
Admire my son, he's my clone
Admire meu filho, eis  meu clone!
Yeah, yeah, yeah, yeah
This land is mine, this land is free
esta é minha terra, esta terra é livre.
I'll do what I want but irresponsibly
Farei o que eu quiser irresponsavelmente.
It's evolution, baby
É a avolução, baby!

I'm a thief, I'm a liar
sou um ladrão, sou um mentiroso
There's my church, I sing in the choir: Eis
a minha igreja e eu canto no coro:
(hallelujah, hallelujah)
Aleluia, Aleluia!

Admire me, admire my home
Admire-me, Admire a minha casa
Admire my son, admire my clothes
Admire meu filho, admire minhas roupas
'Cause we know, appetite for a nightly feast
Tenho apetite para um banquete
Those ignorant Indians got nothing' on me
Esses ignorantes nada conseguem de mim!
Nothing', why?
Nada, por quê?
Because... it's evolution, baby!
Porque é a evolução, baby.

I am ahead, I am advanced
Estou à frente, estou avançado
I am the first mammal to make plans, yeah
Sou o primeiro mamífero a fazer planos.
I crawled the earth, but now I'm higher
Eu rastejei pela terra e agora aqui de cima,
2010, watch it go to fire
é 2010 e vejo tudo pegar fogo.
It's evolution, baby
É a evolução, baby!
Do the evolution
Faça a evolução.
Come on, come on, come on
Vamos, Vamos!


Um bom contraponto, é outro histórico clip: "Eu nasci há dez mil anos atrás", a primeira apresentação de um videoclip em cores na televisão brasileira em 1976, portanto em si, um fato histórico, mas acho interessante observar os recursos técnicos utilizados, pois para nossos "padrões atuais" são tidos como muito simplórios, mas naquela altura eram "tecnologia de ponta":







-"Um dia, numa rua da cidade
Eu vi um velhinho
Sentado na calçada
Com uma cuia de esmola
E uma viola na mão
O povo parou para ouvir
Ele agradeceu as moedas
E cantou essa música
Que contava uma história
Que era mais ou menos assim:"
Eu nasci!
Há dez mil'anos atrás
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(2x)
Eu vi Cristo ser crucificado
O amor nascer e ser assassinado
Eu vi as bruxas pegando fogo
Pra pagarem seus pecados
Eu vi!...
Eu vi Moisés
Cruzar o Mar Vermelho
Vi Maomé
Cair na terra de joelhos
Eu vi Pedro negar Cristo
Por três vezes
Diante do espelho
Eu vi!...
Eu nasci! (Eu nasci!)
Há dez mil anos atrás
(Eu nasci há 10 mil anos!)
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(2x)
Eu vi as velas
Se acenderem para o Papa
Vi Babilônia
Ser riscada no mapa
Vi Conde Drácula
Sugando sangue novo
E se escondendo atrás da capa
Eu vi!...
Eu vi a arca de Noé
Cruzar os mares
Vi Salomão cantar
Seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir
Com os negros prá floresta
Pro Quilombo dos Palmares
Eu vi!...
Eu nasci! (Eu nasci!)
Há dez mil anos atrás
(Eu nasci há 10 mil anos!)
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(2x)
Eu vi o sangue
Que corria da montanha
Quando Hitler
Chamou toda Alemanha
Vi o soldado
Que sonhava com a amada
Numa cama de campanha
Eu li!
Ei li os símbolos
Sagrados de umbanda
Eu fui criança pra
Poder dançar ciranda
Quando todos
Praguejavam contra o frio
Eu fiz a cama na varanda...
Eu nasci! (Eu nasci!)
Há dez mil anos atrás
(Eu nasci há 10 mil anos atrás!)
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(2x)
Não! Não!
Eu tava junto
Com os macacos na caverna
Eu bebi vinho
Com as mulheres na taberna
E quando a pedra
Despencou da ribanceira
Eu também quebrei a perna
Eu também...
Eu fui testemunha
Do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi
Brilhar no céu
E para aquele que provar
Que eu tô mentindo
Eu tiro o meu chapéu...
Eu nasci! (Eu nasci!)
Há dez mil anos atrás
(Eu nasci há 10 mil anos atrás!)
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(3x)




São duas concepções bastantes ricas e contestatórias, fazendo uma crítica/questionamento do que já fizemos neste planeta e quais desdobramentos, apontando porém, em caminhos distintos.

Em Do the evolution, há o jogo com o conceito do evolucionismo de Darwin, apresentando o avançar do tempo acompanhado da competição entre as espécies (seleção natural) e nesse processo o espaço que o Homo sapiens foi ganhando e aí está o ponto de discussão: seríamos nós , seres humanos, o topo desta evolução? O controle que temos do planeta, o modo como o ocupamos e o exploramos é único se comparado com outras espécies, porém, sabemos que no passado outras espécies de animais tiveram a hegemonia e depois foram extintas. Dessa forma, temos uma compreensão de que um dia chegará a nossa hora, mas por enquanto, a postura mais comum é o interesse por explorar mais e mais o planeta, processo que tem trazido muitos riscos e que muito recentemente, começamos a ponderar e tentar reverter.

Na música de Raul Seixas, a proposição sobre o tempo e por conseguinte, a História é outra: Raul nos passa a ideia de um "viajante do tempo", uma testemunha ocular da História que teria presenciado inúmeros episódios e fatos, mas chamo a atenção para o começo da música: "um velhinho na calçada com uma cuia de esmola e uma viola". Daí começa a trova do velhinho, citando os fatos ao longo de "dez mil'anos". Se ele viu tudo isso, como consegui? Se teve esta vivência, como não prosperou, sendo que era um mendigo numa rua? Por outro lado, o trovador milenar pode ser entendido também como uma pessoa de valor e importância, apesar de suas condições materiais, afinal, geralmente sentimos uma certa repugnância ao ter contato com tais pessoas e muitos passam pelas ruas e nem as enxergam, porém elas podem ter muito a dizer ou ensinar.

Concluo, deixando de lado qualquer tipo de visão doutrinária, que temos muito ainda para entender melhor a História e de como este conhecimento pode ser um diferencial em nossas vidas, uma vez que buscamos uma sociedade mais justa, compreensiva e tolerante, dotada de plena liberdade, mas acompanhada de ampla responsabilidade coletiva para a sua manutenção, do contrário, o que conseguiremos será abreviarmos o momento da nossa extinção.

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