quarta-feira, 4 de junho de 2014

25 anos do massacre da Praça da Paz Celestial em Pequim

A China foi uma monarquia até 1910, quando grupos nacionalistas republicanos liderados por Sun Yat-sen derrubaram o último imperador, Pu Yi e implantaram um regime republicano. No entanto, os grupos agrários, principalmente os grandes senhores de terra (chefes guerreiros locais) se opuseram à nova organização do Estado chinês, temendo a perda de poderes e fragmentando a recém-nascida república.
No ano de 1921, com a fundação do Partido Comunista Chinês tem-se o início de uma luta contra os "chefes guerreiros". Os comunistas juntaram-se ao Kuomintang, um partido de caráter nacionalista liderado por Chiang Kai-shek. Porém, em 1927 há uma ruptura entre os nacionalistas e comunistas e vários choques entre as facções, culminando com a morte de milhares de comunistas pelos nacionalistas.

General Chiang Kai-shek, líder nacionalista chinês.


A partir deste momento, a China mergulhou numa longa guerra civil (1927-1949) entre as duas facções, havendo nesse ínterim a invasão japonesa à China em 1931. Os comunistas iniciaram uma marcha, saindo do sul do país em direção ao norte, onde fundaram a República Vermelha sob a liderança de Mao Tsé Tung. Com o fim da Segunda Guerra e a expulsão dos japoneses, a guerra civil prosseguiu e os comunistas obtiveram forte apoio popular e também auxílio da União Soviética, enquanto os nacionalistas foram ajudados pelos Estados Unidos. Em 1949, os comunistas vencem, e assim Chiag Kai-shek e suas tropas remanescentes refugiaram-se na ilha de Formosa, organizando um governo pró-ocidente.

O líder Mao e seu famoso "Livro Vermelho" num cartaz de propaganda oficial


Mao Tsé-Tung fundou a República Popular da China, implementando um governo socialista que aboliu todas as estruturas remanescentes da monarquia, fez ampla reforma agrária, tornou a educação obrigatória e a partir de uma aliança com a União Soviética começou a formar um grande parque industrial. Todavia, a Revolução Chinesa tinha uma forte presença do campesinato, e não se enquadrava em vários aspectos dentro do pensamento de Moscou, o que favoreceu a ruptura com os soviéticos em 1961.

Em 1966 ocorria na China a chamada "Revolução Cultural", um processo que deveria conter o revisionismo do partido, da população e do governo, criando-se os comitês revolucionários para garantir a manutenção da Revolução. Dessa forma, ocorreram vários expurgos dentro do partido, o qual foi reestruturado no IX Congresso, com a indicação do ministro da Defesa Lin Piao como sucessor de Mao. Neste momento, a personalidade de Mao tornou-se o centro do regime, tendo seu pensamento condensado no "livrinho vermelho".

Durante a década de 1970, a China havia iniciado uma aproximação com o Ocidente no intuito de reduzir as tensões entre o mundo capitalista e o socialista, principalmente com a expulsão de Taiwan da ONU e a entrada da China, como também a visita do presidente norte-americano Nixon em 1972.
A morte de Mao em 1976 fez com que o "grupo de Xangai" (aliados de Mao) fosse afastado do poder, e assim iniciou-se uma nova fase, com a eleição de Hua Kuo-Feng como presidente pelo comitê central do partido, um período marcado pela idéia de conciliação.

A partir de 1977, Deng Xiaoping conseguiu sua reabilitação política depois de ter sido vítima das perseguições promovidas por Mão, o cenário político foi gradativamente transformado através do conjunto de ações que ficaram conhecidas como “desmaoização”.
Deng articulou a criação das ZEE (Zonas Econômicas Especiais) que significaram a introdução de práticas capitalistas dentro da China, possibilitando a recepção de investimentos e também o incentivo à propriedade privada no campo, portanto, gradativamente foi se constituindo o modelo chamado de economia socialista de mercado. As mudanças foram consideráveis, pois os investimentos estrangeiros entre 1980 e 1995 superaram o valor de 170 bilhões de dólares, sendo que o PIB chinês em 1995 alcançou 2,8 trilhões de dólares, marcando uma taxa de crescimento de 10% ao ano.

Deng Xiaoping: o sucessor e transformador da China de Mao


Enquanto a abertura econômica caminhou rapidamente, o autoritarismo não permitiu a abertura política no mesmo contexto. Um grupo de ativistas começaram a se concentrar desde 20 de maio de 1989, na Praça da Paz Celestial, numa situação que foi sendo cada vez mais embaraçosa para o governo chinês: uma grande manifestação pela liberdade de expressão e de imprensa, buscando 
abrir caminho para a democratização do país: cada vez mais, milhares de estudantes, ativistas políticos e intelectuais tentaram romper com o regime chinês, num esforço tão intenso quanto o que ocorria no leste europeu no mesmo momento.

Ao centro, no fundo, uma estátua branca, representando a liberdade que segura com as duas mãos a "chama" que incendiava os corações destas milhares de pessoas a sua volta.


Buscando recuperar a "ordem", em 04 de junho de 1989, a repressão foi intensa pelo governo chinês, gerando inúmeros mortos, feridos e presos que até hoje, ainda não temos a dimensão precisa. O controle sobre as manifestações políticas e ações sociais se manteve intenso, sem possibilitar uma participação mais efetiva da sociedade dentro do cenário político e assim, a cúpula do partido chinês controlava tudo, sendo a ordem imposta de cima para baixo.


Desconhecido até hoje, este jovem se impôs perante a violência e o autoritarismo, mesmo que ali ele estivesse em desvantagem, mas sem dúvida, tornou-se sem saber, um símbolo da luta pela liberdade.

Alguns dos civis mortos, em um das poucas fotos que conseguiram sair da China

Ao fim da década de 1990 ocorreu a transição do governo de Xiaoping para o controle de Jiang Zemin a partir do 15º Congresso do Partido Comunista Chinês e dali, a transição para a economia de mercado: inúmeras privatizações, atração maior de investimentos e a consequente ampliação da produção industrial chinesa que começaram a “inundar” os mercados nos cinco continentes. Estava consolidada a tese da china ser "1 país com dois sistemas: socialista na política e capitalista na economia", apesar do intenso processo repressivo que sustenta, reprimindo e censurando os cidadãos e lidando com ampla truculência com aqueles que tentem obstruir seus interesses.

O presidente Jiang Zemin e o primeiro-ministro Zhu Rongji, ambos ex-prefeitos da cidade de Xangai, lideraram a nação na década de 1990. Sob os dez anos de administração de Jiang e Zhu, o desempenho econômico do país retirou cerca de 150 milhões de camponeses da pobreza e manteve uma taxa média anual de crescimento do produto interno bruto (PIB) de 11,2%. O país aderiu formalmente à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001.
No entanto, o rápido crescimento econômico que tornou a economia chinesa a segunda maior do mundo, também impactou severamente os recursos naturais e o meio ambiente do país. Outra preocupação é que os benefícios do crescimento da economia não foram distribuídos uniformemente entre a população, resultando em uma ampla lacuna de desenvolvimento entre as áreas urbanas e rurais. Como resultado, com o presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao, o governo chinês iniciou políticas para abordar estas questões de distribuição equitativa de recursos, embora o resultado continue a ser observado. Mais de 40 milhões de agricultores foram deslocados de suas terras, em geral para o desenvolvimento econômico, contribuindo para as 87 mil manifestações e motins que aconteceram por toda a China apenas em 2005. 
Hu Jintao

Wen Jibao

Os padrões de vida melhoraram significativamente para alguns segmentos, mas os controles políticos se mantiveram estáveis. Embora a China tenha, em grande parte, conseguido manter a sua rápida taxa de crescimento econômico, apesar da recessão no final da década de 2000, sua taxa de crescimento começou a diminuir no início da década de 2010 e a economia continua excessivamente centrada no investimento fixo. Além disso, os preparativos para uma grande mudança de liderança no Partido Comunista no final de 2012 foram marcados por disputas entre facções e escândalos políticos. Durante a mudança da liderança da China em novembro de 2012, Hu Jintao e Wen Jiabao foram substituídos como presidente e primeiro-ministro por Xi Jinping e Li Keqiang, que assumem tais cargos em 2013.
O atual presidente Xi Jinping

Sugestões do Gabinete:

"O último imperador". Direção Bernardo Bertolucci, 1987, 145 min: 

A saga de Pu Yi (John Lone), o último imperador da China, que foi declarado imperador com apenas três anos e viveu enclausurado na Cidade Proibida até ser deposto pelo governo revolucionário, enfrentando então o mundo pela primeira vez quando tinha 24 anos. Neste período se tornou um playboy, mas logo teria um papel político quando se tornou um pseudo-imperador da Manchúria, quando esta foi invadida pelo Japão. Aprisionado pelos soviéticos, foi devolvido à China como prisioneiro político em 1950. É exatamente neste período que o filme começa, mas logo retorna a 1908, o ano em que se tornou imperador.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde, mestre.
    Sou seu aluno no cursinho da Poli em Santo Amaro (Sala 03 noturno), e sou fã de suas aulas, obrigado por compartilhar conosco sua experiência do saber. Um abraço!!!

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