segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

EUA e Cuba: relações de tensão e distensão

A ilha de Cuba obteve a independência da Espanha em 1898, contando com apoio norte-americano na guerra. Cuba tornou-se uma república e área de influência estadunidense, principalmente depois de 1901 com a inclusão da Emenda Platt. Esta emenda à Constituição cubana feita pelo Congresso dos EUA tornava legítima a intervenção militar na ilha em casos de desordem pública e econômica, fato que consagrou Cuba como o "bordel" dos Estados Unidos.

O ditador Fulgencio Batista


Até a década de 50, a ilha de Cuba foi governada por políticos vinculados à elite agrícola do açúcar e do tabaco. De  1952 até 1959, o coronel Fulgencio Batista implantara uma ditadura em Cuba. A pesada repressão aos opositores e a crise que assolava a sociedade cubana favoreceu o surgimento de um movimento de guerrilha que a partir da Sierra Maestra (cadeia montanhosa do centro da ilha) começou a luta pela tomada do poder, obtida em 01 de janeiro de 1959, sob a liderança de Fidel Castro e de Ernesto “Che” Guevara.

Inicialmente, o governo de Fidel Castro teve um caráter nacionalista, realizando um processo de reforma agrária e de nacionalização das indústrias estadunidenses na ilha. Em 1961, os Estados Unidos patrocinam uma tentativa de contra-golpe (que ficou conhecida como "episódio da Baía dos Porcos": um esquadrão de cubanos anticastristas treinados pela CIA) para derrubar Fidel do poder, o qual foi duramente rechaçado pelas forças castristas. Em janeiro de 1962, Cuba foi expulsa da OEA (Organização dos Estados Americanos). Fidel declarou em 1º de maio de 1962 a República Socialista de Cuba.

A crise dos Mísseis de Cuba 1962

Khrushchev e Kennedy: o "braço de ferro" na Guerra Fria



No entanto, a crise entre Cuba e os Estados Unidos se agravou em outubro de 1962, com a descoberta de rampas de lançamento de mísseis pelo serviço de inteligência americano (CIA). Neste momento, o dirigente soviético Nikita Khrushchev pretendia instalar mísseis soviéticos em Cuba, deslocando um carregamento dos mesmos em direção a Cuba. O presidente dos EUA, o democrata John F. Kennedy, ordenou que a ilha fosse cercada pela marinha estadunidense e marcou o momento mais delicado da Guerra Fria, quando o "holocausto nuclear" pareceu iminente. Khrushchev deu a ordem de retorno dos mísseis a poucos quilômetros de entrar em choque com o bloqueio naval dos Estados Unidos, evitando portanto, o início da Terceira Guerra Mundial.



A partir de 1962, a ilha de Cuba foi vítima de inúmeras sanções da comunidade internacional, e principalmente de um pesado bloqueio comercial dos países capitalistas em 1964. Contando com apoio soviético, Cuba conseguiu manter-se e implementar um amplo processo de melhoria das condições de vida dos cubanos, alcançando elevados índices de qualidade nas áreas de saúde e educação.

No entanto, o regime monopartidário concentrado na liderança de Fidel Castro não permitiu espaço para a liberdade de expressão ou qualquer tipo de questionamento ao governo implantado pela Revolução de 59 e assim, os dissidentes são tratados com rigor, podendo ser presos (as prisões cubanas são apontadas como ambientes insalubres e não procuram garantir a integridade dos presos, submetendo-os à condições desumanas) ou até fuzilados, dependendo dos “crimes” que tenham cometido.




Fidel Castro governou até 2006, quando por motivos de saúde, foi afastado do poder e o comando da ilha foi transferido ao seu irmão Raul Castro, que já vinha desempenhando o papel de vice-presidente e comandante do exército. Apesar da debilidade de Fidel, o regime ainda se mantém, usando os mesmos instrumentos de coerção e se caracteriza como um dos últimos países, junto com a Coréia do Norte, que seguem a tradição socialista, oriunda da Guerra Fria.

Em 2008, Raul Castro foi "eleito" pelo Assembleia Nacional do Poder Popular como presidente de Cuba, numa eleição em que era o único candidato. Desde então, a visão tida sobre a ilha é de que talvez tivesse iniciado uma transição, buscando inicialmente a abertura econômica para a economia de mercado e posteriormente, a abertura política.

Fidel Castro (1959-2006)


A recuperação das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba, a partir de 17 de dezembro de 2014, com a interlocução do papa Francisco coloca a questão cubana num ponto de significativa atenção sobre o "futuro da ilha". Barack Obama buscou concretizar uma de suas promessas de campanha, apesar de Guantánamo ainda estar servindo de colônia penal e sem contar o controverso debate sobre a "validade da tortura" quanto às ameaças terroristas e seus eventuais suspeitos.

Da esquerda para direita: Juan Bosque, Raul Castro e Fidel Castro.


Obama encontra-se agora dependente do Congresso dos EUA, no qual não tem situação muito tranquila e espera um debate "maduro" por parte dos congressistas, sendo que estes não pensam em ações de generosidade, caso isto lhes custe votos e portanto, seus cargos.

O encontro de Obama com o Papa Francisco, no Vaticano, em 27/03/2014

A ação de um papa latino-americano num problema tão complexo quanto a questão cubana foi decisiva e, nesse processo, o resultado foi positivo entre ambas as partes, pois os EUA e Cuba soltaram de ambos os lados, presos ligados à operações de espionagem e o próximo passo é a reabertura recíproca das embaixadas.

O futuro, como bem sabemos, é incerto. No entanto, o cenário que se desenha é bastante promissor e assim, uma página a mais se acrescenta nos escritos de Clio.

Aguardemos as seguintes!


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