Faz parte do imaginário coletivo um série de dúvidas, às vezes delírios, sobre a formação da Bíblia e os eventuais arquivos ultra-secretos que a Igreja Católica parece ter a perversão doentia de esconder.
Bem, Dan Brown que o diga e que agradeça, pois esta paranóia conspiratória o tornou um escritor milionário.
Desde ontem(21/02), através de uma notícia no Portal UOL (Coluna Darwin e Deus), aparece a informação da digitalização e acesso livre de um dos mais antigos escritos da Bíblia: um manuscrito escrito sobre pergaminho (pele de animal tratada para servir de suporte para a escrita), datado do século IV da Era Cristã do Codex Vaticanus.
Reprodução da página com o final da 2a Epístola aos Tessalonicenses (3, 11-18) e o início da Epístola aos Hebreus(1, 1-2; 2).
O texto de Reinaldo José Lopes aponta para algumas divergências que este antigo exemplar traz em relação ao texto conhecido por nós: a inexistência do final do Evangelho de Marcos, onde aparece o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos (Mc 16, 9-19) ou ainda a célebre passagem da adúltera no Evangelho de João (Jo 7, 53).
Bem, primeiro lugar, os textos bíblicos são originários de uma tradição oral que depois, muito, mas muito depois passou para a escrita. Isto ocorreu com o chamado Antigo Testamento, que veio da tradição oral judaica e só por volta do século VIII a.C. apareceram as primeiras versões escritas e serve para o Novo Testamento, que também tivera uma base oral em e depois escrita em grego, como por exemplo, o Codex Vaticanus. Mais tarde, Jerônimo traduziu ambas as partes para o latim, originando a Vulgata, que se tornou o texto oficial durante a Idade Média, sendo contestado mais tarde por Lutero, que fizera a primeira tradução para o alemão e depois vieram outras versões em francês, holandês, inglês e outras línguas.
Todas estas traduções foram repudiadas pela Igreja Católica(fizeram parte do Índex, a Lista de Livros Proibidos controlada pela Inquisição) até 1965, com a liberação do uso das línguas locais para o culto e textos, um resultado extremamente importante do Concílio de Vaticano II(1962-65), iniciado pelo papa João XXIII(1958-63) e concluído sob a presidência de Paulo VI.
Seria, portanto o Codex Vaticanus, a uma única fonte mais antiga? O texto que conhecemos hoje é/foi fruto de alguma "manipulação" intencional?
Vamos por partes e com muita calma.
Quando investigamos a formação do Cânon, quer dizer, do texto "oficial" da tradição cristã, identificamos várias outras fontes: o Codex Siniticus (presente no mosteiro de Santa Catarina do Monte Sinai), também datado do século IV d.C.; a polêmica Septuaginta (versão do texto hebraico para o grego que teria sido feita por 70 sábios e daí o significado de seu nome); os manuscritos do Mar Morto (fragmentos de papiros encontrados nas cavernas de Qumram, em Israel, sendo datados do séc. I d.C.)
Fica difícil dizer que as mudanças no texto foram feitas de modo premeditado, buscando obter algum resultado específico. Sabemos que, muitas vezes, uma palavra de uma determinada língua não tem equivalente em outra e aí entra a "interpretação" do tradutor.
Um exemplo: nas representações tradicionais do Paraíso daqueles primórdios de Império cristianizado, era bastante comum o enlace com a tradição pagã. Jonas poderia aparecer nu, sob um caramanchão de abóboras, cercado de peixes.
Jerônimo alterou a palavra hebraica qiqqayon, que seria equivalente a "abóbora" e deveria ficar em latim como "curcubita" para "hedera", a qual significa hera, a planta trepadeira comum em jardins e simboliza-se melhor a sua concepção do que seria o Além.
Fica a pergunta: quem estaria certo??
Abaixo temos algumas observações sobre o Codex Vaticanus:
Vamos por partes e com muita calma.
Quando investigamos a formação do Cânon, quer dizer, do texto "oficial" da tradição cristã, identificamos várias outras fontes: o Codex Siniticus (presente no mosteiro de Santa Catarina do Monte Sinai), também datado do século IV d.C.; a polêmica Septuaginta (versão do texto hebraico para o grego que teria sido feita por 70 sábios e daí o significado de seu nome); os manuscritos do Mar Morto (fragmentos de papiros encontrados nas cavernas de Qumram, em Israel, sendo datados do séc. I d.C.)
Fica difícil dizer que as mudanças no texto foram feitas de modo premeditado, buscando obter algum resultado específico. Sabemos que, muitas vezes, uma palavra de uma determinada língua não tem equivalente em outra e aí entra a "interpretação" do tradutor.
Um exemplo: nas representações tradicionais do Paraíso daqueles primórdios de Império cristianizado, era bastante comum o enlace com a tradição pagã. Jonas poderia aparecer nu, sob um caramanchão de abóboras, cercado de peixes.
Jerônimo alterou a palavra hebraica qiqqayon, que seria equivalente a "abóbora" e deveria ficar em latim como "curcubita" para "hedera", a qual significa hera, a planta trepadeira comum em jardins e simboliza-se melhor a sua concepção do que seria o Além.
Fica a pergunta: quem estaria certo??
Abaixo temos algumas observações sobre o Codex Vaticanus:
Close apontando "notas" produzidas, provavelmente, por um copista.
Caso desejem um olhar mais amplo, segue o link da Biblioteca Apostólica Vaticana:
https://www.vatlib.it/
https://www.vatlib.it/
Boa Leitura!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário