A destruição provocada pelos integrantes do Exército Islâmico no Museu de Mosul e na sua Biblioteca Pública ainda repercutem no mundo inteiro.
Mas de que contexto são os artefatos ali destruídos?
Vamos falar então, da antiga Mesopotâmia, um dos berços daquilo que entendemos por civilização.
MESOPOTÂMIA
Região
localizada entre os rios Tigre e Eufrates, cuja ocupação se iniciou no fim do
período Paleolítico. Já no Neolítico, apresentava vários pequenos núcleos de
povoamento, com a fundação de cidades, como Ur, por volta de 4000 a.C. Nesta
região, desenvolveram-se vários povos -
babilônios, assírios e persas- que se aproveitaram da água dos rios para
o plantio e a irrigação das regiões mais áridas.
A organização política inicial
destes povos se deu sob a forma de cidades-estado, administradas pelos
sacerdotes em virtude da crença de que as terras pertenciam ao deus da cidade.
Na Mesopotâmia, houve o desenvolvimento da escrita cuneiforme (aplicação de
cunhas de madeira sobre tábuas de argila fresca) para registrar a produção
agrícola dos camponeses, também servindo para o
registro das leis, como o Código de Hamurabi, além de narrar a vida dos reis e
outros eventos ligados à administração e religião.
Processo de organização dos povos da Mesopotâmia
Economia
- De um modo geral, os povos mesopotâmicos desenvolveram a agricultura
junto aos rios Tigre e Eufrates, utilizando, também, canais de irrigação para
as regiões mais secas. O pastoreio de ovinos, bovinos e caprinos tinha grande
importância. Quanto ao comércio, este se vinculava à extração de minérios
(cobre, estanho, ferro, ouro), pedras preciosas, tijolos, mobiliário e
ourivesaria, além de negociar o excedente de sua
produção com regiões menos férteis e também terem o interesse pelo comércio de
rebanhos de cavalos e camelos.
Cultura
e religião - Os povos da Mesopotâmia eram politeístas, com a divinização de
vários elementos da natureza, e tinham alguns deuses em comum (Shamash, deus do
sol e da justiça; Ea, das águas; Anu, do céu; Ishtar, deusa do amor e da
guerra). Havia também os deuses específicos de cada localidade: Marduck, dos babilônios;
Assur, dos assírios. Todos estes povos tinham grande conhecimento em
astrologia, matemática e arquitetura (construíram vários observatórios
astronômicos, denominados zigurates, cuja precisão
permitiu o acompanhamento de vários fenômenos naturais, tais como a passagem de
cometas, eclipses e também a marcação dos ciclos lunares e solar).
Relato datado de 164 a.C. que registra a passagem do cometa Halley - Museu Britânico - Londres
Na
área da literatura, destacam-se a existência de diversas bibliotecas, cujos
textos se encontravam gravados em tábuas de argila com a escrita cuneiforme.
Uma das obras mais importantes é a Epopeia de Gilgamesh, um herói que luta
contra várias divindades em busca da imortalidade.
Fragmento de tábua de argila que traz o relato da Epopeia de Gilgamesh - Museu Britânico Londres
IMPÉRIO
BABILÔNICO
A
cidade da Babilônia teve sua origem após a decadência do Império Acádio, que
foi a primeira tentativa de unificação da Mesopotâmia sob a liderança do rei
Sargão I, estabelecendo sua capital em Akkad. No Império Acádio, o poder estava
centralizado na figura do rei, tornando-o divinizado. O sucesso de Sargão I
estava relacionado com sua postura de não destruir a cultura dos povos
dominados e pela utilização do arco e flecha no exército. No entanto, após a
morte de Sargão, os povos dominados iniciaram várias revoltas. De 2050 a 1950
a.C., surgiu uma nova dinastia na cidade de Ur, reunificando a Mesopotâmia.
A
partir de 1900 a.C., vários estados iniciaram uma intensa luta entre si,
culminando no rei Hamurabi (1792-1750 a.C.), que foi responsável por um rígido
código de leis (o Código de Hamurabi) baseado na pena do talião: "olho por
olho, dente por dente", sendo que seus sucessores enfrentaram a invasão de
vários povos asiáticos, como a dos hititas em 1137 a.C. A Babilônia só
recuperou a independência com Nabucodonossor, mas, logo após sua morte, o
império foi invadido pelos assírios.
O rei Hamurabi (em pé) recebe do deus Shamash o código. Logo abaixo, encontra-se esculpido em escrita cuneiforme. Museu do Louvre, Paris, França.
Detalhe ampliando o texto do Código de Hamurabi
Código de Hamurabi [fragmento traduzido]
Se um homem
negligenciar a fortificação de seu dique, se ocorrer uma brecha e a seara
inundar-se, o homem será condenado a restituir o trigo destruído por sua falta.
Se não puder restituí-lo, será vendido, assim como seus bens, e as pessoas da
área inundada repartirão entre si o produto da venda.
Se um homem der a um
jardineiro um campo para ser transformado em pomar, se o jardineiro plantar o
pomar e dele cuidar durante quatro anos, no quinto ano o pomar será repartido
igualmente entre o proprietário e o jardineiro; o proprietário poderá escolher
sua parte.
Se um homem alugar
um boi ou um asno, e se nos campos o leão matar o gado, é o proprietário do
gado que sofrerá a perda.
Se um homem bater em
seu pai, terá as mãos cortadas. Se um homem furar o olho de um homem livre,
ser-lhe-á furado o olho.
Se um médico tratar
a ferida grave de um homem com punção de bronze e ele morrer, o médico terá
suas mãos decepadas.
Se um arquiteto
construir uma casa para outro e não a fizer bastante sólida, caso ela desabe e
mate o dono, o arquiteto é condenado à morte. Se for o filho do dono da casa
quem morrer, será morto o filho do arquiteto.
ISAAC, J.; Alba, A. Oriente
e Grécia. São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.77.
O
IMPÉRIO ASSÍRIO
A
decadência do Império Babilônico favoreceu a penetração dos assírios (povo de
origem semita, cuja principal atividade era o pastoreio), que fundaram um
pequeno Estado com capital em Assur. Notórios por sua belicosidade, os assírios
gradativamente construíram um poderoso império, principalmente nos reinados de
Sargão II (722-705 a.C.), responsável pela conquista da Síria e a destruição de
Samaria, capital do reino de Israel, e de Senaquerib (705-681 a.C.), que
superou seu pai, atacando a Ásia Menor (portos gregos, fenícios e destruição da
Babilônia).
Os
assírios tinham uma estrutura de poder centralizada nas mãos do rei, que era
divinizado, sendo visto como o próprio deus Assur. A manutenção do império se
dava pelo pagamento de pesados tributos (principalmente para o contentamento do
exército) e também pela intensa violência aplicada sobre os povos subjugados. A expansão prosseguiu no reinado
de Assurbanipal (668-626 a.C.), com a invasão do Egito, de Elam e de Susa
(capital da Média). Entretanto, o Império Assírio era mantido em constante
pressão pelos povos vizinhos e, com a gradativa recusa dos povos dominados a
pagarem tributos, a crise tomou conta do império, que teve seu exército
desarticulado
e
acabou ruindo.
Representação do poder real assírio, séc. VIII a.C. - Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
SEGUNDO
IMPÉRIO BABILÔNICO
A desarticulação do Império Assírio favoreceu um
dos povos que lhes era submetido, os caldeus, que, através de uma aliança com
os medos, implantaram uma nova dinastia sob a
liderança de Nabopassalar. A partir de 605 a.C., sob o reinado de
Nabucodonossor II, a Babilônia recuperou seu poderio, pois iniciou a expansão
pelo Elam, Palestina, Síria e a região oeste da Mesopotâmia. Foi durante o
reinado de Nabucodonosor II que ocorreu a deportação dos hebreus para a
Babilônia como escravos, o chamado “Cativeiro da Babilônia”. Este rei ficou conhecido
por mandar construir a Torre de Babel e os Jardins Suspensos da Babilônia,
porém não conseguiu fazer um sucessor que continuasse a grandiosidade de seu
reinado, e, por volta de 539 a.C., o Império Babilônico foi tomado pelos
persas.
Porta de Ishtar 14,30 m de altura. Retirada da Babilônia e hoje parte do Pergamon Museum em Berlim, Alemanha.
A expansão dos persas sob o comando de Ciro, o Grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário