A História enquanto ciência se pauta na construção de discursos sobre os atos humanos no passado e para tanto necessita de fontes, as quais serão analisadas e a partir disso, surgirão as bases para a produção de conhecimento histórico.
Na origem, a palavra histor significa
"narrador" em grego, portanto, a história ganha a dimensão da
narração. Mas narração do que ?
Se
formos pelo senso comum, a narração "dos fatos e acontecimentos", mas
sabemos que hoje a História se constrói muito mais pela análise processual do
que factual, afinal, os fatos não mudam, mas análise das fontes históricas, sim.
Cada
geração busca se apropriar do passado, fazendo sua releitura, mas as bases são
as mesmas: entender como, onde e porque ocorreu determinado processo histórico?
Quais foram as permanências e mudanças dentro do processo ?
Até a
primeira metade do século XX, existiu um predomínio das fontes escritas sobre
outras possibilidades que hoje trabalhamos. Por exemplo, é dessa visão que
surgiu o conceito de que a História passou a existir depois da invenção da
escrita e todo o gigantesco período anterior foi rotulado de
"Pré-História" e ainda, acompanhado de um juízo de valor bastante
negativo: época do homem primitivo inferior ao homem civilizado, que só passou
a existir depois da escrita, que assinalaria o conceito de civilização.
Hoje
ainda utilizamos o conceito de "Pré-História", mas acompanhado das
devidas ressalvas e reflexões que o questionam, bem como, a divisão herdada dos
positivistas (História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea). Para nós,
brasileiros, até muito pouco tempo atrás, ainda ensinavam nas escolas que nossa
história começava com o "descobrimento" liderado por Cabral em 22 de
abril de 1500, portanto, os povos indígenas não tinham uma história.
Paredão com pinturas rupestres - Serra da Capivara (PI) cerca de 23.000-17000 a.C.
Urna funerária antropomórfica - Cerâmica Maracá - sul do Amapá . c. 1000 d.C. Museu Nacional UFRJ
Avançando
neste processo, já nos libertamos da imposição factual e passamos a explorar
outros territórios: a oralidade, a cultura material e imaterial, os discursos
presentes nas diferentes artes e sempre tendo em mente que o objeto é o homem
ou suas diferentes sociedades no tempo passado e que nesta busca, não há uma
visão única, mas visões que mesmo diversas ajudam a compreensão da História e
não invalidam seu status de ciência, pois desse modo,
escapamos da visão doutrinária que impõe "Verdades", sabendo que o
questionamento e crítica dos saberes estabelecidos são uma constante para o
avanço do conhecimento e não heresias.
A
imposição de uma "História oficial" geralmente resulta de uma
perspectiva autoritária, que se recusa a permitir uma reflexão ou debate sobre
o passado, legitimando quem naquele contexto exerce o poder sobre os homens ou
sobre suas almas.
É justamente a diversidade de aportes teóricos e metodológicos que favoreceram o estabelecimento de diversas correntes historiográficas e disso, temos distintas linhas de pesquisa e áreas de atuação para se pensar o fazer histórico, que se amplifica e se enriquece com o contraditório.
A História, pensada através de uma perspectiva que valoriza a pluralidade cultural, pode favorecer a desconstrução das ideias que sustentam a exclusão e o preconceito. Afinal, a História não é "mera guardiã do passado", mas um poderoso instrumento de conhecimento e valorização do ser humano.
Num país como o nosso, que padece de vários males, dentre eles uma "relativa amnésia" ou vergonha de seu passado, conhecer e compreender a História é um dos caminhos para o exercício da cidadania.
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