As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sábado, 26 de novembro de 2016

domingo, 6 de novembro de 2016

VII Encontro Internacional "A imagem medieval : Teoria e História"



Os Encontros Internacionais A Imagem Medieval: História e Teoria pretendem contribuir para a estruturação de um espaço de debate sobre a imagem medieval no Brasil. O assunto ainda é pouco estudado na academia brasileira, ao menos em parte como herança da época, não tão remota, em que a circulação de informações e, sobretudo, de fontes ainda era bastante difícil. Ora, com a revolução silenciosa dos bancos de imagens digitais e de livre acesso na internet e com os recentes e renovados investimentos nas bibliotecas públicas brasileiras, a possibilidade de trabalhar com imagens medievais no Brasil se torna mais próxima. Essa nova situação permite recuperar as imagens medievais no contexto do projeto sempre atual dos primeiros historiadores da chamada “Escola dos Annales”, para quem tudo o que foi produzido pelo passado é potencialmente documento para o historiador. No caso da imagem medieval, há, ademais, toda uma rica e variegada tradição de estudos realizados por historiadores da arte, ainda pouco conhecido pelos historiadores. Na linhagem dessas experiências, os encontros procuram destacar a importância do estudo das imagens medievais como um espaço de reflexão teórica, entendendo que esse campo de investigações pode contribuir não apenas produzindo conhecimento específico sobre realidades históricas particulares a partir da análise de fontes insuficientemente exploradas, mas também como uma atividade produtora de conceitos que podem integrar o arsenal teórico das ciências humanas e sociais. 

Programação

Quarta-feira 30/11/2016 

14h-14h20 – Muriel Araújo LIMA (USP). “O ornamental além da ornamentalidade em Oxford, St. John’s College MS 61” 

14h20-14h40 – Pamela Wanessa GODOI (UEL). “Elevação de corpo e alma: iluminuras de sermões sobre a Assunção da Virgem (séc. XI-XII)” 

14h40-15h – Karina Santos de OLIVEIRA (USP). "Os manuscritos iluminados judaicos no Ocidente Medieval" 

15h-15h20 – Gesner Las Casas BRITO Filho (U. Leeds). “Construindo o Céu e o Inferno: elementos arquitetônicos nas imagens do Genesis no manuscrito anglo-saxônico Junius 11 (Bodleian Library MS. Junius 11)” 

15h20-15h50 – Debate 

15h50-16h – Intervalo 

16h-18h – Lançamentos de livros e debate com as autoras: 

ÁSFORA, Wanessa. Apício. História da incorporação de um livro de cozinha na Alta Idade Média. São Paulo: Alameda, 2015. 

MAGALHÃES, Ana Paula Tavares. Os franciscanos e a Igreja na Idade Média. A Arbor vitae crucifixae Iesu de Ubertino de Casale. São Paulo: Intermeios, 2016. 

PEREIRA, Maria Cristina. Pensamento em imagens. Montagens topo-lógicas no claustro de Moissac. São Paulo: Intermeios, 2016. 

PEREIRA, Maria Cristina (Org.). Imagens medievais. Encontros do Laboratório de Teoria e História da Imagem e da Música Medievais da Universidade de São Paulo (LATHIMM, USP). Macapá/São Paulo: EdUNIFAP/LATHIMM-USP, 2016.

Quinta-feira 1/12/2016 

14h-14h20 – Rosângela Aparecida da CONCEIÇÃO (Unip/Unicamp). “Quemadmodum desiderat cervus, o Salmo 41 (42): interpretações artísticas e representações imagéticas” 

14h20-14h40 – Vinícius de Freitas MORAIS (UFF). “Os ciclos iconográficos do beato Simão de Trento e a difusão do culto ao menino mártir no final do século XV” 

14h40-15h – André Luiz Marcondes PELEGRINELLI (UEL). “‘Porque uma decoração excessivamente rica e abundante contradiz o princípio da pobreza’: instruções sobre o cuidado com igrejas e imagens no primeiro século franciscano através dos Statuta Capituli Generalis Narbonensis (1260)” 

15h-15h20 – Maria Izabel Escano Duarte de SOUZA (UFRJ). “Reinterpretando as cartas de Gregório Magno à luz da historiografia moderna” 

15h20-15h50 – Debate 

15h50-16h – Intervalo 

16h-17h30 – Conferência 1 – Profa. Dra. Camila Diogo de SOUZA (MAE-USP). “A Arte Geométrica grega entre 900 e 700 a.C.: reflexões sobre a análise de motivos iconográficos no estudo da cultura material” 

17h30-19h – Conferência 2 – Profa. Dra. Gabriela CAVALHEIRO (King’s College, Londres). “Objetos de Desejo: o toque como ferramenta de investigação e a etiqueta de trabalho do pesquisador”

Sexta-feira 2/12/2016 

14h-14h20 – Elias Feitosa de AMORIM Jr. (Unicamp). “Luz e imagens: reflexões teóricas sobre as imagens em vitrais” 

14h20-14h40 – Debora Gomes Pereira AMARAL (USP). “O ornamental e a ornamentalidade das/nas pinturas da antiga Igreja do Convento dos Capuchinhos da Paciência de Madri” 

14h40-15h – Mariana PINCINATO (USP). “As origens da iconografia do Juízo Final no mundo bizantino e ocidental” 

15h-15h20 – Renan Marques BIRRO (USP/UNIFAP). "Autoria, estilo e sintaxe: novas perspectivas para a análise das cruzes manx” 

15h20-15h50 – Debate 

15h50-16h – Intervalo 

16h-17h30 – Conferência 3 – Prof. Dr. Gabriel CASTANHO (UFRJ). “Precisamos falar do esquecimento medieval: entre o lembrar religioso e a judicialização da memória no Ocidente” 

17h30-19h – Conferência 4 – Prof. Dr. Eduardo Henrik AUBERT (U. Cambridge). “Marc Bloch e as conferências de Cambridge sobre o feudalismo (1938)” 

sábado, 5 de novembro de 2016

Boa Prova!!



Moeda grega - Séc. II a.C. - " Vitória triunfante"

Na Eneida, Virgílio nos canta que "a sorte sorri para os audazes". Que neste fim de semana, haja muita alegria e satisfação, mas com o sabor merecido da Vitória.
Uma excelente prova para todos!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

A festa de Todos os Santos


A festa do dia de Todos-os-Santos é celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. A Igreja Católica celebra a Festum omnium sanctorum a 1 de novembro seguido do dia dos fiéis defuntos a 2 de novembro.

Segundo o ensinamento da Igreja, a intenção catequética desta celebração que tem lugar em todo o mundo, ressalta o chamamento de Cristo a cada pessoa para o seguir e ser santo, à imagem de Deus, a imagem em que foi originalmente criada e para a qual deve continuar a caminhar em amor. Isto não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os do passado) e que cada pessoa o pode ser, mas sobretudo faz entender que são inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos, mas que da mesma forma que os canonizados igualmente vêem Deus face a face, têm plena felicidade e intercedem por nós. O Papa João Paulo II foi um grande impulsionador da "vocação universal à santidade", tema renovado com grande ênfase no Segundo Concílio do Vaticano.

"Todos os Santos" Fra Angélico c.1423-24, National Gallery, Londres, Reino Unido.
Fonte: Wikipédia 


Nesta celebração, o povo católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal Beato John Henry Newman: não somos simplesmente pessoas imperfeitas em necessidade de melhoramentos, mas sim rebeldes pecadores que devem render-se, aceitando a vida com Deus, e realizar isso é a santidade aos olhos de Deus.

A comunhão com os santos: «Não é só por causa do seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja no Espírito aumente com o exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus»

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«A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus;
quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor;
e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre.
Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!».
Cquote2.svg
                                   Martyrum sancti Polycarpi 17, 3: SC 10bis, 232 (FUNK 1, 336).


Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, «proclama o mistério pascal» realizado naqueles homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus».

«Os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade». Todos são chamados à santidade: «Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5, 48):

«Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que Cristo as dá, a fim de que [...] obedecendo em tudo à vontade do Pai, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos»


Fonte: http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/577/29/

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Mais Paulo Freire, por favor!

Desenho feito no piso do acesso ao Restaurante Universitário da Unicamp em Campinas. 
Crédito: Elias Feitosa


Fala dura e direta, sem eufemismos. No momento vivenciado pelo Brasil, torna-se imprescindível a tomada de posição, uma vez que o arremedo de Estado de Bem-Estar Social que estávamos ainda esboçando começou a ser desmontado por um governo ilegítimo, autoritário e totalmente descomprometido com a soberania nacional.
Para os não-iniciados na pedagogia freiriana pode parecer estranho uma proposição binária como esta sentença. No entanto, para quem vivenciou a Ditadura Militar no Brasil, o contexto da Guerra Fria e sonhou com um país mais justo e menos desigual, há de se perceber a natureza desta problemática, porque a fala de Paulo Freire (1921-97) deve ser lida a partir da dialética.
No entanto, existem várias nuances ao se conceber uma análise e quando se pensa a história da educação no Brasil, Freire não está nem um pouco enganado: ensino destinado aos bem-nascidos, ao passo que os demais, se às vezes alfabetizados, tinham que se contentar com o trabalho e dar-se por felizes. Apesar da boa vontade de alguns professores (religiosos e/ou leigos), a educação não era vista como um “direito”, mas sim como um privilégio, tal qual fora na Europa durante séculos.  
Exclusão de indígenas, de negros, de mestiços, de mulheres, de pobres, de trabalhadores. Parei a frase aqui, porque a lista é imensa! Por outro lado, valorizou-se uma certa hierarquia, um ranço torpe que desde os tempos do Império permitiu-se chamar qualquer graduado de “doutor”, que era sinônimo de boa origem e condição. Ainda hoje, quando um sujeito chega com trajes finos, em carro novo, de luxo ou nem tanto, com joias ou acessórios de marca, será “doutor”, sem mesmo nunca ter defendido uma tese.
Desse modo, nas palavras de um grande professor que tive na Universidade de São Paulo, o Dr. István Jancsó (1938-2010), “trata-se da reiteração ampliada de uma lógica excludente que propicia a manutenção das tensões da tessitura social para o longo dos séculos. No Brasil, manda quem pode e obedece quem tem juízo!”
Afinal, se o oprimido não se libertar da opressão, corre o risco de naturalizá-la e reproduzi-la. Ou ainda, desprovido de senso crítico, vai achar que projetos como "Escola Sem Partido" estão corretos: o indivíduo não deve criticar ou questionar e sim obedecer ou ainda acreditar que existe "100% de imparcialidade" e mais uma vez aceitar que estudar, ter uma formação e profissão “não é para si”, restando-lhe trabalhar e servir.
Sempre fazemos escolhas e no caso, quando se prega a "neutralidade" da educação, está em si, já é uma escolha. Nas palavras do arcebispo anglicano Desmond Tutu, um dos baluartes da luta contra o apartheid na África do Sul, “quando nos calamos perante a opressão, nos colocamos ao lado do opressor”.
Doutrinação nenhuma deve acontecer, seja à esquerda ou à direita, a escola deve ser livre, sobretudo dotada de crítica e de reflexão, do contrário , vira depósito de gente ou moedor de carne.
Vivemos tempos muito complexos. O mundo mudou? Bem, o mundo muda sempre. E o que dizer aos estudantes?
Minha insignificante contribuição é pensar que num país tão desigual como o Brasil, quando um jovem de origem humilde e precárias condições resolve estudar, em si ele já está cometendo um ato de rebeldia. Portanto, não há outro caminho se não o desta rebelião: deixar de lado o “coitadismo” reincidente e se apoderar dos instrumentos de saber, da formação e da erudição, determinando uma ruptura do stablishment oligárquico que mais uma vez, quer arrastar a Nação para as trevas, para a dependência estrangeira e disso, lucrar enormemente com as migalhas servidas pelos verdadeiros controladores do capital global, enquanto o caminho do fortalecimento da soberania nacional é deixado para trás, sem o menor pudor em detrimento de milhões de brasileiros.

Sugestão do Gabinete:

Another Brink in the wall - Pink Floyd -1979



Para saber da importância de Paulo Freire, segundo a UNESCO:


sábado, 10 de setembro de 2016

Renascimento - O homem como a perfeita medida de todas as coisas

O CONCEITO DE RENASCIMENTO

O conceito de Renascimento vem da palavra italiana renascitá, pois se acreditava que o período anterior, a Idade Média, fora uma "espessa e longa noite gótica" imersa nas trevas e desprovida de cultura. Para os homens deste período, a "verdadeira" cultura encontrava-se na Antigüidade, a qual foi banida e em seu lugar a Igreja estabeleceu o teocentrismo. O saber, portanto, encontrava-se nas artes e nos escritos clássicos.
Dessa forma, os artistas e intelectuais buscavam uma concepção de cultura diferente da medieval e que tinha suas raízes no mundo greco-romano. A proposta central era afastar-se do teocentrismo, buscando o antropocentrismo, ou seja, o homem como medida de todas as coisas.
Ao pensarmos o conceito de Renascimento, a questão mais importante é pensa-lo como uma releitura de um pensamento que aparentemente teria desaparecido e seria recuperado pelos estudiosos. Tal idéia tinha força, porque os homens da época entendiam por arte os modelos da cultura clássica, os quais desapareceram durante o medievo e portanto precisavam ser recuperados, segundo Giorgio Vasari e Alberti, ambos artistas renascentistas e importantes personagens na criação dos conceitos renascimento e homem universal (l’uomo universale), respectivamente.
Apesar desta repulsa à Idade Média, é importante perceber que as transformações sofridas durante o Renascimento foram resultados de um processo de continuidade que perpassou o medievo e atingiu seu esplendor no momento seguinte, portanto, não se pode considerar a Renascença como uma ruptura total, mas a mudança de largo processo de experimentação e aprimoramento. 
A partir da reabertura do Mediterrâneo após as Cruzadas, a Europa assistiu uma intensa transformação das relações sociais e do modo de vida, pois as cidades voltaram a crescer e se tornaram o centro das atividades comerciais através da atuação dos burgueses. A burguesia era um grupo oriundo da ordem dos trabalhadores e portanto, não possuía a legitimidade como a nobreza ou o clero, os quais controlavam a vida dos demais .
No que diz respeito a prosperidade italiana, esta era relacionada com o monopólio do comércio de especiarias com o Oriente, tendo se destacado as cidades de Gênova, Veneza, Florença e Pisa. Estas cidades controlavam a venda de especiarias dentro da Europa e também a sua compra com os árabes e turcos no Mediterrâneo.


Península Itálica no Séc. XV
Fonte: Wikipedia



ITÁLIA: O "BERÇO DO RENASCIMENTO"

O Renascimento tem como seu "berço" a Península Itálica devido a um conjunto de fatores que favoreceram sua formação. Em primeiro lugar, o fato de ter sido o centro do Império Romano e guardar milhares de ruínas e resquícios da cultura greco-romana, como templos, estátuas, prédios públicos e dessa forma, os italianos tinham uma convivência muito próxima com seu "glorioso passado". Em segundo lugar, o enriquecimento proveniente do comércio mediterrâneo que permitiu aos burgueses o investimento nas artes, sendo denominados mecenas, com o objetivo de legitimar sua posição na sociedade e buscar uma visão de mundo que se relacionasse com seu modo de vida, rompendo portanto, coma visão de mundo medieval, na qual eram simples trabalhadores inferiorizados pela nobreza e clero. O mecenato, no entanto, não ficou restrito aos burgueses, pois nobres, papas e príncipes também o fizeram.
Um fator muito importante foi a sobrevivência de muitos textos clássicos através da sua conservação em bibliotecas de mosteiros e abadias que foram copiados e traduzidos por monges copistas, do intercâmbio entre sábios bizantinos e também pela ação dos árabes na tradução e divulgação de vários textos, como por exemplo o estudo de Aristóteles realizado por Ibn Rushd( chamado no Ocidente de Averróis) em Córdova.
A sobrevivência dos elementos da cultura clássica pode ser relacionado com sua redescoberta a partir do interesse dos intelectuais pelos studia humanitatis (estudos humanos que incluíam filosofia, poesia, história, matemática , eloqüência e o perfeito domino do latim e do grego) , pois não se buscou a mera repetição dos modelos antigos, mas sua reinterpretação à luz de sua época e dessa forma constituiu-se o humanismo
Neste contexto, destaca-se a obra de Dante Alighieri (1265-1321) A Divina Comédia, poema épico composto por três partes (Purgatório, Inferno e Paraíso), escrito em tercetos com versos decassílabos, totalizando 100 cantos e totalmente escrito em dialeto toscano, o qual futuramente daria origem a língua italiana. Apesar de inovadora, a Divina Comédia ainda trazia vários elementos da cultura e visão de mundo medieval, representados pela hierarquia, linearidade e imobilidade, tendo porém, uma perspectiva que ressalta o valor humano, pois a passagem de Dante pelo Inferno e pelo Purgatório não deturpa seu caráter, ao contrário, reafirma-o.
           

O QUE LEVOU AO RENASCIMENTO
           
Uma série de fatores proporcionou a ocorrência do Renascimento a partir da Baixa Idade Média. Inicialmente, houve o renascimento comercial, isto é, a generalização do comércio pela Europa, fenômeno que se tornou irreversível desde a abertura do Mediterrâneo. Isso tudo foi acompanhado pelo renascimento urbano, que implicou o surgimento de novas cidades e uma série de funções para elas; a cultura renascentista foi essencialmente urbana.
Ocorreu também o surgimento e a ascensão dos mercadores, ligados principalmente ao comércio marítimo. Para que isso acontecesse, foi necessária a centralização do poder em algumas partes da Europa, o que favoreceu a redução do poder da Igreja e das ideias que condenavam o comércio de maneira geral. Tais mercadores, enriquecidos, passaram a viver em castelos tentando igualar-se à nobreza de sangue. Passaram, então, a praticar o mecenato, ou seja, a abrigar, financiar e incentivar jovens artistas, tornando-se protetores das artes. Estes jovens artistas entraram em contato com a herança do Império Romano presente em esculturas, pinturas, obras arquitetônicas e literárias espalhadas por toda a Península Itálica.
Outro fator impulsionou o Renascimento foi que, com a queda de Constantinopla, que passava às mãos dos turcos, muitos sábios bizantinos fugiram para o Ocidente, encontrando refúgio nos castelos dos burgueses italianos. Não se pode esquecer de que, em Constantinopla, onde o Império Romano de alguma forma sobreviveu, os textos clássicos ainda eram lidos, e o latim e o grego eram línguas correntes entre poetas e literatos.
Aos burgueses interessava duplamente financiar os artistas da época, pois, ao mesmo tempo em que ascendiam socialmente dentro da Itália, divulgavam seus nomes e sua grandeza até mesmo nos países distantes.


Lorenzo de Medici pintado por Giorgio Vasari (esq.) e o Papa Júlio II (dir.) pintado por Rafael Sanzio
Fonte: Wikipedia


O RENASCIMENTO E O CONTEXTO HISTÓRICO

Durante a Baixa Idade Média ocorreu o renascimento comercial e urbano, o qual favoreceu em especial algumas regiões da Europa como a Flandres (região que hoje compreende Bélgica e Holanda) e o norte da Itália em virtude da intensa atividade comercial. Neste momento , começou o fortalecimento do poder monárquico em detrimento da nobreza, mas tanto na Itália não se formou uma monarquia nacional centralizada, uma vez que constituíam regiões dominadas por pequenos Estados sob o controle da burguesia (as Repúblicas de Florença,Gênova, Lucca, Siena e Veneza);da nobreza (os Ducados de Milão, Módena, Ferrara, Savóia) e da Igreja (região central da Itália). A região de Flandres era uma possessão dos Duques de Borgonha (passando no final do século XV para o domínio dos Habsburgo) e era dotada também de intensa atividade comercial, tendo porém uma burguesia desinteressada em nobilitar-se como era o caso da italiana, valorizando portanto, sua posição de mercadores e comerciantes.
O enriquecimento das cidades italianas fez com que as famílias burguesas que controlassem o governo das comunas a partir do podestá (líder político) que tinha sob seu controle um exército de mercenários liderados pelo condottieri (chefe de armas ou capitão de guerra). Em Veneza , porém, havia a figura do doge (chefe da República) apoiado pelo senado e pelo temível Conselho dos Dez (órgão sigiloso, com poderes de vida e morte sobre os cidadãos, composto por membros da aristocracia veneziana).
Destacaram-se como importantes membros da burguesia italiana os Médicis em Florença, os Baglioni em Perúgia e os Bentivoglio em Bolonha; em algumas cidades os próprios condottieri controlavam o poder como os Sforza em Milão.



A ESTÉTICA RENASCENTISTA

A estética renascentista propôs o retorno aos valores clássicos: arte mimética (a imitação da realidade com o objetivo de buscar a perfeição, segundo Aristóteles, forjando a idéia de respeitar o modelo adotado e dentro dele a busca da superação, com o auxílio da criatividade); a harmonia, a sobriedade (contenção dos sentimentos) e além desta recuperação da Antigüidade, o tema central foi o antropocentrismo (o homem como medida de todas as coisas) em detrimento do teocentrismo, favorecendo o surgimento de uma forma de cultura laica (não religiosa), a qual valorizava o individualismo. 
Quanto à temática, não foram abandonados os temas religiosos, como a vida de santos e as passagens da Bíblia, pois o que ocorreu neste período é a representação mais humanizada da divindade. Outro tema muito recorrente foi a mitologia greco-romana, pois os mitos foram resgatados e ganharam uma roupagem adequada ao gosto burguês.
A produção artística do Renascimento pode ser vista como a construção do imaginário burguês, pois a burguesia buscava a legitimidade e auto-afirmação, querendo romper com a Idade Média e assim livrar do estigma da servidão, afinal, os burgueses saíram deste estamento para depois morar nos burgos e viver do comércio.

AS INOVAÇÕES TÉCNICAS

Durante o Renascimento surgem inúmeras inovações nas artes plásticas: a perspectiva (a representação dos objetos, lidando com os conceitos de  espaço e volume, enfocados a partir de um pondo de vista (ponto de fuga), o que permitiu ampliar o espaço, trabalhando a profundidade e no entanto, delimita o olhar do observador ao ponto estabelecido pelo pintor , também chamado de "técnica do ponto fixo" . Um dos primeiros a utilizar esta técnica foi Giotto e posteriormente, Brunelleschi estabelece uma relação matemática proporcional na representação das imagens, também chamada de perspectiva geométrica; a pintura a óleo, importada da Flandres que foi difundida ao longo do Quattrocento , permitiu o trabalho mais detalhista por parte do artista, possibilitando-lhe o aprimoramento da técnica.

O homem de Vitrúvio - Leonardo da Vinci
Fonte: Wikipedia


FASES DO RENASCIMENTO ITALIANO



Trecento (1300-1399): É a fase de transição entre a estética medieval e a renascentista. Destacam-se neste período os pintores: Giotto( afrescos da Basílica de Assis), Duccio, Cimabue, Simone Martini e Ambrogio Lorenzetti. Na literatura temos como autores importantes Francesco Petrarca (1304-1374), autor de Ódes a Laura e da epopéia De África e Giovanni Boccaccio(1313-1375) , autor de Decameron. A riqueza da produção literária deste período estava na utilização dos dialetos, o toscano principalmente, promovendo a formação da língua italiana.

A deposição da Cruz - Giotto de Bondone. C. 1304-06. Capella Scrovegni - Pádova, Itália
Fonte: Wikipedia



Quattrocento (1400-1499): Nesta fase houver um maior desenvolvimento das artes plásticas que na literatura, pois os escritores voltaram a apenas imitar a Antigüidade e assim não continuaram a escrever nos dialetos e dessa forma usavam o grego e o latim. O centro da produção renascentista é Florença. Na pintura encontramos o destaque de Masaccio (1401-1428), autor de A Trindade, Virgem e o Menino com os anjos; Sandro Botticelli( 1447-1510), autor de O nascimento de Vênus, A alegoria da Primavera entre outras; Fra Angelico, autor da Anunciação, Cenas da vida de S. Estevão.
Um dos grandes nomes do Quattrocento é Leonardo da Vinci (1452-1519), homem de múltiplas habilidades: pintor, arquiteto, inventor, matemático e filósofo, portanto, o exemplo de "homem universal". De sua vasta obra destacam-se: A virgem dos rochedos, La Gioconda (Mona Lisa), projetos arquitetônicos, tratados de anatomia, pintura e vários inventos. Leonardo representa a transição do Quattrocento para o Cinquecento.

O nascimento de Vênus - Sandro Botticelli, c. 1485 - Galleria degli Ufizzi - Firenze, Itália
Fonte: Wikipedia 


Cinquecento (1500-1550): Nesta fase a capital do Renascimento passa a ser a Roma papal, graças ao mecenato de papas como Alexandre VI, Júlio II e Leão X e. Na literatura, ainda em Florença, destaca-se a publicação de "O Príncipe" , de Nicolau Maquiavel ; de Baltazar Castiglioni, "O Cortesão"; de Ariosto, "Orlando Furioso". Nas artes plásticas destacam-se Rafael Sanzio, pintor famoso por suas Madonas, A Escola de Atenas e Michelangelo Buonarroti, autor das esculturas: Davi, Pietá, Moisés; da planta da cúpula da Basílica de São Pedro e dos afrescos da Capela Sistina.

O Juízo Final - Michelangelo Buonarroti - c. 1536-41 - Capella Sistina, Cidade do Vaticano


O RENASCIMENTO ALÉM DA ITÁLIA

O Renascimento teve como centro a Península Itálica e gradativamente se espalhou para o restante da Europa. Depois da Itália, o centro mais importante foi a região de Flandres, pois também foi uma região de forte atividade comercial dotada de uma burguesia com grande dinamismo. Na literatura destacou-se Erasmo de Roterdam, autor de "O Elogio da Loucura".
Na pintura, temos os irmãos Van Eick, sendo de Jan Van Eick o quadro "O casal Arnolfini"; Hieronymus Bosch, autor de "O jardim das delícias", "A pedra da Loucura", O trinfo da Morte"; Pieter Brueghel, autor de "O massacre do Inocentes", "Torre de Babel", "A morte de Ícaro"; Rogier Van Der Weiden, autor de "A deposição da Cruz".

O Jardim das Delícias - Hieronymus Bosch - c. 1505 - Museo del Prado, Madrid, Espanha
Fonte: Wikipedia


Em outros países o Renascimento foi tardio em relação à Itália, tendo menor expressão: Portugal recebeu influências com o retorno de Sá de Miranda da Itália em 1527, trazendo o dolce stil nuovo( verso decassílabo e soneto) e mais tardiamente com Camões graças à publicação de "Os Lusíadas" em 1572; na Espanha o maior expoente foi Miguel de Cervantes com sua obra "D. Quixote de la Mancha"; na França, o principal nome é Rabelais, autor de "Gargântua e Pantagruel"; na Grã-Bretanha , destacaram-se Willian Shakespeare, dramaturgo, autor de "Romeu e Julieta", "Macbeth", "Hamlet", "Rei Lear" entre outras peças e Thomas Morus com "Utopia".

O Renascimento e as Ciências

Representação do sistema heliocêntrico  c. 1660 
Fonte: Wikipedia


Durante a Idade Média, um dos principais temas defendidos pela Igreja era o geocêntrismo, ou seja, a Terra era estática e os planetas giravam ao seu redor. Tal pensamento começou a ser questionado pelo astrônomo polonês Nicolau Copérnico, defensor do Heliocentrismo (a Terra e os planetas giram em torno do Sol que é estático). Esta teoria foi levada adiante por Galileu Galilei, físico florentino, o qual desafiou a Igreja defendendo tal tese e foi obrigado a retratar-se publicamente. Mais tarde os estudos de Johan Kepler acabaram por confirmar o heliocentrismo.
Na medicina destacaram-se Andra Vesalius na área da anatomia; Miguel de Servet, médico espanhol responsável pela descoberta da circulação do sangue  ou circulação pulmonar  pelas artérias.





segunda-feira, 15 de agosto de 2016

15 de Agosto - a Festa da Assunção de Maria na Catedral de Notre-Dame de Chartres


Sabemos da existência de importantes cultos dedicados às deusas dentro do Império romano, como por exemplo, as deusas Vênus, Ártemis, Demeter, Ísis e outras em diferentes locais e que de certa forma, foram aos poucos mesclados e assimilados pelo cristianismo, não de uma forma unilateral, aculturada, mas como uma referência básica que colocou lado a lado, as velhas crenças dos diferentes povos (paganus) e o crescente cristianismo que se organizou nos primeiros séculos do primeiro milênio.
Nesse contexto, as festas cristãs foram também adaptadas de acordo com o calendário cristão, servindo como referência para a conversão e organização da religiosidade de diferentes partes do império.
O culto mariano se formalizou com o Concílio de Éfeso em 431 a partir da instituição do dogma da maternidade divina: a Theotókos, cujo significado literal seria “Geradora de Deus”. Em 451 durante o Concílio de Calcedônia ocorreu não só a ratificação das decisões de Éfeso, mas também o combate ao monofisismo, considerado naquele contexto uma heresia.
Theotókos, c. Séc. IX - Monte Athos, Grécia
Fonte: Portal Ecclesia

O primeiro a ser tratado é o conceito de devoção, palavra de origem latina (devovere) que significa entregar-se incondicionalmente, consagrar a vida a algo e no caso de nosso trabalho, tratamos da devoção à Virgem Maria, institucionalização perpassa o início da era cristã e se consolida ao longo do medievo e atinge os tempos atuais, podendo ser compreendida como um fenômeno de longa duração.
Qual seria o status conferido a Maria na organização da doutrina cristã?  
De acordo com a interpretação da ortodoxia, toda a devoção à Maria está relacionada com o Cristo, não havendo possibilidade de uma posição independente, mas tal circunstância esbarra no confuso espaço entre a teologia estabelecida pela Igreja e o entendimento da mesma pelos fiéis. Para a ortodoxia, somente a Deus se deve destinar a “adoração” (latreia) e que à Virgem e aos santos estava destinada a “veneração” (proskynesis). No entanto, esta terminologia percorreu um vasto e complexo percurso dentro da história do cristianismo, pois sua significação foi responsável pelos movimentos iconoclastas da cristandade oriental e concomitantemente, ao distanciamento entre os cristãos orientais e católicos romanos e posteriormente, dos protestantes.
Resultado de diferentes formas de exegese, a relação dos cristãos com as imagens foi bem diversa, havendo também uma outra variante a ser pensada: o movimento de estabilização e ascensão do Cristianismo foi contemporâneo à decadência e desestabilização do Império Romano Ocidental nos séculos IV e V.
Dessa maneira, podemos observar, a partir deste momento, uma série de influências entre ambas as culturas (cristã e romana), uma vez que a primeira ascende e a segunda declina em algumas partes do Império Ocidental, porém não desaparece, fundindo-se, amalgamando-se e cristianizando-se gradativamente.
Dentro do mundo romano, a imagem (imago) detinha uma ampla presença e aceitação, referenciada pelo conceito da mimesis e assim, participava do cotidiano de todos nas mais diferenciadas circunstâncias: a estátua do imperador, as imagens dos deuses, os retratos ou estátuas dos antepassados, enfim, aos olhos cristãos um pecado imperdoável, mas que no mundo romano não encontrava censura.
Herança judaica, somada aos temores de uma cultura idólatra como foi a romana, todo e qualquer elemento que pudesse ser uma ameaça aos ensinamentos de Jesus eram motivo para desconfianças e críticas, mesmo se tratando por exemplo da Mãe de Jesus ou mais gravemente ainda, de  outros personagens do cristianismo.
Estrutura do vitral da Glorificação da Virgem
Fonte: Corpus Vitrearum France

O vitral dedicado à Glorificação da Virgem apresenta o reinado conjunto de Maria e de Jesus e foi construído num jogo de oposição entre o plano terrestre (representado no interior dos círculos) e o plano celeste (representados nos quadrilóbulos) que se alternam no sentido ascendente e culminam com a coroação da Virgem.
Parte inferior do vitral da Glorificação da Virgem (cenas 1 a 14)
Crédito: Elias Feitosa

Este vitral foi uma doação dos sapateiros (cenas 1 a 5) que são representados no exercício de seu ofício: a compra do couro, o corte , a costura do sapato e por fim, a venda.
A temática deste vitral tem suas raízes na tradição cristã oriental (bizantinos, sírios, armênios e caldeus), sendo uma festa que honra a Mãe de Deus que concluiu sua peregrinação terrena e sua alma é recebida por Jesus, sendo denominada como Dormição da Virgem, numa alusão ao corpo que jaz no leito e é pranteado por duas mulheres (cenas 6 e 8) e pelos apóstolos, reunidos miraculosamente pelos anjos e assim poderiam assistir a Virgem em seus momentos finais (cena 07).
Parte superior do vitral da Glorificação da Virgem (cenas 15 a 27)
Crédito: Elias Feitosa

A comoção se faz presente pela postura e gestos dos apóstolos: lágrimas enxugadas com uma parte das vestes, um olhar desviado, uma cabeça presa pelas mãos ou um semblante tenso, marcado pelas sobrancelhas enrugadas. 
Um outro aspecto é a composição da cena, a qual apresenta uma estrutura piramidal marcada pelo corpo da Virgem estendido no leito e os apóstolos que a cercam compondo os outros dois vértices.
A cena deste primeiro círculo é contraposta ao primeiro quadrilóbulo, no qual Cristo recebe a alma de sua mãe, apresentada como um pequeno corpo nu (cena 10), momento este denominado como elevação da alma.
Na sequência, temos um outro círculo que retrata a condução do ataúde pelos apóstolos (cenas 12 a 17) com o corpo da Virgem para o sepultamento, cerimônia interpretada durante o medievo como uma ação simbólica do transporte da Arca da Aliança para Jerusalém. Este episódio nos permite apontar a idéia da incorruptibilidade do corpo da Virgem e tal fato acaba por se confirmar com sua deposição no sepulcro (cenas 18 a 20) e a consequente retirada pelos anjos (cenas 21 a 23).
A distinção entre as duas assunções (do corpo e da alma) foi fruto de um vasto debate teológico com diferentes interpretações no contexto da execução deste vitral, havendo portanto, o interesse de distinguir claramente a Elevação da alma num primeiro momento e a Assunção do corpo, representado dentro de uma mandorla, envolto num manto de glória pelas mãos dos anjos, correspondendo às representações iconográficas da Ascensão de Cristo.
No topo da baia a conclusão da narrativa com a Coroação da Virgem, a qual divide o mesmo trono com Cristo e deste recebe o triunfo: sentada à direita, tendo numa mão o cetro e a outra em saudação voltada para Jesus, de quem recebe a coroa, a qual é sobrevoada por uma pomba e dela emana uma luz vermelha como uma referência direta ao Espírito Santo.