As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quinta-feira, 29 de março de 2012

Brasil e a denúncia do caso Herzog

Fonte: Portal UOL


29/03/2012 - 15h40

Brasil é denunciado na OEA por caso Vladimir Herzog




Jornal do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo


O jornalista Vladimir Herzog, que foi encontrado enforcado em uma cela, em 25 de outubro de 1975


O Brasil foi denunciado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) por não apurar as circunstâncias da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nas dependências do Exército, em São Paulo, em 1975.

Segundo a denúncia, o "Estado brasileiro não cumpriu seu dever de investigar, processar" e punir os responsáveis pela morte de Herzog.

O caso foi levado ao organismo internacional, que já condenou o Brasil por omissões nos crimes da ditadura militar (1964-85), por entidades de direitos humanos, como Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), FIDDH (Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos), Grupo Tortura Nunca Mais e Instituto Vladimir Herzog.
O caso Herzog voltou a ser discutido no início de fevereiro, após a Folha revelar em reportagem a identidade de Silvaldo Leung, fotógrafo que foi usado pela ditadura para registrar a morte do jornalista.

Segundo depoimento de Leung, a cena do suicídio foi forjada. O fotógrafo, então aluno da Academia da Polícia Civil de São Paulo, disse que não teve liberdade para fotografar o cadáver do jornalista, como normalmente fazem os peritos fotográficos, e alega que foi perseguido.

Após a revelação da Folha, autoridades do governo envolvidos com o tema, como é o caso do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), defenderam que o assunto fosse novamente investigado.

Apresentado como suicida pelo Exército, a versão começou a ser contestada logo no dia da morte de Vlado, como o então diretor de jornalismo da TV Cultura era chamado.
Segundo testemunhas, após comparecer espontaneamente no DOI-Codi de São Paulo para prestar depoimento, Herzog morreu após ser barbaramente torturado. Depois, os agentes da repressão armaram a cena para tentar simular o suicídio.

Um inquérito militar instaurado ainda em 1975 confirmou que o jornalista se matou. Mas em 1978 a Justiça condenou a União pelo assassinato de Vladimir Herzog.
Nos últimos 20 anos, contudo, duas ações foram propostas para apurar as circunstâncias do assassinato, mas em ambos os casos a Justiça arquivou as investigações com base na Lei da Anistia e no argumento de que o crime prescreveu.

O argumento das organizações de direitos humanos para o caso ser investigado, baseado na própria jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, diz que "são inadmissíveis as disposições de anistia, as disposição de prescrição e o estabelecimento de excludentes de responsabilidade, que pretendam impedir a investigação e punição" de quem cometeu graves violações aos direitos humanos, como torturas e assassinatos.

Após análise da comissão e da manifestação do Estado brasileiro, o caso provavelmente será levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, instância superior que poderá condenar o Brasil --como o fez em dezembro de 2010 por causa dos mortos e desaparecidos na guerrilha do Araguaia.

domingo, 25 de março de 2012

Habemus Papam: uma reflexão sobre a condição humana


O papado, seu interior e as diferentes formas de manifestação de sua influência sempre foram objeto de discussão nas mais diferentes esferas sociais ao longo dos séculos e assim, todo abordagem sobre este tema carrega uma aura de mistério, de dúvida sobre aquele que se apresenta como sucessor de Pedro e Vigário de Cristo, depois de uma eleição secreta, entre chaves (tradução da expressão latina cum clavis ou conclave, em português), que pelo menos há cinco séculos vem ocorrendo na Capela Sistina, tendo os afrescos de Michelangelo, Rafael, Boticelli e outros como testemunha.

Após uma votação dos cardeais eleitores, obtendo-se uma maioria de 2/3 do Colégio de Cardeiais (modo resolvido por um documento de 1970, de acordo com decisão de Paulo VI), o novo escolhido é questionado pelo decano do Colégio dos Cardeais,:

Reverendo Cardeal, aceitas a tua eleição canônica como Sumo Pontífice?

Aceito em nome do Senhor. (Caso o cardeal a rejeite, ocorre uma nova votação)

Como queres que te chamemos?

O eleito escolhe um nome para seu pontificado, geralmente homenageando um de seus antecessores ou adotando um nome novo, como por exemplo, foi o caso de João Paulo I, que criou este nome composto, homenageando seus dois antecessores João XXIII(1959-1963) e Paulo VI (1963-1979). Assim, será apresentado pelo protodiácono e decano (cardeal mais velho) no balcão principal da Basílica de São Pedro:

Latim
Tradução em português
Annuntio vobis gaudium magnum;
Habemus Papam:
Eminentissimum ac reverendissimum Dominum,
Dominum (Nome),
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem (Sobrenome),
Qui sibi nomen imposuit (Nome papal).
Anuncio-vos uma grande alegria;
Temos um Papa:
O eminentíssimo e reverendíssimo Senhor,
Dom (Nome),
Cardeal da Santa Romana Igreja (Sobrenome),
Que se impôs o nome de (Nome papal).

Em seguida, aparece para ser saudado pela multidão, que ansiosamente, se concentra na Praça de São Pedro e dali, já profere as suas primeiras palavras no exercício da função de Pontífice Máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, dando a benção Urbi et Orbi, isto é, para a Cidade e o Mundo, com o seguinte texto latino:

Sancti Apostoli Petrus et Paulus: de quorum potestate et auctoritate confidimus ipsi intercedant pro nobis ad Dominum.


Que os Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em cujo poder e autoridade temos confiança, intercedam por nós junto ao Senhor.


Resposta: Amém.


Precibus et meritis beatæ Mariae semper Virginis, beati Michaelis Archangeli, beati Ioannis Baptistæ, et sanctorum Apostolorum Petri et Pauli et omnium Sanctorum misereatur vestri omnipotens Deus; et dimissis omnibus peccatis vestris, perducat vos Iesus Christus ad vitam æternam.


Que por meio das orações e dos méritos da Santíssima Virgem Maria, de São Miguel Arcanjo, de São João Batista, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os santos, Deus todo-poderoso tenha misericórdia de vós, perdoe os vossos pecados e vos conduza à vida eterna em Jesus Cristo.


Resposta: Amém.


Indulgentiam, absolutionem et remissionem omnium peccatorum vestrorum, spatium verae et fructuosae poenitentiæ, cor semper penitens, et emendationem vitae, gratiam et consolationem Sancti Spiritus; et finalem perseverantiam in bonis operibus tribuat vobis omnipotens et misericors Dominus.


Que o Senhor Todo Poderoso e misericordioso vos conceda indulgência, absolvição, e remissão de todos os vossos pecados, em tempo para uma verdadeira e frutuosa penitência, sempre com coração contrito, e a benção da vida, a graça, a consolação do Espírito Santo e perseverança final nas boas obras.


Resposta: Amém.


Et benedictio Dei omnipotentis, Patris et Filii et Spiritus Sancti descendat super vos et maneat semper.


E que a bênção de Deus Todo Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo desça sobre vós e permaneça sempre.


Resposta: Amém

Um belo e antigo ritual, que mostra ao mundo, a continuidade desta milenar instituição que é a Igreja Católica Romana. Mas e se o papa eleito disser “não”?

Moretti como psicanalista tentando conversar com "Sua Santidade", sob o olhar perplexo dos cardeais.

Foi esta pergunta que moveu o diretor do filme Habemus papam Nanni Moretti na construção de um contexto fictício, valendo-se de cenas reais do funeral de João Paulo II, para mostrar um conclave que elevaria o cardeal Melville, interpretado pelo ator Michel Piccoli, ao cargo mais importante da Igreja.

O cardeal Melville era um dos cardeais eleitores, mas não era um favorito, como o cardeal Gregori, interpretado por Renato Scarpa. Há um velho provérbio na Igreja que diz “quem entra como papa no conclave, saí como cardeal” e foram poucos que consiguiram provar o contrário, 13 ao todo, e o mais recente, foi Bento XVI, eleito em 2005.

O recém-eleito, tomado pela surpresa, diz “sim” ao Conclave e a tradicional fumaça branca, tão esperada pela multidão na Praça de São Pedro é comemorada, os sinos da Basílica dobram e se aguarda o anúncio do “Habemus papam” e no exato momento da apresentação, o impensável acontece: um grito de dor ou pavor é bradado pelo “futuro papa”, que saí correndo, deixando seus demais colegas em pânico e o decano dos cardeais não concluiu o anúncio retornando seus passos lentamente para trás, tomado pela perplexidade.

O que fazer? Como agir? Nesse grande vazio começa a busca pelo caminho mais fácil: a aceitação da função pelo eleito, que é examinado por médicos, encontra-se, aparentemente em boa saúde, mas não consegue ir adiante.

Algo deve ser feito e nisso, aqueles que vivem da prática de uma fé verdadeira apelam para a ciência que busca entender a mente e seus meandros, chamando um renomado psicanalista italiano, ateu convicto que deveria buscar uma solução para o problema.
O papa no divã? Aquele que aparentemente é visto como alguém acima de todos os mortais, sendo questionado como um paciente comum?

O papel do analista coube ao próprio diretor, aliás, muito bem desempenhado, flertando com a ironia da situação, o velho conflito entre a Fé e a Ciência e ainda por cima, a crise visível de uma instituição que envolve mais de um bilhão de pessoas.

É uma discussão séria, ao pensarmos qual é o futuro da Igreja Católica Romana, perante às inúmeras questões que a cercam no campo interno e na sua relação com a sociedade e assim, o filme busca pelo inusitado, a construção de um momento de reflexão, sem ficar restrito ao anticlericalismo exacerbado ou a uma desacralização que pudesse ofender a instituição e seus fiéis.

Fica aqui a sugestão! Bom filme!



Habemus papam
Direção: Nanni Moretti
Ano: Itália, 2011
Duração: 102 minutos

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cientistas descobrem na China homem desconhecido que conviveu com o moderno


Fonte: EFE / Portal UOL
Fósseis encontrados em duas cavernas do sudoeste da China revelaram a existência de um homem até agora desconhecido da Idade de Pedra com uma incomum mistura de traços físicos arcaicos e modernos, deixando uma nova pista sobre a adiantada evolução humana na Ásia.
Com idades entre 14,5 mil e 11,5 mil anos, os fósseis são de homens que conviveram com seres humanos modernos (Homo sapiens) em uma época em que a agricultura estava em seu princípio na China, revelou uma equipe internacional de especialistas no estudo publicado na revista "PLoS One".

Até agora não haviam sido achados no leste do continente asiático fósseis humanos de menos de 100 mil anos de antiguidade que se diferenciassem fisicamente do Homo sapiens atual, o que levou os cientistas a pensarem que nessa região não havia antecessores dessa espécie quando apareceram os primeiros homens modernos, uma teoria que essa última descoberta põe em dúvida.
"Esses novos fósseis podem ser de uma espécie antes desconhecida que sobreviveu até o final da Idade do Gelo, há 11 mil anos", indicou Darren Curnoe da Universidade de Nova Gales do Sul, da Austrália, que liderou o estudo junto com Ji Xueping do Instituto de Arqueologia e Relíquias Culturais de Yunnan chinês.
Conforme Curnoe, a outra opção seria que os fósseis se tratassem de representantes de uma migração da África muito adiantada e desconhecida de homens modernos que, no entanto, não contribuíram geneticamente para o homem atual.
Os restos de três indivíduos foram encontrados em 1989 por arqueólogos chineses em Maludong (a caverna dos cervos vermelhos) perto da cidade de Mengzi, na província de Yunnan, mas só começaram a ser estudados em 2008 por cientistas chineses e australianos.
Um quarto esqueleto parcial apareceu em 1979 em uma caverna em Longlin, na região autônoma de Guangxi Zhuang, mas permaneceu no bloco de pedra onde foi descoberto até 2009, quando foi reconstruído.
Os crânios e dentes de Maludong e Longlin são muito similares entre si e representam uma mistura incomum de características anatômicas arcaicas e modernas.
Os cientistas chamam esses homens de "povo dos cervos vermelhos", já que caçavam esses animais hoje extintos e os cozinhavam na caverna de Maludong.
"A descoberta do povo dos cervos vermelhos abre um novo capítulo na história da evolução humana - o asiático - e é uma história que só agora está começando a ser incluída", afirmou Curnoe.
Embora a Ásia conte atualmente com mais da metade da população mundial, os cientistas ainda sabem pouco sobre como os humanos modernos evoluíram nessa localidade depois que seus ancestrais se fixaram na Eurásia há cerca de 70 mil anos.
Até o momento os estudos sobre as origens humanas se centraram principalmente na Europa e na África, devido em grande parte à ausência de fósseis na Ásia e ao desconhecimento da antiguidade dos poucos restos encontrados nessa zona.