As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sábado, 27 de abril de 2013

Alexandre, segundo Caetano Veloso

A música " Alexandre",  de Caetano Veloso integra o CD Livro, de 1999.
Caetano recupera a vida e o " mito" de Alexandre, falando de seus feitos e conquistas, mas dentro de sua poética, acaba cometendo alguns exageros, como falar num império que se estendeu " do Punjab a Gibraltar ", sendo que na verdade seria apenas até a península Balcânica.
No entanto, se  pensarmos na  influência de Alexandre, difundindo a cultura grega pelo seu Império Helenístico e depois parte deste fora assimilada pelos romanos, veremos que isso colaborou para levar o pensamento e a cultura grega para bem longe.

Recomendo o vídeo com Caetano interpretando sua canção no link abaixo:

http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/alexandre.html


Alexandre - 1999



Ele nasceu no mês do leão, sua mãe uma bacante

E o rei, seu pai, um conquistador tão valente
Que o príncipe adolescente pensou que já nada restaria
Pra, se ele chegasse a rei, conquistar por si só.
Mas muito cedo ele se revelou um menino extraordinário:
O corpo de bronze, os olhos cor de chuva e os cabelos cor de sol.



Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu



Ele escolheu seu cavalo por parecer indomável
E pôs-lhe o nome: Bucéfalo
Ao dominá-lo, para júbilo, espanto e escândalo
De seu próprio pai, que contratou para seu preceptor
Um sábio de Estagira
Cuja cabeça ainda hoje sustenta o Ocidente:
O nome, Aristóteles – nome Aristóteles se repetiria
Desde esses tempos até nossos tempos e além.
Ele ensinou o jovem Alexandre a sentir filosofia
Pra que, mais que forte e valente, chegasse ele a ser sábio também.



Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu



Ainda criança ele surpreendeu importantes visitantes
Vindos como embaixadores do Império da Pérsia
Pois os recebeu, na ausência de Filipe, com gestos elegantes
De que o rei, seu próprio pai, não seria capaz.
Em breve estaria ao lado de Filipe no campo de batalha
E assinalaria seu nome na história entre os grandes generais.



Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu



Com Hefestião, seu amado
Seu bem na paz e na guerra
Correu em honra de Pátroclo – os dois corpos nus –
Junto ao túmulo de Aquiles
O herói enamorado, o amor



Na grande batalha de Queronéia, Alexandre destruía
A Esquadra Sagrada de Tebas, chamada A Invencível.
Aos dezesseis anos, só dezesseis anos, assim já exibia
Toda a amplidão da luz do seu gênio militar.
Olímpia incitava o menino do sol a afirmar-se
Se Filipe deixava a família da mãe
De outro filho dos seus se insinuar.



Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu



Feito rei aos vinte anos
Transformou a Macedônia,
Que era um reino periférico, dito bárbaro,
Em esteio do helenismo e dos gregos, seu futuro, seu sol.



O grande Alexandre, o Grande, Alexandre
Conquistou o Egito e a Pérsia
Fundou cidades, cortou o nó górdio, foi grande;
Se embriagou de poder, alto e fundo, fundando o nosso mundo,
Foi generoso e malvado, magnânimo e cruel;
Casou com uma persa, misturando raças, mudou-nos terra céu e mar,
Morreu muito moço, mas antes impôs-se do Punjab a Gibraltar.



Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu



© Uns Produções Artísticas Ltda
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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mulheres de Atenas: uma reflexão lírica sobre a condição feminina

A música "Mulheres de Atenas" é de 1976, resultado de uma parceria entre Augusto Boal e Chico Buarque de Holanda, foi parte da trilha sonora da peça de teatro "Lisa, a mulher libertadora", uma adaptação da comédia grega Lisístrata, escrita por Aristófanes em 411 a.C.

Nesta peça, as mulheres obrigam seus maridos a buscarem um tratado de paz sobre as guerras que envolviam as cidades-Estado gregas, impondo uma condição: enquanto a paz não fosse alcançada, elas se recusariam a fazer sexo com eles.

Recomendo ver a interpretação do próprio autor neste link:

http://www.youtube.com/watch?v=9V4JcOnd7RM&feature=player_detailpage

Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas*                           *(mechas do cabelo)

  Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas*       *(correntes)

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados

  Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas*      *(espécie de mariposa, metáfora para prostituta)

  Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.

Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não tem sonhos, só tem presságios.
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas*, morenas. *(sereias)

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Leônidas e os 300 de Esparta, segundo Heródoto

Fonte: História - Heródoto (484 A.C. - 425 A.C.)
Traduzido do grego por Pierre Henri Larcher (1726–1812)
Fontes digitais desta edição Digitalização do livro em papel
Volumes XXIII e XXIV - Clássicos Jackson W. M. Jackson Inc.,Rio, 1950
Versão para o português de J. Brito Broca


Monumento erguido em homenagem a Leônidas e seus guerreiros em Termópilas - Grécia


CCIII — Além dessas tropas, haviam os Gregos
convidado a tomar parte na luta todos os guerreiros dos
Lócrios-Opontinos e mil focídios. Solicitando o seu auxílio, os
Gregos asseguraram-lhes, pelos seus emissários, que já se
haviam posto em campo; que estavam aguardando para todo
momento a chegada do resto dos aliados; que o mar seria
guardado pelos Atenienses, Eginetas e outros povos que
compunham a força naval; que não deviam ter motivos para
receio, pois não era um deus que vinha atacá-los, mas um
simples mortal, sujeito, como qualquer mortal, a um revés, e
que, portanto, seus intentos poderiam ser frustrados. Esse
arrazoado dos Gregos encorajou aqueles dois povos a enviar
tropas a Tráquis, para socorrer seus aliados.

CCIV — Cada corpo de tropas era comandado por um
general do respectivo país; mas Leônidas, da Lacedemônia, era
o que gozava de maior prestígio, cabendo-lhe, por conseguinte,
o comando geral de todas as forças. Entre os seus ancestrais
figuravam Anaxandrides, Leão, Euricratides, Anaxandro,
Eurícrates, Polidoro, Alcâmenes, Teleclo, Arquelau, Agesilau,
Dorisso, Leobotes, Equestrato, Ágis, Eurístenes, Aristodemo,
Aristômaco, Cleodeu, Hilo e Hércules.

CCV — Leônidas conquistou a coroa sem esperar.
Sendo Cleómenes e Dorieu, seus irmãos, mais velhos do que
ele, nunca pensou tornar-se rei algum dia; mas, tendo
Cleómenes morrido sem deixar filhos, enquanto que Dorieu já
havia falecido na Sicília, Leônidas, que havia desposado uma597
filha de Cleómenes, subiu ao trono, por ser o primogênito de
Cleômbroto, filho mais jovem de Anaxandrides. Partindo para
as Termópilas, escolheu ele para acompanhá-lo trezentos
espartanos na flor da idade e todos com filhos. Levou também
consigo tropas tebanas, cujo número já tive ocasião de
mencionar. Essas tropas eram comandadas por Leontíades, filho
de Eurímaco. Os tebanos foram os únicos gregos que Leônidas
se empenhou em conduzir à luta, porque eram acusados de
inclinar-se para a causa dos Medos. Ele os convidou para tomar
parte na guerra, a fim de ver se eles enviariam tropas ou se
renunciariam abertamente à aliança com os Gregos. Eles
enviaram tropas, embora estivessem mal-intencionados.

CCVI — Os Espartanos enviaram na frente Leônidas,
com seus trezentos homens, a fim de encorajar com essa
conduta o resto dos aliados e com receio de que eles abraçassem
a causa dos Persas, vendo a lentidão dos primeiros em socorrer
a Grécia. A festa das Cárnias(17) impedia-os, então, de se
porem em marcha com todas as suas forças, mas pretendiam
partir logo após, deixando em Esparta apenas um pequeno
número de soldados para guardar a cidade. Os outros aliados
alimentavam o mesmo propósito, encontrando-se na mesma
situação, pois chegara a época dos Jogos Olímpicos; e como
não esperavam combater tão cedo nas Termópilas, tinham-se
limitado a enviar um pequeno número de tropas de vanguarda.

CCVII — Entretanto, as tropas gregas que já se
encontravam nas Termópilas, tomadas de pânico ante a
aproximação dos Persas, puseram-se a discutir se deviam ou
não abandonar aquela posição. Os Peloponésios eram de
parecer que deviam regressar ao Peloponeso para guardar o
istmo; mas Leônidas, vendo que os focídios e os lócrios se
mostravam indignados com isso, opinou que ali deviam
permanecer, ficando resolvido enviarem-se correios a todas as
cidades aliadas para solicitar auxílio contra as forças persas,
pois os que ali se encontravam eram em número insuficiente598
para resistir a um choque com os invasores.

CCVIII — Enquanto assim deliberavam, Xerxes enviou
um dos seus cavaleiros para fazer um reconhecimento da
situação das tropas gregas e sobre o número das mesmas. Ele
tinha ouvido dizer, quando se encontrava na Tessália, que um
pequeno corpo de tropas se havia concentrado naquela
passagem, e que os lacedemônios, comandados por Leônidas,
da raça de Hércules, formavam o grupo vanguardeiro. O
cavaleiro, aproximando-se do local onde se achavam as forças
gregas, examinou-as cuidadosamente; mas não pôde ver as
tropas que se encontravam atrás da muralha ali erguida.
Percebeu somente as que haviam acampado diante da muralha.
Os lacedemônios guardavam esse posto. Nesse momento, uns
ocupavam-se com exercícios gímnicos, enquanto que outros
penteavam os cabelos, espetáculo que muito o surpreendeu.
Depois de ter calculado o número deles e examinado
atentamente o local, o cavaleiro persa regressou ao seu
acampamento, sem ser perseguido, pois ninguém dera pela sua
presença.

CCIX — De regresso ao seu posto, o cavaleiro fez a
Xerxes um relato minucioso de tudo o que havia visto e
observado. Diante do exposto, o soberano não pôde admitir que
os Gregos se dispusessem a enfrentar, daquela forma, o perigo e
a morte, parecendo-lhe sobremodo ridícula tal maneira de agir.
Mandou chamar Demarato, filho de Aríston, que se achava no
acampamento, e quando este chegou interrogou-o sobre a
conduta dos lacedemônios em tão perigosa situação. “Senhor —
respondeu Demarato —, quando encetámos a marcha contra a
Grécia eu vos falei sobre esse povo, dizendo-vos da atitude que
ele assumiria ante o perigo de um ataque, e nenhuma atenção
destes às minhas palavras. Embora incorra no risco de
desagradar-vos, quero que saibais a verdade e peço-vos que me
escuteis. Aqueles homens que ali se encontram estão dispostos a
vedar-vos a passagem, e para isso se preparam, pois os599
Lacedemônios têm o costume de tratar dos cabelos quando em
vésperas de arriscar a vida numa empreitada. Se conseguirdes
subjugar esses homens e os que se encontram em Esparta,
podeis estar certo, senhor, que nenhuma outra nação ousará
mais erguer-se contra vós, já que os Espartanos, contra os quais
agora marchais, são o povo mais valoroso da Grécia, e o seu
reino e a sua cidade os mais florescentes e belos de todo o país”.
Xerxes, não podendo dar fé a essas palavras, perguntou, ainda
uma vez, de que maneira os gregos, sendo em número tão
reduzido, poderiam fazer frente ao seu poderoso exército.
“Senhor — volveu Demarato —, podeis considerar-me um
impostor se não acontecer tal como vos digo”.

CCX — O soberano, todavia, não se deu por
convencido, e deixou passar quatro dias, esperando que os
gregos se pusessem em fuga. Finalmente, no quinto dia, vendo
que eles se mantinham firmes no seu posto e decididos a
resistir-lhe, sentiu-se tomado de cólera e enviou contra eles um
destacamento de medos e de císsios, com ordem de capturá-los
e trazê-los à sua presença. Os medos lançaram-se
impetuosamente sobre os gregos, mas foram repelidos com
grandes baixas. Novas tropas vieram à carga, e os defensores
gregos, embora fortemente castigados, não recuaram. Então
todos compreenderam claramente, inclusive o próprio Xerxes,
que os Persas possuíam muitos homens mas poucos soldados. O
combate prolongou-se durante todo o dia.

CCXI — Vendo-se rudemente repelidos em todos os
assaltos, os medos retiraram-se, sendo substituídos por tropas
persas, cujos componentes eram, pelo rei, denominados
Imortais e comandados por Hidarnes. Essas tropas atiraram-se
sobre o inimigo, seguras da vitória; mas não lograram maiores
vantagens que os medos. Sendo suas lanças mais curtas que as
dos gregos e desenrolando-se a luta num sítio estreito, não
puderam fazer valer o seu maior número. Os lacedemônios
combateram de maneira admirável, fazendo ver que eram 600
hábeis e os inimigos muito ignorantes na arte militar. Todas as
vezes que lhes voltavam as costas, eles, julgando que se tratava
de um fuga, punham-se a persegui-los. Então os gregos, fazendo
meia-volta, enfrentavam-nos de novo e desbaratavam-nos. Por
fim, os persas, vendo que, não obstante seus reiterados ataques,
não conseguiam assenhorear-se da passagem, resolveram
retirar-se.

CCXII — Conta-se que o soberano persa, que observava
o combate, receando pela sorte do seu exército, ergueu-se do
trono por três vezes. Tal o resultado desse primeiro choque. Os
bárbaros não conseguiram melhores resultados na segunda
sortida que tentaram. Gabavam-se, porém, de os gregos não
poderem mais erguer as mãos, em vista dos ferimentos
recebidos na refrega. Os gregos, todavia, colocando-se em
ordem de batalha por nações e por batalhões, continuaram
combatendo cada qual por sua vez, com exceção dos focídios,
que se mantinham no alto da montanha guardando o atalho. Os
persas, vendo que não obtinham melhor êxito que no dia
anterior, retiraram-se para as suas posições.

CCXIII — Mostrava-se Xerxes muito preocupado com
essa situação, quando Efialtes, málio de nascimento e filho de
Euridemo, veio procurá-lo na esperança de obter uma boa
recompensa. Esse traidor indicou ao soberano o atalho que
conduz, pela montanha, às Termópilas, tornando-se, assim, o
causador da perda dos gregos que guardavam essa passagem.
Praticada essa vil ação, refugiou-se na Tessália, para se pôr a
coberto da vingança dos Lacedemônios; mas, embora fugisse,
sua cabeça foi posta a prêmio pelos pilágoras, numa assembléia
dos anfictiões em Pilas, e certo dia, vindo ele a Antícira, foi
morto por um traquínio chamado Atenades. Este matou-o,
porém, por um outro motivo, de que falarei depois; mas não
deixou, por isso, de receber dos Lacedemônios a recompensa
prometida.

CCXIV — Dizem também ter sido Onetes de Carista,
filho de Fanágoras, e Coridalo de Antícira que revelaram a
Xerxes a existência da outra passagem e conduziram os persas
em redor da montanha. Não dou fé a essa versão, apoiando-me,
por um lado, no fato de os pilágoras gregos não terem posto a
prêmio a cabeça de Onetes, nem a de Coridalo, mas a de
Efialtes, o que por certo só fizeram depois de estarem
seguramente informados sobre o verdadeiro culpado; e por
outro lado, na circunstância de Efialtes ter fugido logo depois.
Na verdade, é bem possível que Onetes conhecesse o atalho;
mas quem conduziu os persas através da montanha foi,
evidentemente, Efialtes, e é a ele que eu acuso de tal crime.

CCXV — A revelação feita por Efialtes e o plano por
ele apresentado animaram muito a Xerxes, enchendo-o de
satisfação. Sem perda de tempo, enviou ele Hidarnes com suas
tropas para o ponto indicado, confiante no resultado da missão.
O general partiu do acampamento na hora em que se acendem
os fachos. Os Málios, habitantes da região, haviam descoberto o
atalho e por ali tinham conduzido os Tessálios contra os
Focídios, quando estes, tendo fechado com uma muralha a
passagem das Termópilas, se haviam posto a coberto das
incursões daqueles. Por muito tempo esse atalho não tivera
nenhuma utilidade para os Málios.

CCXVI — O atalho começa no Asopo, que corre pela
abertura da montanha que tem o nome de Ánopéia, e termina na
cidade de Alpena, a primeira do país dos Lócrios, do lado dos
Málios, perto da rocha denominada Melampiges e da localidade
dos Cercopes. É nesse ponto que a passagem se apresenta mais
estreita.
CCXVII — As tropas persas, tendo atravessado o
Asopo, perto do desfiladeiro, caminharam durante toda a noite,
tendo à direita os montes dos Eteus, e à esquerda os dos
Traquínios. Já se encontravam no alto da montanha, quando o602
dia começou a clarear. Como já disse, achavam-se concentrados
nesse ponto mil focídios muito bem armados, para defender seu
país da invasão dos bárbaros e para guardar o atalho. A
passagem inferior era defendida pelas tropas de que já falei, e os
Focídios se haviam oferecido a Leônidas para guardar o atalho.
CCXVIII — Os persas galgaram a montanha sem serem
percebidos, protegidos pelos carvalhos que ali cresciam em
abundância. O tempo estava calmo, e os focídios finalmente os
descobriram pelo ruído que faziam ao pisar as folhas das
árvores espalhadas pelo chão. Erguendo-se incontinênti
muniram-se de suas armas, e nesse instante surgiram os
bárbaros. Estes, que não esperavam encontrar inimigos, ficaram
surpresos à vista de um corpo de tropas bem armadas. Hidarnes,
receando tratar-se de lacedemônios, perguntou a Efialtes de que
país eram aquelas tropas. Recebendo a resposta, dispôs os
persas em ordem de batalha. Os focídios, estonteados por uma
nuvem de flechas, fugiram para o alto da montanha, e julgando
que aquelas tropas tinham vindo expressamente para atacá-los,
prepararam-se para recebê-las como homens que não receiam a
morte. Todavia, Hidarnes, e os persas, guiados por Efialtes,
desceram apressadamente a montanha, deixando-os em paz.

CCXIX — O adivinho Megístias, tendo consultado as
entranhas das vítimas, comunicou aos gregos que guardavam o
desfiladeiro das Termópilas, que eles deviam perecer no dia
seguinte, ao romper da aurora. Logo depois, trânsfugas os
advertiram sobre os movimentos dos persas em torno da
montanha. Era ainda noite quando receberam essa notícia.
Quando o dia clareou, os focídios deixaram o alto da montanha.
Num conselho reunido para estudar a situação as opiniões
divergiram, sendo uns de parecer que se devia permanecer no
posto, enquanto que outros optavam por uma retirada.
Separaram-se depois dessa deliberação; uns partiram e
dispersaram-se pelas suas respectivas cidades, outros
permaneceram com Leônidas.

CCXX — Dizem que foi o próprio Leônidas quem
decidiu mandá-los embora, a fim de não expô-los a uma morte
certa, considerando, entretanto, que, por uma questão de honra,
nem ele nem os espartanos que ali se achavam podiam
retirar-se, encarregados, como tinham sido, de guardar a
passagem. Sinto-me mais inclinado a crer que Leônidas,
notando o desencorajamento dos aliados e vendo-os pouco
dispostos a correrem o mesmo perigo que os espartanos,
ordenou-lhes que se retirassem. Quanto a ele próprio, achou,
sem dúvida, que seria vergonhoso fazer o mesmo, e que,
permanecendo no seu posto, adquiriria para si uma glória
imortal, e para Esparta uma felicidade perene; pois a pitonisa,
respondendo a uma consulta dos espartanos no começo da
guerra, tinha declarado que seria preciso que a Lacedemônia
fosse destruída pelos bárbaros ou que o seu rei perecesse. A
resposta estava assim concebida em versos hexâmetros.
“Cidadãos da vasta Esparta, ou vossa célebre cidade será
destruída pelos descendentes de Perseu, ou toda a Lacedemônia
chorará a morte de um rei descendente de Hércules. Nem a
força dos touros nem a dos leões poderá sustentar o choque
impetuoso do Persa, que tem o poderio de Júpiter. Não.
Ninguém será capaz de resistir-lhe”. Prefiro supor que as
reflexões de Leônidas sobre esse oráculo e a glória dessa
façanha que ele queria reservar somente para os espartanos
levaram-no a dispensar os aliados, a acreditar terem sido estes
de parecer contrário ao seu e que se tenham retirado por
covardia.

CCXXI — Esta crença encontra forte base no fato de ter
Leônidas não somente feito partir os aliados, como também
enviado na companhia deles o adivinho Megístias de Acarnânia,
a fim de que o mesmo não perecesse com ele. Esse adivinho
descendia, ao que se diz, de Melampo, e fora ele quem,
analisando as entranhas das vítimas, predissera o que veio a
acontecer. Megístias, porém, não o abandonou, contentando-se
em enviar de volta o filho único, que o havia acompanhado na604
expedição.
CCXXII — Os aliados se retiraram por obediência a
Leônidas. Os tebanos e os téspios permaneceram com os
lacedemônios; os primeiros contra a vontade, porquanto
Leônidas os retivera para servirem de reféns. Os téspios
permaneceram voluntariamente, declarando-se dispostos a não
abandonar jamais Leônidas e os espartanos, e pereceram com
eles. Eram comandados por Demófilo, filho de Diadromas.
CCXXIII — Xerxes fez libações ao nascer do sol, e,
depois de haver esperado algum tempo, pôs-se em marcha na
hora em que o mercado costuma estar cheio de gente, como lhe
havia recomendado Efialtes. Descendo a montanha, os bárbaros
e o soberano aproximaram-se do ponto visado. Leônidas e os
gregos, marchando como para uma morte certa, avançaram
muito mais do que haviam feito antes, até o ponto mais largo do
desfiladeiro, já sem a proteção da muralha. Nos encontros
anteriores não haviam deixado os pontos mais estreitos,
combatendo sempre ali; mas neste dia, a luta travou-se num
trecho mais amplo, ali perecendo grande número de bárbaros.
Os oficiais destes últimos, colocando-se atrás das fileiras com o
chicote na mão, impeliam-nos para a frente à força de
chicotadas. Muitos caíram no mar, onde encontraram a morte,
enquanto que inúmeros outros pereceram sob os pés de seus
próprios companheiros. Os gregos lançavam-se contra o
inimigo com inteiro desprezo pela vida, mas vendendo-a a alto
preço. A maioria deles já tinha as suas lanças partidas,
servindo-se apenas das espadas contra os persas.

CCXXIV — Leônidas foi morto nesse encontro, depois
de haver praticado os mais prodigiosos feitos. Com ele
pereceram outros espartanos de grande valor, cujos nomes não
desconheço. Os persas perderam também muitos homens de
primeira categoria, entre os quais Abrocomes e Hiperantes,
ambos filhos de Dario, que os tivera de Fratagunes, filha de605
Artanes, que era irmão de Dario, filho de Histaspes e neto de
Arsames. Como Artanes não possuía outros filhos, todos os seus
bens passaram com Fratagunes para Dario.
CCXXV — Esses dois irmãos de Xerxes pereceram ali
de armas na mão. Foi violento o combate travado sobre o corpo
inanimado de Leônidas(18). Os persas e os lacedemônios
repeliam uns aos outros alternadamente, mas, finalmente, os
gregos, depois de haverem posto quatro vezes em fuga o
inimigo, conseguiram retirar do campo o corpo do valoroso
comandante. A vantagem alcançada pelos gregos durou até a
chegada das tropas conduzidas por Efialtes, quando a situação
mudou favoravelmente aos persas. Os gregos recuaram para o
ponto mais estreito do desfiladeiro. Em seguida, transpondo a
muralha, mantiveram-se todos, exceto os tebanos, sobre a colina
que se ergue à entrada do desfiladeiro e onde hoje se vê um leão
de pedra erigido em homenagem a Leônidas. Os que ainda
possuíam espadas, com elas se defendiam; os outros lutavam
com as mãos limpas e com os dentes. Mas os bárbaros,
atacando-os sem trégua, uns de frente, depois de haverem posto
abaixo a muralha, e os outros por todos os lados, depois de os
terem envolvido, aniquilaram-nos a todos.

CCXXVI — Se bem que todos os lacedemônios e
téspios se tivessem conduzido com grande bravura, dizem que
Dieneces, de Esparta, a todos suplantou pelo seu valor e
desprendimento na luta, citando-se dele uma frase memorável.
Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que o sol
seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o
número deles, respondeu-lhe sem perturbar-se: “Nosso hóspede
da Traquínia nos anuncia toda sorte de vantagens. Se os medos
cobrirem o sol, combateremos à sombra, sem ficarmos expostos
ao seu ardor”. De Dieneces contam-se outras coisas
semelhantes, que são como outros tantos monumentos por ele
legados à posteridade.

CCXXVII — Alfeu e Maron, filhos de Orsifante, ambos
lacedemônios, foram os que mais se distinguiram depois de
Dieneces; e entre os téspios, Ditirambo, filho de Harmatides, foi
o que mais se cobriu de glórias.
CCXXVIII — Foram todos enterrados num mesmo
lugar, onde haviam tombado para sempre, e sobre o seu túmulo,
bem como sobre o monumento dos que pereceram antes de
haver Leônidas mandado embora os aliados, vê-se esta
inscrição: “Quatro mil peloponésios combateram aqui contra
três milhões de homens”. Esta inscrição refere-se a todos, mas a
seguinte refere-se particularmente aos espartanos: “Caminhante,
vai dizer aos Lacedemônios que aqui repousamos por havermos
obedecido às suas leis”. Há ainda esta dedicada ao adivinho
Megístias: “É aqui o túmulo do ilustre Megístias, morto pelos
medos, depois de terem eles atravessado o Espérquio. Não
concordou em abandonar os chefes de Esparta, embora soubesse
que os Parcas cairiam sobre ele”.




domingo, 21 de abril de 2013

Margaret Thatcher: A Dama de Ferro


A morte de Margaret Thatcher, ocorrida em 8 de abril de 2013, gerou significativa comoção dentro do Reino Unido por uma gama variada de fatores: de um lado, o atual governo conservador encabeçado pelo primeiro-ministro David Cameron, desde 2010, tem adotado “medidas de austeridade” para tentar manter o crescimento da economia britânica face à crise financeira que se abate sobre a economia global e tem tido um peso considerável na chamada “zona do Euro”. De outro, a questão da gestão de Thatcher significar para o atual governo do partido Conservador como um ponto de referência, pois ao suceder um longo período de governo encabeçado pelos trabalhistas Tony Blair (1997-2007) e Gordon Brown (2007-2010), David Cameron precisaria construir sua “identidade” e nada melhor que uma figura de peso, como a “Dama de Ferro”.
 
 

Fonte: commons.wikimedia.org

Não há como negar que Thatcher tem um lugar de destaque na história britânica: foi a 1a mulher a assumir a liderança do Partido Conservador, tornando-se um ponto de força para a organização da oposição ao governo de James Callaghan, primeiro-ministro trabalhista entre 1976 e 1979. Na condição de líder dos “Tory” (como são chamados os Conservadores) concorreu as eleições e se colocou com significativa votação como a 1a mulher a ser chefe de governo no Reino Unido em 1979, situação ímpar até o presente momento.

Tanto no cenário externo quanto interno, 1979 não foi um momento tranquilo: vivia-se o chamado “2° Choque do Petróleo” em decorrência da deposição do governo pró-Ocidente do Xá Reza Pahlevi pelo líder xiita Aiatolá Ruhollah Khomeini, responsável pela Revolução Islâmica e a criação da atual República Islâmica do Irã.

O preço do barril de petróleo atingiu valores elevadíssimos, da mesma maneira que o “1° Choque do Petróleo” em 1973 em virtude da pressão da OPEP, respondendo ao apoio ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur e, desse modo, impactou a economia mundial profundamente: inflação, recessão, endividamento eram palavras comuns nos discursos de vários governos do Ocidente e países do então chamado “Terceiro Mundo”.

Margaret Thatcher entrava no governo para “colocar a casa em ordem” e na sua mira entrou toda a estrutura que tinha sido construída no pós-II GM: o Estado de Bem-Estar Social e seu amparo à sociedade, representando significativo comprometimento dos recursos arrecadados pelo Estado e nesse caso, sob a luz do liberalismo, algo que tinha um peso e tamanho insuportável e foi justamente neste contexto que se deu início à desmontagem deste “oneroso” modelo de Estado.

Ao desencadear uma política econômica centrada no corte de investimentos nos setores sociais e privatizações, Thatcher favoreceu que a iniciativa privada fosse ganhando cada vez mais espaço, especialmente quando a ideia era que o Estado se distanciasse das ações do mercado e assim, aos poucos, surgia aquilo que compreenderíamos como neoliberalismo, que teve Thatcher por “mãe” e Ronald Reagan (1981-89), o presidente dos EUA eleito pelo Partido Republicano como “pai”.
 
Fonte: dailymail.co.uk

A conjunção de interesses entre a Grã-Bretanha e os EUA favoreceram o fortalecimento dos interesses ocidentais frente à decadente URSS, que ainda tentava sustentar a competição intensa dentro da Guerra Fria, mas já apresentava evidentes sinais de enfraquecimento, especialmente com a morte de Brejnev, dirigente entre 1964 e 1982 e a sucessão rápida deste por Andropov e por Tchernenko, que em 1985 foi substituído pelo reformista Mikhail Gorbachev em 1985, abrindo caminho para uma melhor relação com o Ocidente, tendo Gorbachev visitado a Grã-Bretanha e Thatcher a URSS, apesar da distância imensa a ser superada.

Outro episódio famoso foi a invasão argentina às Ilhas Falkland, que o governo argentino reivindicava desde o século XIX, mas os ingleses vinham ocupando desde 1833 e assim, explodiu a Guerra das Malvinas em 1982, sendo que Thatcher não titubeou em enviar uma parte significativa da Armada Britânica, impondo uma imensa derrota à Argentina, que naquele contexto, via na guerra uma tentativa de exaltação do “nacionalismo” dentro o governo ditatorial de Leopoldo Gualtieri: uma excelente propaganda para um regime falido, fadado ao fim, que chegara pouco depois em 1984 com a eleição de Raúl Alfonsín para a presidência, restaurando a democracia argentina.

As sequelas da guerra ainda hoje incomodam os argentinos, sendo que sua atual presidente, Cristina Kirchner, reivindica a devolução das “Malvinas” ao povo argentino, enquanto no lado inglês, o governo britânico não tem interesse em discutir esta questão e como definição deste assunto, um plebiscito realizado no mês de março deste ano, deu mais de 90% de apoio à presença britânica.

Ao longo de seu governo, Thatcher enfrentou greves, passeatas, paralisações entre os trabalhadores de diferentes setores da economia inglesa; a juventude sentia o desamparo com poucas chances para jovens suburbanos que não conseguiam estudo ou emprego e nesse ambiente de tensão surgiu o movimento punk e skinhead, contestando o sistema e suas imposições, que foram ecoando em outras partes do mundo ocidental.

Além disso, o IRA (Exército Republicano Irlandês) tentou assassinar Thatcher em 1984, mas ela saiu ilesa de um fracassado atentado à bomba e isso se somou a sua postura intransigente para defender suas ideias: nasceu a expressão “Dama de Ferro”.

Thatcher viu a queda do bloco comunista e o início do fim da URSS antes de deixar o poder com uma baixa popularidade, quando fora sucedida pelo conservador John Major entre 1990 e 1997. Saiu da vida política tendo seus serviços reconhecidos pela rainha Elizabeth II através de um título de baronesa, dando-lhe assento na Câmara dos Lordes até 2003 e depois deixou a vida pública, mas tendo ficado para trás um modelo de organização política e econômica que foi exportado para diferentes países, fazendo do neoliberalismo uma tendência até o presente momento.

Desde sua morte, alguns de seus críticos e viscerais inimigos tem cantado uma das músicas que no filme “O Mágico de Oz” era interpretada pela atriz Judy Garland, ao comemorar a morte da bruxa que a perseguia “Ding, dong! The witch is dead”  : A bruxa está morta!

Desrespeito? Talvez um bom exemplo de exercício de liberdade de expressão num país que Thatcher deixou profundas marcas, dividindo opiniões, mesmo em sua morte.
 
Sugestão de filmes:
 
This is England! 2006, Direção de Shane Meadows.
A Dama de ferro, 2012, Direção de Phyllida Lloyd.
 
Música:
 Ding Dong! The Witch is Dead!
 
Trilha sonora do “O mágico de Oz” 1939, direção de Victor Fleming, 101 min –interpretada por Judy Garland no papel de Dorothy
Once there was a wicked witch
In the lovely land of oz
And a wickeder, wickeder,
Wickeder witch that never, ever was
She filled the folks in munchkin land
With terror and with dread
Till one fine day from Kansas
A house fell on her head
And the coroner pronounced her: dead
And through the town the joyous news went running
The joyous news that the wicked old witch
Was finally done in
Ding-dong! the witch is dead!
Which old witch?
The wicked witch
 
Oh!
Ding-dong! the wicked witch is dead!
Wake up you sleepy head
Rub your eyes
Get out of that bed
Wake up! the wicked old witch is dead!
She's gone where the goblins go
Below, below, below - yo-ho!
Let's open up and sing
And ring those bells out...

Sing the news out!
Ding-dong! the merry-o
Sing it high and sing it low
Let them know the wicked old witch is dead
Why everyone's glad
She took such a crownin'

Bein' hit by a house
Is even worse than drownin'
Let them know the wicked old witch is dead!!!
 
Ding Dong! A Bruxa Está Morta!
Era uma vez uma bruxa malvada
Que vivia na encantadora Terra de Oz
E bruxa mais má, mais má,
mais má que aquela jamais se viu
Ela enchia os povos das Terras do Leste
de medo e de pavor
Até que um belo dia vinda do Kansas
Uma casa na cabeça acertou
E o legista a deu por: morta!
E a boa nova correu pela cidade
A boa nova de que a velha bruxa má
Finalmente foi derrotada
Ding dong! A bruxa está morta!
Que bruxa velha?
A bruxa malvada
Ah!
Ding dong! A bruxa está morta!
Acorde seu dorminhoco
 
Esfregue os olhos
Saia dessa cama
Levante! A velha bruxa má está morta!
Ela foi para onde os gnomos vão
Lá para baixo, lá para baixo, láa para baixo - viva!
Vamos cantar
E tocar os sinos...
Celebrar a novidade!
Ding dong! A alegria de
Cantar bem alto ou bem baixinho
Contem a todos que a velha bruxa má está morta
Estão todos contentes
Que bela coroa ela gonhou
Ser atingida por uma casa
É pior que se afogar
Contem a todos que a velha bruxa má está morta!