As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Jesus, um homem casado?

Fonte: portal UOL 18/09/2012 by Reuters


Um fragmento de um antigo papiro escrito no antigo idioma copta, e até agora desconhecido, contém frases que sugerem que Jesus foi casado, numa descoberta que deve alimentar o acalorado debate sobre esse tema no mundo cristão. Nesse pedaço, leem-se as palavras: "Jesus disse a eles: minha mulher...".
Karen King, pesquisadora de Harvard, segura fragmento de papiro que sugere casamento de Jesus
Karen King, pesquisadora de Harvard, segura fragmento de papiro que sugere casamento de Jesus

A existência do fragmento da metade do século 2, não muito maior do que um cartão de visitas, foi revelada na terça-feira (18) em conferência em Roma por Karen King, professora da Escola de Teologia de Harvard, de Cambridge (Massachusetts). 
"A tradição cristã, por muito tempo, manteve que Jesus não foi casado, embora nenhuma evidência histórica confiável exista para amparar essa afirmação", disse Karen em nota divulgada por Harvard. "Esse novo Evangelho não prova que Jesus foi casado, mas nos diz que toda a questão só apareceu como parte dos inflamados debates sobre sexualidade e casamento."
Apesar da posição oficial da Igreja Católica de que Jesus nunca se casou, o tema reaparece regularmente - especialmente em 2003, quando a publicação do best-seller O Código da Vinci irritou muitos cristãos por se basear na ideia de que Jesus se casou e teve filhos com Maria Madalena.
A pesquisadora disse em Roma que o fragmento, apresentado no Décimo Congresso Internacional de Estudos Coptas, representa o primeiro indício de que os primeiros cristãos acreditavam que Jesus havia sido casado.
Roger Bagnall, diretor do Instituto para o Estudo do Mundo Antigo, em Nova York, disse acreditar que o fragmento, chamado por Karen de "O Evangelho da Esposa de Jesus", seja autêntico. Mas especialistas ainda irão analisar melhor o fragmento e submetê-lo a testes, com especial atenção para a composição química da tinta.
O fragmento, esfarrapado e amarelado, pertence a um colecionador privado anônimo, que contatou Karen para que o ajudasse a analisar e traduzir o material, que teria sido descoberto no Egito ou talvez na Síria.
King disse que, só por volta do ano 200, a afirmação de que Jesus era solteiro começou a aparecer, por meio de um teólogo conhecido como Clemente de Alexandria.
"Esse fragmento sugere que outros cristãos desse período estavam dizendo que ele foi casado", afirmou ela, ressaltando que o papiro não comprova a existência de uma esposa de Jesus. "A tradição cristã preservou apenas aquelas vozes que diziam que Jesus nunca se casou. O ‘Evangelho da Esposa de Jesus' agora mostra que alguns cristãos pensavam o contrário."
A análise deve ser publicada em janeiro de 2013 pela Harvard Theological Review, mas ela já divulgou um esboço do trabalho (em inglês) e imagens do fragmento no site da universidade.

sábado, 8 de setembro de 2012

A ditadura militar vista de fora

Caros leitores,

Abaixo segue a apresentação de um livro que foi escrito por uma amiga francesa, Doutora em história pela Sorbonne e sua tese analisa as relações entre o Exército e a Política durante o regime militar (1964-85).

Fonte: www.zahar.com.br


A política nos quartéis
Revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira
SINOPSE

Capitães amotinados e coronéis conspiradores; generais que caíram em desgraça e políticos golpistas dissidentes. A historiadora francesa Maud Chirio revela um ponto de vista original sobre o regime militar brasileiro ao retratar a intensa vida política dentro das Forças Armadas durante o período. Seu foco são os oficiais de patentes médias ou inferiores, que foram a favor do golpe de 1964, mas terminaram sendo politicamente derrotados.

Para escrever o livro, Chirio utilizou uma extensa bibliografia, além de realizar entrevistas inéditas com antigos participantes do regime militar, o que lhe possibilitou a leitura de documentos muitas vezes secretos ou pouco acessíveis.

O panorama que traçou revela uma fina compreensão sociológica da instituição militar. Um contexto que propiciou manifestos, pressões, panfletagem, protestos, revoltas e até atentados promovidos por oficiais. Influiu, ainda, diretamente sobre as escolhas políticas, econômicas e policiais do poder ao longo dos 21 anos da ditadura deflagrada com o golpe de 1964. A política nos quartéis é um marco na renovação dos estudos sobre o tema.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

30ª Bienal de São Paulo busca 'beleza e inteligência em tempo de incerteza'


Fonte: Portal G1 03/09/2012 13h13 - Atualizado em 03/09/2012 13h47

Evento é aberto ao público geral na sexta (7) até o dia 9 de dezembro. 
Abertura à imprensa foi nesta segunda (3), custo total é R$ 22,4 milhões.

Obras de Arthur Bispo do Rosário em exposição na 30ª Bienal. (Foto: Guilherme Tosetto/G1)Obras de Arthur Bispo do Rosário em exposição
na 30ª Bienal. (Foto: Guilherme Tosetto/G1)
A 30ª Bienal de São Paulo, que neste ano tem a temática "A iminência das poéticas", foi aberta para a imprensa nesta segunda (3), com entrevista coletiva dos responsáveis pelo evento. A abertura para convidados acontece na terça (4), e para o público na sexta (7), até o dia 9 de dezembro.
Pela primeira vez a Bienal de São Paulo tem um curador de fora do espectro das artes brasileiras, o venezuelano Luis Péres-Orama. Ele anunciou que falaria em "portunhol" durante a entrevista coletiva. O objetivo desta edição é "buscar no tempo iminente de nosso mundo, quano se desmoronam todas as certezas, uma via de sobrevivência para a inteligência e a beleza", segundo o curador. "Queremos uma Bienal clara, não transparente; inteligente, não bombástica. Evitar a postura messiância e o maneirismo da confrontação pela confrontação", acrescentou Péres-Orama.
Bienal na cidade
Além da exposição principal no Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, a 30ª Bienal também estará espalhada pela cidade de São Paulo. Haverá trabalhos em vias públicas como a Avenida Paulista e a Estação da Luz. As obras também estarão presentes no Museu da Cidade, Masp, Museu da Faap e Instituto Tomie Ohtake.
O evento deste ano conta com mais de 3 mil obras, criadas por 111 artistas. Os trabalhos são apresentados em forma de "constelações", mostrando artistas como estrelas e indicando as proximidades entre eles. "As obras não produzem sentido sozinhas, mas em relação com o mundo e outras obras. A obra de arte única é um mito. Elas funcionam sistemicamente", acredita. Este caráter relacional é uma das marcas atuais da arte latinoamericana, segundo Péres-Orama.

sábado, 1 de setembro de 2012

A vitória dos excluídos: a 1ª doutora quilombola do Brasil !

Fonte: Portal G1 - 01/09/2012 09h00 - Atualizado em 01/09/2012 09h00

Edimara Gonçalves Soares viveu em um quilombo no RS até os 15 anos.
Em tese, ela afirma que educação em comunidades quilombolas é ineficiente.



Edimara Gonçalves Soares diz que acesso à educação para crianças quilomobolas é repleto de obstáculos, alguns intransponíveis (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
Edimara Gonçalves Soares diz que acesso à educação para crianças quilomobolas é repleto de obstáculos, alguns intransponíveis (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)


A primeira doutora quilombola do Brasil acaba de tirar o título, na área de Educação, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Edimara Gonçalves Soares, professora da rede estadual de ensino, defendeu a tese “Educação escolar quilombola: quando a política pública diferenciada é indiferente” na terça-feira (28). Formada em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Edimara Soares nasceu e viveu até os 15 anos em uma comunidade quilombola, criada pelos bisavós dela, em Formigueiro, a 68 quilômetros de Santa Maria. A comunidade não tem nome e é formada por, aproximadamente, 60 famílias que vivem do que plantam e criam.
Sempre crítica à escolarização dos remanescentes de quilombos, que são comunidades mais afastadas criadas por escravos que fugiram dos senhores de engenho, na época do Brasil Colonial, os sentimentos da nova doutora se confundem. “Eu tenho orgulho, sim. Mas é um orgulho que me faz refletir sobre o quanto a desigualdade, o preconceito, o racismo institucional são fenômenos perversos e que não são reconhecidos, dado o mito da democracia racial. Nós vivemos em um país da diversidade racial, que nós somos todos iguais... Só que nessas diversidades, as desigualdades não são reconhecidas, são dissolvidas”, refletiu Edimara Soares.
A desigualdade, o preconceito, o racismo institucional são fenômenos perversos e que não são reconhecidos, dado o mito da democracia racial"
Edimara Gonçalves Soares
Para a professora, o título tem valor simbólico e concreto para o grupo que ela pertence. “O fato de escrever uma tese sobre a educação escolar quilombola, a partir de alguém que é quilombola, que é sujeito desta história, tem um significado singular de representação. Não é um estrangeiro dizendo como que é um quilombola, o que ele tem que fazer, como ele deveria ser. Não é o sujeito de fora narrando os nativos. É alguém de dentro do grupo que conta a sua própria trajetória e ao contar essa história, conta também a trajetória de muitos estudantes de muitas pessoas quilombolas”, explicou entusiasmada.
Edimara acredita que a dificuldade que ela teve que enfrentar para ter acesso à escola é a mesma vivida pelas atuais crianças que vivem em quilombos. Ela lembrou que precisava acordar às 4h30, caminhava em torno de uma hora até o ponto onde pegava o ônibus.

Ela contou ainda que, em casa, precisava colher bambu e fazer uma fogueira para iluminar livros e cadernos. “A gente não tinha luz elétrica, eu estudava com fogo de chão. Não podia ficar gastando vela ou querosene dos lampiões, porque a gente não tinha também dinheiro para comprar. Toda a trajetória de estudo é marcada por muita luta, muito sacrifício, por muita garra e determinação”. Ela confessou que nas Exatas não ia muito bem e por isso precisava estudar mais. Por outro lado, nas Humanas “era tranquilo”. Foi com a ajuda de uma família de Santa Maria que conseguiu completar o Ensino Médio e ingressar na universidade.

Edimara recordou que foi uma visita do colégio onde estudava à feira de cursos da UFSM que a fez decidir que queria entrar na universidade.  "No segundo ano do Ensino Médio eu tinha um norte. Queria entrar ali".
Casa onde Edimara Soares nasceu e viveu até os 15 anos, no quilombo "sem nome" em Formigueiro (RS)  (Foto: Arquivo pessoal)Casa onde Edimara Soares nasceu e viveu até os 15 anos,
no quilombo "sem nome" em Formigueiro (RS)
(Foto: Arquivo pessoal)
Depois de desenvolver uma tese de doutorado, Edimara lamenta ao perceber que os obstáculos são praticamente os mesmos. “A minha história, quanto estudante negra quilombola, é semelhante e, em certas situações, idêntica à história de muitas crianças quilombolas que estão em fase escolar”, afirmou.

Segundo Edimara, as dificuldades são quase intransponíveis. “Às vezes não tem um número significativo [de alunos] para manter a escola, daí esta escola é fechada e essas crianças são enviadas para outro estabelecimento de ensino, distante da comunidade”, exemplificou. Para a professora, isso mostra que as nossas crianças quilombolas, até hoje, não tiveram ainda acesso a educação da forma que lhes é de direito. Ela pontuou ainda que normalmente essas crianças têm um período para estudar, porque chega um momento que deixam de ir ao colégio para trabalhar, para sobreviver.
Este e outros acontecimentos da rotina escolar das comunidades quilombolas do estado foram abordados e analisados na tese de Edimara, sob orientação da professora doutora Tânia Maria Baibich.
Ainda que o Paraná tenha sido pioneiro na aplicação de medidas específicas para este público, com o Departamento de Diversidade e o Núcleo de Educação das Relações Etnicorraciais e Afrodescendência (NEREA), ambos da Secretaria Estadual de Educação, a ação foi "inócua a despeito de todo o investimento e esforço que foi feito".

Isso significa, como explicou a professora, que não se atingiu plenamente os objetivos inerentes à lei federal de 2003 que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. Havia também o intuito de que os professores articulassem os conhecimentos tradicionais das comunidades quilombolas com o currículo escolar. “Esse é o princípio fundante da educação escolar quilombola”, destacou.
No estado, existem 42 escolas que atendem comunidades quilombolas, divididas em 11 municípios. Contudo, para que a lei fosse de fato cumprida, de acordo com Edimara, tópicos essenciais não foram considerados.

“Faltou uma articulação, efetiva, com as universidades, com as instituições formadoras. Faltou uma parceria com as comunidades quilombolas e também houve uma ausência de ações pedagógicas, de maneira sistemática e permanente, com os professores, no interior destas escolas. As ações foram pontuais, não foram ações sistemáticas”, explicou.  Para ela também faltaram investimentos em infraestrutura e em aspectos administrativos, inclusive, recursos financeiros. “É a fartura da falta. Faltam muitas coisas na dimensão de infraestrutura”, complementou.
Ninguém ensina, o que não sabe. (...) somos produtos de uma educação eurocêntrica, de um currículo monocultural,"
Edimara Gonçalves Soares
Edimara reforçou que a universidade não prepara os acadêmicos, futuros professores, para trabalhar questões etnicorraciais e de diversidade. A doutora é clara ao dizer que os docentes não podem ser culpados pela falha na aplicação da proposta da Secretaria de Educação.

“Ninguém ensina, o que não sabe. Eles, nós não tivemos acesso a esses conhecimentos na formação inicial, enquanto professores, porque somos produtos de uma educação eurocêntrica, de um currículo monocultural, e não foram dadas as condições necessárias”.

Para que se vislumbre um cenário mais adequado na educação quilombola, Edimara sugere a resolução das problemáticas identificadas e a necessidade de se reconhecer que existe o racismo. “Eu preciso reconhecer a existência deste fenômeno, criar mecanismo para combatê-lo, porque ele está presente de forma muito contundente nas escolas dentro das comunidades quilombolas e nas escolas fora”, assegurou. Ela cita ainda aumento de verbas para aquisição de material e para formação dos docentes.

“Não é algo que vai ser de hoje para amanhã, demanda todo um esforço, uma vontade política e de investimento financeiro”, destacou.
As ações afirmativas 
Edimara se diz favorável à lei sancionada na quarta-feira (29) pela presidente Dilma Rousseff que determina o sistema de cotas sociais nas universidades federais. De acordo com a lei, metade das vagas oferecidas é de ampla concorrência, já a outra metade será reservada por critério de cor, rede de ensino e renda familiar. As universidades terão quatro anos para se adaptarem. Atualmente, não existe cota social em 27 das 59 universidades federais. Além disso, apenas 25 delas possuem reserva de vagas ou sistema de bonificação para estudantes negros, pardos e indígenas.
“O fato de eu ser a primeira quilombola do país mostra o quanto nosso país precisa investir no combate às desigualdades sociais. Ainda existe um abismo, principalmente, nas questões relacionadas a educação, ainda que os governos estadual e federal venham investindo em políticas afirmativas e inclusivas”, afirmou.
Edimara acrescentou que esta desigualdade é histórica e acumulada, desde 1888 quando foi abolida a escravidão no Brasil. "A liberdade veio, porém, sem medidas para integrar a população negra, sem que possibilitasse acesso social e educacional", disse Edimara. Na avaliação dela, as cotas vêm para promover a igualdade de oportunidade.
“O objetivo maior da política afirmativa é combater e, possivelmente, eliminar o lastro de desigualdades sociais. Se tu fores fazer uma radiografia das pessoas que hoje estão nos cursos de mais prestigio na universidade, como Medicina, Arquitetura, Engenharia, Direito, dificilmente tu vais encontrar, na mesma proporção, negros e brancos”, argumentou.