As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sábado, 15 de novembro de 2014

Há 125 anos, um golpe de Estado proclamava a República no Brasil

O movimento republicano teve seu êxito em 15 de novembro de 1889 e mais uma vez a mudança da ordem política foi desacompanhada de participação popular, uma vez que a população não fora comunicada da mudança: um golpe de Estado que retirava o regime monárquico e criava um novo momento para a nação, a República dos Estados Unidos do Brasil, tendo os militares como os seus principais articuladores naquele momento inicial, a chamada República da Espada (1889-1894).

A mudança de regime político não evitou conflitos, seja entre monarquistas e republicanos ou ainda, entre os próprios republicanos que tanto sonharam para atingir o poder, mas acima de tudo, o Brasil ainda não era uma democracia. 

Da republica militarista passamos à “República dos Bacharéis”, sendo o republicano histórico Prudente de Morais o primeiro presidente civil, de família de fazendeiros de café e formado em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco em São Paulo. Tivemos, portanto, o processo de articulação política que ficou conhecido como “Política Café-com-Leite” , na qual fazendeiros paulistas e mineiros se alternavam na presidência da República. Tal “sistema” garantia também a hegemonia das oligarquias locais em seus “currais eleitorais” e quando o presidente da República solicitasse, estes lhe dariam o apoio necessário, dentro da lógica conhecida como “Política dos Governadores”, ambas só tiveram fim quando ocorreu a Revolução de 1930, um outro golpe de Estado através do qual Getúlio Vargas tornou-se o presidente do País. Começava o período que foi chamado posteriormente de “Era Vargas”.

Vargas governou o Brasil por um longo período (1930-1945), mas ainda era cedo para dizermos que a democracia nascera no Brasil, pois um longo governo Provisório (1930-34) fora seguido por um curto período constitucional (1934-1937) e este acompanhado de uma longa ditadura, mais uma vez sustentada pelos militares que enxergavam em Vargas o homem forte do governo e neste ínterim (1937-1945) vivemos o Estado Novo: censura, ausência de liberdade, prisões e torturas foram as marcas deixadas.

Depois da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, o governo de Vargas entrou em crise, em parte motivada pela incoerência do Exército ter ajudado na derrubada dos regimes ditatoriais na Europa e no campo interno, o mesmo Exército sustentava uma truculenta ditadura. Então, mais um golpe de Estado comandado pelo ministro do Exército, Gois Monteiro, o mesmo que ajudou Getúlio em 1930, o depôs e assim garantiu as eleições presidenciais, nas quais o vencedor foi o ex-ministro de Getúlio, o general Eurico Gaspar Dutra.

O Brasil se aproximou da organização democrática com mais intensidade no período entre 1946 e 1964, dentro do contexto conhecido como “República Liberal” ou “República Populista”, marcado pelo vigor de uma nova Constituição e pelo maior respeito às instituições políticas e foi nesse contexto que a nação brasileira elegeu quatro presidentes: Getúlio Vargas, Juscelino Kubistschek, Jânio Quadros e João Goulart. Nacionalistas, demagógicos e com grande apoio popular, os cinco presidentes do período estabeleceram uma política desenvolvimentista repleta de slogans e medidas transformadoras. No entanto, as crises políticas também se manifestaram como, por exemplo, o escândalo que levou Vargas ao suicídio em 1954.

A polarização ideológica que transpirava durante a Guerra Fria não deixou de influenciar a política brasileira, especialmente depois do sucesso da Revolução Cubana em 1959 e a crise dos mísseis em 1962, fazendo com que os setores conservadores da sociedade brasileira vissem a necessidade de um novo ato de força para a salvação da nação daquilo que era visto como demoníaco: a ameaça comunista. Em 31 de março de 1964, os militares davam mais um golpe de Estado e depunham o presidente democraticamente eleito, João Goulart e assim, se manifestou o Regime Militar(1964-1985).
             
Assim como as fardas haviam mudado pouco, o repertório não foi diferente: suspensão dos direitos políticos, civis e constitucionais, prisões, censura, tortura e execuções daqueles que eram vistos como “terroristas” , “subversivos” ou ousassem a desafiar o poder instituído. Seus defensores, com as mãos sujas de sangue chamaram de “Revolução de 1964”, mas não passava de mais um golpe de Estado.
A violência foi grande, mas a resistência também, com movimentos políticos clandestinos, ações de guerrilha nos grandes centros e no campo e mesmo assim, o regime militar foi mais forte. De outro lado, era alardeado o “Milagre Econômico”: o desenvolvimento da nação com obras faraônicas, crescimento econômico nunca antes visto e a tese de que o futuro teria chegado para o Brasil, mas o engodo foi sendo passado a diante.

Depois de uma abertura “lenta, gradual e segura”, a partir de 1979 com a Lei de Anistia, voltamos à democracia, não tão rápido como desejávamos, mas os sinais de esgotamento do regime militar eram visíveis, a crise crescente, a inflação galopante e os clamores pelo fim da ditadura foram num processo crescente: manifestações de estudantes e as greves de metalúrgicos do ABC paulista.
Em 1982 ocorreram as primeiras eleições diretas e democráticas, as quais foram acompanhadas pelo restabelecimento do pluripartidarismo, proveram a intensificação do processo de transformação que trouxe o país novamente para a democracia, pois as forças de oposição ao regime conseguiram eleger vários e deputados e assim se criou o ambiente para a discussão da eleição direta para presidente, movimento conhecido com “Diretas Já” em 1984, mas os militares ainda detinham o controle do Congresso nacional e conseguiram derrotar a Emenda “Dante de Oliveira”, fato que marcou a eleição presidencial para presidente ainda pela via indireta em 1985.

A oposição foi representada pela chapa Aliança Democrática, formada por Tancredo e José Sarney, venceu a eleição indireta, derrotando o candidato do regime Paulo Maluf. No entanto, em virtude de um quadro de saúde muito complexo, Tancredo Neves morreu antes de sua posse e dessa forma, foi empossado o vice-presidente José Sarney: o primeiro civil eleito depois de 21 anos do regime autoritário dos militares, que assumiu a presidência da República.

Em 1986, foi eleita uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição, que foi promulgada em 05 de outubro de 1988, ficando conhecida como a “Constituição Cidadã”.
O governo Sarney foi marcado pela tentativa de recuperação econômica do País, mas não obteve um sucesso significativo, já que a “herança” deixada pelos militares era muito grave para ser resolvida num curto espaço de tempo. Porém, Sarney foi o primeiro civil desde JK a transmitir o cargo de presidente para outro civil democraticamente eleito: Fernando Collor de Mello (PRN).

Em meio a um governo tumultuado, Collor que buscou ser uma força acima das demais “forças políticas” se viu envolvido num grande escândalo político e sofreu o processo de  impeachment, fato que empossou seu vice Itamar Franco. Apesar das tensões, o Brasil caminhou lentamente para a maturidade das instituições democráticas e conseguiu se consolidar como uma democracia ao longo da década de 1990, durante os governos do sociólogo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e do metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Apesar das mudanças provocadas pelo Plano Real, o Brasil ainda não estava imune aos ataques especulativos, pois o último ano do governo FHC foi marcado pela estagnação econômica e pela nova “decolagem” da cotação do dólar que alcançou a casa de R$ 4,00 e o “índice de risco” relacionado à economia brasileira atingiu patamares imensos.
Todo este quadro foi fruto da incerteza do campo eleitoral ali desenhado: representando a situação o candidato do PSDB José Serra (ex- ministro da Saúde de FHC) e pela oposição, o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, que buscava a sua eleição para presidente depois de três derrotas desde 1989.

Depois de uma longa campanha, Lula foi eleito presidente com 61,3% dos votos, sendo protagonista de um momento de grande significado histórico: o sociólogo Fernando Henrique passava a faixa presidencial ao retirante nordestino e metalúrgico, Luís Inácio Lula da Silva, que de líder sindical, agora atingia o mais alto cargo de comando da nação brasileira, ao lado do vice-presidente José Alencar, empresário mineiro do setor têxtil. Nas palavras do novo presidente eleito: “A esperança venceu o medo”.

Durante a campanha eleitoral, Lula assinou um documento chamado de “Carta ao Povo Brasileiro” onde afirmava seu compromisso com a manutenção da estabilidade econômica que fora atingida a
partir do Plano Real durante a gestão FHC, postura que representava a sinalização clara aos setores conservadores da sociedade que o rigor fiscal, os contratos assinados por FHC e a manutenção do superávit primário seriam respeitados dentro da gestão Lula.

No entanto, os avanços sociais que se manifestavam foram ofuscados por um grande escândalo político que envolveu os principais nomes do governo numa rede de corrupção associada à aprovação de projetos no Congresso, episódio conhecido como “Mensalão” em 2005. José Dirceu, o ministro da Casa Civil, tido como o “homem forte” do governo e naquele contexto, apontado por muitos como o natural sucessor de Lula, foi derrubado em virtude das denúncias que o envolviam entre outros políticos, tendo o peso no processo as denúncias do deputado federal do PTB, Roberto Jefferson, também envolvido no contexto. Dirceu e Jefferson tiveram seus mandatos cassados, bem como perderam os direitos políticos. Antonio Palocci (Ministro da Fazenda), Luiz Gushiken (ministro das Comunicações), José Genoíno (presidente do PT) foram retirados de suas funções.

Toda a crise que o governo Lula passou significou por um lado, a quebra da imagem do Partido dos Trabalhadores, até então defensor aguerrido de uma moral e conduta ilibadas, mas por outro, não atingiram a imagem do presidente Lula, o qual não chegou a ser envolvido diretamente ou mesmo acusado formalmente com a apresentação de provas que em algum momento apontassem sua ligação com o esquema de corrupção. Para o espanto de seus inimigos políticos, opositores, críticos da imprensa e academia, Lula saiu ileso da situação e conseguiu a reeleição em 2006 com 60,83% dos votos válidos.

Em relação à sua popularidade, Lula não viu um viés de baixa significativo, pelo contrário, preservou índices elevados, atingindo 76% de aprovação, segundo o Instituto Vox Populi e a grande questão era se os resultados angariados por sua gestão, bem como o seu evidente carisma, seriam transformados em votos para a candidata à presidência pelo PT, Dilma Rousseff, que enfrentou José Serra como candidato do PSDB na eleição de outubro de 2010.

Dilma venceu Serra com 55,06% dos votos válidos, realizando dois fatos inéditos: a continuidade do Partido dos Trabalhadores no Governo Federal numa 3a gestão e se tornou a primeira "Presidenta" da República.

Agora em 2014, Dilma concluiu seu 1o mandato, sendo reeleita por uma estreita margem(51,64%), ao vencer o candidato Aécio Neves do PSDB(48,36%), depois de uma acirrada e tensa campanha(a imprensa conservadora abrindo fogo pesado, como por exemplo, a reportagem da "Veja" na sexta-feira, antevéspera do 2o turno), onde no 1o turno esteve, mais uma vez, Marina Silva que era inicialmente candidata a vice na chapa do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), mas em virtude da morte deste num acidente de avião em agosto deste ano, Marina se tornou a cabeça de chapa e se bateu com Aécio pela representação de uma candidatura da "mudança" e da "nova política", porém, fora insuficiente para vencer Aécio e ir ao segundo turno com Dilma na disputa final.

O governo Dilma viu a condenação dos envolvidos no "Mensalão", apareceram outras questões duvidosas envolvendo a gestão da Petrobras e desvio de verbas, que ainda estão sendo investigadas e podem vir a comprometer ainda mais a imagem de seu governo. Com base numa tese "a la UDN na década de 1960", as candidaturas de Marina e Aécio se colocaram como "bastiões do combate à corrupção e ao aparelhamento do Estado em benefício de particulares", atraindo os votos e "militância" dos setores conservadores.

A derrota de Aécio foi tão frustrante que chegaram ao ponto de manifestar, apesar de não passarem de 2000 pessoas, em atos e passeatas, a intervenção das Forças Armadas nesta "perdida e corrupta" República, coisa tão bizarra, que as lideranças do PSDB tiveram que vir a público e repudiar tamanha bizarria, uma vez que FHC, Serra, Aécio, Aloysio Nunes, os já falecidos Franco Montoro e Mário Covas, entre outros, lutaram contra a ditadura militar.

Vale lembrar que, durante o Regime Militar, qualquer manifestação contrária ao governo era duramente reprimida. Coisa que não acontece na democracia, apesar de muitas vezes, os órgãos de segurança, como por exemplo a Polícia Militar, ainda receber um treinamento que é condizente com o contexto autoritário, abusando do uso da força na contenção de massas como ocorreu em junho de 2013.

Mesmo com os excessos, a democracia respeita o direito de manifestação até daqueles que lhes são contrários, mas isto não ocorre com o tão solicitado "autoritarismo".

O saldo desse processo ainda está em curso, não sabemos se será positivo ou negativo, mas indubitavelmente, devemos defender a democracia, as instituições amparadas na Constituição de 1988 e evitar que nossas liberdades sejam mais uma vez solapadas pelo conservadorismo órfão do autoritarismo, afinal, se atual República que vivemos tem problemas, eles são de nossa responsabilidade, uma vez que, depois das eleições, cabe o acompanhamento dos representantes, a análise de suas gestões e as cobranças para a melhoria do bem-estar coletivo, encerrando a exclusão social e os privilégios tão comuns na visão elitista, mas que hoje, não nos servem mais.

A democracia se corrige no exercício da liberdade e não na sua perda e se olharmos na História, a nossa democracia ainda é muito jovem, mas encontra-se em amadurecimento, fruto das ações e responsabilidades de todos os brasileiros, fazendo valer o sentido original da palavra, o "governo do povo" e sendo o regime republicano, que também se faça valer o seu significado, a valorização do "bem comum", independentemente, de sua condição social, origem étnica, gênero, idade e crença.

Voltar ao passado só é interessante enquanto "objeto de reflexão intelectual", pois a História avança sempre para frente! 









sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Há 150 anos: A Guerra do Paraguai

A QUESTÃO PLATINA - 

O controle da Província Cisplatina estava relacionado com a retaliação praticada contra a Coroa de Espanha por D. João, assim que chegou ao Brasil, fato que seria uma reação ao apoio dos Bourbons ao ataque a Portugal em 1807 pelos franceses. Mesmo após a derrota definitiva de Napoleão em 1815, as tropas portuguesas não desocuparam a região, concretizando um velho interesse luso desde os tempos da colonização, quando a região foi agitada pelas disputas entre castelhanos e portugueses pela Colônia de Sacramento. 



Em 1825, durante o Primeiro Reinado, um movimento popular apoiado pela Argentina tentou anexar a região àquele país, provocando violentos choques com o governo de D. Pedro I. A questão somente foi resolvida em 1828, com um acordo assinado por Brasil e Argentina, no qual os dois países concordavam com a independência da região sob o nome de República Oriental do Uruguai. Porém, as pretensões do Brasil e da Argentina não cessaram.

Na Argentina, no Uruguai , os partidos Blanco (unitarista) e Colorado (federalista) disputavam o poder. Essa "unidade ideológica", que não respeitava fronteiras, provocava fatalmente o envolvimento de todas as partes em cada revolta ocorrida na região.

Quanto a Dom Pedro II, sempre houve a preocupação de impedir o aparecimento de um país forte na região platina ou de que ocorresse uma união territorial entre argentinos, uruguaios e paraguaios, uma vez que os brasileiros esforçavam-se para estabelecer a livre navegação nos rios platinos, únicas vias regulares de acesso à parte centro-oeste do território do Brasil.

Em 1828, foram realizadas eleições presidenciais no Uruguai, opondo os latifundiários, unidos em torno do blanco Manuel Oribe, que, inclusive, tinha o apoio do argentino Juan Manuel Rosas, contra o colorado Frutuoso Rivera, que representava os comerciantes da região e tinha o apoio explícito do governo imperial brasileiro e do líder político argentino, José Urquiza, que, como governador da província de Corrientes, era o principal opositor de Rosas na Argentina. A vitória coube ao candidato colorado.


Os blancos acusaram os colorados de fraude e pediram ajuda aos blancos dos países vizinhos. Em 1834, depois de vencer as eleições e tornar-se o novo presidente, Oribe aproximou-se de Rosas, provocando a fuga de seu predecessor, Rivera, que se refugiou no Rio Grande do Sul aliando-se ao líder farroupilha, Bento Gonçalves.

Rivera organizou um exército e tomou o poder no Uruguai, aproveitando-se dos problemas enfrentados por Rosas na Argentina. Alguns fazendeiros brasileiros realizaram incursões no Uruguai para garantir suas propriedades, pois estas eram frequentemente invadidas e saqueadas pelas facções em luta dos vizinhos. Em 1839, Rosas conseguiu resolver seus problemas internos na Argentina e anexou o Uruguai, o que causou protestos da Inglaterra, da França e do Brasil. Os ataques às propriedades de brasileiros continuaram de ambos os lados da fronteira, provocando a entrada do Brasil na guerra.

O General Urquiza, comandante das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, revoltou-se contra Rosas e aliou-se ao Brasil e ao uruguaio Rivera. As forças brasileiras, comandadas pelo Duque de Caxias e apoiadas pelo bloqueio naval do almirante Greenfeld, tomaram Montevidéu e, a seguir, invadiram a Argentina, depondo Rosas.
Argentina e Uruguai celebraram com o Brasil um tratado de livre comércio e navegação no Rio da Prata, garantindo aos brasileiros o vital acesso à província do Mato Grosso, bem como a “permissão” para comandar os acontecimentos na desembocadura do Rio da Prata.

As lutas entre blancos e colorados prosseguiam no Uruguai a cada eleição e, em 1864, o colorado Venâncio Flores tentou tomar o poder de Atanásio Aguirre, através da luta armada. O Brasil apresentou um protesto junto ao governo do Uruguai, devido aos constantes ataques às propriedades de brasileiros, mas foi ignorado pelo presidente Aguirre. O País decidiu, então, intervir novamente no Uruguai, enviando a Montevidéu um exército comandado por Caxias, enquanto a marinha bloqueava o litoral uruguaio. O presidente Aguirre renunciou e fugiu para o Paraguai, onde pediu auxílio ao ditador Francisco Solano Lopez. Enquanto isso, Flores, o novo presidente do Uruguai, cedia às exigências brasileiras.

O Paraguai foi, desde sua emancipação em 1811, uma exceção na região. A independência do país não foi obra da elite criolla, como no resto da América espanhola, mas, sim, fruto da união entre os índios guaranis e uma camada militarizada nacionalista, que implantou no Paraguai um modelo de desenvolvimento ligado à realidade local. Durante os longos governos de José Domingos Francia (1811-1840) e Carlos Antônio Lopez (1840-1862), as grandes propriedades foram confiscadas e transformadas em Estâncias da Pátria, que abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas.

Nesse período, o Paraguai não pode ser visto como uma democracia. Mas a escravidão foi abolida, o analfabetismo foi erradicado, fábricas de armas e de pólvora foram implantadas, assim como indústrias siderúrgicas, estradas de ferro, telégrafo e estaleiro. Tal quadro de relativo sucesso econômico e social e de autonomia internacional foi acompanhado durante o governo de Francisco Solano Lopez, iniciado em 1862, de uma política de ênfase no setor militar, mas muito longe de ser uma potência ameaçadora aos interesses ingleses.

 Em 11 de novembro de 1864, Lopez apreendeu o navio brasileiro Marques de Olinda, que navegava no Rio Paraguai, provocando a declaração de guerra por parte do Brasil.

A GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Os paraguaios tentaram tomar a província do Mato Grosso, mas foram repelidos pelas forças brasileiras. Optaram, então, pela libertação do Uruguai, mas, para isso, foi necessário invadir parte do território da Argentina, o que provocou a entrada do país na guerra.

Em maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, que entregava o comando do bloco belicista ao presidente da Argentina, Bartolomé Mitre. Os aliados puderam contar ainda com empréstimos e equipamentos vindos da Inglaterra. As operações navais, sob o comando do Almirante Tamandaré, foram inteiramente favoráveis ao Brasil, enquanto as operações em terra beneficiaram os paraguaios. 

O Brasil foi obrigado a financiar um exército profissional recrutado pelo Uruguai e também a recrutar negros que seriam alforriados após o conflito. Tal contingente ficou conhecido como os “Voluntários da Pátria”.

Charge de Angelo Agostini sobre a dura realidade dos "voluntários da Pátria"


De 1866 a 1869, o comando do exército brasileiro foi entregue ao Duque de Caxias, que conseguiu expressivas vitórias sobre a força paraguaia, obrigando Lopez a refugiar-se no norte do país. O comando passou, então, ao Conde d'Eu, Louis Phillipe Gaston d’Orleans, genro do Imperador, que comandou verdadeiros massacres junto à população paraguaia enquanto perseguia Solano Lopez, que fora morto em 1º de março de 1870 por soldados brasileiros depois da batalha de Cerro Corá.




As consequências da Guerra do Paraguai foram catastróficas para todos os envolvidos. O Paraguai perdeu cerca de 70 % de sua população masculina, segundo as estatísticas mais confiáveis, metade da população paraguaia foi dizimada: de 406.000 habitantes em 1864 para 231.000 em 1872.Apesar da vitória militar, Brasil, Argentina e Uruguai aumentaram seu endividamento em relação à Inglaterra, que foi, em última análise, beneficiada indiretamente com o conflito.

O "legado" brasileiro no Paraguai


Em pesquisas mais recentes, a Guerra do Paraguai não é mais entendida como uma ação “maquiavélica” da Grã-Bretanha que estava tendo seus interesses ameaçados pela potência em ascensão que seria o Paraguai, pois o conflito foi muito mais uma disputa pelo controle e acesso da bacia Platina, que naquele contexto, era o elo de integração das regiões litorâneas com a região central do continente e nesse caso, a livre-navegação pelos rios da Bacia do Prata era uma questão de Estado para as nações da região.


O Exército brasileiro praticamente formou-se enquanto força militar durante essa guerra, mas isso não significou maior reconhecimento perante a aristocracia imperial brasileira. Tal animosidade jogaria os militares nos braços do movimento republicano.

domingo, 9 de novembro de 2014

Há 25 anos caía o Muro de Berlim: com ele, ruía o bloco comunista europeu!

Os anos de Guerra Fria esgotaram a economia da URSS, forçando a população do país a acumular sacrifícios, enquanto as verbas eram destinadas para as despesas militares e para a corrida espacial (outro campo de competição entre as superpotências). No plano interno, a Guerra Fria provocou uma "caça as bruxas" contra os críticos do regime. O terror stalinista perpetuou-se com seus seguidores, Nikita Khrushchev (1953-64) e Leonid Brejnev (1964-82). Nesse período, as tentativas de participação  popular foram classificadas como "revisionistas" ou de "espionagem imperialista" e violentamente reprimidas.

Khrushchev e seu aliado Fidel Castro


É bem verdade que, durante o governo de Khrushchev, tentou implantar um processo durante o degelo, que era uma tentativa de eliminar o lado personalista do poder soviético, inclusive divulgando os terrores do governo de Stálin durante o XX Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), além de ensaiar uma pequena abertura. Mas as perseguições continuaram e nem o próprio dirigente era aceito pelo Partido Comunista, pois tinha acatado a ordem de retirar os mísseis nucleares de Cuba e buscado aproximar-se dos EUA na sua política denominada “coexistência pacífica”.

Leonid Brejnev

No entanto, em 1979 a URSS realiza uma intervenção militar no Afeganistão, "o Vietnã soviético", recebendo uma intensa resistência dos guerrilheiros mujahedins, os quais lutariam até o final da invasão soviética em 1989, recebendo apoio militar e logístico de agentes da CIA, a agencia de inteligência dos EUA. Como contraponto aos atos belicistas da URSS, os EUA passaram, então, a “desenvolver” um suposto plano de guerra espacial, batizado de “Guerra nas Estrelas”. Ainda na década de 1980, os trabalhadores da cidade de Gdansk (Polônia) fundaram o sindicato Solidariedade, independente do sindicalismo oficial. Seu líder, Lech Walesa, acusado de ser um espião do capitalismo, foi preso e posteriormente libertado diante das manifestações populares.

Mikhail Gorbachev

Os protestos no interior da União Soviética levaram o Comitê Central do Partido Comunista a liberalizar o regime, indicando Mikhail Gorbachev para ocupar o cargo de Secretário Geral. As palavras Glasnost e Perestroika (transparência política e reestruturação econômica respectivamente) passaram a fazer parte do vocabulário do novo líder. Atendendo às pressões populares, Gorbatchev foi obrigado a equilibrar-se entre a "linha dura” do PCUS (velhos comunistas, stalinistas, militares e funcionários graduados do governo) e os reformistas radicais, simbolizados por Bóris Yeltsin, que exigiam reformas mais amplas, profundas e rápidas.



O Leste europeu foi sendo sacudido por várias manifestações em prol da democracia e liberdade, causando a derrubada dos dirigentes comunistas (Hungria, Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Bulgária e Romênia) e a abertura da "Cortina de Ferro". 

Berlim: dividida no pós-1945

Um dos marcos da Guerra Fria foi a construção do Muro de Berlim em agosto de 1961 por parte dos soviéticos, separando Berlim Ocidental(setores americano, francês e inglês) e Berlim Oriental(setor soviético) e cortando qualquer acesso do lado comunista com a região capitalista. Era uma grande extensão de arame farpado que depois deu origem a um extenso muro de concreto também cercado com arame farpado, com vigilância constante de sentinelas e cães (os quais deveriam reprimir à força qualquer tentativa de fuga do lado oriental para o ocidental).

Vista do Portão de Brandemburgo com a separação promovida pelo Muro


O marco decisivo para este processo foi a queda do muro de Berlim em 09 de novembro de 1989, um fato que marcou o início da derrocada do comunismo na Europa, e posteriormente, em 03 de outubro de 1990, a Alemanha era reunificada, selando uma ferida aberta desde 1945.

09 de novembro de 1989: o "Muro da Vergonha" caiu !

Em meio a essas transformações, as repúblicas que compunham a URSS, como Letônia, Estônia, Lituânia, entre outras, passaram a declarar-se independentes, com o rápido apoio e o reconhecimento dos países ocidentais.

Em 1990, a "linha dura" reagiu às mudanças, tentando depor Gorbachev. Mas a população saiu às ruas contra o golpe, e os generais foram julgados por alta traição (dois deles suicidaram-se). Boris Yeltsin se apresentou como símbolo da resistência ao comunismo e contra a "incapacidade" de Gorbachev. A União Soviética foi extinta e substituída pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI) para a qual Boris Yeltsin foi eleito presidente, aprofundando as reformas econômicas e implantando o sistema capitalista no leste europeu.          


Helmut Kohl, chanceler da Alemanha reunificada

Com o fim da Guerra Fria, as duas superpotências puderam, finalmente, encerrar a Segunda Guerra Mundial, devolvendo a autonomia à Alemanha, que foi reunificada em meio a um delírio nacionalista. A comemoração colocou fim a uma fase da história do século XX, mas deu origem a novos e maiores problemas, como:

·  o fechamento de indústrias (consideradas ultrapassadas e poluidoras) na ex-Alemanha Oriental provocou um aumento do desemprego no país; a tentativa dos alemães ocidentais de empregarem orientais causou a dispensa de milhares de imigrantes que viviam na parte ocidental, aumentando a discriminação racial e a perseguição aos estrangeiros, o que promoveu o crescimento dos partidos neonazistas;

·  o pagamento de salário-desemprego fez aumentar a cobrança de impostos sobre a população  empregada; a desordem resultante fez que as crises financeiras se sucedessem, desestabilizando todo o plano de integração econômica previsto para a Comunidade Econômica Europeia (CEE);  

·  o renascimento do nacionalismo reavivou antigos ódios na Iugoslávia (composta por cinco povos diferentes), Tchecoslováquia, URSS, entre outros. O caso mais recente foram as intervenções militares desempenhadas pela OTAN na guerra da região do Kosovo, palco de atos de “limpeza étnica”.

A Europa pós-Guerra Fria

            
Estabeleceu-se um conjunto de propostas praticamente únicas, que são genericamente chamadas de globalização, que, grosso modo, pregam a liberalização total da economia e a criação do Estado mínimo, ou seja, seria a retomada do discurso liberal do século XVIII. Talvez por isso, seja também chamado de neoliberalismo. Os dirigentes ocidentais que melhor expressaram essa foram de governar foram Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido da Grã-Bretanha (1979-1990), e Ronald Reagan(1981-89), presidente dos Estados Unidos por dois mandatos consecutivos, sendo sucedido por seu vice, George Bush(1990-1994).

Esse projeto foi se espalhando pelos países do então chamado "Terceiro Mundo", como alternativa que viabilizaria o desenvolvimento econômico. Entretanto, o que se vê não só nesses países, mas mesmo na Europa industrializada, é um crescimento do desemprego e da concentração de renda.
Por outro lado, a Rússia, hoje, é aliada do mundo ocidental, mas isso não representou para a população russa melhoria de vida - muito pelo contrário. Os russos, endividados, ainda são temidos, pois são detentores do segundo maior arsenal nuclear do mundo. Recentemente, deram mostras de sua determinação em não perder o status de potência militar ao realizarem uma agressiva intervenção militar na Chechênia (1994-96 e 1999-2009), assim como recentemente, a intervenção militar na península da Criméia e a tensão separatista no leste da Ucrânia.

Sugestões do Gabinete:

A vida dos outros. Direção: Florian Henckel von Donnersmarck, 2006, 137 min:



Georg Dreyman (Sebastian Koch) é o maior dramaturgo da Alemanha Oriental, sendo por muitos considerado o modelo perfeito de cidadão para o país, já que não contesta o governo nem seu regime político. Apesar disto o ministro Bruno Hempf (Thomas Thieme) acha por bem acompanhar seus passos, para descobrir se Dreyman tem algo a esconder. Ele passa esta tarefa para Anton Grubitz (Ulrich Tukur), que a princípio não vê nada de errado com Dreyman mas é alertado por Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), seu subordinado, de que ele deveria ser vigiado. Grubitz passa a tarefa a Wiesler, que monta uma estrutura em que Dreyman e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), são vigiados 24 horas. Simultaneamente o ministro Hempf se interessa por Christa-Maria, passando a chantageá-la em troca de favores sexuais.



Adeus, Lênin! Direção: Wolfgang Becker, 2003, 118 min:



Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.