As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Apostolica Sedes Vacans : o trono está vago!

Tributo da Cathedra Petri - Giovanni Bernini 1666 - Basílica de São Pedro - Vaticano


Segundo o Evangelho de Mateus 16, 18-20: “Também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus"

Bento XVI, depois de um tempestuoso papado (2005-2013), renunciou ao "trono de Pedro", que foi sendo materializado a partir das palavras acima citadas do Evangelho de Mateus, que aliás se encontram escritas na face interna da cúpula de Michelangelo na Basílica de São Pedro, um tanto acima, do belíssimo trono que Bernini esculpiu dentro da profusão de formas e detalhes da estética barroca. 

Nos tempos atuais, há um clamor por renovação, por valorização da fé e dos necessitados, por uma Igreja que retome os valores do amor estabelecido por Jesus, deixando de lado, as disputas de poder, os interesses escusos e principalmente, o desrespeito ao ser humano que muitos sacerdotes tem praticando, usando a sua posição como um escudo. Basta observar a vexatória situação que ainda envolve a Igreja e os casos de abusos sexuais praticados por membros do clero ou em instituições católicas, que foram simplesmente ocultados, sem investigação ou punição.

Existem os desafios da atualidade: a posição da Igreja quanto à AIDS, as campanhas de controle de natalidade e o uso de preservativos. Além disso, a discussão dos direitos iguais aos homossexuais na sociedade, do aborto, da reintegração dos divorciados, fora  a questão do celibato e o papel da mulher no clero, que permanecem com tabus e por fim, a defesa da tolerância e do ecumenismo.

Com muita certeza, o sucessor de Bento XVI não conseguirá resolver todos estes problemas, mas deverá preparar a Igreja para se posicionar de modo satisfatório, acolhedor e sincero, pois do contrário, seu espaço será ainda mais restrito. Em boa parte da Europa de hoje, por exemplo, as grandes igrejas se tornaram museus frequentados por turistas, pois o número de fiéis se reduzira em muito e os remanescentes envelhecem e as novas gerações não se renovam.

Quem sabe, o próximo a ocupar o Trono de Pedro, se recorde das palavras de um antecessor, João XXIII (1958-1963), escritas na Encíclica Mater et Magistra (Mãe e Mestra) de 1961, : "a Santa Igreja, apesar de ter como principal missão a de santificar as almas e de as fazer participar dos bens sobrenaturais, não deixa de se preocupar com as exigências da vida cotidiana dos homens, não só naquilo que diz respeito ao sustento e às condições de vida, mas também no que se refere à prosperidade e a civilização".

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma reflexão quase "profética" sobre a atual crise da Igreja Católica


O papado, seu interior e as diferentes formas de manifestação de sua influência sempre foram objeto de discussão nas mais diferentes esferas sociais ao longo dos séculos e assim, todo abordagem sobre este tema carrega uma aura de mistério, de dúvida sobre aquele que se apresenta como sucessor de Pedro e Vigário de Cristo, depois de uma eleição secreta, entre chaves (tradução da expressão latina cum clavis ou conclave, em português), que pelo menos há cinco séculos vem ocorrendo na Capela Sistina, tendo os afrescos de Michelangelo, Rafael, Boticelli e outros como testemunha.

Após uma votação dos cardeais eleitores, obtendo-se uma maioria de 2/3 do Colégio de Cardeais (modo resolvido por um documento de 1970, de acordo com decisão de Paulo VI). Porém, segundo a Constituição Apostólica de 1996, por João Paulo II, ficou estabelecido que, decorrida 30 votações e não houve nenhum nome com 2/3 dos votos, a votação será feita entre os dois mais votados e aquele que obtiver a maioria dos votos (mais de 50%) será o novo escolhido.

Quando não há determinação na votação, as cédulas de voto são queimadas num incinerador com palha úmida, gerando assim, a "fumaça preta" que sairá da chaminé, a qual é vigiada pelos fiéis na Praça de São Pedro.

Na "Sede Vancante", é o camerlengo (nome que deriva do termo alemão kämmerling e equivale a camera em italiano e no passado, tinha o papel de administrator do palácio e aposentos papais) que assumirá o papel de chefe interino da Igreja, para que esta se mantenha funcionando até a eleição do novo Sucessor de Pedro.

Quando houve definição, apenas as cédulas são queimadas e aí, sairá a "fumaça branca" indicando que a escolha foi feita. Nesse momento, o escolhido é questionado pelo decano do Colégio dos Cardeais:

Reverendo Cardeal, aceitas a tua eleição canônica como Sumo Pontífice?

Aceito em nome do Senhor. (Caso o cardeal a rejeite, ocorre uma nova votação)

Como queres que te chamemos?

O eleito escolhe um nome para seu pontificado, geralmente homenageando um de seus antecessores ou adotando um nome novo, como por exemplo, foi o caso de João Paulo I, que criou este nome composto, homenageando seus dois antecessores João XXIII(1959-1963) e Paulo VI (1963-1979). Assim, com o repique dos sinos, será apresentado pelo protodiácono e decano (cardeal mais velho) no balcão principal da Basílica de São Pedro:

Latim
Tradução em português
Annuntio vobis gaudium magnum;
Habemus Papam:
Eminentissimum ac reverendissimum Dominum,
Dominum (Nome),
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem(Sobrenome),
Qui sibi nomen imposuit (Nome papal).
Anuncio-vos uma grande alegria;
Temos um Papa:
O eminentíssimo e reverendíssimo Senhor,
Dom (Nome),
Cardeal da Santa Romana Igreja (Sobrenome),
Que se impôs o nome de (Nome papal).

Em seguida, aparece para ser saudado pela multidão, que ansiosamente, se concentra na Praça de São Pedro e dali, já profere as suas primeiras palavras no exercício da função de Pontífice Máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, dando a benção Urbi et Orbi, isto é, para a Cidade e o Mundo, com o seguinte texto latino:

Sancti Apostoli Petrus et Paulus: de quorum potestate et auctoritate confidimus ipsi intercedant pro nobis ad Dominum.

Que os Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em cujo poder e autoridade temos confiança, intercedam por nós junto ao Senhor.

Resposta: Amém.

Precibus et meritis beatæ Mariae semper Virginis, beati Michaelis Archangeli, beati Ioannis Baptistæ, et sanctorum Apostolorum Petri et Pauli et omnium Sanctorum misereatur vestri omnipotens Deus; et dimissis omnibus peccatis vestris, perducat vos Iesus Christus ad vitam æternam.

Que por meio das orações e dos méritos da Santíssima Virgem Maria, de São Miguel Arcanjo, de São João Batista, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os santos, Deus todo-poderoso tenha misericórdia de vós, perdoe os vossos pecados e vos conduza à vida eterna em Jesus Cristo.

Resposta: Amém.

Indulgentiam, absolutionem et remissionem omnium peccatorum vestrorum, spatium verae et fructuosae poenitentiæ, cor semper penitens, et emendationem vitae, gratiam et consolationem Sancti Spiritus; et finalem perseverantiam in bonis operibus tribuat vobis omnipotens et misericors Dominus.

Que o Senhor Todo Poderoso e misericordioso vos conceda indulgênciaabsolvição, e remissão de todos os vossos pecados, em tempo para uma verdadeira e frutuosa penitência, sempre com coração contrito, e a benção da vida, a graça, a consolação do Espírito Santo e perseverança final nas boas obras.

Resposta: Amém.

Et benedictio Dei omnipotentis, Patris et Filii et Spiritus Sancti descendat super vos et maneat semper.

E que a bênção de Deus Todo Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo desça sobre vós e permaneça sempre.

Resposta: Amém

Um belo e antigo ritual, que mostra ao mundo, a continuidade desta milenar instituição que é a Igreja Católica Romana. Mas e se o papa eleito disser “não”?

Moretti como psicanalista tentando conversar com "Sua Santidade", sob o olhar perplexo dos cardeais.

Foi esta pergunta que moveu o diretor do filme Habemus papam (exibido em 2012) Nanni Moretti na construção de um contexto fictício, valendo-se de cenas reais do funeral de João Paulo II, para mostrar um conclave que elevaria o cardeal Melville, interpretado pelo ator Michel Piccoli, ao cargo mais importante da Igreja.

O cardeal Melville era um dos cardeais eleitores, mas não era um favorito, como o cardeal Gregori, interpretado por Renato Scarpa. Há um velho provérbio na Igreja que diz “quem entra como papa no conclave, saí como cardeal” e foram poucos que consiguiram provar o contrário, 13 ao todo, e o mais recente, foi Bento XVI, eleito em 2005.

O recém-eleito, tomado pela surpresa, diz “sim” ao Conclave e a tradicional fumaça branca, tão esperada pela multidão na Praça de São Pedro é comemorada, os sinos da Basílica dobram e se aguarda o anúncio do “Habemus papam” e no exato momento da apresentação, o impensável acontece: um grito de dor ou pavor é bradado pelo “futuro papa”, que saí correndo, deixando seus demais colegas em pânico e o decano dos cardeais não concluiu o anúncio retornando seus passos lentamente para trás, tomado pela perplexidade.

O que fazer? Como agir? Nesse grande vazio começa a busca pelo caminho mais fácil: a aceitação da função pelo eleito, que é examinado por médicos, encontra-se, aparentemente em boa saúde, mas não consegue ir adiante.

Algo deve ser feito e nisso, aqueles que vivem da prática de uma fé verdadeira apelam para a ciência que busca entender a mente e seus meandros, chamando um renomado psicanalista italiano, ateu convicto que deveria buscar uma solução para o problema.
O papa no divã? Aquele que aparentemente é visto como alguém acima de todos os mortais, sendo questionado como um paciente comum?

O papel do analista coube ao próprio diretor, aliás, muito bem desempenhado, flertando com a ironia da situação, o velho conflito entre a Fé e a Ciência e ainda por cima, a crise visível de uma instituição que envolve mais de um bilhão de pessoas.

É uma discussão séria, ao pensarmos qual é o futuro da Igreja Católica Romana, perante às inúmeras questões que a cercam no campo interno e na sua relação com a sociedade e assim, o filme busca pelo inusitado, a construção de um momento de reflexão, sem ficar restrito ao anticlericalismo exacerbado ou a uma desacralização que pudesse ofender a instituição e seus fiéis.

Fica aqui a sugestão! Bom filme!



Habemus papam
Direção: Nanni Moretti
Ano: Itália, 2011
Duração: 102 minutos

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A renúncia de Bento XVI: o que esperar?

No dia 11 de fevereiro eu estava passeando em Liège, cidade da Bélgica, próxima da fronteira com a Alemanha. Fazia um frio considerável de 2ºC, com vento cortante e uma chuva terrivelmente insistente, que ora oscilava para a neve e ora para a chuva.

Fora as peculiaridades de um dia típico do inverno europeu, uma coisa muito particular chamou minha atenção: num dado momento da manhã, creio que era algo entre 10 e 11h, ouvi várias igrejas tocando seus sinos, mas não era um "toque de festa" ou de "chamada para a missa", como pensei num primeiro momento, pois ali naquela região, a população católica era maior, mas como era uma véspera de Carnaval, a dúvida continuou incomodando.

Bem, ao passar por um café um pouco mais tarde, tive a resposta: ali, enquanto saboreava um chocolate quente, ouvia a rádio local informar que o papa Bento XVI iria renunciar ao Trono de São Pedro às 20:00 do dia 28 de fevereiro, alegando que o peso da idade e a falta de vigor não lhe permitiam continuar sua "divina missão".

Amanhã, 24/02, será a sua última benção "Urbi et Orbi" (para a cidade de Roma e o mundo), onde se esperam alguns milhares de pessoas compareçam em massa para ouvi-lo. Porém, fica a inquietação:
seriam somente os dissabores da idade que lhe pesavam? Ou então, as forças políticas que se articulam dentro de uma instituição milenar e que, Josef Ratzinger conhece muito bem, há várias décadas?


Sua eleição em 19 de abril de 2005 foi um sinal particular: um longevo papado se encerrava com a morte de João Paulo II (1979-2005) e os cardeais precisavam de um tempo para traçar as direções futuras, como num tabuleiro de xadrez, a necessidade de se antecipar as jogadas do adversário. Ao elegerem o decano do Colégio de Cardeais e até então Prefeito da Congregação da Doutrina e da Fé (nome atual da antiga Inquisição), a opção foi pelo continuísmo, dado ao alinhamento de Ratzinger com João Paulo II e ao mesmo tempo, por um “papado de transição”, já que o eleito naquela altura tinha 77 anos. Portanto, a ampulheta tinha sido virada...

Confesso que, ao receber a notícia da escolha, não me senti tomado de profunda alegria, afinal, Ratzinger representava a manutenção de um conservadorismo rigoroso que, por exemplo, perseguiu as correntes progressistas na Igreja, como foi o caso da Teologia da Libertação, criticada e silenciada por sua movimentação política associada ao marxismo, que na visão de João Paulo II e de seu fiel seguidor, o então cardeal Ratzinger, a representação do “mal sobre a terra”.

Não foram poucas as polêmicas que Bento XVI se envolveu, mas pairava sobre ele uma sombra desagradável: a suspeita de uma possível negligência enquanto Prefeito da Congregação da Doutrina e da Fé na investigação e punição de religiosos católicos envolvidos com casos de abuso sexual em diferentes lugares do mundo.

Na condição de papa, obrigou-se a não só fazer um pedido público de perdão, gesto de certa sensibilidade, mas que não apaga o mal causado, além de se posicionar duramente, pela primeira vez, ao estabelecer o afastamento e investigação de acusados de abusos, que seriam expulsos pela conduta inadequada e as autoridades da Igreja deveriam colaborar com a justiça laica para que as investigações tivessem resultado.
Vide link: http://www.vatican.va/resources/resources_norme_po.html 

No entanto, o que se espera de seu sucessor? 

Há esperança do cumprimento das propostas de renovação do Concílio Vaticano II (1963-65), tornando a organização da Igreja mais colegiada e menos centralizadora, com espaços para as diferentes correntes, mas sem perder o seu principal foco: a difusão da mensagem de Paz e Amor entre os homens, que infelizmente, tem ficado esquecida, e em seu lugar, lutas pelo poder e um sentimento de fé que vai se esvaindo cada vez com a defesa de pontos de vista que mais excluem do que agregam e nisso, há muito ainda por se fazer, pois a desigualdade, os abusos de poder, a ameaça a liberdade, a miséria e as injustiças ainda atingem milhões.

Que a próxima fumaça branca, vinda da Capela Sistina, seja de fato portadora de boas novas para todos aqueles que seguem os passos e as palavras do Nazareno.



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Notícias do Velho Mundo

Caros leitores,

Desculpe-me pela indelicadeza, mas passadas as " Segundas Fases" da Fuvest e Unicamp em janeiro, eu tirei um longo período de férias, esfriando a cabeça no Velho Mundo, literalmente...

Foi um inverno de frio intenso, com direito a dormir no Aeroporto de Heathrow em Londres, para depois chegar em Paris, com neve, frio, vento e chuva, tendo as temperaturas alcançado até 5 negativos.

Passei por Paris, Londres, Bruxelas e Liège (Bélgica), Aachen e Köln (Alemanha) e por fim, Amsterdã , de onde escrevo agora e parto amanhã para a nossa querida " Terra Brasilis"!

Em breve mando mais notícias!

Abraços e até a volta.