Clio, musa da História, escultura de Carlo Franzoni, de 1810, National Statuary Hall, Washington, D.C., EUA.
A História enquanto ciência se pauta na
construção de discursos sobre os atos humanos no passado e para tanto necessita
de fontes, as quais serão analisadas e a partir disso, surgirão as bases para a
produção de conhecimento histórico.
Na origem, a palavra historíé significa "investigações, pesquisas" em grego, portanto, a história se apresenta como um modo de se levantar informações sobre o passado. Mas quais informações?
Se formos pelo senso comum, a história seria a narração
"dos fatos e acontecimentos", mas sabemos que hoje a História se
constrói muito mais pela análise processual do que factual, afinal, os fatos
não mudam, mas análise das fontes históricas, sim.
Cada geração busca se apropriar do passado,
fazendo sua releitura, mas as bases são as mesmas: entender como, onde e porque
ocorreu determinado processo histórico? Quais foram as permanências e mudanças
dentro do processo ?
Até a primeira metade do século XX, existiu um
predomínio das fontes escritas sobre outras possibilidades que hoje
trabalhamos. Por exemplo, é dessa visão que surgiu o conceito de que a História
passou a existir depois da invenção da escrita e todo o gigantesco período
anterior foi rotulado de "Pré-História" e ainda, acompanhado de um
juízo de valor bastante negativo: época do homem primitivo inferior ao homem
civilizado, que só passou a existir depois da escrita, que assinalaria o
conceito de civilização. Hoje ainda utilizamos o conceito de
"Pré-História", mas acompanhado das devidas ressalvas e reflexões que
o questionam, bem como, a divisão herdada dos positivistas (História Antiga,
Medieval, Moderna e Contemporânea).
Avançando neste processo, já nos libertamos da
imposição factual e passamos a explorar outros territórios: a oralidade, a
cultura material e imaterial, os discursos presentes nas diferentes artes e
sempre tendo em mente que o objeto é o homem ou suas diferentes sociedades no
tempo passado e que nesta busca, não há uma visão única, mas visões que mesmo
diversas ajudam a compreensão da História e não invalidam seu status de
ciência, pois desse modo, escapamos da visão doutrinária que impõe
"Verdades", sabendo que o questionamento e crítica dos saberes
estabelecidos são uma constante para o avanço do conhecimento e não heresias.
A imposição de uma "História
oficial" geralmente resulta de uma perspectiva autoritária, que se recusa
a permitir uma reflexão ou debate sobre o passado, legitimando quem naquele
contexto exerce o poder sobre os homens ou sobre suas almas.
A História é a construção de um discurso
– em geral, daquele que é o vencedor. Se partirmos dessa premissa, veremos que
os relatos sempre destacam o papel dos grandes nomes e dos grandes feitos.
Lembramo-nos facilmente de nomes de generais ou de governantes que se
destacaram, mas dificilmente recuperaremos a massa que compunha seus exércitos
– e que foi fundamental para a vitória. Por outro lado, sabemos também que
aquele que é tido como “vencido” muitas vezes acabou por assumir, parcial ou
integralmente, o discurso do vencedor, de modo que não é possível fazer uma
distinção entre “culpados” e “inocentes”.
Em síntese, a História é a ciência que
estuda o homem em seu tempo, observando seus processos (permanências e
mudanças) e seus agentes nas mais diferentes esferas, pois a compreensão do
processo histórico implica o acompanhamento do homem e de seus valores em
função da visão de mundo correspondente, mas sempre embasado em evidências,
pois sem fontes não há História e sim, boatos.
É justamente a diversidade de aportes teóricos
e metodológicos que favoreceram o estabelecimento de diversas correntes
historiográficas e disso, temos diferentes linhas de pesquisa e áreas de
atuação para se pensar o fazer histórico, o qual se enriquece e se
amplifica com o contraditório.