As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sábado, 30 de abril de 2016

Hélade - o Mundo Grego

A Grécia está localizada na Europa Oriental, mais precisamente ao sul da Península Balcânica, no litoral nordeste do Mediterrâneo.  Muito embora se tenha convencionado na atualidade de tratar a Grécia como uma unidade política, tal situação era bem distinta na Antiguidade, prevalecendo a fragmentação política. Os povos que colonizaram e habitaram a Península Balcânica (aqueus, eólios, jônios e dórios) falavam a mesma língua e tinham vários costumes semelhantes, mas viam seus vizinhos como rivais e guerreavam entre si.
O sul da Península Balcânica é uma região de solo arenoso e, consequentemente, pouco fértil. O litoral é bastante recortado, o que praticamente induziu os gregos à navegação em busca de terras e riquezas inexistentes em sua região. Tais fenômenos ficaram conhecidos como “diásporas gregas”.
Assim, os gregos optaram pelo estabelecimento de colônias em pontos que julgavam estratégicos do ponto de vista militar ou econômico. Podemos, então, dividir geograficamente aquela região em Grécia Continental ou Balcânica (cidades da península), Grécia Insular (ilhas que ficavam, em sua maioria, nos mares Egeu e Cretense) e as colônias espalhadas pela Ásia Menor, norte da África, Península Ibérica e Península Itálica (Magna Grécia, vide mapa abaixo)

Fonte: Classicwindow

OS PRIMÓRDIOS: DOS GENOS ÀS PÓLEIS
            Teve como principal característica as migrações de povos indo-europeus para a Península Balcânica. Iniciou-se com a chegada dos aqueus, seguidos pelos jônios e eólios que sofreram influências política e social de Creta, ilha que, durante muito tempo, exerceu poder sobre as comunidades continentais. Os migrantes fixaram-se e fundaram as cidades de Micenas e Tirinto. Posteriormente, gregos e cretenses passaram a lutar pela hegemonia da região, o que acabou provocando a invasão da Ilha de Creta (cerca de 1400 a.C.).
Os vencedores colonizaram toda a península e partes da Ásia Menor e passaram a desfrutar um período de relativa tranquilidade, só interrompido pela chegada de uma nova corrente migratória: os dórios.
Foi nessa época que se formou a cidade de Esparta. Depois de chegarem, por volta de 1200 a. C., os dórios saquearam e destruíram a civilização creto-micênica, gerando a Primeira Diáspora, isto é, a primeira dispersão da população pelo interior da Península Balcânica.
Este período vai do século XII ao VIII a. C., pois, uma vez que a produção de documentos nessa fase foi bastante escassa, principais fontes de informação, além dos artefatos arqueológicos, da história grega são o conjunto de poemas atribuídos a Homero, Ilíada (que conta a história da Guerra de Troia) e Odisseia (série de episódios protagonizados pelo herói Odisseus ou na forma latina Ulisses, como conhecemos hoje), além da importância da obra de Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias.
Neste período, os gregos habitavam o genos, unidade familiar econômica e politicamente autônoma governada por um patriarca. A propriedade da terra era coletiva e a produção deveria atender às necessidades da comunidade.
Esse sistema entrou em colapso após a Primeira Diáspora pois começou a enfrentar basicamente dois problemas. Primeiro, as terras tornaram-se insuficientes para todos, o que provocou saques e ataques mútuos. Outra questão foi gerada pelo fato de o poder ser hereditário. Tensões internas ocorreram entre os demais membros da comunidade, que jamais poderiam substituir o patriarca. Isso obrigou os genos a se fundirem, dando origem a uma forma de organização mais adaptada às novas necessidades. Assim, para se protegerem dos ataques, eles se fundiram e formaram frátrias, que eram verdadeiras associações prontas para a guerra. Da necessidade de concretizarem a unidade contra os opositores, as frátrias realizaram um novo processo de fusão, dando origem a tribos - as antecessoras diretas das pólis.

As moedas e a circulação de mercadorias


PÓLIS: A CIDADE-ESTADO COMO EXPRESSÃO
            A decadência dos genos favoreceu a formação das pólis, aglomerados urbanos construídos em torno de um templo e do palácio real, região conhecida como Acrópole, cidade alta em grego. As cidades-estado eram politicamente autônomas e disputavam territórios e influência entre si. Dentre elas, destacaram-se e, em virtude da intensa rivalidade, a qual levaram às últimas consequências: Atenas e Esparta.

Vista da acrópole de Atenas


ATENAS - Fundada por Jônios na planície da Ática e próxima ao mar, foi, inicialmente, governada por um rei, que recebia o título de Basileus e exercia poderes político, militar e religioso. Posteriormente, os eupátridas, também chamados de “bem-nascidos” e únicos considerados verdadeiros cidadãos, tomaram o poder, deixando ao rei somente o cargo de chefe religioso. A administração foi dividida entre três e, depois, nove Arcontes, cargo que, de início, era vitalício e passou a ser eletivo e temporário (por dez anos). Após esse período, passavam a fazer parte do Areópago, o órgão que efetivamente governava Atenas.
Os estrangeiros eram tolerados na cidade e recebiam o nome de metecos. Pagavam impostos e ficavam obrigados a prestar serviço militar. Dedicavam-se ao comércio e, em algumas circunstâncias, poderiam acumular fortuna.
Os escravos eram prisioneiros de guerra ou cidadãos endividados, que, incapazes de saldar seus débitos, tornavam-se propriedade de seus credores. No entanto, geralmente, eram bem-tratados.
O poder dos eupátridas passou a ser questionado a partir do século VII a.C. pelos cidadãos endividados e pelos metecos enriquecidos, provocando modificações no governo de Atenas. Essa foi a fase na qual se destacaram os chamados legisladores.
Drácon foi o primeiro legislador e fez que as leis orais, baseadas nos costumes e nas tradições, passassem a ser escritas (621 a.C.), reduzindo, assim, o poder dos eupátridas. Sua reforma não foi bem-sucedida, já que desagradou aos “bem-nascidos” - reticentes quanto a qualquer tipo de mudança - e não favoreceu as camadas inferiores, pois as leis orais protegiam os membros da aristocracia eupátrida.
Em 594 a. C, o legislador Sólon, que era membro de um grupo autodenominado Partido Democrático, assumiu o poder, iniciando uma série de reformas democráticas. Ele extinguiu a escravidão por dívidas e passou a classificar a divisão social de acordo com a renda, e não mais segundo o nascimento.
As reformas de Sólon não agradaram os aristocratas e isso gerou uma série de distúrbios políticos que provocaram o surgimento da Tirania, quando um aristocrata tomou a administração à força, contando com apoio popular, o qual era resultado de manipulação. Psístrato foi, então, o primeiro tirano e confiscou as terras da nobreza, entregando-as aos agricultores. Após a morte de Psístrato, seus filhos, Hiparco e Hípias, tomaram o poder, mas não conseguiram apoio suficiente para mantê-lo. O primeiro acabou assassinado e o segundo tentou perseguir seus opositores, tendo sido deposto e banido de Atenas.
Com a morte do tirano, os democratas retomaram o governo, dando continuidade às suas reformas. O poder foi entregue a Clístenes, que concluiu o processo de instalação das reformas que criariam a democracia ateniense.
Atenas foi dividida em dez tribos, representando os moradores da cidade, do litoral e do interior. A Bulé, uma assembleia formada por 500 membros eleitos pela população, e a Eclésia, que era uma assembleia popular, tiveram seus poderes ampliados. Já o poder do Areópago, que era composto por ex-governantes, foi diminuído.
A partir de Clístenes, a democracia ateniense caracterizou-se pela igualdade dos cidadãos perante a lei e pelos direitos de receber honras por mérito pessoal, e não por hereditariedade, de apelar para tribunais e de votar e participar do governo. No período, foi criado também o ostracismo, punição de exílio por dez anos, aplicada aos maus cidadãos ou àqueles que, do ponto de vista da maioria dos cidadãos, ameaçavam a democracia.
Sob o governo de Péricles, Atenas atingiu seu ápice cultural, político e militar.  Os atenienses orgulhavam-se de ter uma força militar que em quase nada devia às outras pólis. Os cidadãos passaram a receber vencimentos pela sua participação no processo democrático e foram instituídos os magistrados, encarregados de executar as medidas determinadas pela Assembleia Popular, e o tribunal popular, incumbido de julgar os crimes cometidos por cidadãos. Péricles foi reeleito para o cargo de administrador da cidade (estrategos) por 15 anos, período conhecido como o “Século de Péricles”. O governante acabou morrendo contaminado por uma peste que se espalhou por Atenas durante os conflitos contra os espartanos.
É importante ressaltar que a democracia ateniense não era um direito, mas um privilégio. Apesar de igualar juridicamente os cidadãos, era exatamente na definição de cidadania que se estabelecia uma diferenciação que, aos nossos olhos, era bastante discriminatória. O direito de voto em Atenas era exclusivo dos homens livres, nascidos na cidade e maiores de idade. Dessa forma, os estrangeiros, as mulheres, os menores de idade e, obviamente, os escravos não tinham nenhum direito de participação política.
A democracia ateniense era participativa, isto é, os cidadãos se reuniam na Ágora e, ali, decidiam os rumos da cidade. No entanto, somente 10% da população tinham tais direitos. A participação na vida política da cidade era garantida pela exploração dos escravos, que eram vistos como uma propriedade.

ESPARTA - Fundada pelos dórios na planície da Lacônia, Esparta destacou-se pelo isolamento em relação às demais cidades e pela militarização da população, especialmente da camada dominante. As normas que estabeleciam seu funcionamento teriam sido ditadas por uma figura lendária, chamada Licurgo, no século IX a.C.. O mesmo Licurgo teria estabelecido a divisão da sociedade espartana em três grupos básicos.

Ruínas do teatro de Esparta

Os que pertenciam à camada mais alta, descendentes dos conquistadores dórios, eram chamados de espartíatas. Os homens eram educados pelo Estado desde os 7 anos já voltados para o treinamento e preparo militar. Aos 20, eram armados guerreiros e, durante essa fase, viviam na caserna. Finalmente, aos 30, adquiriam plena cidadania e voltavam a viver em suas casas, quando, então, recebiam permissão para encontrar uma esposa. Ainda assim, deveriam permanecer à disposição do exército até os 60 anos, quando passavam a participar da administração da cidade. 
  Abaixo dos espartíatas, estavam os periecos, que eram descendentes dos primeiros habitantes da Lacônia que não haviam resistido à invasão dórica. Por esse motivo, eram tolerados na cidade, dedicando-se a atividades desprezadas pelos espartíatas, como o comércio e o artesanato.
Os hilotas também descendiam dos primeiros habitantes da Lacônia, mas foram escravizados por terem resistido ao avanço dório. Esses trabalhadores não eram escravos exatamente, pois não configuravam propriedade de outro homem livre. Entretanto, ficavam à disposição da cidade e podiam ser solicitados por qualquer morador de Esparta. Os estrangeiros só utilizavam um hilota com a permissão do Estado. Os hilotas tinham por obrigação cultivar a terra do cidadão, tendo que entregar uma série de produtos a este no final do ano. Não possuíam nenhum direito, tampouco amparo legal.
O poder em Esparta era exercido pelos éforos, um grupo formado por cinco membros eleitos pela assembleia popular. A Gerúsia, conselho composto por 28 membros com mais de 60 anos, encarregava-se de elaborar as leis - que podiam ou não ser aceitas pelos éforos. A assembleia popular ou Ápela era composta por todos os cidadãos com mais de 30 anos e tinha por função eleger os membros da Gerúsia e os éforos. Houve um período da história espartana que governavam juntos dois reis, mas eles exerciam somente funções de chefes militares e religiosas, este sistema político ficou conhecido como diarquia.
Dessa forma, enquanto Atenas encaminhava-se para a democracia, ampliando cada vez mais a participação popular nas decisões da cidade, Esparta tomava a via oposta, dirigindo-se para uma gerontocracia, ao entregar o governo da cidade a pessoas com mais de 60 anos e ao dar acesso ao poder apenas à oligarquia de espartíatas.
            Economicamente, a principal atividade da cidade era a agricultura, porém alguns periecos conseguiam até mesmo enriquecer com o comércio, atividade desprezada pelos aristocratas.

O SÉCULO DE OURO

Os gregos atingiram seu apogeu no século V a.C. . Várias cidades-estado gregas fundaram colônias nas costas do Mediterrâneo, dando origem à Magna Grécia. Chama-se essa expansão de “diáspora grega”. As colônias fundadas nesse período guardavam estreitos laços com as cidades que lhes haviam dado origem.
Por volta do século V a. C., o Império Persa estava se expandido pela Ásia Menor e acabou dominando várias cidades gregas do litoral. Atenas veio em socorro de suas colônias, especialmente Mileto, provocando a ira do imperador persa Dario e, consequentemente, uma guerra entre persas e gregos. Esses conflitos militares ficaram conhecidas como Guerras Médicas.
A Primeira Guerra Médica ocorreu entre 492 e 490 a.C.. Nessa ocasião, os persas desembarcaram um forte exército na planície de Maratona, mas foram batidos pelas tropas de Atenas na Batalha de Maratona, sendo obrigados a se retirarem para organizar uma nova invasão.

Anos depois, estourou a Segunda Guerra Médica, estendendo-se de 484 a 479 a.C.. Desta vez, o imperador Xerxes, filho e sucessor de Dario, comandou uma grande invasão à Grécia, enfrentando uma liga de cidades gregas que, durante anos, vinham se preparando para essa invasão. Atenas havia construído um porto fortificado, Pireu, de onde partiu uma frota capaz de vencer os oponentes.
Os persas invadiram a Grécia pelo norte, batendo uma pequena guarnição espartana nas montanhas de Termópilas,sob a liderança do rei espartano Leônidas, o qual foi massacrado junto com seus 300 soldados, apesar de ter resistido bravamente durante dois dias. Atenas foi arrasada. Enquanto isso, no mar, a frota ateniense batia os persas na Baía de Salamina (Batalha de Salamina/ 480 a. C.).
Estátua em honra do rei Leônidas e seus 300 guerreiros, acompanhada dos dizeres: “Caminhante,
vai dizer aos Lacedemônios que aqui repousamos por havermos
obedecido às suas leis”


No ano seguinte, ocorreu o que é chamado de Terceira Guerra Médica, na qual os exércitos gregos, comandados pelo espartano Pausânias, venceram os persas em Plateia, ao mesmo tempo em que a frota grega bateu novamente os persas no Cabo Micale. Derrotado, o imperador Xerxes levou o restante de seu exército de volta à Pérsia.
Atenas e seu porto foram reconstruídos e murados. Ao longo da guerra, formou-se a Confederação de Delos, uma aliança militar entre várias cidades gregas liderada por Atenas, reunindo homens, navios, armas e dinheiro, com o claro objetivo de se prepararem para uma nova investida dos persas. As cidades contribuíam com seus tesouros, que eram guardados na ilha de Delos e administrados por atenienses.
A frota da confederação expulsou os persas do Mar Egeu, favorecendo o comércio de Atenas. As colônias gregas na Ásia Menor libertaram-se, e o Império Persa foi obrigado a aceitar a paz de Kálias (448 a.C.), reconhecendo a independência das colônias gregas e comprometendo-se a não mais invadir a Grécia.


Com a assinatura do acordo de paz com os persas, a Confederação de Delos perdeu sua razão de ser, mas os atenienses recusaram-se a dissolver a liga e transferiram o tesouro da ilha de Delos para Atenas. A Confederação de Delos possibilitou, então, o exercício do imperialismo dos atenienses, que passaram a exigir a manutenção dos tributos de todas as cidades gregas. Essa situação ampliou a rivalidade com Esparta, que não admitiu pagar tributos a Atenas e retornou ao seu isolamento.
Tal situação permitiu o crescimento de Atenas, que se tornou hegemônica na península. A cidade prosperou como o maior centro comercial do mundo grego e impôs seu modelo às cidades aliadas, chegando a interferir na política interna dos vizinhos, isto é, internamente, Atenas era democrática, mas externamente era imperialista.

GUERRAS DO PELOPONESO (431-404 a.C.) - Os espartanos perceberam que haviam cometido um erro ao ignorar a expansão ateniense isolando-se em sua cidade, pois permitiram o crescimento de Atenas, que, agora, cobrava tributos de Corinto, aliada de Esparta e membro da Liga do Peloponeso. Essa associação de cidades havia sido feita pelos espartanos, que pretendiam equiparar-se a Atenas. O conflito militar tornou-se inevitável, apesar de o poderio das cidades ser bastante distinto: Atenas era uma potência naval e Esparta destacava-se como força terrestre. 
 A guerra teve início em 431 a. C., envolvendo todas as cidades gregas e contrabalançando vitórias terrestres de Esparta com vitórias marítimas de Atenas. Esparta recebeu ajuda de uma frota enviada pelos persas, pois estes consideravam os atenienses os responsáveis pelas derrotas anteriores. Assim, em 405 a.C., a recém-criada frota espartana destruiu a frota ateniense na batalha de Egos-Pótamos.
O exército espartano cercou Atenas enquanto sua frota cercava o porto de Pireu. Os atenienses rendem-se no mesmo ano e foram obrigados a derrubar os muros da cidade e aceitar um governo de aristocratas, determinando a vitória final espartana. Esparta incentivou a aristocratização de todas as cidades gregas, mas não conseguiu manter guarnições militares em todas, e, como conseqüência, várias polis reconquistaram sua liberdade.
Em 377 a C., a cidade emergente de Tebas declarou guerra a Esparta, aproveitando-se do desgaste sofrido pela cidade durante a Guerra do Peloponeso. Nessa oportunidade, contando com o apoio de Atenas, os tebanos ameaçaram a hegemonia espartana. Entretanto, esgotados com tantas guerras, os atenienses assinaram uma paz em separado com Esparta.
Como forma de enfraquecer os espartanos, os tebanos sublevaram a população da cidade de Messênia que, na época, era escravizada por Esparta. Atenas aliou-se a Esparta temendo o crescimento dos tebanos, mas os primeiros foram derrotados na batalha de Lêuctras (371 a.C.) e, por fim, Tebas impôs sua hegemonia a toda a Grécia. As guerras sucessivas debilitaram as cidades gregas, abrindo as portas para a invasão da Macedônia, em 360 a.C., sob o comando do rei Felipe II.

A EXPANSÃO MACEDÔNICA
            Os macedônios viviam ao norte da Grécia e eram considerados bárbaros pelos gregos, muito embora tivessem origem semelhante. Sob o comando de Felipe II, conquistaram as cidades gregas no período de 360 a 338 a. C., tirando proveito das divisões entre elas.
            Para impor seu poder, os macedônios mesclavam diplomacia e feitos militares. Em 338  a. C., Felipe II venceu um exército ateniense e completou a conquista de toda a península, sendo nomeado generalíssimo da Grécia na resistência contra os persas.

       De volta à Macedônia, Felipe II foi assassinado, provavelmente em virtude de uma intriga palaciana e as cidades se revoltaram, tentando recuperar sua independência. Alexandre, filho de Felipe, assumiu o trono com a frase "nada mudou a não ser o nome do rei". O novo rei seria conhecido posteriormente como Alexandre Magno, (expressão latina derivada do termo grego Megás Alexandros, que quer dizer: Alexandre, o Grande).
Alexandre venceu os exércitos de Tebas e arrasou a cidade como um exemplo a todos os revoltosos. Retomou toda a península e formou um exército pangrego que invadiu o Império Persa em 338 a.C., batendo os exércitos do imperador Dario III nas margens do Rio Grânico. Na Batalha de Issos, ele venceu novamente os persas e se apossou da família e dos tesouros do imperador persa.    Alexandre conquistou também a Fenícia e o Egito, onde fundou a cidade de Alexandria (332 a.C.). Venceu definitivamente as últimas forças dos persas na Síria e tomou suas capitais. O assassinato de Dario III por um sátrapa (administrador auxiliar dos imperadores persas) provocou o desmoronamento de qualquer possibilidade de resistência do império e sua total conquista pelos macedônios. Estes levaram suas fronteiras até o Rio Indo (atual território da Índia), onde venceram o exército do Rei Poro. Alexandre foi responsável pela difusão da cultura grega ao longo de seus domínios, fundando várias cidades com o nome de Alexandria, mas ao mesmo tempo, permitia a manutenção dos costumes locais, buscando uma maior integração entre a cultura grega e as culturas orientais, surgindo desse processo a chamada cultura helenística.
De volta à Babilônia, Alexandre Magno morreu em 323 a. C., aos 33 anos, vítima de uma doença que causava fortíssima febre, sem deixar herdeiros diretos.

O Império de Alexandre e sua fragmentação


Em virtude dessa situação complexa, pois Alexandre havia se casado com uma princesa da Ásia central e esta lhe dera um filho, no entanto, a ausência indicação formal do sucessor enquanto vivo, possibilitou o afastamento de Roxana e seu filho, favorecendo os interesses dos generais de Alexandre Magno, que se consideravam seus sucessores e assim dividiram o império entre si:

·        Ptolomeu ficou com o Egito;
·        Cassandro ficou com a Macedônia;
·        Lisímaco, com a Trácia;
·        Antígono, com a Ásia Ocidental;
·        Seleuco, com a Babilônia.  
           

CULTURA E SOCIEDADE
           
            A principal contribuição dos gregos à humanidade foi, com certeza, a sua cultura, considerada como berço de toda a cultura ocidental. No século de Péricles (V a.C.), viveram os maiores artistas, escritores e filósofos de toda a Grécia.
            Na arquitetura, os templos de linhas retas sustentados por colunas buscavam a harmonia das proporções e o equilíbrio do volume. A escultura tratava principalmente da figura humana, destacando a beleza fisionômica, a musculatura e a flexibilidade e tendo seus maiores expoentes em Fídias e Praxíteles.
Da pintura grega, restaram poucos exemplares, presentes em ruínas de palácios ou citadas em textos da Antiguidade que foram recopiados e lidos por outros artistas posteriormente. São muito conhecidos até hoje os trabalhos realizados em cerâmicas e que retratavam cenas mitológicas e de costumes.
Na literatura, os gregos desenvolveram a poesia épica, tendo seu expoente máximo em Homero, poeta cego cuja existência é questionável, mas lhe atribuem a autoria da Ilíada e Odisséia, respectivamente relacionadas com a Guerra de Tróia e as aventuras de Odisseus (Ulisses). Na poesia lírica, destacam-se Píndaro, Alceu e a poetisa Safo.

Estátua da deusa Vênus - British Museum
Crédito: Elias Feitosa 


O teatro grego nasceu nas festas em homenagem ao deus Dionísio, onde os participantes fantasiavam-se de bodes ou ainda se realizava o sacrifício de um bode em honra a Dionísio. É aqui que encontramos a origem do nome tragédia (tragos = bode e oide = canto). Os principais autores dramáticos foram Ésquilo, Eurípedes e Sófocles. Este último, é autor dos clássicos como Édipo Rei, Antígona e Electra. Na comédia, destacaram-se Cratino, Crates e Aristófanes.
Um dos pontos altos da cultura grega foi a filosofia. Seus primeiros expoentes eram naturais de Mileto e sua maior preocupação era com a natureza física do mundo. Por volta do século V a.C., os sofistas Protágoras e Górgias reduziram todas as realidades do mundo à materialização das ideias e reduziram as ideias às palavras.
Contra os sofistas, surgiu aquele que é considerado o maior filósofo da Grécia Clássica: Sócrates. Filho de um fabricante de estátuas e de uma parteira, ele dedicou-se à filosofia e desenvolveu uma nova técnica, a qual denominou de maiêutica. Com ela, pretendia chegar às verdades filosóficas através de perguntas e respostas com os mais variados interlocutores. Sócrates pregava as virtudes com palavras e atos, condenava os vícios e destacou-se como soldado lutando por sua cidade. Devido a essas atitudes, despertou a ira de diversos cidadãos influentes que o acusaram de não honrar os deuses, de tentar criar divindades novas e de corromper a juventude. Sua defesa foi somente mais um exercício de maiêutica com aqueles que deveriam julgá-lo. Foi condenado à morte por envenenamento.
Boa parte da filosofia socrática chegou até nossos dias através dos Diálogos escritos por seu discípulo Platão, que, por sua vez, defendia que o mundo sensível nada mais era do que um conjunto de falsas aparências, e que o mundo das ideias é o único real.
Aristóteles, discípulo de Platão, discordava de seu mestre e afirmava que as ideias não existem fora do mundo sensível. Propunha que um elemento geral seria a origem de todas as coisas e que o objetivo da ciência seria encontrar esse elemento.
Na história, destacou-se Heródoto, que viajou pelo Egito, Império Persa e Península Itálica. Foi Heródoto que disse ser o Egito uma “dádiva do Nilo” e que descreveu as Guerras Médicas. Tucídides escreveu sobre as Guerras do Peloponeso e Xenofonte sobre várias outras guerras dos gregos.

De maneira geral, os gregos eram misóginos, isto é, apresentando um profundo desprezo pelas mulheres, vistas apenas como instrumento de reprodução e divertimento. No que se refere à educação, já vimos que em Esparta era controlada pelo Estado e dirigida para o militarismo. Já em Atenas, a lei exigia que os pais educassem seus filhos, que, normalmente, eram inseridos em escolas particulares. Aprendia-se a ler, escrever, cantar, declamar e tocar instrumentos, como lira e flauta. Apesar de uma carga educacional voltada para o intelecto, os atenienses não se descuidavam do preparo físico e militar.

domingo, 10 de abril de 2016

A Antiguidade oriental

O EGITO ANTIGO

O território do Egito está situado na região nordeste do norte da África, sendo uma área estratégica para o acesso da Ásia ou mesmo da Europa. Nas palavras do historiador grego Heródoto (séc. V a.C.), "o Egito é uma dádiva do Nilo", pois, ao longo da porção norte de suas margens, desenvolveu-se uma sofisticada civilização por mais de 4.000 anos, que aproveitou as constantes cheias do rio para o desenvolvimento da agricultura, seja pela fertilização das margens realizada pelas cheias, seja pelos canais de irrigação para as regiões mais secas .
Inicialmente, formaram-se núcleos de povoamento às margens do Rio Nilo, que se transformaram em duas unidades maiores, os reinos do Alto Egito e Baixo Egito, e  foram unificados em 3200 a.C. por Menés, estabelecendo a capital em Tinis.

A sociedade egípcia - Os egípcios tinham uma sociedade fortemente hierarquizada e de difícil mobilidade. No topo desta estrutura, encontrava-se o soberano, conhecido como faraó, indivíduo que controlava toda a hierarquia e era visto como um deus vivo. Relacionados diretamente com o faraó estava a nobreza, ou seja, seus parentes mais próximos (rainha, outras esposas e filhos), os sacerdotes (responsáveis pela relação entre os homens e os deuses), os altos funcionários e generais. A população restante constituía-se de agricultores, pastores artesãos e escravos (prisioneiros de guerra).

Economia - A economia egípcia tinha por base a agricultura, que estava diretamente relacionada com as cheias do Nilo, que eram responsáveis pela fertilização do solo das margens em virtude da cobertura de lodo remanescente quando as águas voltavam ao seu limite natural.
A posse das terras era do Estado e atribuída ao faraó, que ordenava a realização de diferentes formas de trabalho: as atividades agrícolas, as obras dos canais de irrigação e a construção de palácios, templos e tumbas.
Entre os principais produtos da agricultura, destacavam-se o trigo, a cevada, o papiro, as frutas e as leguminosas. Além da agricultura, o pastoreio tinha um papel importante, com a criação de bovinos, caprinos e ovinos. Quanto às atividades comerciais, os egípcios comercializavam com diversos povos, comprando madeira, marfim, perfumes e pedras preciosas e vendendo papiro, óleos vegetais, grãos e vinho. O artesanato egípcio era muito sofisticado nas mais diferentes áreas, como escultura, mobiliário, pintura e ourivesaria.

A política - A trajetória política do Egito Antigo é dividida em três períodos principais: Antigo Império, Médio Império e Novo Império. Durante o primeiro, ocorreu a unificação dos dois reinos (Alto e Baixo) por Menés (também chamado de Narmer) em 3200 a.C.. Outro acontecimento importante foi a construção das pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, entre 2700 e 2600 a.C.. O final do período foi marcado pelo fortalecimento da nobreza em detrimento do faraó.
No Médio Império, o poder voltou a ser centralizado pelos faraós e ocorreu a expansão para a Palestina e a Núbia. Foi por volta de 1800 e 1700 a.C. que os hebreus chegaram ao Egito e, na mesma época, ocorreu a invasão dos hicsos, povo das regiões planálticas da Ásia que introduziu o uso do carro de guerra.
A expulsão dos hicsos assinalou o início do Novo Império, um período marcado por grandes faraós, como Tutmés III, que ampliou o império conquistando a Síria e alcançando o Rio Eufrates. Talvez um dos mais importantes acontecimentos deste período tenha ocorrido durante o reinado do faraó Amenófis IV, que suprimiu o politeísmo e o culto ao deus Amon-Rá, impondo a crença no deus único Aton (cujo nome foi alterado para Akhenaton). Seu sucessor, Tutankhamon, restaurou o politeísmo, bem como o prestígio dos sacerdotes, os quais foram responsáveis por uma forte influência no governo daquele que ficou conhecido como “faraó menino”, pois reinou dos 10 aos 18 ou 19 anos aproximadamente.
No final do Novo Império, o Egito sofreu várias invasões, como a dos assírios no século VII a.C. e a dos persas no século VI a.C.. A decadência se ampliou, culminando com a dominação de Alexandre Magno (século IV a.C.) e dos romanos no século I a.C .

Cabeça do faraó esculpida em granito. British Museum, Londres.
Crédito: Elias Feitosa


Cultura e religião - Os egípcios eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses, os quais se relacionavam com elementos da natureza: Rá, o Sol, senhor dos deuses; Hórus, o Falcão relacionado com o céu e também com o sol; Anúbis, o Chacal, protetor dos embalsamadores; Osíris, deus da ressurreição humana; Ísis, a deusa mãe de todas as coisas; Hator, deusa da alegria. Também eram cultuados alguns animais como Khnum, o carneiro; Sobec, o crocodilo; Basteth, a gata. Alguns deuses eram antropozoomórficos, ou seja, formados por uma parte humana e outra parte animal. Anúbis, por exemplo, tinha a cabeça de um chacal e o corpo de um homem.
Dentro da religião egípcia, acreditava-se na vida após a morte, sendo prioritária a conservação do corpo do morto através da mumificação, pois o espírito retornaria para reconhecer sua antiga morada e levar todos os pertences deixados no túmulo para a outra vida, no além. (Veja o box abaixo)
A sofisticação da cultura egípcia é verificada pelas construções arquitetônicas remanescentes, repleta de esculturas e pinturas, que são uma das principais fontes de estudo sobre esta civilização. Os egípcios tinham notáveis conhecimentos em matemática, astronomia e medicina.
Sua escrita, os hieróglifos, representa um complexo conjunto de sinais que significavam sons e, juntos, constituíam as palavras. A escrita, no entanto, era diretamente controlada pelo Estado, sendo os escribas "os olhos e ouvidos do faraó", pois apenas este seleto grupo de funcionários detinha tal conhecimento - em virtude de seu caráter sagrado. Os escribas estavam presentes nos templos, palácios e túmulos. Além dos hieróglifos, existiam outros dois tipos de escrita mais simplificados: o hierático e o demótico (mais popular).



Relevo assírio exibindo a travessia de um rio com cavalos e carruagens.
British Museum, Londres - Crédito: Elias Feitosa


MESOPOTÂMIA

Região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, cuja ocupação se iniciou no fim do período Paleolítico. Já no Neolítico, apresentava vários pequenos núcleos de povoamento, com a fundação de cidades, como Ur, por volta de 4000 a.C. Nesta região, desenvolveram-se vários povos -  babilônios, assírios e persas- que se aproveitaram da água dos rios para o plantio e a irrigação das regiões mais áridas. A organização política inicial destes povos se deu sob a forma de cidades-estado, administradas pelos sacerdotes em virtude da crença de que as terras pertenciam ao deus da cidade. Na Mesopotâmia, houve o desenvolvimento da escrita cuneiforme (aplicação de cunhas de madeira sobre tábuas de argila fresca) para registrar a produção agrícola dos camponeses, também servindo para o registro das leis, como o Código de Hamurabi, além de narrar a vida dos reis e outros eventos ligados à administração e religião.

Estandarte de Ur - 2600-2400 a.C. British Museum, Londres - Crédito: Elias Feitosa

Economia - De um modo geral, os povos mesopotâmicos desenvolveram a agricultura junto aos rios Tigre e Eufrates, utilizando, também, canais de irrigação para as regiões mais secas. O pastoreio de ovinos, bovinos e caprinos tinha grande importância. Quanto ao comércio, este se vinculava à extração de minérios (cobre, estanho, ferro, ouro), pedras preciosas, tijolos, mobiliário e ourivesaria, além de negociar o excedente de sua produção com regiões menos férteis e também terem o interesse pelo comércio de rebanhos de cavalos e camelos.

Cultura e religião - Os povos da Mesopotâmia eram politeístas, com a divinização de vários elementos da natureza, e tinham alguns deuses em comum (Shamash, deus do sol e da justiça; Ea, das águas; Anu, do céu; Ishtar, deusa do amor e da guerra). Havia também os deuses específicos de cada localidade: Marduck, dos babilônios; Assur, dos assírios. Todos estes povos tinham grande conhecimento em astrologia, matemática e arquitetura (construíram vários observatórios astronômicos, denominados zigurates, cuja precisão permitiu o acompanhamento de vários fenômenos naturais, tais como a passagem de cometas, eclipses e também a marcação dos ciclos lunares e solar).
Na área da literatura, destacam-se a existência de diversas bibliotecas, cujos textos se encontravam gravados em tábuas de argila com a escrita cuneiforme. Uma das obras mais importantes é a Epopeia de Gilgamesh, um herói que luta contra várias divindades em busca da imortalidade.

IMPÉRIO BABILÔNICO 

A cidade da Babilônia teve sua origem após a decadência do Império Acádio, que foi a primeira tentativa de unificação da Mesopotâmia sob a liderança do rei Sargão I, estabelecendo sua capital em Akkad. No Império Acádio, o poder estava centralizado na figura do rei, tornando-o divinizado. O sucesso de Sargão I estava relacionado com sua postura de não destruir a cultura dos povos dominados e pela utilização do arco e flecha no exército. No entanto, após a morte de Sargão, os povos dominados iniciaram várias revoltas. De 2050 a 1950 a.C., surgiu uma nova dinastia na cidade de Ur, reunificando a Mesopotâmia.
A partir de 1900 a.C., vários estados iniciaram uma intensa luta entre si, culminando no rei Hamurabi (1792-1750 a.C.), que foi responsável por um rígido código de leis (o Código de Hamurabi) baseado na pena do talião: "olho por olho, dente por dente". Os sucessores de Hamurabi enfrentaram a invasão de vários povos asiáticos, como a dos hititas em 1137 a.C. A Babilônia só recuperou a independência com Nabucodonossor, mas, logo após sua morte, o império foi invadido pelos assírios.

Detalhe do Código de Hamurabi - Museu do Louvre, Paris.
Créditos: Elias Feitosa


Código de Hamurabi 

Se um homem negligenciar a fortificação de seu dique, se ocorrer uma brecha e a seara inundar-se, o homem será condenado a restituir o trigo destruído por sua falta. Se não puder restituí-lo, será vendido, assim como seus bens, e as pessoas da área inundada repartirão entre si o produto da venda.
Se um homem der a um jardineiro um campo para ser transformado em pomar, se o jardineiro plantar o pomar e dele cuidar durante quatro anos, no quinto ano o pomar será repartido igualmente entre o proprietário e o jardineiro; o proprietário poderá escolher sua parte.
Se um homem alugar um boi ou um asno, e se nos campos o leão matar o gado, é o proprietário do gado que sofrerá a perda.
Se um homem bater em seu pai, terá as mãos cortadas. Se um homem furar o olho de um homem livre, ser-lhe-á furado o olho.
Se um médico tratar a ferida grave de um homem com punção de bronze e ele morrer, o médico terá suas mãos decepadas.
Se um arquiteto construir uma casa para outro e não a fizer bastante sólida, caso ela desabe e mate o dono, o arquiteto é condenado à morte. Se for o filho do dono da casa quem morrer, será morto o filho do arquiteto.

ISAAC, J.; Alba, A. Oriente e Grécia. São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.77.


O IMPÉRIO ASSÍRIO

A decadência do Império Babilônico favoreceu a penetração dos assírios (povo de origem semita, cuja principal atividade era o pastoreio), que fundaram um pequeno Estado com capital em Assur. Notórios por sua belicosidade (gosto pela guerra), os assírios gradativamente construíram um poderoso império, principalmente nos reinados de Sargão II (722-705 a.C.), responsável pela conquista da Síria e a destruição de Samaria, capital do reino de Israel, e de Senaquerib (705-681 a.C.), que superou seu pai, atacando a Ásia Menor (portos gregos, fenícios e destruição da Babilônia).
Os assírios tinham uma estrutura de poder centralizada nas mãos do rei, que era divinizado, sendo visto como o próprio deus Assur. A manutenção do império se dava pelo pagamento de pesados tributos (principalmente para o contentamento do exército) e também pela intensa violência aplicada sobre os povos  subjugados. A expansão prosseguiu no reinado de Assurbanipal (668-626 a.C.), com a invasão do Egito, de Elam e de Susa (capital da Média). Entretanto, o Império Assírio era mantido em constante pressão pelos povos vizinhos e, com a gradativa recusa dos povos dominados a pagarem tributos, a crise tomou conta do império, que teve seu exército desarticulado
e acabou ruindo.


SEGUNDO IMPÉRIO BABILÔNICO

A desarticulação do Império Assírio favoreceu um dos povos que lhes era submetido, os caldeus, que, através de uma aliança com os medos, implantaram uma nova dinastia sob a liderança de Nabopassalar. A partir de 605 a.C., sob o reinado de Nabucodonossor II, a Babilônia recuperou seu poderio, pois iniciou a expansão pelo Elam, Palestina, Síria e a região oeste da Mesopotâmia. Foi durante o reinado de Nabucodonosor II que ocorreu a deportação dos hebreus para a Babilônia como escravos, o chamado “Cativeiro da Babilônia”. Este rei ficou conhecido por mandar construir a Torre de Babel e os Jardins Suspensos da Babilônia, porém não conseguiu fazer um sucessor que continuasse a grandiosidade de seu reinado, e, por volta de 539 a.C., o Império Babilônico foi tomado pelos persas.





O IMPÉRIO PERSA

Localizada entre o Golfo Pérsico e o Mar Cáspio, a Pérsia ocupava uma região de planaltos áridos, que fora povoada desde 2000 a.C. por dois povos: os medos e os persas. Inicialmente, os medos conquistaram os persas sob a liderança de Ciaxares (625 -585 a.C.). Após sua morte, o império se enfraqueceu e acabou sendo conquistado por Ciro, descendente dos Aquemênidas (primeira dinastia persa) em 559 a.C. Ciro expandiu seu território para a Lídia e destruiu a Babilônia, libertando os hebreus e permitindo seu retorno a Jerusalém. Cambises, filho de Ciro, sucedeu-lhe em 529 a.C. e continuou a ampliar as conquistas do pai, dominando o Egito em 525 a.C.
Cambises foi sucedido por um parente distante, Dario, que, com o apoio da nobreza, instaurou-se no poder. Sua principal ação foi a divisão do vasto império em satrapias (províncias), que eram administradas por sátrapas (governadores), que detinham poder total sobre suas regiões, mas deviam obediência ao rei, sendo constantemente fiscalizados. Outras importantes realizações de Dario foram a elaboração de um sistema de estradas que interligavam as diferentes regiões do reino, a utilização de uma moeda única e de um eficiente sistema de cobrança de impostos.
A adoção das satrapias, da moeda única e de um sistema eficiente de transporte e fiscalização facilitou o processo de centralização do reino, proporcionado condições para a expansão ainda maior dos territórios. Foi sob estas condições que ocorreu a disputa pelo controle dos estreitos que ligam o Mediterrâneo e o Mar Negro, região intensamente colonizada pelos gregos e de grande circulação de navios e mercadorias.
O choque de interesses (gregos e persas) levou às Guerras Médicas entre 490 e 468 a.C., conflito que fez que todas as cidades-estado gregas se unissem contra o inimigo comum. Dario tentou invadir a Grécia em 490 a.C. e foi derrotado na Batalha de Maratona. Após sua morte, seu filho Xerxes, prosseguiu a guerra, sendo finalmente derrotado nas batalhas de Salamina e Plateia, em 480 e 479 a.C., respectivamente. A derrota final se deu na Batalha de Eurimedonte em 468 a.C., porém a paz definitiva foi assinada apenas em 448 a.C., com o Tratado de Susa ou Paz de Kálias, no qual a Pérsia reconhecia a hegemonia grega sobre o Egeu e comprometia-se a não atacar as colônias gregas da Ásia.
Com a morte de Dario III e o consequente enfraquecimento do império, Alexandre Magno dominou todo império persa.

Religião - Quanto à religião, os persas eram inicialmente politeístas, com deuses relacionados com a natureza. Mas, a partir da influência de Zoroastro (ou Zaratustra), houve a divisão dos deuses: Aura-Mazda, o deus do bem, que se opunha a Ahriman, deus do mal. Dessa forma, a oposição entre o bem e o mal compunha a essência desta religião, cujo livro sagrado chamava-se Avesta ou Zend-Avesta.


A FENÍCIA

Ocupando a região litorânea do Mar Mediterrâneo, limitada pela Península do Sinai ao sul e por montanhas a leste e norte, os fenícios, povo de origem semita, se estabeleceram nesta estreita faixa de terra e dedicaram-se ao comércio, pois não havia planícies suficientes para o desenvolvimento da agricultura em larga escala, como nos vales do Nilo, Tigre ou Eufrates.
A organização política adotada foi a de cidades-estado, tendo destaque, Tiro, Biblos e Sídon. A Fenícia, porém, dispunha de uma pequena parcela de seu território onde era possível desenvolver a pequena agricultura, mas o eixo econômico concentrava-se mesmo no comércio marítimo em virtude das grandes florestas que ali existiram. O comércio de madeira, artesanato, ourivesaria, vidro e outros artigos por eles transportados lhes garantiram a estabilidade econômica para que fundassem várias colônias na bacia do Mediterrâneo, como Cartago (norte da África) e Gades (Cádis, na Espanha atual).
Uma das principais contribuições dos fenícios em termos culturais foi o desenvolvimento de um sistema de escrita mais simples e prático, adotado pelos gregos para a composição de seu alfabeto. Quanto à religião, eram politeístas, com deuses relacionados com a natureza, sendo os principais Baal, o deus das alturas, tempestades e raios; Ayan, das águas subterrâneas, e Anat, da guerra.

Mapa da divisão das Doze Tribos de Israel



PALESTINA

Situada numa pequena faixa litorânea entre o Mediterrâneo e o Jordão, a Palestina era uma região árida, que dependia da água do Rio Jordão para irrigação. O solo pouco fértil e o clima seco dificultavam a prosperidade na região. No entanto, a Palestina era uma área estratégica, pois interligava o norte da África e a Mesopotâmia, formando a chamada "Crescente Fértil".
A história do povo hebreu está contida no Torá (texto incorporado à Bíblia, sendo pelos cristãos denominado Antigo Testamento), que traça a trajetória do homem desde sua criação e o povoamento da Terra até a formação de um Estado.  Segundo a tradição bíblica, Abraão recebera inspiração divina para levar seu povo para a Terra Prometida. Entre 1700 e 1500 a.C., houve não só a adaptação dos hebreus na região, como também a ocupação do local por outras populações. Nesse período, coube a Jacó a liderança e a organização do povo hebreu.
Jacó levou uma parte dos hebreus para o Egito, pois a região apresentava melhores condições que a Palestina e, durante muito tempo, continuaram a trabalhar para o faraó, não como escravos, pois preservaram suas famílias e costumes.
Os hebreus ficaram no Egito durante o período da invasão dos hicsos. Quando estes foram expulsos, deu-se o retorno para a Palestina, sob a liderança de Moisés, ou seja, o Êxodo por volta de 1270- 1220 a.C.

Organização política - Os hebreus tinham uma estrutura social baseada em clãs sob a chefia de um patriarca, responsável pelos destinos do povo. Após a morte de Moisés, Josué liderou os hebreus (as "Doze Tribos de Israel") na conquista de parte da Palestina, mas, nesta época, eles ainda sofriam pressões de outros povos, como os fariseus. Foi neste contexto que alguns líderes hebreus se destacaram: Samuel e Sansão, sendo conhecidos como Juízes.
Desde o período de Moisés, os hebreus estavam saindo do politeísmo e tornando-se monoteístas. Mas foi sob a liderança de Samuel que se concretizaram o monoteísmo e a centralização de poder. Em 1010 a.C., teve início o reinado de Saul, primeiro rei de Israel.
Durante os reinados de Davi (1006-966 a.C.) e de seu filho Salomão (966-926 a.C.), o reino de Israel conheceu o melhor período de prosperidade e expansão. Com a morte de Salomão, o reino se fragmentou: ao norte, manteve-se, com a união de dez tribos, o reino de Israel, e, ao sul, com a união de duas tribos, o reino de Judá. A fragmentação favoreceu a dominação pelos povos vizinhos, principalmente assírios e babilônios, os quais deportam os hebreus para a Babilônia, iniciando o "Cativeiro da Babilônia", que terminou com a derrota dos babilônios pelos persas, responsáveis pela libertação dos hebreus.
Sucessivamente, a partir deste período, os hebreus passaram a ser conhecidos genericamente como “judeus” e foram dominados por vários povos. No ano de 63 a.C., os romanos conquistaram a Palestina, que foi incorporada como uma província. Em 70, eclodiu a revolta de Massada, um levante dos judeus contra os romanos, que teve os segundos como vitoriosos.
Sob as ordens de Tito, filho do imperador Vespasiano, os romanos destruíram o templo de Jerusalém e expulsaram os judeus da região, originando a dispersão deste povo pelo mundo, conhecida como “Diáspora”.

Religião - Nos primórdios da história dos hebreus, existiu o politeísmo, em que se destacava o deus Yahweh ou Yeowah (Javé ou Jeová), que, gradativamente, foi sendo o deus mais cultuado, principalmente em virtude das pregações dos profetas que anunciavam os desígnios deste deus. A história hebraica é narrada dentro de seu próprio livro sagrado, que configura as passagens da Criação, do recebimento dos Dez Mandamentos (o Decálogo), o Êxodo, os livros das leis e dos provérbios, as profecias.
Em seus primórdios, os hebreus eram politeístas, mas, a partir da liderança de Abraão, teriam sido escolhidos pelo deus Iahweh ou Ieowah (Javé ou Jeová), que foi gradativamente se tornando o mais cultuado, sobretudo porque as pregações dos profetas anunciavam seus desígnios. Para simbolizar a aliança com Iahweh, Abraão fez a circuncisão em si próprio e depois em seu filho Isaac, estabelecendo o costume de que todo menino hebreu, ao completar o oitavo dia de nascimento, deveria passar pelo ritual que consiste no corte de uma pequena parte da pele do prepúcio, que recobre a extremidade do pênis.
As dominações se sucederam ao longo de dezenove séculos (romanos, árabes, turcos e ingleses), até a constituição do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, quando o líder judeu David Ben-Guiron leu a Declaração de Independência que encerrava a dominação britânica que durou 30 anos. A criação do Estado de Israel provocou imediatamente o descontentamento dos povos árabes, dentre eles, os palestinos, que repudiaram o ato e iniciaram um intenso enfrentamento que perdura até hoje. O que, para o povo judeu, foi um momento de alegria, para os palestinos, ficou conhecido como “a catástrofe”, episódio anualmente lembrado pelos milhares de refugiados em diferentes países com várias manifestações públicas.