Desenho feito no piso do acesso ao Restaurante Universitário da Unicamp em Campinas.
Crédito: Elias Feitosa
Fala
dura e direta, sem eufemismos. No momento vivenciado pelo Brasil, torna-se
imprescindível a tomada de posição, uma vez que o arremedo de Estado de
Bem-Estar Social que estávamos ainda esboçando começou a ser desmontado por um
governo ilegítimo, autoritário e totalmente descomprometido com a soberania
nacional.
Para
os não-iniciados na pedagogia freiriana pode parecer estranho uma proposição
binária como esta sentença. No entanto, para quem vivenciou a Ditadura Militar
no Brasil, o contexto da Guerra Fria e sonhou com um país mais justo e menos
desigual, há de se perceber a natureza desta problemática, porque a fala de
Paulo Freire (1921-97) deve ser lida a partir da dialética.
No
entanto, existem várias nuances ao se conceber uma análise e quando se pensa a
história da educação no Brasil, Freire não está nem um pouco enganado: ensino
destinado aos bem-nascidos, ao passo que os demais, se às vezes alfabetizados,
tinham que se contentar com o trabalho e dar-se por felizes. Apesar da boa
vontade de alguns professores (religiosos e/ou leigos), a educação não era
vista como um “direito”, mas sim como um privilégio, tal qual fora na Europa
durante séculos.
Exclusão
de indígenas, de negros, de mestiços, de mulheres, de pobres, de trabalhadores.
Parei a frase aqui, porque a lista é imensa! Por outro lado, valorizou-se uma
certa hierarquia, um ranço torpe que desde os tempos do Império permitiu-se
chamar qualquer graduado de “doutor”, que era sinônimo de boa origem e
condição. Ainda hoje, quando um sujeito chega com trajes finos, em carro novo,
de luxo ou nem tanto, com joias ou acessórios de marca, será “doutor”, sem
mesmo nunca ter defendido uma tese.
Desse
modo, nas palavras de um grande professor que tive na Universidade de São
Paulo, o Dr. István Jancsó (1938-2010), “trata-se da reiteração ampliada de uma
lógica excludente que propicia a manutenção das tensões da tessitura social
para o longo dos séculos. No Brasil, manda quem pode e obedece quem tem juízo!”
Afinal,
se o oprimido não se libertar da opressão, corre o risco de naturalizá-la e
reproduzi-la. Ou ainda, desprovido de senso crítico, vai achar que projetos
como "Escola Sem Partido" estão corretos: o indivíduo não deve
criticar ou questionar e sim obedecer ou ainda acreditar que existe "100%
de imparcialidade" e mais uma vez aceitar que estudar, ter uma formação e
profissão “não é para si”, restando-lhe trabalhar e servir.
Sempre
fazemos escolhas e no caso, quando se prega a "neutralidade" da
educação, está em si, já é uma escolha. Nas palavras do arcebispo anglicano
Desmond Tutu, um dos baluartes da luta contra o apartheid na África do Sul,
“quando nos calamos perante a opressão, nos colocamos ao lado do opressor”.
Doutrinação
nenhuma deve acontecer, seja à esquerda ou à direita, a escola deve ser livre,
sobretudo dotada de crítica e de reflexão, do contrário , vira depósito de
gente ou moedor de carne.
Vivemos
tempos muito complexos. O mundo mudou? Bem, o mundo muda sempre. E o que dizer
aos estudantes?
Minha insignificante contribuição é pensar que
num país tão desigual como o Brasil, quando um jovem de origem humilde e
precárias condições resolve estudar, em si ele já está cometendo um ato de
rebeldia. Portanto, não há outro caminho se não o desta rebelião: deixar de
lado o “coitadismo” reincidente e se apoderar dos instrumentos de saber, da
formação e da erudição, determinando uma ruptura do stablishment oligárquico que mais uma vez, quer arrastar a Nação
para as trevas, para a dependência estrangeira e disso, lucrar enormemente com
as migalhas servidas pelos verdadeiros controladores do capital global,
enquanto o caminho do fortalecimento da soberania nacional é deixado para trás,
sem o menor pudor em detrimento de milhões de brasileiros.
Sugestão do Gabinete:
Another Brink in the wall - Pink Floyd -1979
Para saber da importância de Paulo Freire, segundo a UNESCO: