Cronologia do processo de luta pela igualdade quanto aos direitos civis nos EUA:
Governo Dwight Eisenhower
(1953-1961) - Partido Republicano
1955- Protesto de Rosa Parks
contra a segregação racial no transporte coletivo em Montgomery (Capital do
Alabama)
1957 - 09 Estudantes negros
desobedeceram a imposição da segregação para estudar no Ginásio Central de
Little Rock (capital do Arkansas); Eisenhower envia tropas federais para das
garantias aos estudantes. A escola foi fechada após o final do ano letivo.
Governo John Kennedy (1961-1963) -
Partido Democrata
1961 - Protesto de Grensboro
(Carolina do Norte): concentração conjunta de jovens negros e brancos em
lugares públicos, pedindo o fim da segregação.
1962 - Episódio James
Meredith - A justiça federal autorizou James Meredith a estudar na Universidade
do Mississipi, enfrentando a resistência do governador do estado e de
populares. JFK foi obrigado a enviar tropas federais para garantir o acesso de
Meredith, bem como a pacificação local.
1963- Marcha de Washington
(agosto de 1963) liderada por Martin Luther King.
1963- Atentado à bomba na
igreja Batista de Birmigham (Alabama): ponto de encontro de Martin Luther King
entre outros ativistas. Ação da Ku Klux Klan em 15 de outubro de 1963: matou 4
adolescentes e feriu 20 pessoas.
Governo Lyndon Johnson (1963-1969)
- Partido Democrata
1964 - Assassinato de 3
jovens defensores dos direitos civis pela Ku Klux Klan, fato que inspirou o filme
“Mississipi em chamas”.
02 de julho de 1964 - Johnson
sanciona a Lei dos direitos civis
O filme de Ava DuVernay tem como ponto de partida o momento em que Martin Luther King se preparava para receber
o Nobel da Paz em 1964. Seu discurso de agradecimento faz menção às mortes dos negros em diferentes contextos, como foi o caso do atentado na Igreja Batista de Birmigham (Alabama).
No mesmo estado do Alabama, ilustra-se o abuso de poder no cartório de
registro eleitoral, que como em outros estados segregacionistas, usavam da intimidação e abuso de autoridade para excluir os negros do processo eleitoral.
Lyndon Johnson recebeu Martin Luther King
para discutir a questão do efetivo direito ao voto, mas Johnson diz que está interessado
em erradicar a pobreza no sul. Nesse caso, a realidade e a política se desencontram e como resultado, King se articulou junto ao movimento negro para a organização de uma
marcha pacífica, partindo de Selma a Montgomery, a capital do Alabama, um percurso de aproximadamente 80km.
Aos olhos do FBI, que o vigiava muito de perto, Edgar Hoover (Diretor do FBI)avalia King como um
radical que deve estar em vigilância estrita, sugerindo inclusive a possibilidade de assassiná-lo para o presidente Lyndon Johson, que não concordada com tal possibilidade e daí, passaram a atuar na desestabilização da
família de King para enfraquecê-lo.
O filme cria um eixo narrativo na figura e atuação de King, liderando o movimento negro, onde aparecem outras lideranças, como o Movimento pelo Direito ao Voto de Selma foi empreendido por
afro-americanos locais que formaram a Liga de Eleitores do Condado de
Dallas (DCVL, Dallas County Voters League, em inglês). Em 1963, a DCVL e
organizadores de marchas do Comitê Não-Violento de Coordenação
Estudantil (SNCC, de Student Nonviolent Coordinating Committee).
A repressão à concentração
junto ao Tribunal de Selma foi um termômetro para a escalada da violência: por mais pacíficos e corretos que estivessem os cidadãos negros, o tratamento dado pelas autoridades sulistas foi brutal: espancamentos e prisões, como de King, James Bevel, Annie Lee, entre outros líderes.
Logo após a liberação de King e as demais lideranças, foi reprimida violentamente uma Marcha
noturna em Selma por ordem do governador do Alabama, George Wallace, implicando em inúmeros feridos e na morte de um jovem Jimmie Lee Jackson.
A pressão sobre Lyndon Johnson para
alterar a legislação e favorecer o direito civil dos negros vai crescendo, enquanto King recebia ameaças de morte
e chantagem como ações articuladas pelo FBI.
Não é citado diretamente no filme, mas em 21 de fevereiro de 1965, ocorreu o assassinato
de Malcom X (Al Hajj Malik Al-Shabazz) que aparece rapidamente num encontro com a esposa de Martin Luther King, Coreta. Malcom que ficara notório sobre suas críticas e divergências abertas às ações de King, entre outros segmentos do movimento negro, sinalizava uma tentativa de aproximação que não se concluiu em virtude de seu assassinato.
Foram três tentativas de realização da marcha:
1ª Marcha : 7 de março de
1965 “ Bloody Sunday” – repressão violenta aos 600 manifestantes: cassetetes e
gás lacrimogêneo. Brancos nas laterais gritavam insultos contra os negros,
exaltando os soldados e o uso da força sobre um movimento pacífico. As cenas de brutalidade, acompanhadas das músicas sulistas, reabriam uma passagem no tempo, remetendo ao passado durante a vigência da escravidão. Destaca-se ali o papel da cobertura praticada pela imprensa, jornais e TVs que conseguiram projetar em escala nacional todo aquele horror.
A comoção foi intensa e King conclamou os homens e mulheres do clero ou não, negros ou não, para se juntarem aquele movimento que tinha uma elevada justificativa moral, conseguindo assim, uma adesão de
diferentes pessoas, além do movimento negro em prol da causa.
Lyndon Johnson tentou
desmobilizar tanto a movimentação de King quanto a repressão do governador Wallace.
2ª Marcha: 9 de março de 1965
– soldados abriram passagem e não usaram a violência. King parou, ajoelhou-se num momento de oração e guiou os manifestantes de volta à
igreja, momentaneamente desistindo da marcha naquele dia. No entanto, dois homens brancos foram atacados por membros da Klan, sendo que o reverendo James Reeb morreu em decorrência dos ferimentos.
Dado que o governador George Wallace não colaborava para levantar os impedimentos para o registro dos cidadãos negros, Lyndon Johnson enviou um
projeto de lei que acaba com os mecanismos ilegais usados para bloquear o
registro dos negros.
3ª Marcha: 16 a 25 de março
de 1965
Sob proteção legal e reforço
de segurança do Governo Federal a Marcha aconteceu.
Após fazer o discurso, King e os manifestantes chegaram à entrada do
capitólio com uma petição para o governador Wallace. Uma barreira de
tropas impediram a entrada. Um dos oficiais anunciou que o governador
não estava ali. Os manifestantes permaneceram irresolutamente à entrada
até que um dos secretários de Wallace apareceu e pegou a petição.
O filme consegue oferecer numa linguagem acessível, sem didatismos ou percursos meramente emotivos, a complexidade de um personagem histórico como Martin Luther King e aqueles que o acompanharam, delineando claramente as tensões para a preservação do status quo sulista, as divergências no interior do movimento negro e a variedade de posições e atuações dentro outros segmentos sociais da política e religião junto à causa da igualdade civil nos EUA, que apesar das lutas ocorridas há mais de 50 anos, ainda não cessaram os problemas relacionados à ideologia racista, ao preconceito e exclusão social.