As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

terça-feira, 25 de outubro de 2011

África: dos ecos da Guerra Fria à "Primavera árabe"


De acordo com as mais recentes pesquisas arqueológicas, a origem do Homem está associada ao continente africano, já que os vestígios mais antigos, datados de 4 -3 milhões de anos foram encontrados no Vale de Afar (Etiópia), dando a toda Humanidade o status de filhos da "Mama África".

Da África, numa escala de milhões de anos ocupamos o planeta e hoje temos uma população estimada oficialmente em mais de 7 bilhões de pessoas, infelizmente um terço deste número vive abaixo da chamada "linha da pobreza" com carência absoluta de inúmeros serviços (educação, saúde, transporte e habitação) além de ser vítima de epidemias e ciclos de fome e uma parcela significativa destas pessoas pessoas está na África. No entanto, cabe a pergunta: o que entendemos por África? Lugar "exótico", por sua fauna, flora e habitantes? Lugar de fome e epidemias? Lugar de guerras infinitas?

Seria interessante e importante não pensarmos numa África, mas sim em "Áfricas" pela multiplicidade étnica, linguística e cultural ali presente e ainda ignorada por muitos.


Desde janeiro, temos acompanhado um turbilhão político que sacudiu o mundo árabe, mas seu epicentro foi a Tunísia, ex-colônia francesa, de população árabe, mas encravada no Magreb (significa poente em árabe) ao norte do continente africano. Foi na Tunísia , pela opressão dos corruptos meios de violência do ditador Ben Ali, que um vendedor indignado com as constantes humilhações que vinha passando, no limite de suas forças, se imolou ao atear fogo em seu corpo como protesto. 

Este ato extremo, dotado de profunda coragem, mas ao mesmo tempo desespero, fez com que a convulsão tomasse conta da sociedade tunisiana e explodisse o movimento que findou 30 anos de uma truculenta ditadura encabeçada por Ben Ali, que na sua concepção se via como inatingível. Dali, a "tempestade social" foi varrendo o norte da África, atingindo o também longevo ditador Hosni Mubarak que governava o Egito desde 1981, quando seu antecessor, Anwar Sadat fora assassinado e a Líbia de Muamar Kadhafi, outro antigo ditador, no poder desde 1969 e que fora deposto por um movimento local, auxiliado pela OTAN e finalmente, depois de meses de perseguição e cerco, foi encontrado e assassinado pelos rebeldes em 20 de outubro de 2011.

A onda de protestos percorreu portanto a África saariana e atingiu o Oriente Médio com protestos em diferentes países, os quais acenaram com modestas reformas ou muita repressão, como foi o caso da Síria, já que o regime de Bashar al Assad, despoticamente no poder há 11 anos, não abre mão do controle político herdado de seu pai Hafez al Assad, que também se impusera no poder como déspota e governou de 1971 a 2000, sendo assim, o saldo de manifestantes mortos está em cerca de 3000, segundo ONG's que acompanham as violações dos direitos humanos.

O complexo contexto que envolve a ascensão e queda destes ditadores tem suas teias diretamente relacionadas com o fim do século XIX, desde a expansão europeia sobre a África num movimento conhecido por neocolonialismo.


A relação entre a Europa e a África é antiquíssima, mas foi Revolução Industrial, que se estendeu pela Europa entre os séculos XVIII e XIX,  provocou um descompasso na produção daquele continente, sobretudo no tocante à necessidade de se obter matérias-primas e novos mercados consumidores. A Inglaterra, primeira nação a realizar a Revolução Industrial, foi também a primeira a sentir esses efeitos, partindo, então, atrás de novos mercados para seus produtos.

            A busca de matérias-primas estratégicas, como ferro, cobre, carvão, bem como de ouro, prata e demais pedras preciosas, fez que regiões como África e Ásia, até certo ponto ignoradas, apesar da expansão marítima dos séculos XV e XVI, se tornassem presas valiosas para as potências europeias. Havia outros fatores que empurravam os europeus para uma prática colonialista: a possibilidade de transferir colonos para as regiões conquistadas, dando uma solução para o problema de superpopulação na Europa.

            A propaganda em favor do imperialismo baseava-se em teorias que, na época, eram tidas como científicas. Tais teorias, desenvolvidas por acadêmicos como o inglês Chamberlain e o francês Conde  de Gobineau, estabeleciam uma hierarquia entre os povos, classificando os europeus como “os mais civilizados”, influenciados pela leitura deturpada e tendenciosa da nascente teoria evolucionista publicada por Charles Darwin em 1859: A Teoria Geral da evolução das espécies. Tal fenômeno ficou conhecido como “darwinismo social” e fez  com que se difundisse a concepção da superioridade da civilização europeia em relação às demais culturas do planeta. O poeta inglês Rudyard Kipling (1865-1935) sintetizou esta concepção de maneira precisa através da expressão: “o fardo do homem branco”:

Aceitai o fardo do homem branco,
Enviai os melhores de vossos filhos,
Condenai vossos filhos ao exílio,
Para que sejam os servidores de seus cativos.

 Portanto, cabia à sociedade europeia, formada por seres humanos “superiores” e “modelo” para o mundo, dominar outros povos e, assim, “contribuir” para o “progresso” da humanidade.
            Para conquistar tão vastos territórios, os europeus usaram a seu favor as rivalidades locais entre os diversos povos, que impediam estes de se unirem e lutarem contra o invasor. Tais rivalidades são, até hoje, um dos principais obstáculos para a reorganização daquelas áreas, mesmo após a independência obtida no século XX.

PARTILHA DA ÁFRICA
           
Em 1885, Otto von Bismarck, primeiro ministro da Alemanha recém-unificada, pretendendo melhorar a posição de seu país, reuniu representantes de todos os interessados na partilha da África em um importante evento que ficou conhecido como Conferência de Berlim. A reunião foi um fracasso para os alemães, pois eles não conseguiram ampliar seus territórios e, como agravante, os países presentes acirraram ainda mais suas posições, prenunciando uma série de guerras por territórios na África e na Ásia. Essa disputa por colônias e as rivalidades resultantes foram fatores que contribuíram para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Mapa da divisão africana pelas potências ocidentais em 1914



A África foi totalmente repartida entre as potências europeias que se envolveram em conflitos pelas posse dos melhores territórios. Na Ásia, foram estabelecidos os protetorados que se submetiam aos países europeus. Por vezes, culturas milenares passaram à "proteção" das potências europeias.

            A Inglaterra construiu um império colonial várias vezes maior que o seu território europeu. Os domínios do reino da Rainha Vitória incluíam (denominações atuais) Egito, Nigéria, Sudão, Uganda, Quênia, Zâmbia, Zimbábue, Malauí, Botsuana e África do Sul.    Na Ásia e na Oceania, os britânicos dominaram a Índia, a Austrália, a Nova Guiné e uma infinidade de pequenas ilhas. A Austrália, que inicialmente era uma colônia penal, transformou-se, pois a presença europeia tornou-se majoritária, isso gerou sérias dificuldades para os habitantes “naturais” do território devido aos choques e conseqüentes massacres da população aborígenes. Essa expansão inglesa proporcionou uma era de prosperidade e estabilidade política ao país. A chamada Era Vitoriana, o longo reinado da rainha Vitória entre 1837 e 1901, viu a Inglaterra conquistar para sempre o respeito dos demais europeus como exemplo de organização, desenvolvimento econômico e modernização da democracia no âmbito europeu, mas para as colônias opressão e arbitrariedade.

O Egito se tornou independente em 1953, sob a liderança de Gamal Abdul Nasser, coronel do Exército que assumiu o controle do Egito, sob um governo autoritário de cunho nacionalista, mantendo-se no poder até sua morte em 1970, quando foi sucedido por Anwar al Sadat até o assassinato deste em 1981, sendo sucedido pelo vice-presidente Hosni Mubarak, o qual sobrevivera ao mesmo atentado que foi fatal para Sadat.

    
            A França dominou (atuais) Mauritânia, Mali, Niger, Argélia, Congo, Chade e Gabão, formando a África Ocidental Francesa. Já na segunda metade do século XIX, o sudeste asiático foi reduzido à condição de colônia francesa, englobando Vietnã e Camboja. Na África, principalmente na Argélia, a conquista fez-se com o auxílio da legião estrangeira, corpo expedicionário criado pelo governo francês composto por criminosos, desertores, imigrados políticos e aventureiros.
            França e Inglaterra disputavam o título de maior conquistador de colônias. O projeto colonial inglês, batizado de “Do Cairo ao Cabo”, pretendia unificar em uma única colônia os territórios compreendidos entre o Egito e a África do Sul. A construção do Canal de Suez impulsionou a Inglaterra no Oriente Médio, apesar da presença francesa na região.
A Tunísia foi protetorado francês de 1881 a 1956, quando se tornou independente sob o governo do presidente eleito Habib Bourghiba, o qual se declarou vitalício em 1959, sendo só substituído em 1987, quando foi declarado oficialmente "incapaz para governar" em virtude de gravíssimos problemas de saúde e o poder passara para seu primeiro-ministro Zine Abidine Ben Ali, deposto neste ano de 2011 por convulsivos movimentos populares.

            A Itália e a Alemanha não conseguiram construir grandes impérios coloniais devido à sua unificação tardia, muito embora os italianos tenham conquistado a Líbia e a Somália e tenham tentado fixar-se na Abissínia (Etiópia), enquanto a Alemanha apossou-se dos Camarões, Togo e da Namíbia, além da África oriental alemã, depois de 1918, passou ao controle inglês, dando origem à Tanzânia.
No caso do território da Líbia, uma região ocupada por mais de 100 tribos diferentes, a ocupação italiana se manteve até 1951, quando o país se declarou independente, tornando-se uma monarquia encabeçada pelo rei Idris, título dado ao líder da etnia dos sanusis, o emir Sayyid Idris al-Sanusi. 
O reinado de Idris I (1951-1969) foi deposto por um golpe de Estado liderado pelo Exército, tendo por inspiração o processo que ocorrera no Egito, sendo encabeçado pelo jovem coronel de 27 anos, Muammar al-Khadafi e assim, se implantava a ditadura que se findou de modo sangrento em 20 de outubro de 2011, depois de também derramar tanto sangue dos líbios por mais de 40 anos.

O final da Segunda Guerra Mundial em 1945 refletiu também nos vastos impérios coloniais que alguns países possuíam, como era o caso da Inglaterra, França, Bélgica e Portugal. Com a nova conjuntura internacional (o mundo bipolar), a manutenção de colônias tornava-se muito difícil, principalmente depois da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948 pela ONU, que condenava a dominação e a exploração estrangeiras.

Outra conseqüência da guerra foi o desenvolvimento de manifestações nacionalistas em favor da independência, pois muitas colônias haviam participado diretamente da guerra e achavam mais do que justo receber de suas metrópoles a independência. No entanto, as elites coloniais preferiram realizar um longo processo de transição, ainda mantendo o controle sobre suas possessões.
O enfraquecimento das potências européias e a ascensão dos Estados Unidos e da URSS como superpotências transformou os movimentos de emancipação em uma grande disputa de áreas de influência por ambos os lados.

O processo de descolonização ocorreu em geral sob duas formas: a negociação pacífica da independência ou então a guerra com as metrópoles. No primeiro caso, as elites coloniais passaram por intensas negociações com as metrópoles, realizando portanto a transmissão do poder sobre os territórios para as elites locais. No segundo caso, a guerra de independência foi a movimentação de grupos nacionalistas que pretendiam obter a autonomia à força, mas a união durante a guerra não representava um mesmo conjunto de interesses.

            

sábado, 22 de outubro de 2011

A sociedade do ouro: das bateias às lavras, cidades surgem em meio das ricas serras.


A descoberta do ouro pelos bandeirantes paulistas deu início a um novo ciclo, que se estendeu por todo o século XVIII e foi marcado pela baixa produtividade, devido à tecnologia rudimentar utilizada pelos garimpeiros e pelos altos impostos cobrados pelo governo português.
De acordo com o "Regimento do Ouro" de 1702, qualquer jazida aurífera encontrada na colônia seria confiscada pela Coroa e dividida em "datas" (lotes onde o ouro podia ser garimpado). O descobridor da jazida escolhia a primeira data e, a seguir, a coroa reservava-se o direito de escolher para si a segunda. As datas restantes eram leiloadas e, ao final do leilão, a data do rei também era arrematada.
            Neste processo, pode-se notar a intenção do governo português de arrecadar a maior soma possível no menor espaço de tempo. A Coroa portuguesa criou também um imposto de 20% de todo o ouro extraído na colônia. Tal tributo, conhecido como quinto, era demasiado alto e estimulava toda a sorte de práticas contrabandistas.
            Para coibir o contrabando, a partir de 1720, passam a funcionar as Casas de Fundição, encarregadas de derreter todo o ouro encontrado, transformando-o em barras com o selo da coroa, e, então, cobrar o quinto. Em 1735, foi criada a capitação que cobrava o equivalente a 17 gramas de ouro por escravo que trabalhasse em uma lavra.





Em 1750, já sob o rígido controle metropolitano imposto pelo ministro português Marquês de Pombal, esses impostos foram substituídos por uma taxa única de 100 arrobas de ouro a serem pagas anualmente por toda a região das Minas Gerais. Esse imposto foi calculado em uma época de apogeu da mineração e podia ser pago com relativa facilidade pelos mineiros. Tão logo a produção entrou em declínio, tornou-se impossível saldar os débitos em atraso.

Neste momento (1765), o governo português criou a Derrama: cobrança de todos os impostos atrasados, incluindo a expropriação de imóveis, escravos e bens pessoais de todos os moradores da região das minas, no entanto, esta foi uma prática que não ocorreu efetivamente, mas sempre se manifestava como uma forma de “pressão” por parte das autoridades coloniais em relação aos colonos.         

Paralelamente a exploração do ouro, ocorreu em Minas Gerais, a exploração de diamantes na região do Arraial do Tijuco (atual cidade de Diamantina), com a organização do Distrito Diamantino, exploração esta que ocupava uma atenção especial da Coroa e assim foi transformada em monopólio régio com o controle estrito de circulação de pessoas e da extração de diamantes, tudo sob a vigilância do “contratador de diamantes”, um espécie de gestor da extração que deveria resguardar os interesses reais, sendo a autoridade máxima na região.

Como consequência dos desdobramentos da exploração econômica, pode-se destacar o surgimento de uma sociedade estática nos engenhos do Nordeste claramente definida (brancos ricos na posição dominante; brancos pobres e mestiços e agregados aos ricos e negros escravos) que entrou em crise com a decadência do açúcar, mas não desapareceu por completo, uma vez que as relações senhoriais no nordeste se preservaram até a primeira metade do século XX.

Em contrapartida, a extração do ouro em Minas Gerais deu origem a uma sociedade nitidamente urbana, bastante dinâmica, em que as classes sociais apresentavam uma maior complexidade, incluindo negros libertos, brancos e até mesmo negros ricos.
Graças ao ciclo do ouro, ocorreu certo desenvolvimento da cidade de São Paulo de Piratininga, que passou a abastecer a região das minas com artigos manufaturados (rústicos) e gêneros de primeira necessidade.




Diversificação econômica
           
Nem só de cana-de-açúcar e ouro viveu a economia brasileira no período colonial. Várias outras atividades desenvolveram-se, ligadas direta ou indiretamente à economia europeia. Um bom exemplo foi a exploração de drogas do sertão, plantas medicinais obtidas por índios na região do Pará e da Amazônia, entregues aos jesuítas e, depois, vendidas para comerciantes que as enviariam para a Europa. Mais um exemplo era o tabaco, produzido no Recôncavo Baiano, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, com o objetivo de viabilizar o tráfico negreiro com as tribos africanas, como moeda de escambo.

            Com a Revolução Industrial inglesa, havia um interessante do mercado consumidor por algodão e, na segunda metade do século XVIII, foi introduzida no Maranhão a plantation deste produto, juntamente com o arroz. No caso brasileiro, o interesse pelo algodão nasceu a partir da desorganização nas plantações da América do Norte, em virtude da guerra de independência das Treze Colônias que deram origem aos Estados Unidos.

            Durante o governo de Pombal, foram criadas duas Companhias de Comércio com a função de monopolizar a cotonicultura, uma no Pará e Maranhão e outra em Pernambuco e Paraíba. Mas as perspectivas do algodão nos anos que se seguiram não se confirmaram positivas. Se de uma hora para outra o Maranhão era um dos maiores produtores de algodão do mundo, tal situação inverteu-se assim que a produção norte-americana e as relações diplomáticas com a Inglaterra foram normalizadas. Assim, tudo não passou de um “surto produtivo”.

Gráfico que apresenta a ascensão e decadência da extração do ouro no século XVIII

            Já a criação de gado foi introduzida na colônia como meio de tração e cresceu muito na periferia da região canavieira. Foi introduzida no Maranhão, no Piauí e, principalmente, no Vale do Rio São Francisco (conhecido como Rio dos Currais). No início, o gado era criado nos próprios engenhos, mas, como os animais ocupavam muito espaço, pouco a pouco, a criação foi transferida para fora das fazendas e, depois, para o interior da colônia, com características de extensiva e itinerante. Como não era uma atividade dependia de muitos trabalhadores, o dono de uma fazenda de gado, geralmente, empregava trabalhadores livres, muitos deles índios, que recebiam em espécie pelo seu trabalho. Tal prática permitiu que muitos empregados de pecuaristas se tornassem novos criadores de gado. No caso nordestino, o gado foi fundamental para a expansão territorial e a ocupação das áreas sertanejas.

            Na região do atual Rio Grande do Sul, a pecuária desenvolveu-se seguindo dois objetivos: fornecer alimentação para os garimpeiros das Gerais e consolidar a ocupação portuguesa no sul, área que era disputada com os espanhóis.

            Ali, a pecuária desenvolveu-se bastante, devido à vegetação favorável (pampa), e a produção foi carreada para a indústria do charque (carne salgada). A criação baseava-se, de início, no simples aproveitamento das vacarias, rebanhos dispersos em regiões amplas, constituindo aos poucos unidades criadoras mercantis e possibilitando a integração econômica do Sul no conjunto da realidade colonial.

            Por volta da metade do século XVIII, a pecuária sulina atingiu seu pleno desenvolvimento através das estâncias, unidades criadoras constituídas como empresas mercantis, fornecendo às Minas tropas de mulas, couro e charque, através de feiras como as que ocorreriam em São Paulo e Sorocaba.


FIXAÇÃO DOS LIMITES
           
Após o fim da União Ibérica, em 1640, fez-se necessário formar novos acordos com os espanhóis em relação às fronteiras coloniais americanas. As discussões tornaram-se mais complexas a partir de 1680, quando os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento, às margens do Rio da Prata, do lado oposto de Buenos Aires. A colônia funcionava como um entreposto de contrabando, ferindo os interesses espanhóis. Depois de uma série de atritos militares, em 1681, foi firmado o Tratado de Lisboa, pelo qual a Espanha reconhecia a soberania portuguesa naquela região.
Mas isso não eliminou novos choques. Em 1687, os espanhóis fundaram os Sete Povos das Missões, aldeamentos de jesuítas que trabalhavam na catequese de índios guaranis, estabelecidos ao norte de Sacramento.
            Entre 1713 e 1715, foram assinados os Tratados de Utrecht. Pelo primeiro, assinado com a França, os franceses renunciavam às suas pretensões no Amapá. Pelo segundo, firmado com a Espanha, os espanhóis reconheciam, novamente, a soberania portuguesa sobre a Colônia de Sacramento, que havia sido invadida por espanhóis em 1704.
            Nos anos seguintes, apesar dos tratados assinados, continuavam ambos os lados incentivando a fundação de novos povoados, que, depois, serviriam como estratégia de pressão sobre o oponente. Em 1726, os espanhóis fundaram a cidade de Montevidéu, apesar de a região ser ocupada por portugueses, e, em 1735, invadiram novamente a Colônia do Sacramento. Dois anos depois, os portugueses fundaram o povoado Rio Grande de São Pedro, ocupando a região com colonos açorianos. O povoamento foi estendido e, em 1740, fundou-se Porto dos Casais (atual Porto Alegre).
            Para definir tais questões, foi assinado em 1750, o Tratado de Madri, destacando-se nestas negociações o diplomata português Alexandre de Gusmão. Por esse tratado, consagrava-se o princípio do uti possidetis, através do qual o direito de posse era dado em função da ocupação efetiva do território, entregando à Coroa portuguesa uma vasta extensão território, a qual foi responsável pela atual configuração do território brasileiro. Para fazer o apaziguamento na fronteira sul, os portugueses entregariam Sacramento aos espanhóis, e estes dariam aos portugueses os Sete Povos das Missões, garantindo que os jesuítas deixariam os povoados.
            Os indígenas guaranis e os padres jesuítas das missões recusaram-se a desocupar a região e, entre 1755 e 1756, entraram em choque armado com as tropas luso-espanholas, sendo que estas lutaram lado a lado para estabelecer a demarcação das fronteiras, tais episódios ficaram conhecidos como Guerras Guaraníticas.        


O Barroco enquanto expressão artística

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis - Ouro Preto (projeto de Antonio Francisco Lisboa, 1766)

O período barroco é marcado pelo conflito entre a Razão e a Fé, portanto, as perseguições da Igreja Católica e o medo que causaram nos homens resultaram numa arte complexa, repleta de conflitos internos, paradoxos. A representação mimética e sóbria vai sendo trocada pela ilusionista e de forte carga emotiva, valorizando uma visão que supera o real e busca o ideal, denominado simulacro.

Manoel da Costa Ataíde - teto da nave da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco - Ouro Preto

Esta complexidade implicou na preferência pelo excesso pelas linhas curvas e sinuosas, pelo jogo de luz e escuridão (chiaroscuro), pela exuberância das formas (côncavo e convexo) e a sobrecarga das imagens.
O ambiente barroco é tenso por natureza e seus elementos compõem um quadro de elevada complexidade, seja por causa das questões religiosas, seja por causa das influências das práticas cortesãs, porque a sociedade (principalmente a aristocracia e alta burguesia) tornou-se altamente ritualizada e seus componentes participavam da vida como atores de uma grande peça, cujo centro era a corte. A alma em conflito busca a salvação e para tanto trilha um longo caminho de dor e sofrimento, enquanto religião impõe aos homens poucas saídas, o poder político usa das imagens e da sua exuberância para compor sua legitimidade, afinal, o poder dos reis era “oriundo da autoridade Divina”.


Santuário de Bom Jesus de Matosinhos - Congonhas - Antonio Francisco Lisboa (1757)


A estética barroca, portanto, tem por excelência o jogo de imagens e sua atenção está voltada ao conflito. Assim sendo, a expressividade exacerbada buscando a dor, a fortaleza dos sentimentos e dos gestos traçados de maneira intencional compõe o cenário dos séculos XVII e XVIII.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Expedição refaz viagem de Amundsen ao Polo Sul um século depois


Fonte : Portal iG
EFE 21/10/2011 10:37
Quatro noruegueses estão prontos para iniciar uma viagem ao Polo Sul seguindo o mesmo itinerário que seu compatriota, o mítico explorador polar Roald Amundsen, o primeiro a alcançar o ponto mais austral da Terra.
A expedição, financiada pelas autoridades norueguesas, pretende percorrer cerca de 1,4 mil quilômetros em 57 dias para chegar ao Polo Sul em 14 de dezembro, como fez Amundsen um século antes, uma data que será relembrada em uma cerimônia na qual estará presente o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg.
As condições meteorológicas impediram o grupo de viajar na terça-feira em um avião do Chile até a Antártida para começar nesta quarta-feira a exploração, mas o atraso não impedirá o cumprimento dos prazos, só irão percorrer mais quilômetros por dia.
Ao contrário de Amundsen, os quatro expedicionários não viajarão em trenós puxados por cachorros, mas sobre esquis, já que agora é proibido introduzir espécies estrangeiras na Antártida.
"Não vamos recriar a viagem que Amundsen e sua equipe fizeram há 100 anos. Mesmo o terreno sendo conhecido e o equipamento moderno, só iremos enfrentar o frio e vento iguais. E ainda os 3 mil metros de altura até o Planalto Antártico", dizem os expedicionários no site do projeto.
A exploração terá um triplo objetivo, científico, histórico e aventureiro, e será registrada por um documentário para o canal norueguês "TV2", um jornal online e um livro que Stein P. Aasheim, um experiente aventureiro de 60 anos, o mais velho dos quatro, pretende escrever.
Além de Aasheim, o grupo é composto por Jan-Gunnar Winther, diretor do Instituto Polar Norueguês; Harald Dag Jolle, historiador polar; e Vegard Ulvang, explorador e atleta consagrado no esqui com 14 medalhas entre Jogos Olímpicos e Mundiais.
A ideia da expedição foi do alpinista Rolf Bae, que envolveu em seus planos Ulvang e Aasheim. Estes dois levaram o projeto adiante depois da morte de Bae em 2008, quando escalava a montanha K2, no Himalaia.
As autoridades norueguesas e vários patrocinadores privados forneceram os US$ 899 mil do orçamento da expedição, incluída no programa do ano de homenagem a Amundsen e a outro grande explorador polar do país nórdico, Fridtjof Nansen, nascido há 150 anos.
Os quatro membros da expedição se concentraram nas ilhas Svalbard, no Círculo Polar Ártico, para realizar treinos prévios, e viajaram na semana passada a Punta Arenas, no sul do Chile.
Dali, seguirão para Union Glacier, já na Antártida, onde pegarão um voo para avançar 2 mil quilômetros até Framheim, a "casa do Fram", o nome dado por Amundsen à Baía das Baleias em homenagem ao barco que Nansen emprestou para sua viagem.
Esta não é a única expedição que este ano homenageia Amundsen. Outra liderada pelo aventureiro norueguês Jarle Andhoy há alguns meses terminou com três de seus cinco exploradores mortos e seu barco desaparecido no Oceano Antártico, em meio a críticas de que desrespeitava as normas de segurança.
Amundsen, que seria o primeiro homem a atravessar a passagem do Noroeste, que liga o Atlântico ao Pacífico, começou a criar sua lenda como explorador em 1911, quando derrotou a expedição britânica liderada por Robert Falcon Scott na corrida para chegar pela primeira vez ao Polo Sul.
A escolha do meio de transporte na época - trenós puxados por cachorros groenlandeses ao invés dos cavalos mongóis - foi crucial para a vitória de Amundsen, que sacrificou vários cães antes de chegar ao Polo e armazenou a carne para o retorno, o que diminuiu o peso e garantiu a alimentação dos animais na volta.
Menos habituados a temperaturas extremas, os cavalos de Scott tinham de carregar também sacos de aveia para se alimentar, o que aumentava seu peso. Todos morreram antes do tempo e a expedição britânica teve de continuar sem os animais. Scott e seus homens atingiram seu objetivo dias depois de Amundsen, mas morreram na viagem de volta.

A volta para labuta virtual!

Caríssimos leitores,

Entre o fim de setembro e esta primeira quinzena de outubro, as minhas atividades de pesquisa e magistério tomaram bastante tempo, e assim, o Gabinete ficou na espera.
Vou retomar os trabalhos neste fim de semana.
Até breve.