Fonte: Portal UOL - 26/08/2012 - 09h15 | Fabíola Ortiz | Rio de Janeiro
Crise na Grécia obrigará que serviço de preservação da Acrópole seja realizado com menor efetivo.
Berço da civilização ocidental, da filosofia e da democracia, a cultura grega vive um período difícil devido à crise financeira, que coloca em risco os quase 20 mil sítios arqueológicos e monumentos históricos do país, além de 17 edificações tombadas como patrimônio mundial da UNESCO, como a Acrópolis em Atenas e a cidade medieval de Rhodes.
Sem recursos para financiar escavações arqueológicas, pagar os salários de profissionais e manter os museus, a Grécia vive um momento sem precedentes de escassez de recursos humanos e materiais, admitiu Marlen Mouliou, secretária do Comitê Internacional para Coleções e Atividades dos Museus das Cidades e membro do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
“Não há dinheiro para a proteção de museus e patrimônios arqueológicos. O dinheiro chega especialmente de apoio europeu. O que mais a crise financeira afeta é a falta de recursos humanos e financeiros. É sempre um risco quando não temos recursos, pois assim não teremos pessoas suficientes para garantir a segurança”, afirmou Mouliou.
Durante o Encontro Internacional de Museus de Cidade, no Rio de Janeiro, a arqueóloga e museóloga grega falou ao Opera Mundi sobre os desafios de preservar o legado histórico secular no país em meio à política de austeridade que tem gerado cortes profundos nos orçamentos da Cultura.
Novo Ministério
Divulgação
Marlen Mouliou (FOTO À ESQUERDA), que leciona Museologia nas Universidades Nacional e de Capodistria de Atenas, afirma estar descrente quanto aos investimentos do governo na área da cultura nos próximos anos. Em junho, o então Ministério da Cultura e do Turismo foi desmantelado e fundiu-se a outras duas pastas, tornando-se o Ministério Helênico da Educação e Assuntos Religiosos, da Cultura e Esportes.
“Os recursos destinados sempre representaram menos de 1% do PIB. Agora, que nos juntamos ao ministério da Educação, serão ainda menores os recursos”, lamenta a pesquisadora.
Mouliou acrescentou ainda que, desde o ano passado, muitos profissionais de museus e de sítios arqueológicos foram dispensados ou tiveram sua aposentadoria antecipada de forma compulsória.
Cortes
Em junho, o sinal vermelho sobre a situação foi dado pela Associação de Arqueólogos Gregos, a qual faz parte Marlen Mouliou. Segundo a associação, dois mil funcionários do Ministério da Cultura foram demitidos e os arqueólogos que trabalham para o Estado sofreram cortes salariais de 10% a 40%.
A falta de pessoal obrigou os 216 museus espalhados pelo país a fecharem as portas para visitantes mais cedo. A segurança dos locais também foi afetada, segundo a especialista.
“Trabalhamos sob pressão. Temos que fazer o nosso trabalho em tempos ainda mais curtos. Tivemos que reduzir e apressar os trabalhos de escavações em obras de desenvolvimento do país, iniciados antes mesmo da crise. É uma luta, pois a sociedade precisa do desenvolvimento e a arqueologia tem suas metodologias e princípios que demandam tempo”, argumenta.
Questionada se os tesouros e os monumentos gregos estão em perigo, Mouliou rejeita esta possibilidade ainda que seja insuficiente o pessoal para fazer a segurança dos museus.
“As pessoas que trabalham com patrimônio cultural são muito dedicadas. Precisamos de recursos, mas também de administrar o que temos de forma sustentável. Precisamos fazer mudanças para manter uma boa gestão. Há realmente carência de recursos humanos, mas trabalha-se com muita paixão, o que certamente é algo importante”, ponderou.
Wikicommons
População grega protesta nas ruas do país contra o corte de gastos realizado pelo governo para conter a crise econômica (03/07/2011)
Segundo a arqueóloga grega, os museus sempre foram locais seguros, mas adverte que o risco existe em sítios históricos mais afastados das cidades. “Especialmente em igrejas e mosteiros que estão isolados e abrigam um patrimônio cultural importante. São locais situados em áreas mais distantes e com menos população e onde precisamos de mais pessoas para salvaguardar”, ressaltou.
Alternativas
Novo Ministério
Divulgação
Marlen Mouliou (FOTO À ESQUERDA), que leciona Museologia nas Universidades Nacional e de Capodistria de Atenas, afirma estar descrente quanto aos investimentos do governo na área da cultura nos próximos anos. Em junho, o então Ministério da Cultura e do Turismo foi desmantelado e fundiu-se a outras duas pastas, tornando-se o Ministério Helênico da Educação e Assuntos Religiosos, da Cultura e Esportes.
“Os recursos destinados sempre representaram menos de 1% do PIB. Agora, que nos juntamos ao ministério da Educação, serão ainda menores os recursos”, lamenta a pesquisadora.
Mouliou acrescentou ainda que, desde o ano passado, muitos profissionais de museus e de sítios arqueológicos foram dispensados ou tiveram sua aposentadoria antecipada de forma compulsória.
Cortes
Em junho, o sinal vermelho sobre a situação foi dado pela Associação de Arqueólogos Gregos, a qual faz parte Marlen Mouliou. Segundo a associação, dois mil funcionários do Ministério da Cultura foram demitidos e os arqueólogos que trabalham para o Estado sofreram cortes salariais de 10% a 40%.
A falta de pessoal obrigou os 216 museus espalhados pelo país a fecharem as portas para visitantes mais cedo. A segurança dos locais também foi afetada, segundo a especialista.
“Trabalhamos sob pressão. Temos que fazer o nosso trabalho em tempos ainda mais curtos. Tivemos que reduzir e apressar os trabalhos de escavações em obras de desenvolvimento do país, iniciados antes mesmo da crise. É uma luta, pois a sociedade precisa do desenvolvimento e a arqueologia tem suas metodologias e princípios que demandam tempo”, argumenta.
Questionada se os tesouros e os monumentos gregos estão em perigo, Mouliou rejeita esta possibilidade ainda que seja insuficiente o pessoal para fazer a segurança dos museus.
“As pessoas que trabalham com patrimônio cultural são muito dedicadas. Precisamos de recursos, mas também de administrar o que temos de forma sustentável. Precisamos fazer mudanças para manter uma boa gestão. Há realmente carência de recursos humanos, mas trabalha-se com muita paixão, o que certamente é algo importante”, ponderou.
Wikicommons
População grega protesta nas ruas do país contra o corte de gastos realizado pelo governo para conter a crise econômica (03/07/2011)
Segundo a arqueóloga grega, os museus sempre foram locais seguros, mas adverte que o risco existe em sítios históricos mais afastados das cidades. “Especialmente em igrejas e mosteiros que estão isolados e abrigam um patrimônio cultural importante. São locais situados em áreas mais distantes e com menos população e onde precisamos de mais pessoas para salvaguardar”, ressaltou.
Alternativas
Para melhor preservar o legado milenar da cultura grega, Mouliou defende uma gestão mais responsável e a criação de redes entre museus domésticos e internacionais.
Uma outra forma de resguardar os monumentos é uma ajuda de financiamento por parte da União Europeia, que destina levas de recursos para projetos de preservação e conservação. O último pacote de ajuda ao patrimônio foi em 2011 e, segundo Mouliou, deve representar algo próximo a 200 milhões de euros em três anos.
As doações internacionais podem ser uma alternativa para sobreviver ao abalo econômico na Grécia, aponta a representante do Conselho Internacional de Museus. Ela afirma que o apoio internacional é bem-vindo, mas há “que se respeitar termos e condições, pois as antiguidades são de propriedade do Estado e vão continuar sendo. Isso não será negociado”, enfatizou.
Uma outra forma de resguardar os monumentos é uma ajuda de financiamento por parte da União Europeia, que destina levas de recursos para projetos de preservação e conservação. O último pacote de ajuda ao patrimônio foi em 2011 e, segundo Mouliou, deve representar algo próximo a 200 milhões de euros em três anos.
As doações internacionais podem ser uma alternativa para sobreviver ao abalo econômico na Grécia, aponta a representante do Conselho Internacional de Museus. Ela afirma que o apoio internacional é bem-vindo, mas há “que se respeitar termos e condições, pois as antiguidades são de propriedade do Estado e vão continuar sendo. Isso não será negociado”, enfatizou.
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