Em 30 de setembro de 1937, explodia nos jornais
brasileiros a notícia de uma nova tentativa de golpe dos comunistas, como se
dizia na época "muito pior que o anterior", sendo que a nova
tentativa teria sido planejada na Rússia por um comunista de nome Cohen.
O
“plano” previa assassinatos de líderes políticos importantes, o fim da
propriedade privada e a imposição do ateísmo. O documento teria sido
“descoberto” pelo General Olímpio Mourão Filho, membro do Partido Integralista, que o entregara ao
chefe do Estado Maior do Exército, o general Goes Monteiro, responsável pela
divulgação alarmista na imprensa. Veja um trecho deste famoso documento:
"... O comitê dos incêndios tem como missão fazer
propagar incêndios em pontos desencontrados da cidade, em uma ação tecnicamente
combinada e dirigida, a fim de aumentar a confusão necessária ao movimento,
dividir o Corpo de Bombeiros e outros contingentes militares que os governos
das cidades serão obrigados a utilizar para acudir aos focos de incêndios
ateados [....]
O comitê central organizará o plano
de incêndios tendo em conta a seguinte regra:
a) em cada rua principal do bairro deverá ser ateado fogo a um prédio no
mínimo;
b) sempre que possível de preferência uma repartição pública, federal, estadual
ou municipal, existente em rua que não seja guardada por policial;
[...] nos bairros elegantes e plutocratas- as massas deverão ser conduzidas aos
saques e às depredações, nada poupando para aumentar cada vez mais sua
excitação, que deve ser conduzida a um sentido nitidamente sexual, a fim de
atraí-las com facilidade; convencidas de que todo aquele luxo que as rodeia -
prédios elegantes, carros de luxo, mulheres etc - constituem um insulto à sua
sordidez e falta de conforto, e que chegou a hora de tudo aquilo lhes pertencer
sem que haja o fantasma do Estado para lhes tomar conta ...”
SILVA, Hélio. A ameaça vermelha - O plano Cohen. Porto Alegre: L&PM
Diante da
“ameaça vermelha”, o Congresso concedeu ao governo o Estado de Guerra,
criando-se condições para um golpe de Estado. Em novembro de 1937 o candidato Armando
de Sales Oliveira apelou pela manutenção da legalidade, mas foi inútil. O golpe
já estava consumado e Francisco Campos, futuro ministro da justiça, já fora
encarregado de redigir a nova Constituição, a chamada "Polaca", pois fora inspirada na Carta fascista da Polônia e desde então, existia um flerte de Getúlio com o fascismo.
O presidente Vargas passou a governar e legislar através de decretos-leis, uma vez que o
Legislativo, então, era composto pelo presidente e por parlamentares eleitos
indiretamente. Instituiu-se ainda o Estado de Emergência, que permitia ao
presidente, a “autoridade suprema do Estado”, suspender direitos individuais,
prender, exilar e invadir domicílios. Restaurou-se a pena de morte, abolida
ainda no final do Segundo Reinado, e o mandato presidencial foi estendido para
seis anos.
Dentre as
principais criações do Estado Novo que possibilitaram ao governo controlar a
população e perseguir opositores, destacam-se:
DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda - Era encarregado de realizar o
controle ideológico e censurar os meios de comunicação (imprensa, rádio,
cinema). Além disso, trabalhava na propaganda pessoal do presidente, fazendo
uma imagem sempre positiva de Vargas. Para isso, eram escritas nos jornais
matérias favoráveis ao governo, foram espalhados cartazes, produzidas cartilhas
e até foi criado um horário no qual todas as rádios eram obrigadas a
retransmitir um programa produzido pelo próprio governo. Assim nasceu a Hora do Brasil. Em pouco tempo, Vargas
já era conhecido como o “pai dos
pobres”.
DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público - Criado em 1938 com a finalidade
de dar ao Estado um aparato burocrático racionalizador da administração
pública. Resumindo, estava encarregado de modernizar a burocracia. Também
deveria fiscalizar os interventores nos Estados.
Polícia Especial (PE)
- Sua função era perseguir os opositores do regime, especializando-se em
práticas violentas, como sequestros, torturas, assassinatos e deportações,
sendo chefiada por Filinto Müller.
Outras
medidas foram a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool e a substituição do “mil-
réis” por uma nova moeda: o Cruzeiro. O Brasil passou a ser um Estado unitário,
ficando proibidos os símbolos e as bandeiras dos Estados. Foram proibidos
também todos os partidos políticos, reuniões, agremiações símbolos etc.
Os
integralistas, apesar de terem colaborado para o sucesso do golpe, também foram
atingidos por essas medidas e, sentindo-se traídos, rebelaram-se e tentaram
tomar o poder em 1938. Chegaram a invadir o Palácio do Catete (sede do
governo), mas foram cercados e acabaram massacrados no episódio que ganhou o
nome de Putsch Integralista. Com os integralistas batidos pelas tropas
do governo, Plínio Salgado foi obrigado a exilar-se em Portugal.
O ufanismo
nacionalista provocou, de certa forma, a concentração do desenvolvimento no
eixo Sul/ Sudeste. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a indústria
brasileira sofreu um pequeno crescimento devido à substituição das importações.
Porém, a guerra pressionou o governo Vargas a tomar uma posição. Afinal, o
regime era muito próximo do fascismo europeu, mas o Brasil sempre pertencera à
área de influência dos Estados Unidos. Com a eclosão do conflito, Getúlio
declarou neutralidade em relação ao embate, mas tal posição era vista pelos estadunidenses como um apoio envergonhado ao regime fascista.
A posição
brasileira só foi definida em 1941, quando bancos estadunidenses
dispuseram-se a financiar a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)
e da Companhia Vale do Rio Doce, possibilitando ao País produzir aço em grande
escala. Após esse empréstimo, o rompimento com o Eixo tornou-se inevitável. Neste contexto, foi se constituindo a política da "Boa Vizinhança" em substituição à política do "Big Stick", ou seja, do grande porrete, marcada pela intervenção militar dos EUA na América Latina. Foi justamente em 1941, que Walt Disney passou pelo Rio de Janeiro e no ano seguinte, lançava um novo personagem: o Zé Carioca, um papagaio que deveria ser uma representação do Brasil e de sua cultura pelo mundo afora.
Com chapéu de palha, paletó, gravata, guarda-chuva e charuto, o papagaio absorvia a identidade social do "malandro", ente presente no mundo do samba e do submundo, que de trambique em trambique, ia gozando a vida, com muita ginga e esperteza, elemento este que se conecta com a velha tese do "jeitinho brasileiro".
Em 1943, Getúlio e Roosevelt se encontraram em Natal (RN), visando estreitar ainda mais os laços de apoio do Brasil no esforço de guerra para os Aliados. Abaixo, também de paletó e chapéu, está o nosso ditador, junto da comitiva de Roosevelt, mas num clima não tão descontraído
Nesse momento, Vargas autorizou o estabelecimento
de uma base militar dos EUA em Natal para servir de apoio logístico para a
patrulha e defesa do Oceano Atlântico contra as forças do Eixo.
A entrada do Brasil na guerra e o envio de soldados foram provocados pelo afundamento de navios brasileiros, que teriam sido, segundo fontes oficiais, 36 embarcações foram atacadas por submarinos alemães e italianos no litoral nordestino, fato que causou grande tensão e comoção na opinião pública, pois o saldo de mortos chegou a 1080 mortos, entre tripulantes e passageiros. Dessa forma, a população apoiou a ida de soldados para a Europa.
Deem uma olhada na animação "Aquarela do Brasil" ( http://www.youtube.com/watch?v=_mQHr8bAojU ) que mostra o célebre encontro entre o Zé Carioca e o Pato Donald, que de certa forma, pode ser uma boa leitura de como se construía esta "Boa Vizinhança".