As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

domingo, 21 de abril de 2013

Margaret Thatcher: A Dama de Ferro


A morte de Margaret Thatcher, ocorrida em 8 de abril de 2013, gerou significativa comoção dentro do Reino Unido por uma gama variada de fatores: de um lado, o atual governo conservador encabeçado pelo primeiro-ministro David Cameron, desde 2010, tem adotado “medidas de austeridade” para tentar manter o crescimento da economia britânica face à crise financeira que se abate sobre a economia global e tem tido um peso considerável na chamada “zona do Euro”. De outro, a questão da gestão de Thatcher significar para o atual governo do partido Conservador como um ponto de referência, pois ao suceder um longo período de governo encabeçado pelos trabalhistas Tony Blair (1997-2007) e Gordon Brown (2007-2010), David Cameron precisaria construir sua “identidade” e nada melhor que uma figura de peso, como a “Dama de Ferro”.
 
 

Fonte: commons.wikimedia.org

Não há como negar que Thatcher tem um lugar de destaque na história britânica: foi a 1a mulher a assumir a liderança do Partido Conservador, tornando-se um ponto de força para a organização da oposição ao governo de James Callaghan, primeiro-ministro trabalhista entre 1976 e 1979. Na condição de líder dos “Tory” (como são chamados os Conservadores) concorreu as eleições e se colocou com significativa votação como a 1a mulher a ser chefe de governo no Reino Unido em 1979, situação ímpar até o presente momento.

Tanto no cenário externo quanto interno, 1979 não foi um momento tranquilo: vivia-se o chamado “2° Choque do Petróleo” em decorrência da deposição do governo pró-Ocidente do Xá Reza Pahlevi pelo líder xiita Aiatolá Ruhollah Khomeini, responsável pela Revolução Islâmica e a criação da atual República Islâmica do Irã.

O preço do barril de petróleo atingiu valores elevadíssimos, da mesma maneira que o “1° Choque do Petróleo” em 1973 em virtude da pressão da OPEP, respondendo ao apoio ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur e, desse modo, impactou a economia mundial profundamente: inflação, recessão, endividamento eram palavras comuns nos discursos de vários governos do Ocidente e países do então chamado “Terceiro Mundo”.

Margaret Thatcher entrava no governo para “colocar a casa em ordem” e na sua mira entrou toda a estrutura que tinha sido construída no pós-II GM: o Estado de Bem-Estar Social e seu amparo à sociedade, representando significativo comprometimento dos recursos arrecadados pelo Estado e nesse caso, sob a luz do liberalismo, algo que tinha um peso e tamanho insuportável e foi justamente neste contexto que se deu início à desmontagem deste “oneroso” modelo de Estado.

Ao desencadear uma política econômica centrada no corte de investimentos nos setores sociais e privatizações, Thatcher favoreceu que a iniciativa privada fosse ganhando cada vez mais espaço, especialmente quando a ideia era que o Estado se distanciasse das ações do mercado e assim, aos poucos, surgia aquilo que compreenderíamos como neoliberalismo, que teve Thatcher por “mãe” e Ronald Reagan (1981-89), o presidente dos EUA eleito pelo Partido Republicano como “pai”.
 
Fonte: dailymail.co.uk

A conjunção de interesses entre a Grã-Bretanha e os EUA favoreceram o fortalecimento dos interesses ocidentais frente à decadente URSS, que ainda tentava sustentar a competição intensa dentro da Guerra Fria, mas já apresentava evidentes sinais de enfraquecimento, especialmente com a morte de Brejnev, dirigente entre 1964 e 1982 e a sucessão rápida deste por Andropov e por Tchernenko, que em 1985 foi substituído pelo reformista Mikhail Gorbachev em 1985, abrindo caminho para uma melhor relação com o Ocidente, tendo Gorbachev visitado a Grã-Bretanha e Thatcher a URSS, apesar da distância imensa a ser superada.

Outro episódio famoso foi a invasão argentina às Ilhas Falkland, que o governo argentino reivindicava desde o século XIX, mas os ingleses vinham ocupando desde 1833 e assim, explodiu a Guerra das Malvinas em 1982, sendo que Thatcher não titubeou em enviar uma parte significativa da Armada Britânica, impondo uma imensa derrota à Argentina, que naquele contexto, via na guerra uma tentativa de exaltação do “nacionalismo” dentro o governo ditatorial de Leopoldo Gualtieri: uma excelente propaganda para um regime falido, fadado ao fim, que chegara pouco depois em 1984 com a eleição de Raúl Alfonsín para a presidência, restaurando a democracia argentina.

As sequelas da guerra ainda hoje incomodam os argentinos, sendo que sua atual presidente, Cristina Kirchner, reivindica a devolução das “Malvinas” ao povo argentino, enquanto no lado inglês, o governo britânico não tem interesse em discutir esta questão e como definição deste assunto, um plebiscito realizado no mês de março deste ano, deu mais de 90% de apoio à presença britânica.

Ao longo de seu governo, Thatcher enfrentou greves, passeatas, paralisações entre os trabalhadores de diferentes setores da economia inglesa; a juventude sentia o desamparo com poucas chances para jovens suburbanos que não conseguiam estudo ou emprego e nesse ambiente de tensão surgiu o movimento punk e skinhead, contestando o sistema e suas imposições, que foram ecoando em outras partes do mundo ocidental.

Além disso, o IRA (Exército Republicano Irlandês) tentou assassinar Thatcher em 1984, mas ela saiu ilesa de um fracassado atentado à bomba e isso se somou a sua postura intransigente para defender suas ideias: nasceu a expressão “Dama de Ferro”.

Thatcher viu a queda do bloco comunista e o início do fim da URSS antes de deixar o poder com uma baixa popularidade, quando fora sucedida pelo conservador John Major entre 1990 e 1997. Saiu da vida política tendo seus serviços reconhecidos pela rainha Elizabeth II através de um título de baronesa, dando-lhe assento na Câmara dos Lordes até 2003 e depois deixou a vida pública, mas tendo ficado para trás um modelo de organização política e econômica que foi exportado para diferentes países, fazendo do neoliberalismo uma tendência até o presente momento.

Desde sua morte, alguns de seus críticos e viscerais inimigos tem cantado uma das músicas que no filme “O Mágico de Oz” era interpretada pela atriz Judy Garland, ao comemorar a morte da bruxa que a perseguia “Ding, dong! The witch is dead”  : A bruxa está morta!

Desrespeito? Talvez um bom exemplo de exercício de liberdade de expressão num país que Thatcher deixou profundas marcas, dividindo opiniões, mesmo em sua morte.
 
Sugestão de filmes:
 
This is England! 2006, Direção de Shane Meadows.
A Dama de ferro, 2012, Direção de Phyllida Lloyd.
 
Música:
 Ding Dong! The Witch is Dead!
 
Trilha sonora do “O mágico de Oz” 1939, direção de Victor Fleming, 101 min –interpretada por Judy Garland no papel de Dorothy
Once there was a wicked witch
In the lovely land of oz
And a wickeder, wickeder,
Wickeder witch that never, ever was
She filled the folks in munchkin land
With terror and with dread
Till one fine day from Kansas
A house fell on her head
And the coroner pronounced her: dead
And through the town the joyous news went running
The joyous news that the wicked old witch
Was finally done in
Ding-dong! the witch is dead!
Which old witch?
The wicked witch
 
Oh!
Ding-dong! the wicked witch is dead!
Wake up you sleepy head
Rub your eyes
Get out of that bed
Wake up! the wicked old witch is dead!
She's gone where the goblins go
Below, below, below - yo-ho!
Let's open up and sing
And ring those bells out...

Sing the news out!
Ding-dong! the merry-o
Sing it high and sing it low
Let them know the wicked old witch is dead
Why everyone's glad
She took such a crownin'

Bein' hit by a house
Is even worse than drownin'
Let them know the wicked old witch is dead!!!
 
Ding Dong! A Bruxa Está Morta!
Era uma vez uma bruxa malvada
Que vivia na encantadora Terra de Oz
E bruxa mais má, mais má,
mais má que aquela jamais se viu
Ela enchia os povos das Terras do Leste
de medo e de pavor
Até que um belo dia vinda do Kansas
Uma casa na cabeça acertou
E o legista a deu por: morta!
E a boa nova correu pela cidade
A boa nova de que a velha bruxa má
Finalmente foi derrotada
Ding dong! A bruxa está morta!
Que bruxa velha?
A bruxa malvada
Ah!
Ding dong! A bruxa está morta!
Acorde seu dorminhoco
 
Esfregue os olhos
Saia dessa cama
Levante! A velha bruxa má está morta!
Ela foi para onde os gnomos vão
Lá para baixo, lá para baixo, láa para baixo - viva!
Vamos cantar
E tocar os sinos...
Celebrar a novidade!
Ding dong! A alegria de
Cantar bem alto ou bem baixinho
Contem a todos que a velha bruxa má está morta
Estão todos contentes
Que bela coroa ela gonhou
Ser atingida por uma casa
É pior que se afogar
Contem a todos que a velha bruxa má está morta!

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