A
morte de Margaret Thatcher, ocorrida em 8 de abril de 2013, gerou significativa
comoção dentro do Reino Unido por uma gama variada de fatores: de um lado, o
atual governo conservador encabeçado pelo primeiro-ministro David Cameron,
desde 2010, tem adotado “medidas de austeridade” para tentar manter o
crescimento da economia britânica face à crise financeira que se abate sobre a
economia global e tem tido um peso considerável na chamada “zona do Euro”. De
outro, a questão da gestão de Thatcher significar para o atual governo do
partido Conservador como um ponto de referência, pois ao suceder um longo
período de governo encabeçado pelos trabalhistas Tony Blair (1997-2007) e
Gordon Brown (2007-2010), David Cameron precisaria construir sua “identidade” e
nada melhor que uma figura de peso, como a “Dama de Ferro”.
Fonte: commons.wikimedia.org
Não
há como negar que Thatcher tem um lugar de destaque na história britânica: foi
a 1a mulher a assumir a liderança do Partido Conservador,
tornando-se um ponto de força para a organização da oposição ao governo de
James Callaghan, primeiro-ministro trabalhista entre 1976 e 1979. Na condição
de líder dos “Tory” (como são chamados os Conservadores) concorreu as eleições
e se colocou com significativa votação como a 1a mulher a ser chefe
de governo no Reino Unido em 1979, situação ímpar até o presente momento.
Tanto
no cenário externo quanto interno, 1979 não foi um momento tranquilo: vivia-se
o chamado “2° Choque do Petróleo” em decorrência da deposição do governo
pró-Ocidente do Xá Reza Pahlevi pelo líder xiita Aiatolá Ruhollah Khomeini,
responsável pela Revolução Islâmica e a criação da atual República Islâmica do
Irã.
O preço
do barril de petróleo atingiu valores elevadíssimos, da mesma maneira que o “1°
Choque do Petróleo” em 1973 em virtude da pressão da OPEP, respondendo ao apoio
ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur e, desse modo, impactou a economia
mundial profundamente: inflação, recessão, endividamento eram palavras comuns
nos discursos de vários governos do Ocidente e países do então chamado
“Terceiro Mundo”.
Margaret
Thatcher entrava no governo para “colocar a casa em ordem” e na sua mira entrou
toda a estrutura que tinha sido construída no pós-II GM: o Estado de Bem-Estar
Social e seu amparo à sociedade, representando significativo comprometimento
dos recursos arrecadados pelo Estado e nesse caso, sob a luz do liberalismo,
algo que tinha um peso e tamanho insuportável e foi justamente neste contexto
que se deu início à desmontagem deste “oneroso” modelo de Estado.
Ao
desencadear uma política econômica centrada no corte de investimentos nos
setores sociais e privatizações, Thatcher favoreceu que a iniciativa privada
fosse ganhando cada vez mais espaço, especialmente quando a ideia era que o
Estado se distanciasse das ações do mercado e assim, aos poucos, surgia aquilo
que compreenderíamos como neoliberalismo, que teve Thatcher por “mãe” e Ronald
Reagan (1981-89), o presidente dos EUA eleito pelo Partido Republicano como
“pai”.
A
conjunção de interesses entre a Grã-Bretanha e os EUA favoreceram o
fortalecimento dos interesses ocidentais frente à decadente URSS, que ainda
tentava sustentar a competição intensa dentro da Guerra Fria, mas já
apresentava evidentes sinais de enfraquecimento, especialmente com a morte de
Brejnev, dirigente entre 1964 e 1982 e a sucessão rápida deste por Andropov e
por Tchernenko, que em 1985 foi substituído pelo reformista Mikhail Gorbachev
em 1985, abrindo caminho para uma melhor relação com o Ocidente, tendo
Gorbachev visitado a Grã-Bretanha e Thatcher a URSS, apesar da distância imensa
a ser superada.
Outro
episódio famoso foi a invasão argentina às Ilhas Falkland, que o governo
argentino reivindicava desde o século XIX, mas os ingleses vinham ocupando
desde 1833 e assim, explodiu a Guerra das Malvinas em 1982, sendo que Thatcher
não titubeou em enviar uma parte significativa da Armada Britânica, impondo uma
imensa derrota à Argentina, que naquele contexto, via na guerra uma tentativa
de exaltação do “nacionalismo” dentro o governo ditatorial de Leopoldo
Gualtieri: uma excelente propaganda para um regime falido, fadado ao fim, que
chegara pouco depois em 1984 com a eleição de Raúl Alfonsín para a presidência,
restaurando a democracia argentina.
As
sequelas da guerra ainda hoje incomodam os argentinos, sendo que sua atual
presidente, Cristina Kirchner, reivindica a devolução das “Malvinas” ao povo
argentino, enquanto no lado inglês, o governo britânico não tem interesse em
discutir esta questão e como definição deste assunto, um plebiscito realizado
no mês de março deste ano, deu mais de 90% de apoio à presença britânica.
Ao
longo de seu governo, Thatcher enfrentou greves, passeatas, paralisações entre
os trabalhadores de diferentes setores da economia inglesa; a juventude sentia
o desamparo com poucas chances para jovens suburbanos que não conseguiam estudo
ou emprego e nesse ambiente de tensão surgiu o movimento punk e skinhead,
contestando o sistema e suas imposições, que foram ecoando em outras partes do
mundo ocidental.
Além
disso, o IRA (Exército Republicano Irlandês) tentou assassinar Thatcher em
1984, mas ela saiu ilesa de um fracassado atentado à bomba e isso se somou a
sua postura intransigente para defender suas ideias: nasceu a expressão “Dama
de Ferro”.
Thatcher
viu a queda do bloco comunista e o início do fim da URSS antes de deixar o
poder com uma baixa popularidade, quando fora sucedida pelo conservador John
Major entre 1990 e 1997. Saiu da vida política tendo seus serviços reconhecidos
pela rainha Elizabeth II através de um título de baronesa, dando-lhe assento na
Câmara dos Lordes até 2003 e depois deixou a vida pública, mas tendo ficado
para trás um modelo de organização política e econômica que foi exportado para
diferentes países, fazendo do neoliberalismo uma tendência até o presente
momento.
Desde
sua morte, alguns de seus críticos e viscerais inimigos tem cantado uma das
músicas que no filme “O Mágico de Oz” era interpretada pela atriz Judy Garland,
ao comemorar a morte da bruxa que a perseguia “Ding, dong! The witch is dead” : A bruxa está morta!
Desrespeito?
Talvez um bom exemplo de exercício de liberdade de expressão num país que
Thatcher deixou profundas marcas, dividindo opiniões, mesmo em sua morte.
Sugestão de filmes:
This is England! 2006, Direção de Shane Meadows.
A Dama de ferro, 2012, Direção de Phyllida Lloyd.
Música:
Ding Dong! The Witch is Dead!
Trilha sonora do “O mágico de Oz” 1939, direção de Victor Fleming, 101 min –interpretada por Judy Garland no papel de Dorothy
Once there was a wicked witch
In the lovely land of oz
And a wickeder, wickeder,
Wickeder witch that never, ever was
She filled the folks in munchkin land
With terror and with dread
Till one fine day from Kansas
A house fell on her head
And the coroner pronounced her: dead
And through the town the joyous news went running
The joyous news that the wicked old witch
Was finally done in
Ding-dong! the witch is dead!
Which old witch?
The wicked witch
Oh!
Ding-dong! the wicked witch is dead!
Wake up you sleepy head
Rub your eyes
Get out of that bed
Wake up! the wicked old witch is dead!
She's gone where the goblins go
Below, below, below - yo-ho!
Let's open up and sing
And ring those bells out...
Sing the news out!
Ding-dong! the merry-o
Sing it high and sing it low
Let them know the wicked old witch is dead
Why everyone's glad
She took such a crownin'
Bein' hit by a house
Is even worse than drownin'
Let them know the wicked old witch is dead!!!
Ding Dong! A Bruxa Está Morta!
Era uma
vez uma bruxa malvada
Que vivia
na encantadora Terra de Oz
E bruxa
mais má, mais má,
mais má
que aquela jamais se viu
Ela
enchia os povos das Terras do Leste
de medo e
de pavor
Até que
um belo dia vinda do Kansas
Uma casa
na cabeça acertou
E o
legista a deu por: morta!
E a boa
nova correu pela cidade
A boa
nova de que a velha bruxa má
Finalmente
foi derrotada
Ding
dong! A bruxa está morta!
Que bruxa
velha?
A bruxa
malvada
Ah!
Ding dong! A bruxa
está morta!
Acorde
seu dorminhoco
Esfregue
os olhos
Saia
dessa cama
Levante!
A velha bruxa má está morta!
Ela foi
para onde os gnomos vão
Lá para
baixo, lá para baixo, láa para baixo - viva!
Vamos
cantar
E tocar
os sinos...
Celebrar
a novidade!
Ding
dong! A alegria de
Cantar
bem alto ou bem baixinho
Contem a
todos que a velha bruxa má está morta
Estão
todos contentes
Que bela
coroa ela gonhou
Ser
atingida por uma casa
É pior
que se afogar
Contem a
todos que a velha bruxa má está morta!
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