A situação da Síria tem trazido grande apreensão para a comunidade internacional na atualidade, especialmente desde 21 de agosto, quando um ataque às forças rebeldes com armas químicas ( gás sarín, mostarda e RX) provocou a morte de 1500 pessoas, sendo 400 crianças, mostrando uma faceta ainda mais sórdida do regime ditatorial controlado pela família Assad, desde 1970.
Bashar Al-Assad (despoticamente no poder desde 2000)
Respeito aos Direitos Humanos nunca foi algo importante aos Assad há décadas e assim, sua sangrenta ditadura foi tolerada pela mesma comunidade internacional que , agora, a julga e isso já tem mais de 40 anos, mesmo a França, antiga controladora da região entre 1918 e 1948, não foi tão dura contra o pai de Bashar, o general Hafez Al-Assad, que com um golpe de Estado, assumiu o controle da Síria em 1970, abrindo caminho para a radicalização contra Israel e por sua vez, uma forte oposição aos EUA no Oriente Médio.
Hafez Al-Assad (foto acima) foi apoiado pela URSS, especialmente, com a venda de armamentos, empréstimos e " consultoria" e assim, podemos entender na atualidade, a relação controversa da atual Rússia com o regime dos Assad, ainda mais que foram estes últimos os responsáveis pela autorização para os russos construírem uma base militar em Tartus, uma região portuária arrendada desde 1972 pelos russos e assim constitui uma sensível ameaça à logística de defesa ocidental no Mar Mediterrâneo, que até então, era uma área de maciça presença dos EUA, Grã-Bretanha e França.
O partido Baath, que significa " renascimento " foi uma importante força política responsável por uma aproximação com o socialismo durante a Guerra Fria, mas assim como no bloco comunista, ao se estabelecer no poder, cunhou uma estrutura autoritária e personalista, não conseguindo oferecer uma melhora na condição de vida da população e colaborou para a estagnação das forças populares, já que estas não detinham nenhuma expressão na essência do partido.
Nasser: a voz do mundo árabe
O Baath colaborou para construir uma força de união entre os árabes, possibilitando por exemplo, em 1º de fevereiro de 1958, a formação da República Árabe Unida, fusão temporária com o Egito de Gamal Abdul Nasser, no entanto, os atritos entre este último e a elite política síria favoreceram a instabilidade precoce da recém nascida república, especialmente pelo centralismo de Nasser como o principal agente daquilo que era o pan-arabismo, a ideia de uma integração plena entre os países árabes, fortalecendo-se perante Israel e seus aliados ocidentais, em destaque, os EUA.
Brasão da República Árabe Unida
Em 28 de setembro de 1961, um golpe de Estado tirou a Síria da RAU e levou à brutalização do já bastante autoritário regime sírio. Em 1967, a Síria voltou a apoiar o Egito na chamada Guerra dos Seis Dias contra Israel, sendo que este último saiu vencedor, tomando a Península do Sinai do Egito e as colinas de Golã da Síria e em 1970, sobe ao poder, o general Hafez Al-Assad, um militar alauíta (facção xiita minoritária que representa 10% da população síria).
Podemos comparar a composição religiosa da Síria ao seu característico artesanato de marchetaria com motivos geométricos encaixados, formando desenhos abstratos e geometrizados. Observe o mapa abaixo:
O predomínio populacional é dos Sunitas, sendo os alauítas (xiitas), e pelo fato do clã Assad ser dessa denominação, sua condição e poder estão assegurados, diferentemente dos cristãos ortodoxos e drusos e os curdos, as principais manifestações religiosas, mas que estão dispersas pelo território, desprovidas de uma maior representação política e que buscavam uma convivência pacífica dentro de uma sociedade síria significativamente tolerante.
Na atual brutalidade dos fatos, com mais de 100.000 mortos, pelo menos o sêxtuplo disso em refugiados se espalhando pela região ou buscando refúgio em outros países na Europa e Américas, o regime de Bashar Al-Assad se conserva numa sobrevida bastante particular, a qual se manifesta na inoperância da ONU, já que seu Conselho de Segurança está dividido pela adoção de sanções punitivas e nesse caso, o aval é dado pela China e Rússia, enquanto EUA, França e Grã-Bretanha, defendem uma ação maior, inclusive a intervenção armada, mas como os aliados e interlocutores de Assad (China e Rússia) já manifestaram seu veto às sanções, fica bastante limitada a possibilidade de uma intervenção militar ocidental ou mesmo, um plano de ação que pudesse dar conta da liquidação das armas químicas e a transição política que tirasse os Assad, abrindo caminho para um reestruturação política da Síria, mas nesse caso, os radicais islâmicos almejam entrar em ação, quem sabe estabelecendo um regime guiado pela Sharia (a lei islâmica), fato que agradaria o aliado regional Irã e preocupa os países ocidentais, além de Israel.
Neste complexo tabuleiro, apesar de alguns xeques, o "rei Assad" continua se movendo e o lance final está longe de ocorrer e de um lado, temos um regime autoritário protegido pela ajuda russo-chinesa e de outro, uma facção rebelde que tem recebido dinheiro e armas leves do Ocidente, mas está bem desorganizada para obter o "xeque mate". Empate?
Enquanto isso, o sangue escorre pela Síria....