Em 1979, tem-se o início da Abertura política e o processo deAnistia a todos os acusados de crimes políticos de ambos os lados (pró e contra a Ditadura), revogou-se o AI-5. Não foi a anistia “ampla, geral e irrestrita” que pediam os movimentos populares, mas, “lenta, gradual e segura”. Com a Lei de Anistia, os exilados puderam voltar ao Brasil e se engajaram na luta para o fim do governo militar.
Restabeleceu-se a liberdade partidária, extinguindo-se o MDB(oposição ao Regime Militar) e a ARENA(partido apoiador do Regime Militar), e foram prometidas eleições diretas para presidente "para breve".
Os integrantes do MDB criam o PMDB e a ARENA deu origem ao PDS. Outros políticos fundaram um partido mais moderado e batizado com o nome de PP (Partido Popular), liderado por Tancredo Neves. Leonel Brizola e Ivete Vargas (sobrinha de Getúlio) lutaram pela herança do trabalhismo e da sigla PTB, sendo que a vitória coube a Ivete. Brizola, que havia acabado de voltar do exílio, decidiu-se pela criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), tentando rivalizar com o PTB, apesar de este apresentar um perfil muito mais conservador do que nos tempos de Getúlio.
Fruto de uma articulação de intelectuais e políticos de esquerda, estudantes e sindicalistas empolgados com o sucesso das greves do ABC, surgiu o PT (Partido dos Trabalhadores), que se tornou o substituto do PCB (ainda ilegal na época) junto ao comando dos trabalhadores organizados.
Em 1982, ocorreram as eleições democráticas para governador ainda sob a legislação casuísta da ditadura. Fortalecidas com o resultado das urnas, as oposições lançaram o movimento das Diretas Já em 1984, mobilizando centenas de milhares de pessoas em todo o País com comícios e passeatas, com a presença de artistas, intelectuais e políticos de diferentes tendências, mas que se uniam contra um inimigo comum: o Regime Militar.
Um Projeto de Emenda Constitucional, conhecida como a Emenda Dante de Oliveira (deputado do PMDB que apresentou o projeto constitucional) foi barrada pela bancada situacionista liderada pelo PDS e não conseguiu os votos de 2/3 do Congresso como exigia a lei. As eleições ocorreriam apenas em 1985, ainda indiretas, pelo Colégio Eleitoral. Dessa forma, o objetivo foi frustrado: as eleições diretas não ocorreram.
A oposição ao Regime Militar tentou levar a mobilização das “Diretas Já” para o Colégio Eleitoral, com a chapa Tancredo Neves (PP) e Ulisses Guimarães (PMDB). No lado situacionista, o ex-governador indicado de São Paulo e então deputado federal, Paulo Maluf, em sua ânsia de chegar à presidência da República, acabou por indispor-se com as lideranças de seu partido, o PDS, provocando uma cisão que deu origem ao Partido da Frente Liberal (PFL), autodenominado "PDS não malufista". O PFL passou a apoiar a candidatura de Tancredo Neves e recebeu a vice-presidência na pessoa de José Sarney. O PT não participou do Colégio Eleitoral e puniu os três deputados que desobedeceram a determinação partidária.
Tancredo saiu vitorioso, porém em virtude de graves problemas de saúde, foi internado e faleceu, fazendo com que seu Vice, José Sarney (antigo membro da ARENA) assumisse a Presidência, dando início à redemocratização, no cumprimento de um mandato de 05 anos e se responsabilizando pela convocação de uma Assembleia Constituinte, eleita em 1986 e cujos trabalhos resultaram na promulgação da Constituição de 1988. As eleições diretas só viriam em 1989 e desse modo, José Sarney passou a faixa presidencial a Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito direto na chamada "Nova República".
É importante entender que, apesar da movimentação e clamor popular, a transição para a democracia foi "lenta, gradual e segura" como dissera Geisel, fato que não desvaloriza as lutas anteriores e toda a agitação crescente desde as greves do ABC entre 1979 e 1980 e a reformulação do sistema partidário brasileiro, pois assim, não se pode pensar que a atual democracia foi uma "concessão generosa" dos militares, mas fruto de um árduo processo.
"Grândola, Vila Morena" é uma música, de 1964, composta pelo músico português Zeca Afonso(1929-1987) e se tornou uma senha do golpe de Estado que depôs o governo de Marcelo Caetano em 25 de abril de 1974, a chamada "Revolução dos Cravos".
Zeca Afonso foi um engajado artista que combateu o autoritarismo exercido pelos governos de Salazar (1926-1970) e Marcelo Caetano (1970-1974), marcado pelo cerceamento das liberdades, pelo imposição de perseguições e detenções acompanhadas de tortura contra os presos pela PIDE (Polícia Interna de Defesa do Estado).
O Movimento das Forças Armadas (MFA) foi formados pelos oficiais de patente mediana (capitães) com o intuito de encerrar as guerras contra a independência das colônias em Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, que em virtude da resistência local, vinha consumindo milhares de soldados, especialmente os mais jovens e por seu turno, findar o regime encabeçado pro Marcelo Caetano, antigo ministro e herdeiro de Antônio de Oliveira Salazar.
A partir de então, começou o movimento que deu origem à atual democracia portuguesa, dentro de um sistema republicano e de regime parlamentarista, com a reorganização partidária, elaboração de uma Constituição por uma Assembléia Constituinte a partir de 25 de abril de 1975 e tendo assim, o primeiro governo constitucional liderado pelo socialista Mário Soares em 1976.
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Sugestões do Gabinete:
Grândola, Vila Morena na voz de Zeca Afonso em 1983:
"Capitães de Abril". Direção de Maria de Medeiros, 1999, 125 min.:
Em Portugal, na noite de 24 de abril de 1974, o rádio tocava uma canção proibida, "Grândola". Era o esperado sinal para o grupo militar que iria mudar o destino do país. Ao som da voz do poeta José Afonso, as tropas avançaram, marchando sobre Lisboa. Em contraste com a trágica tentativa do ano anterior, a Revolução dos Cravos se desenrolou como uma grande aventura, em busca da paz e de lirismo.
Gostaria de convidá-los para assistir uma AULA GRATUITA* que servirá de divulgação para estes dois cursos que estou desenvolvendo em parceria com o Curso Identidade. Será nesta SEXTA-FEIRA, 25/04, na sede do Curso Identidade: Rua Tenente Gomes, 27 - Liberdade - São Paulo. Fone: (11) 2371-3402 ou com a Luciana pelo fone: (11)987114649.
A ideia é divulgar o curso e permitir que os interessados conheçam o meu trabalho, bem como a metodologia e materiais utilizados.
Os eventuais interessados em continuar o(s) curso(s) deverão se informar sobre os valores e formas de pagamento na secretaria do Curso Identidade.
Curso I : Filosofia nos vestibulares
Prof. Elias Feitosa
Horário: Sexta-feira – 14:00 às 16:00h
Carga Horária: 16 horas (8 encontros de
2horas)
Período: 25/04 a 13/06 (2 meses)
Local: Curso Identidade - Rua Tenente Gomes, 27 - Liberdade - São Paulo
Metodologia: aula expositiva para
apresentação dos conceitos e contexto de sua produção; leitura de fragmentos de textos e resolução
de exercícios dos últimos vestibulares (Unicamp/Unesp/UEL/UFMG e ENEM) que têm colocado um peso maior na cobrança dos conhecimentos específicos de Filosofia.
Programa:
Aula 01: Introdução à Filosofia AULA GRATUITA 25/04*
Aula 02: Gregos e Romanos (Cínicos,
Estoicos e Céticos; Atomistas e Epicuristas)
Aula 03: Filosofia Medieval (Fé X
Razão; A Escolástica)
Aula 04: O Mundo árabe: a ponte do
Ocidente com a Antiguidade
Aula 05: Conhecimento (Renascimento e
Iluminismo; Razão e Experiência)
Aula 06: Modernidade I (Política e
Idealismo)
Aula 07: Modernidade II: Niilismo e
Existencialismo
Aula 08: Pós- Modernidade: a filosofia
contemporânea
Curso II: História da Arte
Prof. Elias Feitosa
Horário: Sexta-feira – 16:30 às
18:30h
Carga Horária: 16 horas ( 8 encontros de 2 horas)
Período: 25/04 a 13/06 (2 meses)
Local: Curso Identidade - Rua Tenente Gomes, 27 - Liberdade - São Paulo
Metodologia: aula expositiva para
apresentação dos principais movimentos artísticos que abarcam o período entre
os séculos XIX e XX, seus principais artistas e obras, cujas análises serão
realizadas em sala, bem como a discussão da bibliografia obrigatória das Provas
específicas. De acordo com o contexto, também serão abordadas as produções
artísticas relacionadas à música, literatura, cinema, arquitetura e fotografia.
Programa:
Aula 01: Introdução à História da Arte AULA GRATUITA 25/04*
A Inconfidência
Mineira de 1789 foi essencialmente um movimento de elite, alimentado
basicamente pelas ideias de um grupo de homens que, longe de se assemelharem ao
conjunto da população brasileira da época, criticavam a impossibilidade de
ascensão social e política aos habitantes da colônia. Os integrantes, em sua
maioria latifundiários e relacionados com a maçonaria, inspiraram-se no movimento revolucionário que possibilitou a independência dos Estados Unidos, depois de uma ampla guerra contra a Grã-Bretanha (1776-1783).
De maneira geral, tinha a influência do Iluminismo, ou seja, contestação da tradicional política absolutista e proposta de uma sociedade baseada na igualdade de todos perante a lei, influenciados pelas ideias de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, mas não ainda pela Revolução Francesa, a qual só explodiria em 14 de julho de 1789 e o movimento mineiro ocorrera nos idos de abril daquele ano.
Dentre os
participantes, ganharam notoriedade os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás
Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, o Padre José Oliveira Rolim, os oficiais militares Francisco de Paula
Leite e Domingos de Abreu e, por fim, o também alferes (patente equivalente a subtenente) e,
Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como “Tiradentes”, pelo fato de ter exercido a função de dentista prático .
O objetivo
da revolta era transformar a colônia em uma república, mas que pouco se
diferenciaria da estrutura implantada pelos portugueses. Propunha-se uma nova
bandeira, uma Constituição liberal e a criação de uma Universidade, mas o
caráter econômico voltado para o mercado externo seria mantido. Mesmo a questão
do fim da escravidão deu margem a várias discussões, pois era difícil
contrariar os interesses daqueles que possuíam e dependiam do trabalho escravo, portanto, nunca foi parte central dos planos para a "futura nação".
Para
iniciar a insurreição, o plano era, de certa forma, simples:
Eram tempos difíceis. O Ouro rareava nas lavras e leitos e a Colônia não conseguia cumprir a meta de enviar 100 arrobas de ouro anuais (1,5 tonelada), assim sendo, as dívidas iam se acumulando e a Coroa poderia se valer da força para executar tais dívidas e nisso, vivia-se sob à ameaça da Derrama (cobrança forçada dos impostos atrasados que, implicava até no confisco de bens pela Fazenda Real), os
rebeldes esperariam que os membros militares tivessem poder sobre suas tropas,
tomando, assim, as ruas e proclamando a independência, que seria prontamente
apoiada pela população. Porém, três membros ativos do movimento, Joaquim
Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona, delataram os
companheiros ao governador da capitania, Visconde de Barbacena, com a garantia
de que a participação deles na Inconfidência seria esquecida e suas dívidas,
perdoadas.
A Derrama foi suspensa e os líderes do movimento conspirador foram sendo sistematicamente identificados e presos. A acusação era de "inconfidência", expressão que no sistema jurídico português significava "a quebra da confiança para com o Soberano" e assim, configurava "traição", um crime de lesa-majestade que era punido com a morte.
Houve, então, um longo processo que foi repleto de situações duvidosas, como por exemplo, o suicídio de Cláudio Manuel da Costa, que fora encontrado enforcado em sua cela, mas que para alguns historiadores, ele teria sido assassinado ou então, nas teses mais fantasiosas, teve um suicídio forjado e um outro corpo fora colocado em seu lugar, enquanto o verdadeiro Cláudio teria fugido para a Europa.
A sentença foi de pena capital (execução) para todos, porém, a rainha D. Maria I comutara a pena para degredo
(deportação) de quase todos os participantes para os domínios de África, exceto Tiradentes, que, sendo
praticamente o único que havia assumido a participação no movimento, a execução foi mantida.
A Coroa necessitava do uso da pedagogia do medo: externar claramente o que acontecia contra aqueles que desafiavam o seu poder, pois a independência dos EUA abrira um precedente bastante marcante no mundo colonial das Américas.
Em 21 de abril de 1792, na cidade do Rio de Janeiro, Tiradentes foi enforcado e esquartejado. Sua casa em Vila Rica (hoje Ouro Preto) foi destruída e o chão, salgado para que nada ali crescesse; seus
descendentes foram amaldiçoados e a cabeça do inconfidente ficou exposta no poste da infâmia, em frente ao Palácio do Governo, na praça principal de Vila Rica, enquanto as outras partes de seu corpo foram espalhadas pelas estradas que ligavam a cidade aos diferentes pontos da província de Minas.
Posteriormente, o movimento republicano teve seu triunfo no golpe de Estado de 1889, responsável pela deposição do imperador D.Pedro II. Naquela altura, o novo regime carecia de "heróis" e assim, sua liderança restituiu o espaço de importância para o alferes martirizado pela Coroa de Portugal e desse modo, construiu em torno de Tiradentes a imagem do “herói da República”.
No entanto, em virtude da inexistência de imagens ou retratos em que seu rosto fosse identificado, o imaginário republicano foi se valendo mais da fantasia do que da realidade: pelos relatos escassos, sabe-se que Tiradentes era mulato e que era costume no processo de aplicação da pena capital, raspar cabelos e barba dos condenados, porém, a "nova ordem republicana" era ainda acompanhada de velhos preconceitos, então, optou-se pelo embranquecimento do herói: no quadro ao lado, pintado por José Walsht Rodrigues, em 1940 e hoje, parte do acervo do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro, temos uma das poucas imagens que remetem à carreira militar do herói, mas sua produção é bastante posterior ao período da Inconfidência, bem como desprovida de fontes seguras.
Mais tarde, somou-se esforços para construir-lhe uma imagem solene de mártir,promovendo a reprodução de retratos onde a figura do inconfidente foi associada
à figura de Jesus Cristo: a morte injusta de homem pobre que lutou por uma grande
causa. Nesse processo, o quadro pintado em 1893 por Pedro Américo (o mesmo autor de "Independência ou morte" que se encontra no Museu Paulista da USP, no Ipiranga, na cidade de São Paulo) e que hoje se encontra no acervo do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora, Minas Gerais, tem um peso capital.
A disposição das partes do corpo de Tiradentes na tela de Pedro Américo tem uma intenção primordial: enaltecer a condição de mártir, cuja cabeça ocupa o campo central e que com as traves da forca, pode ser vista como se estivesse no centro de uma cruz, e justamente este símbolo é que aparece ao seu lado, provocando a ligação imediata entre os "salvadores" injustiçados (Cristo na cruz e Tiradentes na forca), que pode também ser vista pela corda pendente e frouxa, perto da cruz e não muito distante da cabeça.
Sublinha-se o quesito do "embranquecimento", no caso, Pedro Américo lhe confere um castanho arruivado, que se combina bem com a cor das traves da forca ou com o sangue do próprio morto, mas se fosse uma imagem de precisão histórica, deveria mostra-lhe de cabeça e barba raspadas.
Os símbolos religiosos, a condição de mártir e injustiçado ficaram até os dias atuais, bem como a ideia de que fora o único a ser executado pelo fato de ser pobre, mais uma vez a reiteração da justiça aplica somente aos pobres e miseráveis enquanto impune aos ricos e poderosos. No entanto, em pesquisas recentes, como a tese de André Figueiredo Rodrigues, defendida em 2010 no Depto de História da USP, encontramos uma listagem que apresenta os bens de todos os envolvidos no processo da Inconfidência e quando observamos as posses de Tiradentes, vemos que ele tinha casa na cidade, uma fazenda modesta, escravos e tinha dividendos com a extração de ouro e dessa forma, seja na sua época ou mesmo se cometermos o anacronismo de pensarmos o valor de seus bens no tempo atual, Tiradentes não se enquadraria/enquadra na condição de "pobreza".
Muito bem, neste ponto é que encontramos o momento de separar o mito da História, para que a compreensão de ambos seja possível, cada qual em seu espaço, mas sem que haja a chance de perdermos a História em favor do mito, como que este último, por mais poético e conhecido que seja, tenha o direito de se tornar uma "versão intocável e oficial" da História.
Sugestões do Gabinete:
"Os Inconfidentes". Direção de Joaquim Pedro de Andrade, 1972, 100 min.:
Produzido no auge do Regime Militar e lidando com um personagem bastante caro ao imaginário político brasileiro, Joaquim Pedro revisitou a "história oficial" naqueles momento em que o Brasil comemorava os 150 anos de Independência e tentava pensar a sua História, ainda que controlada e censurada pela ditadura.
"Tiradentes". Direção de Oswaldo Caldeira, 1999, 118min. :
Apesar do momento de sua produção, se comparado com a indicação anterior, o filme de Caldeira busca recontar o "mito", valendo-se dos clichês e repetições da visão mais tradicional da História, sem uma reflexão ou discussão real sobre o papel de Tiradentes em sua época.
Quando nos referimos ao continente africano, ainda marcados pelo desconhecimento e pelo eurocentrismo, tendemos a vê-lo como como "uma coisa só" sem diferenças ou nuances, bem como, falamos do Egito, geralmente o conectamos com o Oriente Médio e esquecemos que se encontra no mesmo continente africano que Angola ou Congo.
O colonizador europeu construiu a ideia de uma "África", enquanto que se pensarmos o continente por suas próprias características, deveríamos pensá-lo em "Áfricas", respeitando suas diferenças étnicas, culturais e organizacionais, ao observarmos o mapa abaixo:
Fonte: Atlas Geopolítica - Editora Scipione
A África foi totalmente repartida entre as potências
europeias que se envolveram em conflitos pelas posse dos melhores territórios.
Na Ásia, foram estabelecidos os protetorados
que se submetiam aos países europeus. Por vezes, culturas milenares passaram à
"proteção" das potências europeias.
A Inglaterra construiu um império
colonial várias vezes maior que o seu território europeu. Os domínios do reino
da Rainha Vitória incluíam os territórios atuais: Egito, Nigéria, Sudão, Uganda,
Quênia, Zâmbia, Zimbábue, Malawi, Botsuana e África do Sul.Na Ásia e na Oceania, os britânicos
dominaram a Índia, a Austrália, a Nova Guiné e uma infinidade de pequenas
ilhas. A Austrália, que inicialmente era uma colônia penal, transformou-se,
pois a presença europeia tornou-se majoritária, isso gerou
sérias dificuldades para os habitantes “naturais” do território devido aos
choques e conseqüentes massacres da população aborígenes. Essa expansão
inglesa proporcionou uma era de prosperidade e estabilidade política ao país. A
chamada Era Vitoriana, o longo reinado da rainha Vitória entre 1837 e 1901,
viu a Inglaterra conquistar para sempre o respeito dos demais europeus como
exemplo de organização, desenvolvimento econômico liberal e modernização gradativa da democracia.
Tudo isso
só foi possível mantendo-se um severo controle e exploração sobre as colônias.
A França dominou (atuais) Mauritânia, Mali, Niger, Argélia, Congo,
Chade e Gabão, formando a África Ocidental Francesa. Já na segunda metade do
século XIX, o sudeste asiático foi reduzido à condição de colônia francesa,
englobando Vietnã e Camboja. Na África, principalmente na Argélia, a conquista
fez-se com o auxílio da legião estrangeira, corpo expedicionário criado pelo
governo francês composto por criminosos, desertores, imigrados políticos e
aventureiros.
França e
Inglaterra disputavam o título de maior conquistador de colônias. O projeto
colonial inglês, batizado de “Do Cairo ao Cabo”, pretendia unificar em uma
única colônia os territórios compreendidos entre o Egito e a África do Sul. A
construção do Canal de Suez impulsionou a Inglaterra no Oriente Médio, apesar
da presença francesa na região.
Até mesmo a
minúscula Bélgica conquistou o Congo
Belga (atual Zaire), uma região várias vezes maior que seu território europeu. O marco inicial da "corrida colonial" foi a
anexação de todo o território do rio Congo como patrimônio pessoal do rei da
Bélgica Leopoldo II, processo acompanhado de intensa violência contra a
população local.
A Itália e a Alemanha não
conseguiram construir grandes impérios coloniais devido à sua unificação
tardia, muito embora os italianos tenham conquistado a Líbia e a Somália e
tenham tentado fixar-se na Abissínia (Etiópia), enquanto a Alemanha apossou-se
dos Camarões e da Namíbia.
Em 1885,
Otto von Bismarck, primeiro ministro da Alemanha recém-unificada, pretendendo
melhorar a posição de seu país, reuniu representantes de todos os interessados
na partilha da África em um importante evento que ficou conhecido como ConferênciadeBerlim. A reunião foi um fracasso para os alemães, pois eles
não conseguiram ampliar seus territórios e, como agravante, os países presentes
acirraram ainda mais suas posições, prenunciando uma série de guerras por
territórios na África e na Ásia. Essa disputa por colônias e as rivalidades
resultantes foram fatores que contribuíram para a eclosão da Primeira Guerra
Mundial.
A "partilha" africana pós-Conferência de Berlim
Em 1918, com o fim da "Grande Guerra", o Império Alemão foi desmembrado na Europa e perdeu suas parcas colônias no continente africano, as quais foram redirecionadas para a Inglaterra, França e Bélgica. Observemos o mapa abaixo:
O imperialismo, segundo Eduardo Bonzatto, "dos fins do século XIX destruiu suas formas tradicionais de sobrevivência e nada colocou no lugar. Agora, instituições caridosas do mundo todo tentam ajudá-las a sobreviver. A ironia dessa questão está no fato de que a culpa de tanta tragédia parece ser uma exclusividade das vítimas e os brancos são seus salvadores caridosos.
De modo geral, existe um programa eurocêntrico para a África. Destruição de modos de vida tradicionais; empoderamento de certos grupos na opressão de outros; com a independência, instalação das macrosolidariedades do Estado-nação; naqueles que detinham alguma riqueza e que, por algum
tempo, sentiram o sucesso do desenvolvimento (pelo menos na perspectiva de suas elites) e que rapidamente viram sucateada sua infraestrutura com a derrocada da crise do petróleo de 1973; endividamento com o FMI e o Banco Mundial; e destruição final com endividamento (no caso da Zâmbia, as fábricas de roupas – base desenvolvimentista de países pobres – foram destruídas com
a “doação” de roupas de segunda mão vindas dos Estados Unidos e Europa).
Na fase do empoderamento, restos violáceos do tempo em que os belgas infernizavam os tutsis naquilo que um dia viria a ser Ruanda ainda podem ser resgatados em nome de alguma sanidade, na recusa de um discurso odioso que afirma, quase sempre, que depois que os europeus deixaram a África a selvageria retornara com mais violência."
Nas palavras de Philip Gourevitch: "Nada define tão vividamente a partilha quanto o regime belga de trabalhos forçados, que requeria verdadeiros exércitos de hutu para labutar em massa nas plantações, na construção de estradas e na silvicultura, sob as ordens de capatazes tutsi. Décadas depois, um velho tutsi rememorou a ordem colonial belga a um repórter com as palavras: ‘você açoita um hutu ou nós açoitamos você’."
Fonte: Atlas Geopolítica - Editora Scipione
Em abril de 1994,
após o assassinato do presidente Juvénal Habyarimana, em atentado ao avião em
que viajava, o avanço da Frente Patriótica Ruandesa produziu uma série de massacres no
país contra os tutsis, o que causou um deslocamento maciço da população para os campos de refugiados situados nas áreas de
fronteira, em especial com o Zaire (hoje República Democrática do Congo). Em agosto
de 1995,
tropas do Zaire tentaram forçar o retorno desses refugiados para
Ruanda. Quatorze mil pessoas foram então devolvidas a Ruanda, enquanto outras
150.000 refugiaram-se nas montanhas.
Mais de 800.000 pessoas foram massacradas. Quase todas as
mulheres foram estupradas. Muitos dos 5.000 meninos nascidos dessas violações
foram assassinados.
As atrocidades envolveram também os religiosos. Muitos clérigos de
várias denominações se posicionaram a favor de sua etnia. Padres, freiras,
pastores adventistas tomaram o seu partido em ambos os lados. Pelo menos 300
clérigos e freiras foram mortos por serem tutsis ou porque estavam ajudando os
tutsis. Outros, da etnia hutu, apoiaram ou até mesmo colaboraram com os matadores. Um dos casos
que se tornaram muito conhecidos foi o que envolveu o Dr. Gerard Ntakirutimana,
45, médico missionário que trabalhava em um hospital da Igreja Adventista do Sétimo Dia de
Mungonero, e seu pai, Elizaphan Ntakirutimana, um pastor protestante.
Os membros do Tribunal Penal Internacional para
Ruanda condenaram por unanimidade o Dr. Ntakirutimana, por
genocídio e por crimes contra a humanidade. Ele foi
sentenciado a 25 anos de prisão, pela morte de duas pessoas e por atirar em
refugiados tutsis em vários locais. Foi condenado também por participar de
vários ataques contra tutsis na Colina de Murambi e na Colina de Muyira. Seu
pai, o Pastor Elizaphan Ntakirutimana, 78, presidente da associação da Igreja
Adventista do Sétimo Dia em Mugonero, no oeste de Rwanda, foi condenado a 10
anos de prisão por crimes menores.
O Pr. Elizaphan levou os atacantes para
Igreja Adventista de Murambi, em Bisesero, onde era pastor presidente, e
ordenou a remoção do telhado do edifício, a fim de localizar os tutsis que lá
estavam abrigados. O ato conduziu à morte de muitos dos que estavam no local.
Ele também levou os atacantes a vários locais, para caçar tutsis.
De acordo com a BBC,
centenas de tutsis, dentre membros e pastores, que procuraram refúgio na igreja
e no hospital adventista, enviaram uma carta ao Pr. Elizaphan Ntakirutimana
pedindo socorro. A carta, segundo a BBC incluia a frase: "Nós desejamos informá-lo de que amanhã seremos mortos
juntamente com nossas famílias".
A resposta do Pr. Elizaphan Ntakirutimana foi de que eles deviam
se preparar para morrer. As milícias hutu, segundo testemunhas, chegaram pouco
tempo depois com os Ntakirutimanas. Só alguns tutsis sobreviveram a agressão.
Os Ntakirutimanas disseram no tribunal que eles tinham deixado a área antes das
matanças. O Pr. Elizaphan Ntakirutimana fugiu para os Estados Unidos depois
do massacre, mas foi extraditado para a Tanzânia.
Respectivamente da esquerda para direita, os Ntakirutimana, pai e filho.
Sugestões do Gabinete:
"Hotel Ruanda". Direção de Terry George, 2004, 121 min.
Um gerente do Hotel Mille Collines, em Kigali, foi o responsável pela salvação de 1.268 tutsis e hutus, abrigando-os no hotel. Paul Rusesabagina, que também é adventista, ficou mundialmente conhecido ao ser retratado no filme Hotel Ruanda. Paul, hoje residente na Bélgica, afirma que, se não forem tomadas posturas duras contra o tribalismo em Ruanda, o genocídio poderá voltar a ocorrer, agora pelas mãos dos tutsis, "governantes" do país desde o fim da matança. Por sua atitude, dentro de uma situação adversa semelhante ao nazismo na II Guerra Mundial, Rusesabagina ficou conhecido como o "Oskar Schindler" de Ruanda.
"O último rei da Escócia". Direção de Kevin Macdonald, 2006, 125min.
Nicholas Garrigan (James McAvoy) é um elegante médico escocês, que deixou recentemente a faculdade. Ele parte para Uganda em busca de aventura, romance e alegria, por poder ajudar um país que precisa muito de suas habilidades médicas. Logo após sua chegada Nicholas é levado ao local de um acidente bizarro, onde o líder recém-empossado ditador do país Idi Amin Dada (Forest Whitaker), atropelou uma vaca com seu Maserati. Nicholas consegue dominar a situação, o que impressiona o general Amin. Obcecado com a cultura e a história da Escócia, Amin se afeiçoa a Nicholas e lhe oferece a oportunidade de ser seu médico particular. Ele aceita a oferta, o que faz com que passe a frequentar o círculo interno de um dos mais terríveis ditadores da África e na generosidade desta oferta, a noção sobre a realidade e o perigo foram se tornando cada vez mais complexas.