A
Primeira Guerra Mundial foi um conflito em larga escala marcado pelo
acirramento das tensões econômicas, políticas e sociais na Europa durante o
final do século XIX e início do século XX, consagrando-se portanto, num choque
de imperialismos. Tal fato estava diretamente relacionado com a "corrida
colonial" provocada neste período pelas potências capitalistas com o
objetivo de obter fontes de matérias-primas e mercados consumidores.
O
processo de partilha das terras afro-asiáticas, no entanto, ocorreu de forma
desigual, favorecendo principalmente a Inglaterra e França, em detrimento de
potências em ascensão (como foi o caso da Itália e Alemanha, países que
constituíram-se como estados nacionais somente em 1870).
Dessa
forma, o cenário político europeu acumulou um intenso jogo de forças entre os
países possuidores de grandes impérios coloniais e os países menos favorecidos
neste sentido, disputando o controle hegemônico da Europa e dos mercados
capitalistas.
No plano
europeu, formou-se um grande foco de tensão entre a França e a Alemanha devido
à vitória alemã na guerra Franco-Prussiana em 1870. Os resultados dessa guerra
foram a unificação alemã, a anexação da Alsácia-Lorena (região rica em jazidas
de carvão e ferro) e o pagamento de uma vultosa indenização pela França,
implicando não só no desequilíbrio político-econômico do Estado francês (fim do
segundo império e a instauração da III República), mas também no surgimento de
um exacerbado nacionalismo através do revanchismo francês.
Além da
França, a Alemanha era concorrente direta da Inglaterra tanto no setor político
como no econômico, pois a industrialização alemã vinha num processo acelerado
desde a unificação e já no início do século XX ameaçava a Inglaterra na disputa
da produção industrial.
- Tríplice Aliança: formada por Alemanha, Itália e Império
Austro-Húngaro; posteriormente, recebeu a adesão do Império Turco Otomano.
- Tríplice Entente: composta por França, Inglaterra e Rússia; havia
uma aliança informal entre os russos e a Sérvia; vale lembrar que, no penúltimo
ano de guerra, os Estados Unidos também entraram no conflito.
A "Paz Armada" tinha sido desenvolvida
inicialmente pelo chanceler prussiano Otto von Bismarck. Acreditava ele que os
países haviam desenvolvido tamanha força de destruição que fariam o máximo para
evitar a guerra. Os anos seguintes, porém, mostraram que Bismarck estava
errado.
Um dos
fatores que impediu a paz entre os países foi uma disputa imperialista,
a chamada Questão Marroquina. Desde 1880, o
Marrocos era considerado uma região de portas abertas aos comércios e negócios
das potências europeias. Entretanto, em 1904, foi realizado um acordo entre
Inglaterra e França, pelo o qual o Egito seria entregue aos ingleses, enquanto
estes ajudariam e apoiariam a presença francesa no Marrocos. A Alemanha,
possuidora de poucas colônias, sentiu-se prejudicada e todas as tentativas de
acordos resultaram em fracassos.
Além da
disputa de caráter imperialista, a região dos Balcãs passou a ser conhecida
como “o barril de pólvora da Europa”, isso devido à tensão e às rivalidades
locais ali envolvidas:
- A região, de população
majoritariamente eslava, era cobiçada pelo Império Russo, que se apresentava
como o pai de todos os povos eslavos;
- A Sérvia pretendia unificar
todos os países da região dominada pelos austríacos, ocupando o lugar destes e
criando a Grande Sérvia;
- O Império Turco pretendia
expandir-se na Europa através daquela região, além de garantir a integridade do
território, que era cobiçado pelos ingleses ;
- O Império Austro-Húngaro, que
já era uma “colcha de retalhos nacionalistas”, ampliou seus domínios ao anexar a Bósnia-Herzegovina em 1908;
- A Inglaterra desejava dominar
aquele espaço para boicotar os planos de austríacos e alemães. Estes últimos
pretendiam construir a ferrovia Berlim-Bagdá, ligando os germânicos aos ricos
poços do Golfo Pérsico, área dominada pelos britânicos e cobiçada pelos russos.
Frente à
complexidade deste quadro, o assassinato
do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco , sobrinho do imperador da Áustria Francisco José (1848-1916), realizado por um grupo nacionalista extremista da Sérvia,
chamado “Mão Negra”, deve ser entendido como o “estopim” que deu início à guerra entre esses dois países,
disparando o sistema de alianças que colocou toda a Europa em guerra. Além dos
países europeus (e suas colônias), outros países entraram no conflito e daí, sua denominação inicial de "A Grande Guerra".
A tensão na região balcânica era crescente desde a anexação da Bósnia em 1908 e vários grupos extremistas buscavam intensificar a "unificação" das lutas pela causa eslava, levando o Império a ser enérgico na região. Foi nesse sentido que, foram planejadas, a realização de várias atividades militares, as quais contariam com a presença do Príncipe Herdeiro em Sarajevo, capital da Bósnia e a data escolhida não poderia deixar de ser a mais provocativa, o 28 de junho, lembrando a derrota do Reino Sérvio em 1389 para os turcos na batalha de Kosovo, momento que representou o início de um período de cinco séculos de dominação estrangeira.
Adam Stefanovic "A derrota cristã na Batalha de Kosovo" c. 1869
A Sérvia em 1914 era um pequeno país com pretensões expansionistas para restaurar as "glórias" do passado, unindo os povos eslavos sob sua tutela e nisso, surgiria a "Grande Sérvia", mas para tanto, só o enfraquecimento do Império Austro-Húngaro traria tais condições e assim, os Balcãs seriam livres da tutela estrangeira, que já fora turca e naquele momento era austríaca.
Francisco Ferdinando parecia, segundo algumas fontes difusas e controversas, estar pensando numa ampliação da participação das minorias eslavas na estrutura política do Império, bem como, assegurar a igualdade de direitos aos cidadãos austríacos e húngaros, fato que poderia dar origem a um "Império Tríplice": Austro, Húngaro e Eslavo, contando com participação eletiva e representativa.
No seio das correntes nacionalistas e extremistas, surgiam vários grupos, como a "Jovem Bósnia" e a "Mão Negra", que buscavam através de ações violentas, como o assassinato de chefes de Estado ou de Governo trazer a mudança, tal qual como os anarquistas que assassinaram o rei Humberto I da Itália em 1900, os carbonários responsáveis pelo duplo assassinato do rei Carlos de Portugal e seu herdeiro, o príncipe Luís Felipe, em 1908.
Naquele 28 de junho de 1914, Francisco Ferdinando tinha uma ampla agenda de compromissos a cumprir e se deslocaria em Sarajevo numa comitiva de carros abertos, dotados de escolta e guarda de honra. Logo no início, um atraso para a partida acabou por se configurar numa "manifestação de sorte", pois uma bomba colocada num dos carros da comitiva explodiu, porém, sem atingir o príncipe. Sua atitude fora de mero espanto: "É com bombas que vocês recebem seus convidados?", perguntou Francisco ao prefeito de Sarajevo.
O general austríaco Potiorek pediu a Francisco que retornassem o quanto antes para Viena, mas o Sua Alteza Imperial foi firme: o percurso e a agenda não seriam alterados. No percurso para a visita a um hospital, ao que parece, o motorista se atrapalhou e foi neste momento que, Gravilo Princip, um ativista de 19 anos, atingiu a queima-roupa o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa a condessa Sofia (que não era alvo) ao invés do general Potiorek.
Um desenho que mostra a "reconstiuição" do crime
Gravilo Princip
A prisão de Gravilo, logo após o assassinato.
Gavrilo foi preso e ficou detido por quatro anos num campo de prisioneiros, vindo a falacer de tuberculose. Face ao envolvimento dos nacionalistas sérvios no assassinato, o governo austríaco impôs um ultimato ao governo sérvio:
A Áustria-Hungria demandou que o governo sérvio deveria tomar as seguintes providências:
- Suprimir qualquer publicação que incite o ódio e a desobediência a monarquia austríaca;
- Dissolver imediatamente a sociedade Narodna Odbrana e proceder do mesmo modo contra outras sociedades engajadas na propaganda anti-áustria.
- Eliminar de instituições públicas sérvias quaisquer aspectos que sirvam para fomentar a propaganda anti-áustria;
- Remover do serviço militar todos os oficiais ligados à propaganda anti-áustria, oficiais que deverão ter seus nomes dados ao governo Austro-Húngaro;
- Aceitar a colaboração de organizações do governo Austro-Húngaro na supressão de movimentos subversivos direcionados contra a integridade territorial da monarquia;
- Iniciar uma investigação judicial contra os cúmplices da conspiração de 28 de junho que estão em território sérvio, com órgãos delegados pelo governo Austro-Húngaro fazendo parte da investigação;
- Prender imediatamente o major Voislav Tankosic e o oficial sérvio Milan Ciganovitch, comprometidos pelas investigações preliminares empreendidas pela Áustria-Hungria;
- Providenciar por meio de efetivas medidas a cooperação da Sérvia contra o tráfico ilegal de armas e explosivos atráves da fronteira;
- Fornecer à Áustria-Hungria explicações sobre declarações de altos oficiais sérvios tanto na Sérvia quanto no exterior, que expressaram hostilidades para com a Áustria-Hungria; e
- Notificar a Áustria-Hungria sem demora a execução dessas medidas.
28 de julho de 1914 foi a data limite foi estabelecida pelo Império Austro-Húngaro e uma vez que a Sérvia não cumpriu as exigências, tropas austro-húngaras invadiram o território sérvio, dando início à Grande Guerra.
Sugestão do Gabinete:
O link abaixo traz uma série de fotos do dia do assassinato e dos momentos seguintes:
http://g1.globo.com/mundo/fotos/2014/06/fotos-ha-100-anos-o-assassinato-de-francisco-ferdinando.html