A Primeira Guerra Mundial assinalou o fim de uma época de grande efervescência cultural, a chamada Belle Époque. O conflito iniciado em 1914 ainda trazia elementos de um mundo romântico, mas já demonstrava a forte presença da industrialização, como por exemplo o contraste entre o uso da cavalaria e o surgimento da infantaria blindada pelos tanques de guerra.
O conflito pode ser dividido em
três fases: a guerra de movimento (1914-1915); a guerra de trincheiras
(1915-1917) e o desfecho do conflito entre 1917 e 1918.
A primeira fase da guerra foi
marcada pelo rápido deslocamento das tropas alemãs em direção da França através
do território belga, cumprindo o plano Schlieffen (idealizado pelo general Alfred von Schlieffen, chefe do Estado-Maior do Império Alemão entre 1892 e 1906), pois visavam vencer a França
para depois atacar a Rússia. Tanto a Tríplice Aliança quanto a Tríplice Entente
acreditavam num rápido desfecho da guerra, ocasionando uma visão maniqueísta
(luta entre um lado que representaria o "Bem" e outro que encarnaria o "Mal") e romântica. Essa visão pode ser exemplificada pelo
episódio do dia de Natal de 1914, quando alemães e franceses interromperam os
combates, realizando um almoço de confraternização com direto a troca de
presentes entre si. No entanto, o conflito não foi tão rápido quanto se
acreditava. O processo de avanço dos exércitos tornou-se mais difícil, e a
partir daí, a guerra entrou numa nova fase, talvez sua fase mais cruel: a guerra
de trincheiras.
A impossibilidade de avanços fez com que os exércitos de ambos os lados cavassem profundas trincheiras com uma vasta rede de túneis interligado-as. O objetivo era defender as posições conquistadas. Para tanto, os recursos utilizados eram largas extensões de arame farpado, campos minados e ações de avanço e recuo entre ambos os lados em combate. O ataque consistia inicialmente num intenso bombardeio com a artilharia pesada, sendo ao término desse ataque dada a ordem de avanço para a infantaria; ou seja, para que os soldados fossem em direção à linha inimiga. O avanço, no entanto, era dificultado pela defesa através do uso das metralhadoras.
Esta forma de guerra tornava-se uma grande máquina de extermínio em proporções inigualáveis, pois milhares de vidas eram ceifadas para conquistar um ou dois quilômetros de território. Enquanto aguardavam as ordens de ataque ou se defendiam, os soldados eram submetidos a uma situação hedionda: frio, lama, piolhos, ratos e corpos em decomposição lhes fazendo companhia. Um exemplo deste morticínio foram as batalhas de Somme e Verdun, na frente ocidental em 1916, as quais consumiram 800.000 soldados alemães e 900.000 soldados ingleses e franceses. Este período também foi marcado pela utilização de armas químicas, como os gases cloro e mostarda por ambos os lados.
Durante a guerra de trincheiras
ocorreu uma alteração nas alianças, pois a Itália, até então aliada dos
alemães, tornou-se aliada dos ingleses, contribuindo para o desequilíbrio de
forças naquele momento (esta mudança ocorreu pela promessa de possessões na
África no caso da vitória franco-britânica). O conflito não sofreu grandes
alterações até 1917, pois as possibilidades de avanço eram pequenas e a guerra
se encaminharia para sua fase final com uma nova alteração das forças
envolvidas.
A Rússia se retira em outubro de
1917 em virtude da Revolução Socialista que derrubou o czar (realizando o
armistício de Brest-Litowsk formalmente em março de 1918); neste mesmo ano, os Estados Unidos entram na
guerra ao lado da Entente para equilibrar as forças desta última, fazendo com
que a pressão alemã fosse contida e o deslocamento dos exércitos alemães da
frente oriental para a ocidental não causasse um desequilíbrio na região de
conflito.
1917: o socialismo atinge o poder na Rússia.
O desfecho da guerra deu-se
através do início de uma série de negociações diplomáticas entre ambas as
partes. Uma das principais tendências era estabelecer a "paz sem
vencedores", proposta defendida pelo presidente norte-americano Woodrow
Wilson, que propôs um acordo conhecido como "Os 14 Pontos de Wilson",
que foram impressos em panfletos e jogados por aviões para os soldados e civis
alemães. No final de 1917 os alemães tentaram o último ataque contra os
franceses, mas foram detidos recebendo um pesado contra-ataque. Os austríacos,
demonstrando sinais de esgotamento, também pediram por um acordo de paz.
Devido à eclosão de uma grande
greve nas indústrias alemãs e um motim em Kiel, bem como a irredutível posição
do kaiser em manter a Alemanha em guerra, o Alto Comando do Exército Alemão (encabeçado pelos marechais Hindenburg e Ludendorf) forçou a abdicação de Guilherme II, que se exilou na Holanda e assim, teve início
a República na Alemanha.
O tão esperado armistício foi
assinado pelo novo governo em 11 de novembro de 1918, deixando um saldo de
destruição e morte nunca antes visto: cerca de 18 milhões de mortos, que eram
militares e também civis de várias regiões atingidas direta ou indiretamente
pelo conflito, como por exemplo, o massacre de aproximadamente 1,2 milhão de
armênios pelo exército turco em 1917.
Tratados de Paz
Com o término dos conflitos, os
países em guerra se reuniram no Palácio de Versalhes para a realização dos
acordos de paz. Participavam como representantes dos países da Intente o
primeiro-ministro inglês Lloyd George, o primeiro-ministro francês Clemenceau,
o presidente norte-americano Wilson e representantes dos demais países
envolvidos. Nesta conferência foi elaborado um acordo de paz mais radical
visando enfraquecer os alemães (como um armistício alemão foi assinado num
momento em que havia muitas de suas tropas em território francês, criou-se o
mito da invencibilidade alemã, ou seja, o alto oficialato alemão dizia-se
vencedor do conflito).
"Assinatura da Paz no Salão dos Espelhos"William Orpen, 1919, Imperial Museum of War, Londres, Grã-Bretanha.
No mesmo Salão dos Espelhos, no Palácio de Versalhes, onde os alemães fundaram o II Reich humilhando os franceses em 1870, os vencedores da Tríplice Entente humilharam os alemães com a Paz dos Vencedores em 1918-19.
Da proposta de Wilson foram
aproveitados dois pontos: a criação da liga das nações e a devolução da Alsácia
e Lorena para a França. Dessa forma foi imposta aos alemães a "paz dos
vencedores", com o Tratado de Versalhes de 1919: pagamento de uma
indenização de 133 bilhões de libras-ouro para os países vencedores, redução do
exército alemão a 10% do montante do início da guerra (100.000 homens),
proibição de presença militar na região da Renânia, limitação da indústria bélica
alemã, perda de 1/7 de seu território com a criação da Polônia e do corredor
polonês com o porto livre de Dantzig.
A Conferência de Versalhes serviu
para dar origem à Liga das Nações, uma instituição internacional que deveria
zelar pelo equilíbrio dos países. No entanto, não participavam dela a Alemanha
e a Rússia Socialista. Em 1919 foi assinado o Tratado de Saint-Germain, que
fundava o Império Austríaco, criando a Áustria, a Hungria, a Tchecoslováquia e
a Iugoslávia, e também passava para o controle italiano as regiões de Trieste,
sul do Tirol, Trentino e Ístria. Em 1920 foi assinado o Tratado de Sèvres, que
extinguia o Império Turco, reduzindo seu território e assim passava suas
possessões na Mesopotâmia (Iraque e Síria) e Palestina para o controle franco-britânico.