As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Links para uma Revisão FUVEST

 Caros alunos e leitores,

Seguem abaixo os links dos últimos conteúdos que trabalhei em sala de aula e espero que possam ajudar nesse momento de revisão e preparação final para a FUVEST. Bons estudos para todos!

História Geral:

Slides - Período Entre-Guerras: 
http://www.megaupload.com/?d=CW26DZD6

Slides - Da Guerra Fria à Atualidade:

Slides - O Breve Século XX (1914-1991)
http://www.megaupload.com/?d=O4MNF8OQ

História do Brasil

Slides - Era Vargas (1930-1945)

Slides - Regime Militar Brasileiro (1964-1985) e Redemocratização (1985-2002)

Slides - República Liberal (Brasil) (1945-1964)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reta final: Fuvest à vista!!!!


O próximo domingo (27/11) será crucial para cerca de 144.000 estudantes. São os candidatos ao vestibular da FUVEST, que selecionará para vagas da Universidade de São Paulo e Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Junto deste número, devemos multiplicar os familiares e amigos que acompanham a dura vida do vestibulando: horas e horas de estudo, pouco lazer, stress em alta, pouco sono e muita ansiedade e nervosismo. Cobranças mil, angústias mil...

O que pode ser feito neste momento final para colaborar com a preparação para a prova?

De um modo muito tranquilo, o ideal é desacelerar gradativamente: continuar estudando, fazendo a revisão da matéria, tirar as dúvidas pendentes e procurar fechar os cadernos na noite de sexta-feira.

Pode parecer estranho, mas o melhor a fazer é buscar o ponto de equilíbrio entre o estudo, lazer e descanso. Não acredito em estudo na véspera da prova, pois o vestibular se parece com a maratona, porque a preparação de ambos ocorre ao longo de um ano ou às vezes mais e assim, os músculos estão preparados, o fôlego controlado e a cabeça tranquila para encarar o desafio: 5 horas de prova sentado numa cadeira pouco confortável, tendo o relógio como maior  inimigo.

Muito esforço, bem em cima do grande dia, pode mais atrapalhar do que ajudar.

O ideal para este fim de semana é:

·         Dormir cedo, se possível, desde sexta-feira. Do sábado para o domingo é imprescindível!
·         Acordar tranquilamente, alimentar-se de modo correto e equilibrado.

·         Buscar ocupar o tempo com coisas não relacionadas com o vestibular: ir passear num lugar que lhe seja agradável, ir à uma exposição ou ao cinema ou teatro. Estar com quem você gosta, sejam os familiares, sejam amigos ou os(as) respectivos(as), namorados(as), mas nada de exagero....

·         Para quem está gripado, resfriado com este “novembro maluco” ou ainda com algum outro problema de saúde que envolva o uso de medicamentos, recomenda-se consultar seu médico para saber se nenhuma medicação vai atrapalhar sua condição física no momento da prova.

·         Hoje (21/11) já foram divulgados os locais de prova, então, é conveniente usar o sábado para localizar exatamente onde será seu lugar para fazer a prova, bem como a melhor e mais fácil forma de acesso em termos de transporte numa metrópole caótica como a nossa.

     Verifique corretamente o horário de abertura e fechamento dos portões. Caso tenha alguma dúvida, sobre o que é permitido ou não, consulte o manual on line da FUVEST: www.fuvest.br 

·         Confira, milhões e milhões de vezes, se você está com seu documento de identidade, antes de sair de casa.
·         Ao chegar ao local de prova, ignore a panfletagem ali realizada: folders, tabelas, resumos ali distribuídos só vão tirar a sua concentração! Então, educadamente recuse ou se pegar algum panfleto, guarde-o para ler no outro dia, lembrando que não há consulta na prova.

·         O clima está completamente estranho, mas uma garrafa de água é importantíssimo. Se trouxer algo para comer, seja ponderado, pois não adianta rebater a ansiedade comendo sem ter fome de fato. Procure alimentos leves (biscoitos e/ou barras de cereal) ou se for do seu agrado um doce, mas sempre tomando cuidado para não exagerar, pois a instabilidade emocional pode gerar inúmeros desconfortos e aí, a prova pode ser comprometida.

·         Uma vez na sala, deixe o necessário sobre a carteira e ao receber o caderno de questões, uma vez dada a autorização para começar, faça uma leitura geral da prova e depois inicie a resolução, partindo dos assuntos mais fáceis e conhecidos para as questões intermediárias e por fim, as mais complexas.


·         Na resolução das questões, leia atentamente o enunciado, grife o “comando da questão”: o que deve ser respondido. Analise todas as alternativas, não se deixando levar pela pressa.
·         Lembre-se que além do tempo de resolução, você precisar passar corretamente as respostas para o cartão óptico e assim, o controle do tempo é muito importante.

·         Use o tempo integral da prova sem se preocupar com o desempenho dos demais que estão na sua sala, saindo assim que for autorizado ou se você está com poucas pessoas na sala. Cada um tem uma estratégia particular.

·         E acima de tudo, o vestibular é apenas mais uma etapa da vida. Um rito de passagem que nossa sociedade desigual estabeleceu para promover o acesso dos jovens às Universidades, tentando se fiar no mérito para julgar todos de modo igual, pelo menos, aparentemente...
·         Passado o exame, começa um outro momento. Mas, caso não haja sucesso imediato, é imprescindível não desistir e sim, reavaliar as estratégias, corrigir o curso e seguir em frente.

Omar Khayam, um poeta persa do século XI, escreveu uma quadra (rubai em persa) e daí o nome do livro de poemas, Rubaiyat:

Não se prenda à lembrança do ontem, do anteontem,
Nem fique preocupado com seu amanhã;
O que passou, passou; o que há de vir, virá;
Seja feliz agora, pois o resto é vento.

Um excelente exame para todos!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Proclamação da República: 1º de muitos golpes de Estado



            Alguns autores defendem a importância dos políticos republicanos no fim da monarquia. Mas é importante destacar que essa participação parece não ter sido tão forte, já que o Partido Republicano foi fundado em 1870 e, mesmo gozando da mesma liberdade concedida aos outros partidos, elegeu pouquíssimos vereadores em 19 anos de existência.

            Em 1870, ano de sua fundação, o Partido Republicano publicou o Manifesto Republicano, no qual atacava a centralização do poder e o despotismo. No entanto, esta última expressão não pode ser entendida ao pé da letra, mas, sim, como fruto da visão da época, no calor dos acontecimentos. Pelo Manifesto, via-se a descentralização político-administrativa como a melhor solução para as províncias, que passariam a ter, com a República, autonomia para atender às conveniências das camadas dominantes locais.
            Os interesses haviam se diversificado de tal forma que não era mais possível subordinar-se apenas às decisões da aristocracia escravista, que, apesar de falida, ainda detinha o poder político.

Durante os primeiros 20 anos do Segundo Reinado, os partidos Liberal e Conservador dominaram a cena política. Em 1868, o primeiro dividiu-se em moderado e radical. O setor radical adotou os ideais republicanos e, em 1870, nascia o Partido Republicano - primeiramente no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo. Rapidamente, clubes e jornais republicanos divulgaram suas ideias pelo País.
Os principais membros do partido eram profissionais liberais e comerciantes, que recebiam o apoio das populações empobrecidas, do interior e dos centros urbanos, além da solidariedade dos fazendeiros do Oeste Paulista (os fazendeiros do Vale do Paraíba não participavam de tal movimento).

            Em 1873, na província de São Paulo, reuniu-se a Convenção de Itu, através da qual a elite cafeicultora paulista aderiu formalmente ao movimento republicano. Dos poderosos participantes dessa convenção, saíram futuros presidentes da República, como Prudente de Morais e Campos Sales.
            Era possível perceber que existiam duas facções no Partido Republicano. Na primeira, estavam os revolucionários, que desejavam a implantação da República através de uma revolução popular. Seu principal líder era o advogado Antônio da Silva Jardim, um ativo, inflamado e intransigente defensor da República e da abolição do trabalho escravo.
            Mas os republicanos eram em sua grande maioria contrários à revolução. O principal representante dessa corrente de evolucionários era Quintino Bocaiúva. A esse grupo também juntaram-se os seguidores do filósofo francês Augusto Comte, fundador do Positivismo, movimento que, inclusive, inspirou a inscrição “ordem e progresso” na bandeira brasileira.

            Do ponto de vista ideológico, a implantação do regime republicano estava associada à difusão dos ideais políticos do Positivismo. Entre o final do século XIX e início do XX, alguns pensadores tomaram como parâmetro o desenvolvimento das ciências da natureza e procuraram dar fundamentos científicos ao conhecimento humano. Havia a convicção de que uma ciência sobre os homens teria de passar pela negação das religiões, pois estas representariam entraves à busca pelo conhecimento. Essa doutrina foi abraçada, principalmente, pela jovem oficialidade do exército.
É interessante ressaltar que a influência política dos positivistas só se efetivou plenamente no Brasil depois da proclamação da República.

            Além dos pensamentos positivistas, alguns fatores imediatos precipitaram o fim da monarquia brasileira. Pode-se dizer que o Império Brasileiro apoiava-se sobre três colunas: a aristocracia militar, a Igreja Católica e os fazendeiros escravistas. Só que o regime acabou perdendo o apoio de cada um desses grupos em episódios que demonstraram a inabilidade dos monarquistas para realizar reformas que agradassem aos insatisfeitos e permitissem a sobrevivência do império.

QUESTÃO RELIGIOSA - O catolicismo era, como hoje, a religião oficial do Brasil e, como em Portugal, a Igreja estava subordinada ao Estado. A Constituição Imperial, já em sua primeira versão de 1824, previa entre seus artigos duas características herdadas das constituições portuguesas. A primeira era o Padroado, que dava ao imperador o direito de nomear e remunerar membros do clero, que ficavam, desta forma, subordinados diretamente ao monarca. A segunda era o beneplácito, que exigia que qualquer Bula (decreto emitido pelo Papa) fosse aprovada pelo Império antes de vigorar em território brasileiro.
            Em 1864, o Papa Pio IX emitiu a Bula Syllabus condenando a “ordem secreta” da maçonaria e proibindo o clero de participar dessa sociedade. O Império, entretanto, não aprovou tal documento, pois muitos políticos (e, provavelmente, o próprio Dom Pedro II) eram maçons.

Desrespeitando o imperador, porém obedientes ao Papa, o bispo de Olinda, Dom Vital de Oliveira, e o bispo de Belém, Dom Macedo, expulsaram vários padres e suspenderam irmandades de suas dioceses por práticas maçônicas.
            Por solicitação das irmandades atingidas, Dom Pedro II anulou as suspensões. Como os bispos não voltaram atrás em suas decisões, foram julgados e condenados a quatro anos de prisão e trabalhos forçados. A comutação da sentença, feita pelo Primeiro Ministro Duque de Caxias, não livrou o Império do mal-estar de haver condenado clérigos, nem lhe devolveu o apoio da Igreja. As prisões afastaram os católicos do governo imperial.

QUESTÃO ESCRAVISTA - Os cafeicultores da Baixada Fluminense atravessavam grandes dificuldades financeiras devido ao fracasso das fazendas que haviam instalado no Vale do Paraíba. Passaram, então, a sobreviver de seus empregos na administração imperial e do aluguel de seus escravos (negros de ganho). Ao mesmo tempo, um novo grupo começava a despontar no cenário econômico brasileiro. Eram os cafeicultores do Oeste Paulista que, por falta de capital, tinham sido obrigados a lançar mão do trabalho assalariado e abrir novas terras sertão adentro. E eles acabaram enriquecendo muito, devido à fertilidade do solo.
            Esses cafeicultores, entretanto, enfrentavam dificuldades para transportar seu produto até o porto de Santos, uma vez que tinham de utilizar carros de boi e lombo de burro. Pediram, então, ao governo imperial a construção de uma ferrovia ligando suas terras ao litoral. Diante das negativas sistemáticas da coroa, a ferrovia foi construída com capitais privados a partir de uma associação entre ingleses e o Barão de Mauá. Assim, em 1867, foi inaugurada a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, aumentando as hostilidades entre cafeicultores do Oeste Paulista e políticos do Império.
            Nesse cenário, havia também a questão do trabalho escravo no Brasil, que sofria pressões externas para que a abolição fosse promovida. Sem dúvida, a chegada do trabalhador imigrante facilitou o caminho. Mas o Brasil ainda insistia neste sistema vergonhoso.
            A pressão inglesa para a abolição da escravidão já havia feito várias “vítimas” entre os traficantes de escravos, principalmente com o Bill Aberdeen de 1845. Nunca é demais lembrar que a preocupação da Inglaterra não era movida por razões humanitárias, mas, sim, pelo promissor mercado consumidor que seria aberto no Brasil, se aqui predominasse o trabalho assalariado. Além disso, a própria conjuntura econômica internacional (ideologia liberal, industrialização, resultado da Guerra de Secessão) provava que a escravidão estava com os dias contados.
            Em meados do século XIX, começaram a ser aprovadas as primeiras leis antiescravistas. Em 1850, foi decretada a Lei Eusébio de Queiroz, que extinguia o tráfico negreiro para o nosso país. Para muitos fazendeiros, a solução mais comum depois do fim do tráfico foi a compra de escravos do Nordeste.
            Em 1871, o ministro Visconde do Rio Branco sugeriu e viu a aprovação pela Assembleia da chamada Lei do Ventre Livre, estabelecendo que, a partir de maio daquele ano, todos os filhos de escravos seriam considerados livres. Os proprietários seriam tutores das crianças até os 7 anos de idade, quando elas deveriam ser entregues à responsabilidade do Estado. Em troca, os fazendeiros teriam direito a uma indenização de 600 mil-réis ou, então, poderiam utilizar o trabalho do “libertado” até os 21 anos. Tal lei previa uma libertação gradual, o que permitiria aos escravocratas adaptarem-se à nova realidade.
            Em 1879, a campanha abolicionista chegou ao auge, e o grupo partidário da libertação dos escravos já apresentava duas tendências. A primeira, moderada, defendia o fim do escravismo por meio de leis e tinha como principais representantes José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e Jerônimo Sodré. A segunda, um pouco mais radical, pregava que a abolição deveria ser conquistada pelos próprios escravos, estimulando as revoltas destes. Seus defensores mais destacados foram Raul Pompéia, André Rebouças, Luís Gama e Antônio Bento - este último era um juiz municipal que ficou famoso por dar pareceres que sempre favoreciam os escravos contra seus senhores.

            As campanhas concentravam-se nas cidades, em comícios, festas beneficentes, quermesses e conferências. Havia jornais e clubes antiescravistas. Os ferroviários de São Paulo chegaram a arrecadar dinheiro para comprar a alforria dos escravos. Em Fortaleza, houve casos de tipógrafos que se recusaram a imprimir textos que defendessem a escravidão.
            Em meio a tantas agitações populares, os ministros José Antônio Saraiva e Barão de Cotegipe apresentaram, em 1885, a Lei dos Sexagenários (ou Lei Saraiva-Cotegipe), que estabelecia que os escravos ganhariam a liberdade ao completarem 60 anos, mas trabalhariam até os 65 como forma de indenizar os fazendeiros. As reações a essa lei foram péssimas, tanto que surgiu a expressão “gargalhada nacional”, uma vez que eram poucos os escravos que chegavam à tal idade – e os que chegavam não conseguiriam encontrar ocupação se fossem libertados.

            Enquanto isso, em 1887, num documento assinado pelo Marechal Osório, então presidente do Clube Militar, o Exército declarava que não mais cumpriria a função de capitão-do-mato, ou seja, não mais perseguiria escravos fugitivos. O final da escravidão era inevitável.
            No começo de 1888, os deputados votaram o fim do trabalho escravo e a proposta, que foi enviada pelo ministro liberal, João Alfredo Correia de Oliveira, foi aprovada com 92 votos a favor e 9 contra. Em 13 de maio do mesmo ano, a Princesa Isabel, que ocupava a posição de Regente em virtude da ausência de Dom Pedro II, durante uma viagem do imperador pela Europa para tratamento de saúde, assinou a Lei Áurea, ratificando a extinção da escravidão no Brasil.

            Cabe ressaltar que, não houve nenhum plano de governo que garantisse a absorção do negro ao mercado de trabalho, o que dificultou muitíssimo a integração dos ex-escravos à sociedade, originando as tão conhecidas formas camufladas de discriminação e marginalização, das quais se encontram resquícios até hoje no Brasil.
            Os cafeicultores do Vale do Paraíba, em sua maioria escravistas, esperavam receber uma indenização pelos escravos que perderiam e, como essa indenização não foi acessível à grande maioria, boa parte deles ingressou no Partido Republicano, ficando conhecidos como “republicanos do 13 de maio”.

QUESTÃO MILITAR - Desde o fim da Guerra do Paraguai, o Exército brasileiro passara a defender a tese de que os políticos (casacas), ligados a seus interesses mesquinhos, não eram capazes de dar a devida atenção aos negócios públicos, e somente os militares estariam capacitados a exercer o poder. Paralelamente a isso, deve-se destacar a influência do positivismo (ideologia criada por Augusto Comte que propunha uma ditadura científica como forma ideal de governo), difundido pelo militar e professor, Benjamin Constant, na academia militar.

            O primeiro conflito entre o Exército e o Império teve como pivô o tenente-coronel Sena Madureira, veterano da Guerra do Paraguai, que publicou um artigo no jornal a respeito da Reforma do Montepio do Exército – projeto pelo qual as famílias dos militares mortos ou mutilados na Guerra do Paraguai receberiam uma pensão. Tal atitude foi repreendida pelo Ministro da Guerra, o civil Marquês de Paranaguá II, que proibiu, desde então, qualquer outra manifestação de militares através da imprensa. O Exército reagiu afirmando que o soldado era um cidadão fardado e que, assim sendo, teria direito de opinar sobre a política nacional. Mas tal protesto não obteve sucesso.

            A segunda questão militar envolveu novamente o tenente-coronel Sena Madureira por utilizar as dependências da Escola de Tiro de Campo Grande (Rio de Janeiro) para uma recepção ao jangadeiro Francisco Nascimento, que havia liderado um movimento contrário ao embarque de escravos do Ceará para o Sul do País. Sena Madureira foi, mais uma vez, repreendido, o que provocou novos protestos do Exército.
            A terceira questão militar começou em uma inspeção de rotina do coronel Cunha Matos, que encontrou numerosas irregularidades em uma instalação militar no Piauí e concluiu que o tenente-coronel Pedro José Lima era o responsável, encaminhando seu relatório a seus superiores. Um deputado civil, amigo do militar denunciado, publicou um artigo ofensivo à honra de Cunha Matos, como forma de desmerecer seu relatório. Cunha Matos reagiu instantaneamente com a publicação de um artigo em que respondia às acusações do civil, e foi punido pelo Ministro da Guerra por desrespeito às normas do Exército.


            Os militares protestaram, afirmando que um civil havia ofendido um militar, e que este fora proibido de se defender. Os partidários do Exército publicaram, então, um manifesto que criticava violentamente a posição do governo. Tal  manifesto foi assinado por vários oficiais, inclusive pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Mais uma vez, o Ministro da Guerra puniu os signatários do documento, rompendo definitivamente as ligações entre o Exército e o governo. Deodoro foi convidado a ingressar no Partido Republicano.

            Na tentativa de reduzir a oposição, cada vez maior, Dom Pedro II formou um novo gabinete, chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, que elaborou, em meados de 1889, um programa de reformas. Esse programa incluía liberdade de culto, autonomia para as províncias, mandatos para senadores e liberdade de ensino, entre outras mediadas. Tais propostas visavam a preservar a monarquia, mas acabaram vetadas pelos deputados conservadores.

A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

            O governo do Império tinha perdido suas bases econômicas, militares e sociais. Porém, as ideias republicanas não tinham grande penetração popular, mesmo às vésperas da queda da monarquia. O povo estava descrente do regime, mas não havia uma crença generalizada de que a República seria a solução para os problemas do País.

            Havia até certo temor quanto à questão sucessória do trono. Os dois filhos homens de Dom Pedro II tinham morrido ainda crianças e, como a sucessora natural era a Princesa Isabel, casada com o francês Conde d’Eu, não era simpático para a opinião pública e as forças políticas da época que o terceiro reinado viesse a ser comandado por um estrangeiro.

            Na capital, Rio de Janeiro, os republicanos insistiram junto ao Marechal Deodoro para que ele chefiasse o movimento que poria fim à monarquia. Mas Deodoro estava indeciso, pois era amigo pessoal de Pedro II, pois defendia que a República só seria proclamada após a morte do imperador. Mas mudou de ideia quando, em 14 de novembro, começaram a circular boatos de que ele (Deodoro) e o professor Benjamim Constant seriam presos.

            Na madrugada de 15 de novembro de 1889, o Marechal iniciou o movimento golpista que pôs fim ao regime imperial. Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e, depois, o Ministério da Guerra, e depuseram o Visconde de Ouro Preto. Na tarde do dia 15, na Câmara Municipal, a República foi proclamada em cerimônia solene.

            Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio, pois pensava que o objetivo dos golpistas era impor a substituição do Ministério. O imperador já articulava a formação de um novo gabinete quando recebeu das mãos do Major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro uma comunicação, na qual era intimado a deixar o País, pois não era mais considerado o legítimo governante. Na manhã de 17 de novembro, Dom Pedro II partiu com toda a família para o exílio na Europa, rumando primeiro para Portugal, onde falecera a imperatriz Teresa Cristina e depois para Paris, onde D. Pedro ficou residindo até sua morte em 1891.

O Governo Provisório

As diversas forças que se uniram para proclamar a República organizaram-se para formar um Governo Provisório. Sob a liderança do Marechal Deodoro da Fonseca, a primeira administração do novo regime procurou conciliar os interesses de militares, fazendeiros de café e camadas médias urbanas. O primeiro ministério foi composto por várias personalidades que se destacariam na vida política do período, como Aristides Lobo, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Campos Sales, Rui Barbosa, Demétrio Ribeiro, entre outros.
            Entre as principais medidas tomadas pelo Governo Provisório, pode-se destacar o fim do caráter vitalício do cargo de senador, a dissolução da Câmara e a expulsão da família real. Foi realizada, também, uma grande naturalização, pela qual muitos estrangeiros que aqui moravam puderam adquirir a nacionalidade brasileira. Houve a separação entre Igreja e Estado, promoveu-se a liberdade de culto e regulamentou-se o casamento civil. Para as províncias e cidades mais importantes, foram nomeados interventores, em sua maioria militares.
            Em dezembro de 1889, foram marcadas eleições para que entrasse em funcionamento uma Assembleia Constituinte. Tais eleições deveriam ocorrer em setembro de 1890 e, durante esse período, já havia corrosivas disputas internas no Governo Provisório.

            A pasta da Fazenda era ocupada pelo advogado Rui Barbosa, que colocou em prática sua reforma econômica. Em meio a uma economia marcada pela concorrência desleal dos monopólios privados e a voracidade imperialista desferida pelas potências europeias e pelos Estados Unidos, Rui Barbosa deu início a um projeto de incentivo à produção interna. Nesse sentido, aumentou as taxas alfandegárias de produtos importados que tivessem similares produzidos no Brasil.

            Segundo o historiador Werneck Sodré, Rui Barbosa “tomou medidas de incentivo às atividades de menos vulto, como a fundação de um Banco de Crédito Popular, cuja finalidade era realizar empréstimos a juros módicos e maior assistência ao operário com a construção de habitações populares...”
            Bancos estrangeiros ameaçaram fechar, mas o ministro afirmou que, se isso ocorresse, o governo nada faria para impedi-los. Rui Barbosa também extinguiu o pagamento de indenizações aos antigos proprietários de escravos.

            A abolição da escravidão e a corrente migratória criaram um número maior de assalariados e a consequente necessidade de mais moeda circulante. Tentou-se obter empréstimos junto a bancos europeus, mas sem sucesso. A solução foi o abandono do padrão ouro e um aumento na emissão  de papel-moeda, visando ao crescimento do crédito. Alguns bancos foram autorizados a emitir dinheiro usando títulos do governo como lastro. Tal prática ficou conhecida como pluriemissão.

            Num primeiro momento, essas medidas reativaram os negócios, mas a produção interna não cresceu na mesma proporção, e a inflação aumentou. O resultado foi catastrófico. “Empresas fantasmas” surgiam da noite para o dia, cédulas falsas misturavam-se às verdadeiras - provocando o caos financeiro – instalou-se uma especulação desenfreada com títulos, ações e outros componentes que jogaram o país em uma violenta crise econômica.

            Essa especulação financeira assemelhava-se aos bastidores do Jóquei Clube. Daí o fato de, na época, muitos se referirem ao plano de Rui Barbosa pelo nome de "Encilhamento". O ministro havia avaliado mal a situação social e econômica do País. Desprezou o fato de o Brasil ter eliminado o escravismo muito recentemente e de que o mercado interno era insuficiente para acompanhar uma rápida industrialização. Também não considerou a pressão que poderia sofrer do capital internacional. Tais fatores precipitaram a demissão de Rui Barbosa.

Constituição de 1891

Destacamos como os principais pontos da 1ª constituição republicana, promulgada pela Assembleia Constituinte:

·      regime republicano presidencialista
·      três poderes autônomos e equilibrados
·      grande autonomia dos Estados
·      Estado laico (separação entre Igreja e o Estado)
·      voto universal masculino aberto (exceto analfabetos, mendigos e clérigos)
·      representatividade regional e federal renovável
·      o Município Neutro passou-se a chamar Distrito Federal






quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Revolução Industrial



            O termo Revolução é utilizado frequentemente para indicar movimentos que alteraram o curso de determinados acontecimentos, mas não se pode esquecer de que muitos desses eventos foram tão somente a continuação de processos que já vinham se desenrolando ao longo do tempo. A Revolução Industrial foi uma série de acontecimentos sociais, econômicos, políticos e aprimoramentos técnicos ocorridos na Inglaterra, ao longo dos séculos XVIII e XIX e, a seguir, nos demais países da Europa Ocidental, EUA e, posteriormente, em boa parte das regiões do globo.

            A sedução do novo e a ideia de progresso começaram a permear o pensamento europeu. As invenções impunham-se no cotidiano das pessoas, com um ritmo alucinante para um mundo que ainda era essencialmente rural. Rompia-se com o velho modo de vida, em que os limites eram traçados pela natureza. A visão de tempo também mudou, pois não era mais a luz do dia que delimitava a jornada de trabalho, mas o relógio; e, agora, as pessoas tinham pressa para fazer dinheiro e, se tivessem “competência”, lucro. O processo invertia-se e, ao invés dos instrumentos se adaptarem aos trabalhadores, eram os operários que se adaptavam às máquinas.
           
PIONEIRISMO INGLÊS
            A Revolução Industrial inglesa começou a partir do acúmulo de capital obtido pela burguesia mercantil  no comércio de especiarias. Dessa  forma, o mercado passou a ditar as diretrizes da produção e os comerciantes passaram a estruturar sistemas produtivos de acordo com as necessidades desse mercado.

            Os sistemas de produção evoluíram lentamente ao longo da Idade Média e da Moderna e, dentre esses sistemas, podemos destacar cinco. O primeiro teria sido o sistema familiar, no qual os membros de uma família produziam para seu próprio uso, não ocorriam trocas por moeda nem havia produção de excedente. Esse sistema foi utilizado durante toda a Idade Média.

            Com o renascimento comercial e urbano apareceu o sistema de corporações, no qual os mestres de ofício produziam nos burgos (cidades da Idade Média) para atender às necessidades locais. A produção era feita em pequena escala e o mestre de ofício executava todas as etapas da produção em sua oficina, com seus instrumentos, auxiliado por um aprendiz que, futuramente, tornar-se-ia um mestre de ofício. Frente a um aumento do número de encomendas, o mestre poderia contratar os serviços de um jornaleiro. A qualidade e o preço dos produtos eram rigidamente fiscalizados pela corporação de ofício, que reunia mestres, aprendizes e jornaleiros. Esse sistema vigorava nas cidades medievais e chegava a englobar grandes regiões, como Flandres, por exemplo.

            Por volta do século XVI, surgiu o sistema doméstico (putting out system), pelo qual o comerciante criava uma rede de tarefeiros que realizavam uma ou mais etapas da produção em suas casas, com seus instrumentos de trabalho. Dessa maneira, a produção ficava dispersa, impossibilitando o controle por parte do mestre de ofício. Essa forma de trabalho foi criada pelos comerciantes para burlar o sistema de corporações.

            A manufatura foi, sem dúvida, o estágio mais próximo daquilo que entendemos como visão moderna de fábrica. Num estabelecimento voltado para essa atividade, o comerciante reunia trabalhadores em um único edifício, sob a supervisão de um capataz. Em um primeiro momento, cada trabalhador executava todas as etapas da produção, com ferramentas fornecidas pelo patrão; posteriormente, cada trabalhador especializava-se em uma etapa da produção, ocorrendo a divisão do trabalho. O patrão ainda dependia da capacidade artesanal de cada trabalhador (século XVIII), mas o controle deste último pelo primeiro era notório. Finalmente, com o sistema fabril, a máquina substituiu a ferramenta; cada trabalhador realizava uma etapa da produção e, na maioria dos casos, desconhecia a execução das outras fases.

            A Inglaterra liderou a Revolução Industrial por ser o primeiro país europeu a reunir todas as condições necessárias para esse fim. A primeira condição foi a tomada do poder pela burguesia, ocorrida em 1688 com a Revolução Gloriosa. Livre dos choques com a nobreza, a burguesia fica livre para acumular os capitais necessários para financiar invenções que barateassem o custo de produção.

            O capitalismo ampliou o império colonial britânico, abrindo novos mercados às manufaturas inglesas. A posição de isolamento geográfico da Inglaterra manteve o país afastado dos conflitos europeus, enquanto o puritanismo (calvinismo inglês) estimulava o trabalho e a poupança. As novas doutrinas econômicas (Fisiocracia e Liberalismo Econômico) criaram uma ciência administrativa capaz de gerir lucros e investimentos de forma a otimizar resultados.

            Some-se a isso o impacto provocado pelo fenômeno dos enclousures (cercamentos), ou seja, por ordem do governo os proprietários deveriam cercar suas terras, e quem não o fizesse teria as terras confiscadas. Tal política afetou principalmente os camponeses, porque estes não dispunham de condições para fazê-lo, e com isso uma grande parcela de terras ficou concentrada nas mãos dos grandes proprietários, que substituíram a agricultura pela criação extensiva de carneiros.

Os enclousures extinguiram as terras comunais do interior inglês, transformando-as em propriedade agrícola particular, uma empresa rural que visava ao lucro pessoal de seu dono a partir do atendimento das necessidades do mercado consumidor que se formava. Por outro lado, os cercamentos determinaram a expulsão do camponês da terra, reduzindo-o à condição de assalariado na própria zona rural, ou forçando-o a migrar para os centros urbanos que se industrializavam, como Manchester e Liverpool.

            As cidades passaram a acumular uma população numerosa e dependente, para sobreviver do emprego oferecido pela indústria, ou formar um exército de desempregados que garantiria o baixo custo da mão-de-obra. Os ingleses ainda tinham a seu favor um mercado interno desenvolvido e jazidas de carvão e ferro em seu território, além de receberem algodão em abundância das colônias e possuírem uma excelente infraestrutura de transportes, com estradas, portos, canais e, décadas depois, ferrovias.

INOVAÇÕES TÉCNICAS
           
Entre as principais inovações técnicas surgidas no período, merecem destaque a máquina de fiar (spinning Jenny), criada por James Hargreaves em 1767; o bastidor hidráulico (water machine), construído em 1769 por Richard Arkwright; a máquina de fiar híbrida (mule machine), realização de Samuel Crompton,  em 1779, a partir de uma combinação das máquinas anteriores; e não se pode esquecer do tear mecânico, patenteado por Edmund Cartwright em 1785.


            A Revolução Industrial inglesa ganhou um enorme impulso em 1769, quando James Watt conseguiu aprimorar a máquina a vapor, criada por Thomas Newcomen em 1711. Watt ligou-a a um mecanismo industrial e, assim, as indústrias inglesas passaram a funcionar em ritmo mais acelerado, aumentando a produção.

            A industrialização provocou mudanças também nos transportes. O barco a vapor foi inventado em 1807 por um norte-americano chamado Robert Fulton, promovendo uma revolução no transporte marítimo. A revolução no transporte terrestre veio em 1825, com a invenção da locomotiva por George Stephenson. Na mesma época, as distâncias ficaram mais curtas quando Samuel Morse inventou o telégrafo.

CONDIÇÕES DE TRABALHO
            No início da industrialização, a classe operária foi submetida a duríssimas condições de trabalho. Destituída da posse de instrumentos de trabalho (ferramentas ou utensílios) e da propriedade dos meios de produção (fábricas e máquinas), os trabalhadores também não tinham nenhum tipo de legislação trabalhista que regulamentasse suas atividades ou que, ao menos, lhes protegesse da exploração.

            A jornada de trabalho nas primeiras décadas da industrialização variava entre 12 e 16 horas por dia. Os baixos salários, em consequência da abundância de mão-de-obra e da utilização das máquinas, eram a regra geral. Era comum a utilização de crianças e mulheres nas fábricas, uma vez que recebiam menos do que os homens.

    Os castigos eram rigorosos. Crianças que adormeciam durante o trabalho poderiam ser espancadas, e as pausas para descanso eram raras. Quem não conseguia seguir o ritmo das máquinas tinha de pagar multas. São muitos os registros de trabalhadores que cumpriam seu turno sem se alimentarem. Em praticamente todas as fábricas, as condições de trabalho eram insalubres. Entretanto, aqueles que adoeciam corriam o risco de perder a vaga. Mulheres que engravidavam apelavam para a interrupção forçada da gestação. Eram raras as empresas que indenizavam os operários que se acidentavam durante o trabalho.

            Não demorou para que empregados e desempregados formassem associações para questionar a situação. Para algumas pessoas, as máquinas eram as grandes culpadas pelo desemprego e pelos baixos salários. Em 1812, começaram os primeiros protestos operários, quando um grupo de manifestantes, liderados por um certo General Ludd, partiram para a destruição de várias máquinas nas fábricas de Midland.

            Os membros do Parlamento tomaram medidas repressivas contra os ludistas e as demais associações de trabalhadores, tentando vencê-los pela ameaça da forca. Várias reivindicações eram enviadas aos parlamentares, mas, como os trabalhadores não tinham direito de voto, as parcas concessões sequer eram colocadas em prática. Cada vez mais insatisfeitos com essas situação, os trabalhadores uniram-se às camadas médias da sociedade inglesa e passaram a exigir representação parlamentar.

            Esse movimento deu origem ao Cartismo, que lutava pelo sufrágio universal, voto secreto, renovação anual do Parlamento, igualdade entre os distritos eleitorais e fim da exigência de propriedade para os candidatos. Mas o movimento cartista enfraqueceu e desapareceu na medida em que as propostas foram sendo atendidas. Os trabalhadores continuaram associando-se em organizações trabalhistas, como as trade unions, e surgiram ideias e teorias preocupadas com o quadro da nova ordem industrial.

Segunda Revolução Industrial
            A partir de 1860, tem-se a chamada Segunda Revolução Industrial, caracterizada por novas transformações técnicas e econômicas, além da descentralização industrial, que fez que essas mudanças atingissem a Europa Central e Oriental, a América do Norte e até mesmo o Extremo Oriente, destacadamente o Japão.

            Entre as inovações que assinalaram essa fase, três merecem referência. A primeira foi o processo de transformação do ferro em aço, desenvolvido por Henry Bessemer e que fez do aço o elemento básico dessa nova fase. A segunda foi a invenção do dínamo, que permitia a conversão de energia mecânica em elétrica e que as indústrias pudessem trabalhar movidas a eletricidade. A terceira foi o motor a combustão interna, inventado por Nikolaus Otto e aperfeiçoado por Rudolf Diesel, abrindo caminho para a utilização do petróleo em larga escala, movimentando navios, locomotivas e favorecendo o aparecimento do automóvel e do avião.

            Do ponto de vista tecnológico, houve uma importante mudança com a substituição do ferro pelo aço na construção do maquinário (dando-lhe mais resistência e condições de uma maior produção); do carvão pelo petróleo como combustível e da energia a vapor pela eletricidade.
Se na Europa Ocidental e nos Estados Unidos a industrialização procurava dinamizar suas perspectivas, no Oriente ela ainda dava os primeiros passos. Na Rússia, só teve início na última década do século XIX. Nesse processo, foi importante o papel do ministro das Finanças do país,  Conde Serge Witte, que estabeleceu credibilidade para a Rússia no exterior e recebeu financiamentos para a realização de projetos industriais. Dispondo de abundância de mão-de-obra, intervenção estatal e investimentos franceses e alemães, os russos deram os primeiros passos no sentido de abandonar sua feição semifeudal.

            A ocidentalização do Japão data de 1868, início da Era Meiji, ou “Época das Luzes”. Foi nesse período que o shogunato (organização política fragmentada que, em certa medida, semelhante ao feudalismo) foi superado e se deu a unificação do país. A centralização política liberou a mão-de-obra do campo e possibilitou a intervenção do Estado na economia, facilitando a assimilação da tecnologia ocidental e a expansão industrial interna, processo que favoreceu o fortalecimento do Estado japonês e que possibilitou a expansão militarista no início do século XX, portanto, abriu caminho para a política expansionista que levou à Segunda Guerra Mundial.

            Nessa etapa da industrialização, principalmente no Ocidente, passaram a ocorrer novas formas de organização capitalista, que se afastaram da livre concorrência e criaram o capitalismo monopolista. A plena liberdade de comércio e produção criou condições para que as grandes empresas eliminassem ou absorvessem as pequenas. Ao final do século XIX, surgiram novas formações industriais, que ainda fazem parte da nossa realidade econômica: trustes, cartéis e holdings.

            Os cartéis se formam através de acordos entre grandes empresas, havendo uma combinação de preços, geralmente equiparação, evitando-se o desgaste da concorrência. Os trustes são compostos quando as grandes empresas passam a controlar a matéria-prima de determinados produtos, monopolizando, assim, a produção, o preço e o acesso ao mercado consumidor final. A prática de holding é aquela na qual existe uma associação formal entre empresas, ou ainda quando um gigante compra as ações dos concorrentes, tornando-se sócio majoritário de várias empresas do mesmo ramo. Outra prática monopolista é o dumping, que consiste em vender um produto abaixo do preço de custo, inviabilizando a concorrência.

            Também nessa época, o capitalismo industrial foi ganhando um novo parceiro: o capitalismo financeiro, no qual grandes bancos atuam em conjunto com as grandes empresas ou, simplesmente, banqueiros passam a controlar empresas. Os empréstimos e financiamentos contribuíram para colocar as empresas numa situação de, em muitos casos, dependência das instituições financeiras.

            É inegável que a industrialização ampliou as possibilidades de consumo, barateando produtos e colocando mais serviços disponíveis à população dos países ricos. Mesmo assim, a qualidade de vida da maioria esmagadora dos trabalhadores permaneceu precária. Era mais uma prova de que o simples crescimento na oferta de mercadorias não é o suficiente para criar um quadro de estabilidade social.

A Revolução ainda não acabou!

A Revolução Industrial ainda não se concluiu, mas hoje já se esboça uma terceira fase, em que a eletrônica é substituída pela microeletrônica, ampliando a potência de ação dos meios de comunicação em massa, especialmente como desdobramento da tecnologia de exploração espacial – a comunicação via satélite e toda a nova concepção de relações que derivou daí. Com os chamados “supercérebros” e o computador de grande capacidade de processamento de dados e sua adoção como padrão para vários tipos de máquina que poderiam desempenhar inúmeras funções, inclusive substituindo a mão de obra humana e assim, a robótica se colocou como a grande referência para o desenvolvimento industrial e tecnológico da segunda metade do século XX.

Entre a última década do século XX e a primeira do século XXI, vemos surgirem novos patamares de sociabilidade, por meio da rede internacional de computadores (a internet, que inicialmente interligava computadores de bases militares e depois laboratórios de universidades), que possibilita a interligação de milhões de computadores domésticos[1] e outros mais sofisticados, numa teia de fios de fibra óptica, ou pela tecnologia da telefonia móvel (celular), que se espalham por quase todo o planeta, criando uma dinâmica de circulação de informações, dados e imagens nunca antes imaginada. Não se trata mais de ficção: como conceituou Marshall McLuhan (1911-1980), vivemos numa aldeia global, bombardeados incessantemente por milhares de informações e imagens “em tempo real”, para usar a linguagem midiática.

[1] No final dos anos 1940, os computadores eram imensos e pesados; 40 anos mais tarde, no final dos anos 80, passaram a serem menores, mais leves e já podiam ocupar uma pequena mesa de escritório.

A exploração do proletariado europeu

(...)"Todo o vale está alterado com o repicar do sino, com o ruído das máquinas; só se fala de traição e de sistemas igualitários; a rebelião pode estar próxima. O povo, é verdade, encontra-se empregado, porém essas pessoas se deixaram levar pelos vícios que decorrem do amontoamento".(...)

(...)Olhe Paris como observador e meça a lama deste esgoto do mundo, as raças selvagens entre essa população tão ativa, tão espiritual, tão bem vestida, tão polida, e o assombro tomará conta de você".(...)

(...)"a França caminha para esta miséria: Paris tem 56 mil pobres conhecidos e talvez outro tanto de desconhecidos. Os trabalhadores franceses são tão miseráveis que nas suas cabanas de terra não possuem nem mesmo um leito".(...)

(...)"Um lugar chocante, um diabólico emaranhado de cortiços que abrigam coisas humanas arrepiantes, onde homens e mulheres imundos vivem de dois tostões de aguardente, onde colarinhos e camisas limpas são decências desconhecidas, onde todo cidadão carrega no próprio corpo as marcas da violência e onde jamais alguém penteia seus cabelos".(...)

                  BRESCIANI, Maria Stella Martins "Londres e Paris no Século XIX"- São Paulo - Brasiliense – 1985.



terça-feira, 1 de novembro de 2011


Fim do mundo previsto pelos maias é um erro de interpretação

O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição "A Sociedade e o Tempo Maia" inaugurada recentemente no Museu do Ouro de Bogotá.
O arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) e um dos curadores da mostra, Orlando Casares, explicou à Agência Efe que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.
Eles se baseavam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do sol, da lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final.
"Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir".
Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização.
"Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado 'Haab' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o 'Tzolkin', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.
A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".
Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.
Calendário maia esculpido em pedra
Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.
Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.
De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.
A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.
Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição desta mostra sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente.
"Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.
A exposição estará aberta ao público até o dia 12 de fevereiro de 2012, para depois deve ser transferida para a cidade de Medellín.