As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

30 anos da Guerra das Malvinas

Fonte: Portal Terra by  
Imagem de 14 de abril de 1982 mostra a primeira-ministra britânica a caminho de uma reunião de emergência com o Parlamento a respeito da crise com a Argentina Foto: AP
Imagem de 14 de abril de 1982 mostra a primeira-ministra britânica a caminho de uma reunião de emergência com o Parlamento a respeito da crise com a Argentina Foto: AP

A então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher ficou estupefata com a "estúpida" invasão pela Argentina em 1982 do arquipélago das Malvinas, que provocou um conflito de 74 dias, de acordo com documentos oficiais que perderam o sigilo nesta sexta-feira.

"Nunca, jamais pensei que a Argentina invadiria diretamente as Malvinas. Foi uma ação tão estúpida", declarou Thatcher a uma comissão de investigação britânica sobre as Malvinas em outubro de 1982, quatro meses depois do fim da guerra, segundo os documentos divulgados pela BBC.
No entanto, em 31 de março de 1982, dois dias antes da invasão argentina, Thatcher foi informada pelo serviço secreto britânico que uma ação de Buenos Aires era iminente.
"Foi o pior dia da minha vida", afirmou Thatcher em outubro de 1982, antes de completar: "Aquela noite ninguém soube me dizer como poderíamos recuperar as Falklands (nome inglês das Malvinas). Ninguém. Não sabíamos, não sabíamos".
Os documentos que deixaram de ser confidenciais revelam ainda que Thatcher fez tudo para impedir que a França vendesse mísseis Exocet ao Peru, que poderiam ser depois repassados à Argentina, que os utilizaria para afundar navios britânicos.
Em um telegrama ao então presidente francês François Mitterrand, com data de 30 de maio de 1982, a primeira-ministra britânica adverte: "Se o mundo soubesse - como provavelmente seria o caso - que a França entrega ao Peru armas que certamente serão fornecidas à Argentina (e) que podem ser utilizadas contra nós, aliados da França, isto teria um efeito devastador para as relações entre nossos dois países".
"Isto teria um efeito devastador para a Aliança", completa Thatcher, em referência à Otan. No dia seguinte, um diplomata francês, Francis Gutmann, informou ao conselheiro especial de Thatcher para as Malvinas que os mísseis não seriam entregues.
O conflito das Malvinas - de 2 de abril a 14 de junho de 1982 - terminou com a derrota da Argentina, enquanto a Grã-Bretanha recuperou o controle do arquipélago. Mais de 900 pessoas morreram na guerra (650 argentinos, segundo estimativa, 255 britânicos e três civis das ilhas).
O arquipélago das Malvinas, no Atlântico Sul, 500 km ao leste da costa argentina, está sob controle do Reino Unido desde que as autoridades argentinas foram expulsas em 1833. A Argentina ainda reivindica a soberania sobre o arquipélago.
Sugestão: http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/guerra-das-malvinas/

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Equívocos sobre o fim do Mundo...


Fonte: Portal iG by BBC 
Segundo interpretações da "profecia maia", o fim do mundo está previsto para a próxima sexta-feira, dia 21 de dezembro.
A ideia de que uma hecatombe mundial de grandes proporções se abateria sobre a raça humana na entrada do equinócio de inverno, que ocorre na mesma data, vem sendo alimentada pelo menos há quatro décadas. 

Mas foi nos últimos três anos que a previsão ganhou força, polarizando aqueles que acreditam piamente no fim dos tempos e os mais céticos.
A BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, decidiu investigar a polêmica. Confira.
BBC
Calendário maia
De onde vem as profecias? As interpretações de que o fim do mundo ocorreria no dia 21 de dezembro de 2012 partiram de dois monumentos maias: a Estela 6 (uma espécie de totem), do antigo assentamento de Tortuguero (no Estado de Tabasco, no sul do México) e a Estela 1 de Cobá, em Quintana Roo.
Além disso a próxima sexta-feira é o último dia do calendário criado pelos maias. Ou seja, não há registro do que viria depois disso.
Na antiga civilização maia, as chamadas 'Estelas' são colunas nas quais se marcavam as datas de eventos importantes.
Os monumentos também serviam como método de propaganda da elite política e religiosa.
No caso da Estela 6 e da Estela 1, o objetivo era associar datas "míticas" aos sucessos e governos da época para criar coesão e controle social.
BBC
Inscrição maia
Monumento 6 de Tortuguero O monumento Estela 6 foi descoberto em 1957-58. Também é conhecido popularmente como "a Estela do fim de uma era", e registra o nascimento e entronização de Apho Bahlam, governador da cidade maia no século VII.
Há também referência à data "baktún 13 4 Ahau 3 Kankin" que, traduzida para o calendário gregoriano, seria equivalente ao dia 21 de Dezembro de 2012 e corresponde ao fim de um ciclo de 5.126 anos registrados na "longa contagem" do calendário maia.
"Isso não significa que o mundo vai acabar nesta data, a única coisa é que esta data vai significar o fim do ciclo baktún 13 do calendário maia", disse à BBC Mundo o arqueólogo Daniel Juárez Cossío, responsável pela ala dedicada à civilização maia no Museu Nacional de Antropologia do México.
"Ou seja, simplesmente, estamos falando do final do baktún 13 para que se comece uma nova etapa. Trata-se, no fim das contas, de um caminho novo".
O sítio arqueológico de Tortuguero foi roubado ao longo do tempo, o que dificultou seu estudo e a interpretação completa e contextualizada da Estela 6.
BBC
Calendário maia
O Calendário Maia Trata-se de uma combinação de datas e fatos de batalhas míticas e desastres naturais que marcaram o desenvolvimento da cultura, com base em ciclos agrícolas e movimentos de estrelas como o Sol e Vênus.
O calendário não determina apenas a ordem dos dias. Em torno dele foram organizados feriados religiosos, períodos de cultivo e colheita, a escolha de nomes para recém-nascidos, sacrifícios humanos e outros aspectos importantes da cultura maia.
Cossío diz que o fim da "contagem de tempo" é simplesmente "o fim de um ciclo de pouco mais de 5 mil anos".
"Mas os maias não têm uma visão linear da história, onde há um fim irrefutável. Sua visão é cíclica, ou seja, algo termina para o início de outra coisa."
BBC
Estela 1. Este monumento com inscrições em suas quatro faces, conta os feitos de governantes
Estela 1 Cobá Estela 1 é localizada em Cobá, uma cidade no norte de Quintana Roo, no México, que já foi uma próspera cidade maia.
Este monumento, com inscrições em todos os quatro cantos, conta a história de seus governantes.
Nesta pedra, há quatro referências ao Calendário de Contagem. Uma delas é uma inscrição mencionando o dia de 21 de dezembro de 2012. No entanto, o monumento está bastante danificado, o que impede a observação de quaisquer fatos que teriam ocorrido depois dessa data.
BBC
Escultura do jogo de bola, museu maia
Quando começou a profecia? Interpretações das "profecias maias" começaram a se tornar populares nos anos 70 entre pequenos grupos europeus e americanos, que, no calor do movimento nascente da Nova Era, se aproveitaram das recentes descobertas na zona maia da península de Yucatán para criar uma filosofia de vida e, em muitos casos, um negócio lucrativo.
De um lado da moeda, vários grupos dizem que o dia 21 de dezembro vai registrar um movimento especial de planetas, mudanças na forma em que o homem se relaciona com o seu ambiente e uma transformação mental e espiritual da raça humana, que vai alcançar seu auge nesse dia. 
No outro extremo, estão aqueles que dizem que, na data, desastres naturais, crises políticas e econômicas e as guerras travadas ao redor do globo causarão a derrocada da civilização moderna. Para eles, os maias teriam deixado suas marcas para nos alertar sobre tais eventos.
Grupos como o Ascensión Nueva Terra e Cambio Nueva Consciencia asseguraram que os maias previram que um raio de luz do centro da galáxia irá impactar o sol no dia 20 de dezembro de 2012, mudando sua polaridade, o que terá efeitos devastadores sobre a Terra.
Os entusiastas do fim do mundo sugerem, ainda, uma série de medidas para se preparar para "enfrentar o caminho final para a nova luz".
Essa série de previsões levou muitas pessoas ao redor do mundo a estocar alimentos, construir refúgios e dirigir-se a terras que pertenceram à civilização mesoamericana.
BBC
Escultura maia, museu de Mérida
O que dizem os especialistas? Segundo arqueólogos e cientistas que trabalham no estudo de civilizações antigas, os maias não faziam profecias e muito menos queriam deixar previsões para gerações futuras.
Os maias apenas determinavam o destino de uma pessoa ou de uma cidade com base no seu calendário e em suas crenças religiosas.
Nesse sentido, Cossío acredita que o dia 21 de dezembro de 2012 "não é uma profecia". "É completamente e totalmente falsa essa tese de que o mundo vai acabar com base em algo que estaria disponível. Não há nenhuma base científica e epigráfica que diz que o mundo vai acabar nesta data."
BBC
Artesão maia
O que aconteceu com os maias Outra parte importante desta lenda é que, quando os exploradores europeus e conquistadores chegaram no territórios dos maias, encontraram muitos assentamentos e cidades antigas abandonados.
Isso criou uma falsa visão de que o povo maia desapareceu sem deixar vestígio, aumentando o mistério e especulação sobre essa civilização.
A verdade é que os herdeiros diretos da cultura maia ainda existem, vivendo na mesma terra que os seus antepassados.
Muitas vezes, vivem em condições de marginalização e pobreza no sul do México, Guatemala, Honduras e Belize.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Regime Militar no Brasil (1964-85)


O golpe militar de 1964 representou o fim da era populista. Essa prática política, que começou com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas, incorporou as massas à vida política, mas negou-lhes autonomia. Os trabalhadores eram tutelados pelo Estado e serviam de base de sustentação para os governantes.

            O nacionalismo econômico e o fortalecimento de grupos de esquerda, como estudantes, camponeses e sindicatos, desagradava os setores mais influentes da sociedade, que se tornaram protagonistas do movimento de 1964.

            Os militares representaram, então, uma alternativa para o populismo e o nacionalismo reformista. Naquele momento, o discurso referia-se a novas expressões, como segurança nacional e anticomunismo, pois se incorporava solidamente o alinhamento do Brasil com os interesses dos EUA na lógica da Guerra Fria.

            Durante o regime militar no Brasil, houve o fortalecimento do Poder Executivo, e o alto comando das Forças Armadas passou a controlar a sucessão presidencial. Apesar de ter havido um rodízio de presidentes, deve-se lembrar que a oposição estava proibida de indicar candidatos.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

            O Supremo Comando Revolucionário (uma junta militar) assumiu o poder e baixou o Ato Institucional no 1 (AI-1), que limitava o poder do Congresso Nacional, cassava diretos civis dos cidadãos e criava o Decurso de Prazo , pelo qual os projetos enviados pelo Executivo só poderiam ser rejeitados por maioria absoluta e seriam aprovados automaticamente se não fossem votados 30 dias após sua emissão. Estabelecia que o presidente deposto seria substituído por eleição  indireta. Foi esse dispositivo que permitiu a eleição do Marechal Humberto Castelo Branco para a presidência. Muitos parlamentares foram cassados, líderes sindicais presos e até a União Nacional dos Estudantes foi fechada.



Presidentes do Período Militar
Humberto Castelo Branco                     1964 - 1967   
Artur da Costa e Silva                           1967 - 1969
Emílio Garrastazu Médici                      1969 - 1974
Ernesto Geisel                                        1974 - 1978
João Batista de Oliveira Figueiredo       1979 - 1985



            O AI-2 (1965) extinguiu todos os partidos políticos e, posteriormente, criou a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Foi a estratégia encontrada para manter a aparência de que havia um poder Legislativo. O AI-3 (1966) estabeleceu eleições indiretas para governadores dos Estados e nomeação  dos prefeitos das capitais e cidades estratégicas (áreas de segurança nacional) pelos governadores. Em fins de 1966, foi editado o AI-4, que convocava o Congresso a aprovar uma nova Constituição. A Carta de 1967 concedeu ao Executivo o poder de legislar durante o recesso parlamentar.

            A nova Constituição entrou em vigor com a posse do general Artur da Costa e Silva, mas já havia uma certa apreensão da sociedade quanto à permanência dos militares no poder. Muitos políticos que haviam apoiado o golpe, como Carlos Lacerda e Ademar de Barros, perceberam que existia uma mobilização no sentido de afastar os civis do poder. Se antes imaginavam que a saída de Jango lhes abriria espaço político, agora viam que os militares pretendiam governar a seu modo. Foi nesse ambiente que Lacerda manteve contatos com JK e João Goulart, formando a chamada Frente Ampla.

            Em meados de 1968, a UNE, apesar de extinta, ainda conseguia liderar manifestações importantes, como a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. Enquanto isso, o Exército fazia grande campanha para que as comemorações do Dia da Independência tivessem ampla participação popular. Mas, na Câmara Federal, o deputado do MDB, Márcio Moreira Alves, num discurso, convidou a população a boicotar os desfiles de 7 de Setembro. Os militares pressionaram o Congresso para cassar o mandato do deputado, mas os parlamentares não aceitaram.

            Assim, em dezembro de 1968, o governo fez baixar o AI-5, que dava ao Executivo o direito de colocar em recesso o Congresso Nacional e estabelecia a suspensão de todas as garantias constitucionais dos acusados de crime contra a Segurança Nacional, a intervenção nos Estados e municípios, a restrição do habeas corpus, a censura prévia aos meios de comunicação etc.
            No final de 1969, Costa e Silva sofreu um derrame cerebral, mas os militares recusaram-se a passar o poder para o vice, e civil, Pedro Aleixo. Uma junta militar assumiu o governo, entregando-o em outubro de 1969 para o general Emílio Garrastazu Médici, depois de o Congresso ter “concordado” com a “eleição”.

O “MILAGRE” ECONÔMICO

            Já no governo de Castelo Branco, os ministros Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões (respectivamente, Planejamento e Fazenda) desenvolveram o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo), com o objetivo de controlar a inflação e criar condições para a retomada do crescimento do País. Houve grande favorecimento ao capital estrangeiro e uma forte contenção dos salários como vias de controle de preços. Foi criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que permitiu a rotatividade da mão-de-obra e o rebaixamento dos salários.
            Durante o governo Costa e Silva, os ministros Hélio Beltrão e Delfim Neto deram continuidade ao plano e, com isso, obtiveram empréstimos dos Estados Unidos e aval para o reescalonamento da dívida externa.

            Nos anos seguintes, principalmente durante o governo Médici, os empréstimos no exterior permitiram ao Estado idealizar uma série de grandes obras, que tinham por objetivo investir pesado em áreas nas quais a iniciativa privada não poderia atuar, além de, por serem de grande porte, chamar a atenção da população para um inevitável desenvolvimento do País. As chamadas obras faraônicas (como a Ponte Rio-Niterói, a Usina de Itaipu, a Ferrovia do Aço e a Transamazônica, sem falar no “programa nuclear” brasileiro) consumiram boa parte do dinheiro dos empréstimos,

            Com os ministros João Paulo dos Reis Veloso (Planejamento) e Delfim Neto (Fazenda), a indústria teve um notável desenvolvimento em todos os setores, como bens duráveis e não-duráveis, máquinas, equipamentos e indústria de base. Mas tal modelo econômico, muito dependente de empresas estrangeiras e de empréstimos do exterior, não resistiu às crises internacionais dos anos de 1970. Dentre elas, a crise do petróleo de 1973 foi a que mais atingiu diretamente os cofres públicos. Milhões de dólares foram emprestados e gastos apenas com a importação de petróleo e os subsídios ao petróleo nacional. O programa Proálcool, apesar de desenvolver uma nova tecnologia para combustíveis, não conseguiu impedir o colapso do “milagre econômico”.

            Durante o governo Geisel, o mesmo João Paulo dos Reis Veloso, então acompanhado de Mário Henrique Simonsen, tentou reverter o quadro de crise econômica, ampliando a participação do Estado na economia. Mas um inimigo crescente começava a corroer o apoio que a classe média dava ao regime: a inflação.
            No começo da década de 1980, já sob o governo Figueiredo, e com Delfim Neto e Ernane Galvêas à frente da área econômica, a crise atingia seu ponto máximo, com desemprego, inflação alta, desvalorizações diárias da moeda, arrocho salarial e novos empréstimos no exterior, não mais para investimentos, mas apenas para saldar os débitos antigos.

            O ministro Delfim Neto ficou famoso ao criar a frase (que se referia à distribuição de renda no Brasil): “Primeiro é necessário fazer crescer o bolo, para depois dividi-lo”. O modelo econômico militar permitiu ao Brasil deixar de ser um País essencialmente agrícola para se tornar a oitava economia do mundo em capacidade produtiva, mas isso não significou distribuição de renda. Mesmo com o aumento da participação do Estado na economia, os desequilíbrios regionais permaneceram, e foram até ampliados, e a indústria nacional ficou ainda mais atrelada às multinacionais, que compraram empresas brasileiras ou, simplesmente, passaram a tutelá-las. Fazendo uma análise final, o bolo cresceu sim, mas os ricos enriqueceram ainda mais, enquanto a parcela pobre da população distanciou-se ainda mais das elites, tendo à sua disposição ensino, saúde, transporte e moradia muito piores do que antes.

CRISE E FIM DA DITADURA

            Os militares revezaram-se no poder ao longo de 21 anos, enfrentando, vez por outra, contestações das esquerdas que foram reprimidas violentamente. Principalmente durante o governo Médici, nos final dos anos 60 e início dos 70, os vários focos de guerrilha urbana e no campo foram esmagados pelo regime. A censura dominou os meios de comunicação, a música, as artes e até mesmo obras vindas do exterior. Centenas de brasileiros foram torturados e mortos nos porões da ditadura, enquanto a população era bombardeada com campanhas ufanistas e frases de efeito, como “Ninguém segura esse país” e “Brasil: ame-o ou deixe-o”. O mesmo país que encantava o mundo ao conquistar a Copa do Mundo do México em 1970, com um futebol “mágico”, um possível reflexo da prosperidade interna, no entanto, nada mais era do que a manipulação desenfreada das informações, buscando esconder a truculência do regime.

            O regime começou a apresentar sinais de exaustão no início da década de 1980, com os protestos dos estudantes de Direito do Largo São  Francisco, em São Paulo, a chamada “Marcha da Panela Vazia” na Praça da Sé, e as greves de metalúrgicos do ABC paulista. Estas últimas tiveram, inclusive, repercussão internacional.
            Em 1974, a oposição esboçou uma reação ao vencer as eleições em 16 dos 22 Estados da Federação. Em resposta ao fracasso eleitoral da Arena, o Ministro da Justiça, Armando Falcão, criou a Lei Falcão (1976), que proibia o discurso dos políticos até mesmo durante a campanha eleitoral, mas facultava aos partidos a utilização de rede nacional de rádio e televisão durante uma hora por ano. O líder do MDB, Alencar Furtado, utilizou a rede para denunciar torturas contra presos políticos e foi cassado na tribuna livre da Câmara dos Deputados.

   Em 1977, o General Ernesto Geisel baixou o Pacote de abril, que determinava que:
- o número de deputados de cada Estado seria proporcional ao número de habitantes. Dessa forma, nos colégios eleitorais com maior número de analfabetos, cada voto (de eleitor e, portanto, alfabetizado) teria maior força;
- os territórios (sob controle militar) elegeriam dois deputados em vez de de um;
- cada Estado teria um número mínimo de oito deputados e um máximo de 55;
-         o mandato de presidente seria estendido de cinco para seis anos.

            Em 1979, o General Geisel cancelou as eleições para senador e nomeiou pessoas de sua confiança para o Senado (os senadores biônicos), mas revogou o AI-5. O General João Batista Figueiredo, abraçando uma emenda constitucional de 13 de outubro de 1978, permitiu o início da abertura política e a anistia a todos os acusados de crimes políticos. Não foi a anistia “ampla, geral e irrestrita” que pediam os movimentos populares, mas, “lenta, gradual e segura”.                              Restabeleceu-se a liberdade partidária, extinguindo-se o MDB e a ARENA, e foram prometidas eleições diretas para presidente "para breve".

            Os integrantes do MDB criam o PMDB e a ARENA deu origem ao PDS. Outros políticos fundaram um partido mais moderado e batizado com o nome de PP (Partido Popular), liderado por Tancredo Neves. Leonel Brizola e Ivete Vargas (sobrinha de Getúlio) lutaram pela herança do trabalhismo e da sigla PTB, sendo que a vitória coube a Ivete. Brizola, que havia acabado de voltar do exílio, decidiu-se pela criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), tentando rivalizar com o PTB, apesar de este apresentar um perfil muito mais conservador do que nos tempos de Getúlio.     Fruto de uma articulação de intelectuais e políticos de esquerda, estudantes e sindicalistas empolgados com o sucesso das greves do ABC, surgiu o PT (Partido dos Trabalhadores), que se tornou o substituto do PCB (ainda ilegal na época) junto ao comando dos trabalhadores organizados.

            Em 1982, ocorreram as eleições democráticas para governador ainda sob a legislação  casuísta da ditadura. Fortalecidas com o resultado das urnas, as oposições lançaram o movimento das Diretas Já em 1984, mobilizando milhares de pessoas em todo o País com comícios e passeatas. Mas a Emenda Dante de Oliveira (deputado do PMDB que apresentou o projeto constitucional) foi barrada pela bancada situacionista liderada pelo PDS e não conseguiu os votos de 2/3 do Congresso como exigia a lei. As eleições ocorreriam apenas em 1985, ainda pelo Colégio Eleitoral.


A LUTA ARMADA CONTRA A DITADURA

Desde a radicalização do regime, as forças de oposição tentaram criar mecanismos de combate ao regime militar e dentre as possibilidades, muitos grupos se engajaram na luta armada. Diferentes segmentos da esquerda buscaram a articulação de “células” formadas pelos membros dos partidos e suas tendências. A principal dificuldade para a sobrevivência destes grupos foi a significativa ausência de apoio popular ou mesmo do conhecimento da população sobre as ações praticadas contra o regime. Vale lembrar a manipulação dos meios de comunicação e a censura prévia foram eficazes para converter os inimigos do regime em “terroristas” que ameaçavam a segurança nacional.
A esquerda se articulou em vários grupos de ação como a ALN (Ação Libertadora Nacional) e o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) que sequestraram o embaixador dos EUA Charles Elbrick, a VPR (Vanguarda Revolucionária Popular) liderada por Carlos Marighella e Carlos Lamarca que articularam a guerrilha de ação urbana (assaltos de bancos, sequestros, ataques aos postos militares e policiais) e a guerrilha rural (a ação entre 1971 e 1973 na bacia do Araguaia).
Da parte do regime militar foram organizados diferentes mecanismos para a repressão: o AI-14 previa “pena de morte em casos de guerra externa, psicológica, revolucionária ou subversiva” tendo como expoentes, a partir de 1969, a OBAN (Operação Bandeirante) grupo de militares patrocinado por diferentes segmentos do empresariado e elite para a perseguição e extermínio dos subversivos, que foi posteriormente substituído pelos DOI-CODI (Destacamento de Operações e informações; Centro de Operações de Defesa Interna), espalhando-se por vários estados e se constituíram nos principais centros de tortura da ditadura militar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Arqueológos acham túmulos de mais de 3.000 anos em vale do Paquistão


Fonte: Portal UOL by 
AFP


Arqueólogos italianos descobriram túmulos de mais de 3.000 anos no vale do Swat, no Paquistão, sugerindo que existiam ritos funerários complexos nesta região controlada pelos talibãs há alguns anos, informou o chefe do estudo nesta sexta-feira (23).
A missão arqueológica iniciou as escavações nos anos 1950 no sítio de Udegram, no Swat, uma região do noroeste do Paquistão - também  conhecida como a "Suíça do Paquistão" devido aos seus vales verdes que também escondem tesouros de um passado budista.
Os arqueólogos, que sabiam da existência de uma necrópole pré-budista em Udegram, descobriram nesta região "cerca de 30 túmulos, reunidos e parcialmente entrelaçados uns sobre os outros", disse Luca Maria Olivieri, chefe da missão arqueológica italiana no Paquistão."O cemitério parece ter funcionado entre o fim do segundo milênio antes de Cristo e a primeira metade do primeiro milênio" da mesma era, acrescentou. 
"Estes túmulos nos dizem muito acerca destas culturas antigas (...) que tinha ritos funerários complexos", com uma primeira etapa de decomposição dos corpos em um túmulo aberto, depois da qual os ossos eram queimados parcialmente e guardados em um túmulo fechado, antes que um montículo fosse erguido sobre ele, explicou Luca.
Até o momento, os arqueólogos não encontraram evidências de armas, apenas fragmentos de ferro, "que, talvez, são um dos rastros mais antigos deste metal no subcontinente" indiano, acrescentou Olivieri. 
Esta região está repleta de sítios budistas, pouco visitados pelos turistas estrangeiros, e que são alvo dos insurgentes talibãs, hostis à herança desta religião. Os talibãs paquistaneses tomaram o controle do Swat entre 2007 e 2009, antes de serem derrubados por uma ofensiva do exército paquistanês.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

19 de novembro: o Dia da Bandeira

O golpe da República de 15 de novembro de 1889 precisava instituir uma simbologia adequada para aquela  passagem de Monarquia à República, impondo novos ícones para um novo tempo. Inicialmente, optou-se por uma "inspiração" na bandeira dos Estados Unidos.


Bandeira provisória entre 15 e 19 de novembro de 1889.

Para a nossa felicidade, houve uma significativa mudança, pois foi mantida parte da bandeira do império, excluindo-se o brasão imperial:

 
Bandeira Imperial (1822-1889)

O verde representa a dinastia de Bragança, linhagem de D.Pedro I e o amarelo a dinastia de Habsburgo, a linhagem de D. Leopoldina, princesa de Áustria e imperatriz do Brasil.

No lugar do brasão, foi estampada a esfera celeste, com a divisa positivista: "Ordem e Progresso".


Bandeira da República do Brasil

A simbologia da esfera celeste ainda remete às unidades da federação, incluindo Tocantins.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

70 anos do Zé carioca: Walt Disney e a Política da Boa Vizinhança.

 Em 30 de setembro de 1937, explodia nos jornais brasileiros a notícia de uma nova tentativa de golpe dos comunistas, como se dizia na época "muito pior que o anterior", sendo que a nova tentativa teria sido planejada na Rússia por um comunista de nome Cohen.

 O “plano” previa assassinatos de líderes políticos importantes, o fim da propriedade privada e a imposição do ateísmo. O documento teria sido “descoberto” pelo General Olímpio Mourão Filho, membro do  Partido Integralista, que o entregara ao chefe do Estado Maior do Exército, o general Goes Monteiro, responsável pela divulgação alarmista na imprensa. Veja um trecho deste famoso documento:


"... O comitê dos incêndios tem como missão fazer propagar incêndios em pontos desencontrados da cidade, em uma ação tecnicamente combinada e dirigida, a fim de aumentar a confusão necessária ao movimento, dividir o Corpo de Bombeiros e outros contingentes militares que os governos das cidades serão obrigados a utilizar para acudir aos focos de incêndios ateados [....]
     O comitê central organizará o plano de incêndios tendo em conta a seguinte regra:
a) em cada rua principal do bairro deverá ser ateado fogo a um prédio no mínimo;
b) sempre que possível de preferência uma repartição pública, federal, estadual ou municipal, existente em rua que não seja guardada por policial;
[...] nos bairros elegantes e plutocratas- as massas deverão ser conduzidas aos saques e às depredações, nada poupando para aumentar cada vez mais sua excitação, que deve ser conduzida a um sentido nitidamente sexual, a fim de atraí-las com facilidade; convencidas de que todo aquele luxo que as rodeia - prédios elegantes, carros de luxo, mulheres etc - constituem um insulto à sua sordidez e falta de conforto, e que chegou a hora de tudo aquilo lhes pertencer sem que haja o fantasma do Estado para lhes tomar conta ...”   

SILVA, Hélio. A ameaça vermelha - O plano Cohen. Porto Alegre: L&PM

 Diante da “ameaça vermelha”, o Congresso concedeu ao governo o Estado de Guerra, criando-se condições para um golpe de Estado. Em novembro de 1937 o candidato Armando de Sales Oliveira apelou pela manutenção da legalidade, mas foi inútil. O golpe já estava consumado e Francisco Campos, futuro ministro da justiça, já fora encarregado de redigir a nova Constituição, a chamada "Polaca", pois fora inspirada na Carta fascista da Polônia e desde então, existia um flerte de Getúlio com o fascismo.


O presidente Vargas passou a governar e legislar através de decretos-leis, uma vez que o Legislativo, então, era composto pelo presidente e por parlamentares eleitos indiretamente. Instituiu-se ainda o Estado de Emergência, que permitia ao presidente, a “autoridade suprema do Estado”, suspender direitos individuais, prender, exilar e invadir domicílios. Restaurou-se a pena de morte, abolida ainda no final do Segundo Reinado, e o mandato presidencial foi estendido para seis anos.

            Dentre as principais criações do Estado Novo que possibilitaram ao governo controlar a população e perseguir opositores, destacam-se:
DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda - Era encarregado de realizar o controle ideológico e censurar os meios de comunicação (imprensa, rádio, cinema). Além disso, trabalhava na propaganda pessoal do presidente, fazendo uma imagem sempre positiva de Vargas. Para isso, eram escritas nos jornais matérias favoráveis ao governo, foram espalhados cartazes, produzidas cartilhas e até foi criado um horário no qual todas as rádios eram obrigadas a retransmitir um programa produzido pelo próprio governo. Assim nasceu a Hora do Brasil. Em pouco tempo, Vargas já era conhecido como o “pai dos pobres”.

DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público - Criado em 1938 com a finalidade de dar ao Estado um aparato burocrático racionalizador da administração pública. Resumindo, estava encarregado de modernizar a burocracia. Também deveria fiscalizar os interventores nos Estados.

Polícia Especial (PE) - Sua função era perseguir os opositores do regime, especializando-se em práticas violentas, como sequestros, torturas, assassinatos e deportações, sendo chefiada por Filinto Müller.
            Outras medidas foram a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool e a substituição do “mil- réis” por uma nova moeda: o Cruzeiro. O Brasil passou a ser um Estado unitário, ficando proibidos os símbolos e as bandeiras dos Estados. Foram proibidos também todos os partidos políticos, reuniões, agremiações símbolos etc.

            Os integralistas, apesar de terem colaborado para o sucesso do golpe, também foram atingidos por essas medidas e, sentindo-se traídos, rebelaram-se e tentaram tomar o poder em 1938. Chegaram a invadir o Palácio do Catete (sede do governo), mas foram cercados e acabaram massacrados no episódio que ganhou o nome de Putsch Integralista. Com os integralistas batidos pelas tropas do governo, Plínio Salgado foi obrigado a exilar-se em Portugal.

            O ufanismo nacionalista provocou, de certa forma, a concentração do desenvolvimento no eixo Sul/ Sudeste. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a indústria brasileira sofreu um pequeno crescimento devido à substituição das importações. Porém, a guerra pressionou o governo Vargas a tomar uma posição. Afinal, o regime era muito próximo do fascismo europeu, mas o Brasil sempre pertencera à área de influência dos Estados Unidos. Com a eclosão do conflito, Getúlio declarou neutralidade em relação ao embate, mas tal posição era vista pelos estadunidenses como um apoio envergonhado ao regime fascista.

            A posição brasileira só foi definida em 1941, quando bancos estadunidenses dispuseram-se a financiar a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Vale do Rio Doce, possibilitando ao País produzir aço em grande escala. Após esse empréstimo, o rompimento com o Eixo tornou-se inevitável. Neste contexto, foi se constituindo a política da "Boa Vizinhança" em substituição à política do "Big Stick", ou seja, do grande porrete, marcada pela intervenção militar dos EUA na América Latina. Foi justamente em 1941, que Walt Disney passou pelo Rio de Janeiro e no ano seguinte, lançava um novo personagem: o Zé Carioca, um papagaio que deveria ser uma representação do Brasil e de sua cultura pelo mundo afora.

Com chapéu de palha, paletó, gravata, guarda-chuva e charuto, o papagaio absorvia a identidade social do "malandro", ente presente no mundo do samba e do submundo, que de trambique em trambique, ia gozando a vida, com muita ginga e esperteza, elemento este que se conecta com a velha tese do "jeitinho brasileiro".

Em 1943, Getúlio e Roosevelt se encontraram em Natal (RN), visando estreitar ainda mais os laços de apoio do Brasil no esforço de guerra para os Aliados. Abaixo, também de paletó e chapéu, está o nosso ditador, junto da comitiva de Roosevelt, mas num clima não tão descontraído




Nesse momento, Vargas autorizou o estabelecimento de uma base militar dos EUA em Natal para servir de apoio logístico para a patrulha e defesa do Oceano Atlântico contra as forças do Eixo.

A entrada do Brasil na guerra e o envio de soldados foram provocados pelo afundamento de navios brasileiros, que teriam sido, segundo fontes oficiais, 36 embarcações foram atacadas por submarinos alemães e italianos no litoral nordestino, fato que causou grande tensão e comoção na opinião pública, pois o saldo de mortos chegou a 1080 mortos, entre tripulantes e passageiros. Dessa forma, a população apoiou a ida de soldados para a Europa.

Deem uma olhada na animação "Aquarela do Brasil" ( http://www.youtube.com/watch?v=_mQHr8bAojU ) que mostra o célebre encontro entre o Zé Carioca e o Pato Donald, que de certa forma, pode ser uma boa leitura de como se construía esta "Boa Vizinhança".

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Túmulo de Arafat aberto para investigação sobre as causas da morte


Fonte: Portal Yahoo by  

A fonte informou que o trabalho continuará pelos próximos 15 dias

Funcionários palestinos começaram a abrir o túmulo do dirigente palestino Yasser Arafat com o objetivo de obter elementos para a investigação sobre as causas da morte do líder palestino, informou uma fonte ligada à família.
"Hoje começaram a tirar o cimento e as pedras do mausoléu de Arafat. O trabalho continuará durante pelo menos 15 dias", declarou à AFP a fonte, que pediu anonimato.
"As operações continuarão até chegar à camada de terra que cobre o corpo, que será removida na chegada dos juízes franceses, especialistas suíços e dos investigadores russos envolvidos", completou.
O mausoléu de Arafat estava oculto por grandes toldos, assim como a entrada da Muqata, a sede da presidência da Autoridade Palestina.
O cadáver de Arafat deve ser exumado em 26 de novembro para que os juízes franceses responsáveis pela investigação sobre um possível assassinato e os especialistas suíços que detectaram quantidades anormais de polônio nos bens pessoais de Arafat retirem mostras.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Arqueólogos búlgaros descobrem cidade pré-histórica mais antiga da Europa

Fonte: Portal iG by AFP 



Arqueólogos anunciaram a descoberta da cidade pré-histórica mais antiga da Europa no leste da Bulgária, onde foi encontrada também uma arcaica produção de sal, que teria sido a origem de grandes riquezas descobertas no local.
Escavações feitas no sítio, próximo à cidade moderna de Provadia, até agora revelaram os vestígios de um assentamento de casas de dois pavimentos, uma série de buracos no chão usados em rituais, assim como pedaços de um portão, estruturas de uma fortaleza e três muros de fortificação posteriores, todos com datação de carbono referente aos períodos Calcolítico (Idade do Cobre) médio e tardio, entre 4.700 e 4.200 anos antes de Cristo.
"Não estamos falando de uma cidade como as cidades-estado gregas, assentamentos antigos romanos ou medievais, mas do que arqueólogos concordam que tenha sido uma cidade no quinto milênio antes de Cristo", afirmou Vasil Nikolov, pesquisador do Instituto Nacional de Arqueologia da Bulgária, após anunciar as descobertas no começo do mês.
Nikolov e sua equipe trabalham desde 2005 em escavações do assentamento Provadia-Solnitsata, situado perto do resort de Varna, no Mar Negro.
Uma pequena necrópole também foi encontrada, mas ainda precisa ser estudada mais a fundo e poderá manter os cientistas ocupados por gerações.
Esqueletos de um adulto e duas crianças encontrados no cemitério da cidade pré-histórica descoberta na Bulgária
O arqueólogo Krum Bachvarov, do Instituto Nacional de Arqueologia, afirmou que sua última descoberta é "extremamente interessante" devido às posições peculiares de sepultamento e dos objetos descobertos nas sepulturas, que são diferentes dos de outras sepulturas neolíticas encontradas na Bulgária.
"Os enormes muros no entorno do assentamento, que foram construídos muito altos e com blocos de pedra, também são algo que até agora não tinha sido visto em escavações de sítios pré-históricos no sul da Europa", acrescentou Bachvarov. 
Bem fortificada, com um centro religioso e, mais importante, um grande centro de produção para uma commodity específica que foi comercializada por toda parte, o assentamento de cerca de 350 pessoas encontrou todas as condições para ser considerada a mais antiga "cidade pré-histórica" conhecida na Europa, afirmou a equipe.
"Em uma época em que não se conhecia a roda e a carroça, estas pessoas arrastaram enormes rochas para construir muros enormes. Por quê? O que escondiam atrás deles?", questionou Nikolov. 

A resposta é o sal.
Precioso como ouro 
A área é rica em grandes depósitos de sal rochoso, uns dos maiores no sul da Europa e o único a ser explorado até o sexto milênio antes de Cristo, disse Nikolov.
Isto é o que faz de Provadia-Solnitsata um local tão importante.
Atualmente, o sal ainda é extraído no local, mas 7.000 anos atrás, tinha uma importância completamente diferente.
"O sal foi uma commodity extremamente valorizada em épocas antigas, por ser necessário tanto para as vidas das pessoas e como um método de comércio e moeda a partir do sexto milênio a.C. até o ano 600 a.C.", explicou o cientista.
A extração de sal no local começou em 5.500 anos a.C., quando as pessoas começaram a ferver salmoura de uma fonte vizinha em estufas encontradas dentro do assentamento, disse Nikolov, citando os resultados de datação de carbono de um laboratório britânico em Glasgow, Escócia.
"Esta é a primeira vez no sul da Europa e no oeste de Anatólia que os arqueólogos encontraram traços de produção de sal em uma época tão remota, o fim do sexto milênio a.C., e conseguiram prová-la com dados arqueológicos e científicos", confirmou Bachvarov.
A produção de sal saiu do assentamento por volta do fim do sexto milênio e a produtividade aumentou gradualmente. Após ser fervido, o sal era cozido para formar pequenos tijolos.
Nikolov disse que a produção cresceu de forma permanente a partir de 5.500 a.C., quando uma carga das estufas de Provadia-Solnitsata rendia cerca de 25 quilos de sal seco. Por volta de 4.700 a 4.500 a.C., este volume tinha aumentado para 4.000 a 5.000 quilos de sal.
"Em uma época em que o sal era tão precioso quanto o ouro, você imagina o que isto significou", afirmou.
O comércio de sal deu à população local grande poder econômico, o que poderia explicar os bens em ouro encontrados em seputuras da Necrópole de Varna e que remontam a 4.300 a.C., sugeriu Nikolov.



    quarta-feira, 24 de outubro de 2012

    Descendentes de vítimas do Holocausto repetem tatuagens de Auschwitz

    Fonte: Portal iG - BBC Brasil 

    Como outros israelenses, Doron Diamant gravou em seu braço a mesma tatuagem à qual seu pai foi submetido à força quando chegou a campo de concentração.

    BBC
    A tatuagem de Doron Diamant, que imita a do pai

    O israelense Doron Diamant, de 40 anos, gravou em seu braço uma tatuagem com o número 157622 - a mesma tatuagem à qual seu pai, Yosef, foi submetido à força quando chegou ao campo de concentração de Auschwitz em 1942.
    "Fiz essa tatuagem para expressar o quanto me identifico com meu pai e quero preservar sua memória", disse Diamant à BBC Brasil. "E para que o Holocausto não seja esquecido."
    Diamant, que é marceneiro, diz que as pessoas que encontra no seu dia a dia sempre perguntam o que significa o número tatuado em seu braço. "Pelo menos duas vezes por dia eu conto sobre meu pai e o que ele sofreu em Auschwitz, se não tivesse a tatuagem isso não aconteceria", disse. "Além do número também gravei o desenho de um diamante, que representa o nome da nossa familia - Diamant", acrescentou.
    História
    O pai de Doron, Yosef Diamant, que nasceu na aldeia de Mishkov, na Polônia, tinha 16 anos quando foi preso e levado a Auschwitz - o maior campo de extermínio nazista. Dos seis milhões de judeus que foram exterminados durante a Segunda Guerra Mundial, um milhão foram assassinados em Auschwitz.
    "Desde que nasci minha vida foi sempre à sombra do Holocausto por causa da história do meu pai, ele foi o único que sobreviveu de toda a sua família, além de um primo distante", afirmou.
    Quando Yosef Diamant foi libertado do campo de concentração, em 1945, ao final da guerra, ele procurou sua família porém não achou ninguém. Em 1948 imigrou para Israel, onde se casou e teve cinco filhos e 22 netos. Durante a maior parte de sua vida trabalhou como motorista de ambulância.
    "Ele se orgulhava muito de ter ajudado no parto de 89 mulheres que levou na ambulância", acrescentou o filho. Mais quatro membros da família Diamant fizeram a mesma tatuagem - a irmã de Doron e três de seus sobrinhos.
    Outros jovens israelenses tomaram a mesma decisão, sem conhecer a família Diamant, e também movidos pelo desejo de homenagear seus avós e manter viva a memória do Holocausto.
    'Falta de reflexão'
    No entanto, para o historiador Avraham Milgram, a repetição da tatuagem de Auschwitz "demonstra uma falta de reflexão". Milgram, que trabalha no Museu Yad Vashem, em Jerusalém, disse à BBC Brasil que, ao fazerem a tatuagem, a motivação desses jovens "não é negativa, o jovem quer se identificar com o avô, mas acaba homenageando os nazistas e não o avô".
    De acordo com o historiador, a tatuagem dos prisioneiros em Auschwitz foi um ato de desumanização. Cerca de 400 mil pessoas foram tatuadas com números ao passarem pela "fila da seleção" no campo de concentração.
    Geralmente a tatuagem era executada em prisioneiros destinados a trabalhos forçados. A grande maioria dos idosos e das crianças não foi tatuada. Essas pessoas, que não tinham condições de trabalhar, eram mandadas diretamente para as câmaras de gás, onde morriam asfixiadas.
    "Por que não lembrar o avô como ser humano e não como número?", questiona Milgram, "por que repetir o ato dos nazistas?". A tatuagem, por jovens judeus, com os números do campo de concentração é "mais uma expressão do trauma que o povo judeu sofreu no Holocausto", afirmou.
    Segundo Milgram, o Holocausto deixou um trauma psicológico profundo, que afeta não só a geração das pessoas que sofreram diretamente com o nazismo, mas também "várias gerações de descendentes".
    "Nesse ato da tatuagem há uma certa ironia, uma ironia triste, existem tantas formas humanas de lembrar, adotar justamente um simbolo desumano é um absurdo", concluiu o historiador.

    quinta-feira, 18 de outubro de 2012

    A tecnologia e seus dilemas

    Em Eclesiastes 1, 1-2, segundo a Vulgata  de São Jerônimo, está escrito: "Vanitas vanitatum, et omnia vanitas", quer dizer, "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade" e com certeza, podemos transpor esta citação do mundo antigo para o nosso tão tecnológico e digital mundo contemporâneo, especialmente, quando pensamos o consumismo e a obsoletização  programada, a qual enreda os ávidos consumidores com os "cantos de sereia da modernidade e atualização", impingindo um valor maior para um determinado produto em detrimento de outro.

    No anos 80, quem tinha um carro usado ficava sendo ridicularizado por não conseguir um carro novo e naquela época, nem todos tinham carro, trocá-lo anualmente era para uma elite e ter um usado significava algum conforto, mas ao mesmo tempo, poderia trazer muitas dores de cabeça, principalmente se a manutenção ficasse a desejar. Recordo-me desta época de uma expressão usada para carros mais velhos: "poisé", que era, uma alusão a expressão "pois é", ao iniciar a lista de explicações de qual era o motivo de mais uma quebra entre tantas outras já incontáveis.

    Nos anos 90, o advento da telefonia celular trouxe aos bem-aventurados daquele contexto, uma ideia de "status e prestígio" daquele "tijolo digital", citado de forma pomposa até em letra de pagode. Com o avançar dos anos eles ficaram cada vez menores, chegando a caber na palma da mão. Porém, o tempo sempre é capaz de surpresas....

    Na virada o milênio, a expansão da Internet, a ampliação da sua velocidade e das tecnologias sem fio promoveram um revolução conservadora: os celulares voltaram a crescer, tendo grandes telas e teclados, assumindo a condição de um computador de bolso, coisa que só fora vislumbrada em textos de ficção científica como "Jornadas nas Estrelas", mas ainda nos falta a benção do "tele-transporte"...

    Já depois de uma década, hoje vemos proliferar o dito "smartphone" com sua tela sensível ao toque e tudo se revela como um passe de mágica e dessa forma, os celulares de tela e tecla aparentemente ganharam o status de "contemporâneos dos dinossauros"...

    A reportagem abaixo mostra como o "Império" lida com esse drama transcendental do consumismo: a vergonha de não ter um aparelho de pelo menos 7 polegadas de tela touch screen e todas as vantagens da internet digital 3G ou 4G.

    Bem, usando um expressão antiga, um dia a ficha vai cair...



    Nos EUA, celulares BlackBerry se tornam motivo de vergonha para seus donos

    NICOLE PERLROTH
    DO "NEW YORK TIMES" Fonte: Portal UOL 

    Rachel Crosby fala sobre seu celular BlackBerry da mesma maneira que alguém poderia falar sobre um parente que causa embaraços.
    "Tenho vergonha dele", disse Crosby, representante de vendas em Los Angeles, que conta não mostrar mais seu BlackBerry quando participa de jantares e conferências de negócios. Em reuniões, ela diz esconder o BlackBerry por sob seu iPad, por medo de que os clientes formem opinião negativa sobre ela caso o vejam.

    O BlackBerry costumava ser ostentado pela elite e pelos poderosos, mas as pessoas que ainda têm um deles dizem que o aparelho se tornou motivo de zombaria e desdém da parte das pessoas equipadas com o iPhone e os mais recentes celulares Android.


    Divulgação
    Smartphone BlackBerry, da canadense RIM: uso de celulares da marca vem perdendo o prestígio de outrora
    A Research in Motion (RIM) talvez continue a encontrar sucesso com a venda do BlackBerry em países como a Indonésia e a Índia, mas nos Estados Unidos ela se vê reduzida a menos de 5% do mercado de celulares inteligentes --ante dominantes 50% apenas três anos atrás. O futuro da companhia depende de uma nova família de modelos cujo lançamento foi postergado diversas vezes e agora devem chegar ao mercado no ano que vem.

    Enquanto isso, a RIM registrou prejuízo líquido de US$ 753 milhões no primeiro semestre deste ano, ante lucro de mais de US$ 1 bilhão no período em 2011.
    Entre os mais recentes sinais de perda de prestígio: quando Marissa Mayer assumiu como presidente-executiva do Yahoo, um dos seus primeiros passos para reconstruir a imagem antiquada da companhia foi substituir os BlackBerrys dos funcionários por iPhones e celulares Android. O BlackBerry talvez persista em Washington, Wall Street e entre os profissionais de Direito, mas no Vale do Silício eles são tão raros quanto gravatas.

    A lista de amigos que no passado costumavam se comunicar regularmente pelo serviço de mensagens instantâneas do BlackBerry, o BBM, não para de encolher, e os proprietários do aparelho não economizam palavras sobre o que gostariam de fazer com seus celulares.

    IRA
    "Gostaria de destrui-lo com um bastão de beisebol", diz Crosby, depois de esperar três minutos pelo carregamento do navegador em seu BlackBerry, e aí perder a conexão porque acabou a bateria. "Não se pode fazer nada com ele. Teoricamente seria possível, mas é tudo uma grande enganação".
    A animosidade cultural entre os devotos do BlackBerry e todo mundo mais só se agravou ao longo dos últimos 12 meses, quando empresas que anteriormente forneciam BlackBerrys --e nenhum outro celular-- aos seus funcionários começaram a ceder aos pedidos de seu pessoal e substituir os modelos antigos por iPhones e celulares Android.
    O Goldman Sachs recentemente ofereceu ao seu pessoal a opção de trocar o BlackBerry por um iPhone. O importante escritório de advocacia Covington & Burling fez o mesmo por insistência dos advogados mais jovens. Até mesmo a Casa Branca, que usava o BlackBerry por motivos de segurança, recentemente começou a permitir o uso do iPhone.
    (Alguns membros da equipe do presidente suspeitam que a decisão tenha sido influenciada por Obama, que prefere usar o iPad em seus briefings de segurança nacional. Consultado, um porta-voz da Casa Branca não quis comentar.)
    REJEIÇÃO
    Lá fora, no mundo, os insultos continuam. Victoria Gossage, 28, que trabalha no departamento de marketing de um fundo de hedge, participou de um retiro empresarial no Piping Rock Club, um country club fino em Locust Valley, Nova York, e pediu um carregador de celular ao recepcionista. "Primeiro ele respondeu que sim, mas ao ver meu celular falou: 'mas não para isso'".
    "Você termina se acostumando a esse tipo de rejeição", disse.
    "Os usuários do BlackBerry são como os do MySpace", desdenha Craig Robert Smith, músico em Los Angeles. "Devem usar o AOL Instant Messenger para seus chats".

    Os condenados ao BlackBerry dizem que sofrem vergonha e humilhação pública ao verem seus colegas usando aplicativos de redes sociais que não estão disponíveis para seus aparelhos, tirarem fotos com resolução mais alta e navegarem com sucesso pelas ruas --e pela internet-- com browsers superiores e um sistema de GPS mais eficiente.
    Novas indignidades surgem porque eles precisam terceirizar tarefas como procurar endereços, comprar passagens, fazer reservas em restaurantes ou procurar placares de esportes, recorrendo a namorados, amigos ou colegas equipados com iPhones e celulares Android, que atendem esse tipo de pedido a contragosto.

    'SINTO-ME INÚTIL'


    "Sinto-me completamente inútil", diz Gossage. "Você vê as pessoas fazendo tudo isso com seus celulares e tudo que tenho a alegar em resposta é que posso conversar com minha família em nosso grupo no BBM".

    Ryan Hutto, diretor de uma companhia de informações de saúde em San Francisco, diz que frequentemente precisa recorrer a outras pessoas, usualmente sua mulher, para ouvir música, procurar informações de navegação e descobrir placares de jogos. "Depois de duas ou três perguntas, as pessoas começam a se irritar", diz.

    Peter DaSilva/The New York Times
    Shannon Hutto usa seu iPhone ao lado de seu marido, Ryan, usuário de BlackBerry
    Shannon Hutto usa seu iPhone ao lado de seu marido, Ryan, usuário de BlackBerry



    Sua mulher, Shannon Hutto, diz, com um suspiro: "Sempre que saímos juntos, preciso procurar o mapa com meu celular. Se estamos procurando um restaurante, eu é que tenho o aplicativo do Yelp. Se precisamos de reserva, eu é que recorro ao Open Table. Parece que sou a secretária dele".

    TECLADO EFICIENTE


    Mas alguns usuários do BlackBerry afirmam que não abandonarão o aparelho, principalmente por conta de seu eficiente teclado físico. "Uso meu BlackBerry por escolha", diz Lance Fenton, 32, investidor que viaja frequentemente e precisa enviar e-mails em viagem. "Não consigo digitar meus e-mails em um telefone com tela de toque".

    Fenton diz que não consegue compreender a febre do iPhone. "Pergunto constantemente às pessoas o que ele tem de tão espetacular, e as respostas são sempre tolas", diz. "Alguém me disse que estou perdendo o app que mapeia percursos de esqui. Esquio quatro dias por ano. Não preciso de um app de esqui".

    Os mais recentes esforços da RIM para reter a fidelidade de seus usuários, e a dos programadores de que precisa para criar aplicativos destinados à sua nova geração de aparelhos, a ser lançada no ano que vem, despertaram repulsa universal. Em um recente vídeo promocional, Alec Saunders, vice-presidente de relacionamento com criadores de software na RIM, é visto cantando um rock intitulado "Devs, BlackBerry Is Going to Keep on Loving You", baseado na balada "Keep On Loving You", do Reo Speedwagon.
    "Isso sinaliza uma companhia desesperada", diz Nick Mindel, 26, analista de investimento. "Poxa, BlackBerry. Sempre tive fé em vocês, mas acabam de perder um cliente. E francamente não acho que possam perder muitos mais".

    Depois de oito anos usando o BlackBerry, Mindel se inscreveu na lista de espera de um iPhone 5. Quando o novo celular chegar, diz, "estou pensando em tirar a bateria do BlackBerry, encher o vão de cimento e usá-lo como peso de papel".
    Tradução de Paulo Migliacci