Chamamos de absolutismo a organização política que
caracterizou os países da Europa durante os séculos da Idade Moderna, na qual o
poder estava centralizado nas mãos de um monarca, que recebia sustentação
política da nobreza, justificativa e base moral da Igreja Católica e apoiava-se
economicamente na burguesia.
O
Renascimento Comercial fez surgir uma nova classe social, que apresentava
necessidades bastante específicas. Os burgueses precisavam de estradas
confiáveis e livres de bandidos, sistemas unificados de pesos, medidas e moeda,
além de uma uniformização tributária. O poder descentralizado do feudalismo
representava um empecilho a essa nova classe, que viu no rei a materialização
de seus anseios.
O
absolutismo pode, então, ser caracterizado como a aliança da burguesia com o
rei, em que a primeira fornecia os meios financeiros para o combate ao poder
regional, recebendo em troca proteção e uniformidade. O rei era, então, capaz
de pagar um corpo burocrático para governar o país e formar um exército
nacional profissional e, posteriormente, uma marinha, colocando a
"nação" a serviço da burguesia.
TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO
Vários
autores tentaram explicar a origem do poder dos reis absolutos. Tais ideias
tornaram-se necessárias na medida em que as populações estavam submetidas aos
nobres feudais e, assim sendo, a autoridade do rei parecia algo distante da
realidade.
Mas é
preciso lembrar que também era grande o número de pessoas que sentia a
necessidade de desfrutar um mundo no qual fossem reconhecidos elementos
nacionais, isto é, elementos que criassem ligações e identidade entre aqueles que
moravam próximos. Significa dizer que havia público para aceitar e seguir
língua, religião e outros símbolos nacionais.
Entre os
principais pensadores da época, pode-se destacar o florentino Maquiavel, os
franceses Jean Bodin e Jacques Bossuet e o inglês Thomas Hobbes. Mas estes não
foram os primeiros a pensar a política como um assunto que deveria ter uma
prática definida. O teólogo Tomás de Aquino, criador da escolástica, talvez
tenha sido o precursor deles. O tomismo defendia que a moral e o respeito aos
direitos naturais humanos eram fundamentos limitadores do poder político.
Nicolau Maquiavel
(1469 - 1527) - Esse florentino pertenceu ao governo da poderosa família
aristocrática Médici, e nunca aceitou a fragmentação política da Itália. É o
autor da célebre obra O Príncipe, em
que defendeu a teoria de que o Estado e a ordem dele advinda justificariam os
meios necessários à sua implantação. Dessa forma, a mentira, a traição, a
violência e quaisquer outros meios para a manutenção do poder seriam plenamente
justificados, já que o Estado poderia trazer a paz e a ordem. Maquiavel chegou
a dizer que o monarca não deveria se preocupar com o fato de o povo amá-lo ou
não, pois o que garantiria o respeito seria o temor, e não o amor.
Jean Bodin
Jean Bodin (1529 - 1596) - Defendia a teoria de que o rei era
para a nação aquilo que um pai representava para seus filhos, devendo, dessa
forma, ser obedecido sem contestação. Acreditava na ideia da “soberania
não-partilhada”, ou seja, o poder real não poderia sofrer restrições ou
ameaças, pois a autoridade real emanava de Deus. Nesse sentido, o rei poderia
legislar sem precisar do consentimento de quem quer que fosse.
Thomas Hobbes (1588 - 1679) - Foi o autor de O Leviatã, considerada a mais notável
dentre todas as obras do pensamento absolutista. Nela, o autor defende a tese
de que os homens em estado natural (livres da sociedade) comportam-se como
animais. Na sociedade primitiva, “em estado de natureza”, ninguém está sujeito
às leis, seguindo apenas o interesse próprio; na prática, há uma “guerra de
todos contra todos. Nesse sentido, se na natureza cada animal tem seu predador,
o homem seria o seu próprio”. Sintetizou essa ideia na conhecida frase ”o homem
é o lobo do homem” .
Acreditava que somente um soberano absoluto poderia garantir
à sociedade a tranquilidade necessária para a prosperidade. Para isso, os
homens dotados do sentimento de autoconservação e da razão buscariam a união
para formar uma sociedade civil, mediante um contrato social, segundo
o qual cada um abriria mão de seus direitos, renunciaria à liberdade e cederia
poderes amplos ao soberano, em nome da manutenção da ordem e da paz, contra a
violência e o caos da sociedade primitiva. Segundo Hobbes, “é lícito ao rei
governar despoticamente, já que o próprio povo lhe deu o poder absoluto”.
Jacques Bossuet (1627 - 1704) - Apresentou a mais conhecida e
tradicional justificativa para a centralização absolutista, muito provavelmente
como consequência de seu trabalho junto à corte francesa, uma vez que educou
pessoalmente o filho do rei Luís XIV. Em seu livro Política Segundo a Sagrada Escritura, afirmava que o rei não devia
prestar contas a ninguém senão a Deus, já que "o trono real não é o trono
de um homem, mas o trono do próprio Deus". Em outras palavras, o rei era indicado
diretamente pelo Todo-Poderoso, a quem ninguém poderia questionar. Estava assim
estabelecido o chamado direito divino dos reis.
ABSOLUTISMO NA PENÍNSULA IBÉRICA
A
formação da Monarquia Nacional espanhola esta diretamente relacionada com o fim
da Guerra de Reconquista em 1492 devido a expulsão dos mouros de Granada,
finalizando oito séculos de guerra constante e representou a união definitiva
dos reinos cristãos, pois desde 1469 as coroas de Castela e Aragão foram
unificadas com o casamento dos Reis Católicos, Isabel e Fernando.
A
unificação do Estado permitiu a Coroa espanhola investir na empreitada marítima
assim como Portugal vinha fazendo e tal processo culminou com a chegada dos
espanhóis ao chamado Novo Mundo e assim puderam construir um vasto império
colonial já no século XVII.
O
absolutismo teve sua manifestação mais clara a partir da dinastia Habsburgo ,
uma família nobre de origem austríaca que através de uma hábil política de
casamentos conseguiu obter quase toda Europa central e ocidental sob seu poder.
Tal processo teve início com o imperador Carlos V e chegou ao apogeu com seu
filho Felipe II, senhor de um vasto império no qual "o sol nunca se
punha" .
Carlos V
Felipe II
Os Habsburgo
ambicionavam em unir sob sua coroa toda Europa e para tanto rivalizavam com as
outras duas dinastias rivais: os Bourbon na França e os Tudor na Inglaterra.
Quanto aos ingleses , Felipe II tentou invadir a Inglaterra com a Invencível
Armada, mas não obteve sucesso em virtude de uma forte tempestade e da ação dos
corsários da rainha Elisabeth, liderados por Francis Drake. Em contrapartida,
os espanhóis formaram um vasto império colonial nas terras americanas, o qual
foi responsável pelo enriquecimento através das minas de ouro e prata
conquistadas pelos espanhóis dos astecas e dos incas, povos dominados que
habitavam a América antes da chegada dos espanhóis.
ABSOLUTISMO NA FRANÇA
A centralização do poder monárquico se concretizou na França
após a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) com a expulsão dos ingleses do
território francês e o estabelecimento da dinastia Valois, pois a autoridade
real foi expandida para todo o reino, submetendo os nobres.
O
absolutismo francês, no entanto, não foi totalmente implementado neste período,
porque sua organização se deu de forma lenta através da transição entre o
controle indireto pelo rei até o poder total, principalmente em virtude das
tumultuadas relações entre a Coroa e a burguesia pela propagação da fé
protestante na França, no caso, o calvinismo.
Durante o
período de 1453 e 1589, os reis da dinastia de Valois procuraram ampliar seu
poder através da supremacia dos tribunais reais sobre a autoridade local como
também combateram as heresias e a expansão do protestantismo. No intuito de
reduzir os choques com os protestantes, a rainha-mãe Catarina de Médici (regente
durante a infância de Carlos IX) favoreceu os huguenotes com o Edito de
Saint-Germain, a partir do qual concedia liberdade de culto nos subúrbios de
Paris e dava-lhe o controle de duas cidades Montauban e La Rochelle.
O apaziguamento foi tentado também com a união de Margarida de Valois (princesa católica) e Henrique de Navarra (príncipe protestante). No entanto, a desconfiança de setores católicos radicais,a forja de uma "conspiração huguenote" e a ação de Catarina de Médici para a repressão dos protestantes foram fatores para que em 24 de agosto de 1572 ocorresse o massacre da "Noite de São Bartolomeu", quando mais de 5000 protestantes foram assassinados pelos partidários católicos do rei, agravando o clima de tensão entre católicos e protestantes, fazendo com que a morte de Carlos IX em 1574 e ascensão de Henrique III (1574-1589) mostrassem sinais do enfraquecimento da Coroa .
A figura real ficou extremamente abalada, principalmente no reinado de Henrique III, quando eclodem as "Guerras de Religião", tendo de um lado a Liga Católica sob a liderança do duque Henrique de Guise (que contava com o apoio da rainha-mãe Catarina de Médici) e de outro as facções protestantes. O rei Henrique III ordena o assassinato do duque Henrique de Guise e é deposto pela Liga Católica, dessa forma, busca o apoio de Henrique de Navarra, ajudando-o com suas tropas no cerco de Paris em 1589, mas Henrique III morre durante os combates e nomeia Henrique de Navarra como seu sucessor. Sendo de formação protestante renegou sua fé em cerimônia pública em julho de 1593, tornando-se conhecido pela expressão "Paris vaut bien une messe" (Paris bem vale uma missa) em virtude de sua conversão por motivos políticos.
Henrique IV, o fundador da Casa de Bourbon
Ao vencer
as tropas da Liga Católica, Henrique de Navarra ascendeu ao trono como Henrique
IV, dando início a dinastia de Bourbon, decretando a liberdade de culto e
reafirmando o controle sobre as cidades de Larochelle e Montauban através do
Edito de Nantes em 1598.
Henrique
IV foi assassinado por um fanático em 1610, quando seu filho Luís XIII assume o
trono sob a regência da mãe Maria de Médici, a qual delegou poderes ao cardeal
Richelieu que se tornou ministro de Estado. O reinado de Luís XIII foi marcado
pela forte influência de Richelieu que continuou a frente do governo mesmo com
a maioridade do rei, sendo responsável pela perseguição aos protestantes com
retomada das cidades sob seu controle, mantendo apenas a liberdade de culto.
Richelieu procurou fortalecer o poder da França na Europa através de sua participação
na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), pois objetivo era atacar a hegemonia dos
Habsburgo.
Com a
morte de Luís XIII em 1643 e de Richelieu no ano anterior, ascendeu ao trono
Luís XIV aos cinco anos e portanto esteve sob a regência de sua mãe Ana d'Áustria
e do cardeal Mazzarino até 1661. Neste período ocorreram as Frondas (1648-1653),
ou seja, revoltas da nobreza com apoio burguês em virtude de uma política de aumento de impostos, da crise
de abastecimento e da exclusão de nobres do poder .
Luís XIV, o Rei Sol
Com a morte
de Mazzarino em 1661, Luís XIV passa a governar sozinho, pois assumiu que
" L'Etat c'ést moi", isto é,
o Estado sou eu, encarnando a figura central do poder e tornava-se um soberano
absoluto com a submissão da nobreza e da burguesia, conhecido como o Rei Sol e
exercia o governo a partir de um conselho de ministros e sua autoridade era
incontestável, sustentada pela teoria do direito divino dos reis de Jacques
Bossuet.
Uma das
principais obras de Luís XIV foi a construção do Palácio de Versalhes, centro
do poder e morada real que contava com o séquito de mais de 10.000 pessoas
entre cortesãos, criados, soldados e consumia aproximadamente 8% da renda do
Estado francês.
Apesar de
representar o apogeu do absolutismo na França, o reinado de Luís XIV também foi
o início da decadência devido aos gastos vultuosos com a corte e com as guerras
no exterior.
ABSOLUTISMO NA INGLATERRA
Pela Magna
Carta (1215) imposta pela nobreza ao rei João Sem-Terra, o monarca da
Inglaterra ficava proibido de criar novos impostos e de administrar a justiça,
que passavam a ser prerrogativas exclusivas do Parlamento, composto por nobres,
burgueses e clero.
Significa
dizer que, na Inglaterra, o estabelecimento de um poder verdadeiramente
centralizado sempre enfrentou duríssimos obstáculos. Com as mãos atadas, os
reis ingleses foram obrigados a lançar mão de uma série de recursos para
ampliar seu poder, sendo o principal deles a perseguição religiosa deflagrada
por Henrique VIII (1509-1547) contra os puritanos (calvinistas), que lideravam
o Parlamento, e contra a Igreja Católica, grande proprietária de terras no
país. Aliás, foram exatamente os monarcas da dinastia Tudor os responsáveis
pela instalação do absolutismo entre os ingleses.
Eduardo VI,
filho e sucessor de Henrique VIII, reinou por pouco tempo (1547-1553), o que
praticamente não afetou a reforma religiosa inglesa. Mas a sucessora de Eduardo
VI, a católica Maria I, fora educada sob o rígido catolicismo da Espanha e
restabeleceu essa religião na Inglaterra, perseguindo ferozmente os
protestantes, o que lhe valeu a alcunha de “Maria Sanguinária”.
Maria I (Bloody Mary)
Elizabeth I
Elizabeth I
(1588-1603), filha do segundo casamento de Henrique VIII, continuou a obra do
pai, perseguindo católicos e calvinistas que se opusessem a ela e ao seu poder.
Construiu uma frota para aumentar o poderio inglês no mar e incentivou a
pirataria, o que lhe garantiu renda para o financiamento da industrialização da
Inglaterra. Foi durante seu governo que teve início o processo efetivo de
colonização da América do Norte. Quando já tinha o respeito dos políticos e
demonstrava dominar a arte da política, o Parlamento passou a ser convocado
raramente e chegou perto de ser extinto.
REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII
Com a morte de Elizabeth I, seu primo Jaime Stuart assumiu o trono. Jaime I, que era escocês e católico, uniu o trono da Escócia ao da Inglaterra e tentou impor-se como rei absoluto, provocando sucessivos choques com o Parlamento.
Com a morte de Elizabeth I, seu primo Jaime Stuart assumiu o trono. Jaime I, que era escocês e católico, uniu o trono da Escócia ao da Inglaterra e tentou impor-se como rei absoluto, provocando sucessivos choques com o Parlamento.
Carlos I (1625-1649),
filho e sucessor de Jaime, prosseguiu a política centralizadora de seu pai,
tentando recriar antigos impostos (ship-money). O Parlamento exigiu do
rei o juramento da Petição de Direitos,
sob pena de não mais votarem a aprovação de novos impostos. O rei aceitou a
exigência e jurou a petição, mas tão logo os novos impostos foram votados e aprovados,
o monarca dissolveu o Parlamento, enganando os deputados.
Carlos I
O rei Carlos havia declarado guerra aos
presbiterianos (calvinistas) escoceses, pois estava determinado a impor o
anglicanismo na Escócia. Frustrado em duas tentativas, Carlos I foi obrigado a
convocar o Parlamento para conseguir verbas para a guerra. Os parlamentares,
liderados por Oliver Cromwell, recusaram-se a aprovar novos impostos e
acusaram os conselheiros do rei de alta traição. Em 1641, a Irlanda católica
revoltou-se contra a Inglaterra e o rei solicitou verbas para reprimir os
irlandeses. Diante da negativa do parlamentares, o monarca invadiu o Parlamento
e tentou prender seus líderes.
Como
resultado, iniciou-se uma guerra civil, a Revolução Puritana (1642-1649), que opôs os Cavaleiros (partidários do rei) e os cabeças-redondas (partidários do
Parlamento). Com a vitória das forças parlamentares, o rei fugiu para a
Escócia, onde foi aprisionado pelos presbiterianos e vendido ao parlamento
inglês. Carlos I foi julgado por traição e executado em 30 de janeiro de 1649.
Foi, então, proclamada a república, chamada de Commonwealth, e Oliver
Cromwell assumiu o poder com o título de "Lorde Protetor da Inglaterra".
Durante seu
governo, Cromwell lutou contra a Irlanda e a Escócia, além das perseguições
internas. No caso irlandês, ordenou um massacre de católicos, confiscou as
terras destes e entregou-as aos protestantes. Fez tudo isso acreditando que
estaria “evitando novos derramamentos de sangue no futuro”. Entretanto, a
chamada Questão da Irlanda, isto é, a oposição entre católicos e
protestantes, é um dos principais problemas políticos que o governo inglês
enfrenta até os dias de hoje.
Sem dúvida,
o fato mais marcante de seu governo foi a aprovação dos Atos de Navegação.
Baixados por Cromwell em 1651, tais atos proibiam a participação de navios de
estrangeiros como intermediários no comércio com a Inglaterra. A Holanda era
responsável pela maior parte dos transportes marítimos na Europa e foi
diretamente atingida pela medida. Para se ter um exemplo, Portugal utilizava
navios construídos na Holanda, mas que eram considerados
"estrangeiros" pela Inglaterra. Esse fato obrigou Portugal a utilizar
exclusivamente navios ingleses no comércio entre os dois países.
A guerra
entre a Holanda e a Inglaterra durou três anos, ao fim dos quais a Holanda
aceitou os Atos de Navegação, que permitiram a supremacia inglesa nos mares. A
morte de Oliver Cromwell em 1659 foi recebida com alívio por toda a Inglaterra.
Seu filho Ricardo não conseguiu manter o poder e foi obrigado a renunciar seis
meses depois.
O
Parlamento convidou Carlos II, filho herdeiro de Carlos I, a assumir o trono, o
que ocorreu em 29 de agosto de 1660, pondo fim à Republica Inglesa. Em 1679, o
Parlamento votou e aprovou o Ato de Exclusão,
pelo qual os católicos ficavam proibidos de ocupar cargos públicos e de usar o Habeas Corpus, medida jurídica que
garante ao indivíduo proteção legal contra as detenções arbitrárias. O rei
reelaborou as leis de navegação e da frota inglesa, aumentando os rendimentos
da Coroa, e não mais convocou o Parlamento de 1682 a 1685.
Em 1685,
Jaime II assumiu o trono, após a morte do monarca, que era seu irmão. Educado
na França, o novo rei tentou reintroduzir o catolicismo no país, mas sua
atitude não preocupou o Parlamento, devido à sua idade avançada e pelo fato de
suas duas filhas estarem casadas com nobres protestantes. Mas, quando a segunda
esposa do rei lhe deu um filho do sexo masculino (que excluiria suas irmãs da
sucessão ao trono), batizado segundo o ritual católico, os parlamentares
ficaram inquietos e procuraram Guilherme de Orange (Stathouder (governante) da Holanda,
protestante e marido da filha mais velha de Jaime II) e pediram que ele
invadisse a Inglaterra para defender o protestantismo.
Guilherme III
Guilherme
de Orange assumiu o poder na Inglaterra em 1688, enquanto seu sogro fugia do
país. A transição sem derramamento de sangue ficou conhecida como Revolução
Gloriosa. O Parlamento obrigou Guilherme III a assinar a
Declaração de Direitos (Bill of Rights), na qual se comprometia a dar
tratamento preferencial à Inglaterra e exercer o poder executivo, deixando o
legislativo e a criação de impostos para o Parlamento. Nascia o
parlamentarismo na Inglaterra.
Esse fato afirmava o poder da burguesia inglesa sobre o rei,
criando as condições necessárias para a Revolução Industrial. Em 1714, Jorge I
herdou o trono inglês, iniciando uma nova dinastia, a dos Hannover – a mesma
até os dias de hoje, tendo no entanto, o nome Windsor, adotado durante a Primeira
Guerra Mundial em 1917.
CAPITALISMO
O mercantilismo
foi o conjunto de práticas econômicas dos
Estados absolutistas. Os reis absolutos acreditavam que o sucesso financeiro da
burguesia nacional traria lucros e vantagens para toda a nação. Dessa forma, o
lucro da burguesia passou a ser um negócio de Estado, mobilizando todas as
forças (frequentemente a militar) de um país.
As origens
do capitalismo mercantil remontam à formação do
Estado Moderno e ao desenvolvimento da revolução comercial. Os pequenos
mercados locais da época medieval deram lugar a um amplo mercado nacional,
formado pela população e pelo território administrado pela monarquia
centralizada.
Com as
navegações, o mercado nacional deu lugar ao mercado mundial e, com o fluxo de
metais preciosos da América e de especiarias do Oriente, o comércio europeu foi
impulsionado como jamais havia ocorrido em qualquer período anterior.
Entre as práticas realizadas,
destacamos:
- metalismo
– crença de que a riqueza de um país poderia ser avaliada pelas reservas
de ouro e prata entesouradas;
- colonialismo
- a medida de riqueza de um país seria dada pela quantidade de colônias
produtoras de especiarias e de metais preciosos;
- protecionismo
- o Estado deveria proteger suas manufaturas, taxando pesadamente os
artigos importados, pois as manufaturas nacionais (quando prósperas)
pagavam impostos ao Estado;
- balança
comercial favorável – o predomínio das exportações sobre as importações
garantiria o ingresso de moeda no país. Esse objetivo seria atingido
através de equilíbrio entre as demais práticas, acrescentando-se o pacto
colonial.
O
absolutismo e o mercantilismo constituíam, pois, a dupla face do Antigo Regime.
Nesse sistema econômico, o Estado exercia um rígido controle sobre todas as
atividades produtivas, cujo objetivo era aumentar a produção de mercadorias,
regulamentar os diversos tipos de artigos produzidos e estabelecer um sistema
de tarifas alfandegárias para proteger o mercado nacional. Era uma forma de
nacionalismo na economia, baseado no intervencionismo estatal, no dirigismo
econômico e no protecionismo alfandegário.
O nascimento da "Política Moderna"
(...) Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser
amado que temido ou vice-versa. Responderá que se desejaria ser uma e outra
coisa; mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles
resultados, é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que
falhar numa das duas. É que os homens geralmente são ingratos, volúveis,
simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizerem bem,
todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, como disse acima,
desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas, quando ela se avizinha,
voltam-se para outra parte. E o príncipe, se confiou plenamente em palavras e
não tomou outras precauções, está arruinado. Pois as amizades conquistadas por
interesse, e não por grandeza e nobreza de caráter, são compradas, mas não se
pode contar com elas no momento necessário. E os homens hesitam menos em
ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é
mantido por um vínculo de obrigação, o qual devido a serem os homens pérfidos é
rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é
alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona
nunca. Deve portanto o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer
amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não
odiado, o que sucederá uma vez que se abstenha de se apoderar dos bens e das
mulheres de seus cidadãos e dos seus súditos, e, mesmo sendo obrigado a
derramar o sangue de alguém, só poderá fazê-lo quando houver uma justificativa
convincente e causa manifesta. Deve, sobretudo, abster-se de aproveitar dos
bens dos outros, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que
a perda de seu patrimônio. Além disso, não faltam ocasiões para pilhar o que é
dos outros, e aquele que começa a viver de rapinagem, sempre as encontra, o que
não sucede quanto às ocasiões de derramar sangue.
Nicolau
Maquiavel. O Príncipe. Cap. XVII. Os
Pensadores. São Paulo: Abril, 1978.
A manifestação do Absolutismo
É
exclusivamente na minha pessoa que reside o poder soberano (...) É só de mim
que os meus tribunais recebem a sua existência e a sua autoridade; a plenitude
dessa autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em
mim, e o seu uso não pode nunca ser voltado contra mim; é a mim unicamente que
pertence o poder legislativo sem dependência ou partilha (...) A ordem pública
inteira emana de mim, e os direitos e interesses da Nação, de que se ousa fazer
um corpo separado do Monarca estão necessariamente unidos com os meus e
repousam unicamente em minhas mãos.
Fala de
Luís XV ao Parlamento francês em 1766