Uma das principais características do movimento impressionista é a desconstrução do espaço clássico, pois o observador não tem mais o ponto de fuga que orienta o seu olhar e assim sendo, a imprecisão dos traços, gradativamente, vai codificando as novas formas de representação do objeto: a linha se torna espessa, a cor se fragmenta em nuances e por fim, a composição espacial põe à prova o observador, uma vez que concebe um jogo de ilusão e realidade em proporções muito delicadas e elegantes.
O bar do Folies Bergère – Edouard Manet, 1882. Musée d’Orsay, Paris, França.
No quadro do bar, Manet usa de um recurso antigo (o espelho) com uma perspectiva diferenciada, porque procura criar um quadro dentro do próprio quadro, abrindo assim, uma “segunda obra” que se relaciona intimamente com a primeira. O espelho ocupa três quartos do fundo da tela e além de sua função espacial (mostrar o salão e seus ocupantes) impõe uma noção temporal, centrada no olhar perdido da balconista que nos observa e quando observamos o espelho vemos outro momento, a balconista atendendo um cliente.
Sejam os ocupantes do salão ou mesmo o lustre que decora e ilumina o ambiente, em ambos observamos o conjunto de pinceladas irregulares, que com massas de tinta, onde a forma e a cor definem o elemento representado, guardando diferentes nuances, como o rendilhado que a balconista usa sobre o colo ou a massa de cristais do lustre.
Do ponto de vista social, o espelho também segrega dois planos distintos: o trabalho da balconista num espaço de lazer (o Folies Bergère era um cabaret em Paris), da qual ela é naquele momento privada porque está trabalhando e seu olhar denota as agruras e desgastes da função e por outro lado, estão presentes, dezenas de pessoas que podem usufruir de momentos prazerosos de alegria, felicidade e descanso, ou seja, as dezenas de pessoas que ocupam o salão.
Do ponto de vista social, o espelho também segrega dois planos distintos: o trabalho da balconista num espaço de lazer (o Folies Bergère era um cabaret em Paris), da qual ela é naquele momento privada porque está trabalhando e seu olhar denota as agruras e desgastes da função e por outro lado, estão presentes, dezenas de pessoas que podem usufruir de momentos prazerosos de alegria, felicidade e descanso, ou seja, as dezenas de pessoas que ocupam o salão.
A composição espacial, portanto, rompe nesta tela com as convenções de uma perspectiva geométrica matematicamente calculada, na qual os elementos da composição são presos a uma rígida ordem.
Casal Arnolfini - Jan Van Eick ,1434. National Gallery, Londres, Grã-Bretanha.
Ao se valer do uso do espelho, a metáfora de mostrar outro espaço, aquele que não está visível ao plano da tela, vai além da enunciação como, por exemplo, no famoso quadro o Casal Arnolfini de Jan van Eick de 1434, pois Manet torna o espelho algo muito mais importante que um detalhe que só pode ser avaliado sob a ampliação de uma lupa (como no quadro de van Eick), pois a pintura do espelho tem uma representação simbólica muito intensa, afinal sua riqueza de elementos e a forma de sua disposição permitem avaliar as temporalidades propostas pelo pintor.
O espelho não só oferece o contraponto do ângulo de visão para o espectador, mas também atesta a presença das testemunhas, as quais se encontram junto à porta, fazendo com que o compromisso ali selado tivesse a validade necessária. Vale lembrar que ainda há uma terceira testemunha que se faz presente pela inscrição acima do espelho: "Johannes van Eick fuit hic 1434 " que quer dizer "Jan van Eick esteve aqui, 1434".
Interessante matéria, parabéns pela "exposição da arte"!
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