Na
última semana fomos assustados com uma notícia que saiu de 60 anos atrás: a
eclosão de uma guerra na península da Coreia, envolvendo potencias nucleares e
um resultado sem precedentes para a região e o mundo.
No
entanto, os fatos envolvem o momento atual e o delicado equilíbrio na região do
Extremo Oriente, pois o recém empossado líder supremo da República Democrática
Popular da Coreia do Norte, Kim Jong-un declarou “estado de guerra” à Coreia do
sul e aos EUA. Kim Jong-un é filho de Kim Jong-il (1994-2011) e neto do
fundador Kim il Sung (1949-1994) e assim, ao que parece, está dando
continuidade à dinastia socialista, amparada por um corpo de militares e pelo
Partido dos Trabalhadores da Coreia.
A
existência das duas Coreias e deste estado de tensão é um fruto direto da II
Guerra Mundial (1939-1945) e por sua vez, da Guerra Fria(1945-1991).
Antes, voltemos ao contexto de ascensão do Império do Japão e como os desdobramentos de uma política de centralização do poder no imperador abriu caminho para a formação de um império militarista e conquistador num curto espaço de tempo.
Até
1868, o governo japonês era descentralizado, sendo o imperador uma figura
enfraquecida e os senhores locais (shoguns)
muito bem estruturados num processo "semelhante" ao da Europa feudal,
durante a chamada formação das monarquias nacionais entre os séculos XV e XVI.
Em
1868 ocorreu a chamada Revolução Meiji
ou Era Meiji , que significa “Era das
Luzes ou Era Iluminada” quando o imperador Mutsu-Ito centralizou o poder em
detrimento do shogunato, cuja exercício do poder de fato estava calcado na ação
dos exércitos de samurais (elite de militares treinados em diferentes formas de
combate, dotados de um código de honra, o Bushidô, que os tornava semelhantes, em termos de comparação, aos cavaleiros da Europa medieval).
Após
a substituição do poder samurai por um exército organizado aos moldes
ocidentais, submisso diretamente ao poder imperial, foi responsável por um
processo de abertura e ocidentalização do Japão, fator prioritário para lançar
as bases da industrialização e o incentivo ao comércio e agricultura, por
conseguinte, abrir caminho para o fortalecimento do poder japonês no Extremo
Oriente: em 1904 a anexação das ilhas Sacalina e da península da Coréia, depois
de derrotar a Rússia e a posterior expansão em direção ao território chinês,
tomando a Manchúria e depois, expandido em direção ao litoral chinês ao longo
da década de 1930, processo que foi ampliado com a eclosão da II Guerra Mundial
em 1939.
Desde
1937, o Japão havia começado um processo de expansão sobre o Extremo Oriente,
tomando vastos territórios pertencentes à China, além de atacar Indochina
francesa, as regiões britânicas (Birmânia
e Malásia), Indonésia holandesa e Filipinas. O expansionismo japonês ameaçava a
Austrália e o arquipélago do Havaí, o qual foi atacado em 7 de dezembro de 1941
pela aviação japonesa na base militar Pearl Harbor – portanto, um ataque direto
ao território dos EUA, que provocou sua entrada na Guerra ao lado dos Aliados.
Com
a derrota japonesa em 1945, a região transformou-se em dois países: a República
Popular da Coreia do Norte, de orientação comunista e área de influência da
URSS, e a Coreia do Sul, país capitalista e área de influência dos EUA.
O
processo de divisão das chamadas “zonas de influência” começou a ser pensado na
Conferência de Potsdam, em julho de 1945, nos arredores de Berlim, pelos
dirigentes dos EUA (Harry Truman), da
Grã-Bretanha (Winston Churchill) e da URSS (Josef Stálin), criando o ambiente
que marcaria a Guerra Fria em todo o mundo e esta situação se complicou com a
ruptura de relações entre EUA e URSS, após pesadas críticas de Truman a Stálin,
quando se lança uma ofensiva econômica com o “Plano Marshall”, e a consolidação
de uma oposição concreta pelo que ficou conhecido como “Doutrina Truman” e
neste contexto, o senador Joseph McCarthy, encabeçou a luta contra o “perigo
vermelho” aos perseguir todo envolvido ou suspeito de relação com o Comunismo,
um episódio que ficou conhecido como a “caça às Bruxas”: intelectuais,
artistas, educadores, sindicalistas foram demitidos ou tiveram seus nomes em
“listas negras” que dificultavam a obtenção de um emprego, num claro
desrespeito à liberdade de expressão, além de ocorrem prisões e interrogatórios
que buscavam “deter a ameaça do comunismo”.
A conferência de Potsdam: o mundo repartido entre os vencedores
Em
julho de 1950, tropas norte-coreanas invadiram a Coreia do Sul, cuja
resistência foi fortalecida com o envio de tropas e armas estadunidenses e com
o apoio da ONU. A Coreia do Norte foi apoiada pela União Soviética e pela
China, as quais também enviaram tropas e armas.
Depois
de três anos de conflito e quase cinco milhões de mortos, os ataques foram
suspensos por um armistício assinado em 27 de julho de 1953 entre as duas
Coreias, criando-se uma zona desmilitarizada entre as fronteiras de ambos os
países, tendo por referência o paralelo 38, com 238km de extensão e 4km de
largura. A zona desmilitarizada teve a fiscalização inicial de forças armadas
de países neutros como a Suíça e Suécia.
Em
tese, as duas Coreias estão em guerra desde 1953, mas o armistício assegurou o
fim das ações militares, apesar de eventuais atritos, entre ambos os lados,
nestas seis décadas, a tensão não voltava para um patamar tão elevado e a
dinâmica das ações envolve um novo cenário: os EUA continuam usando Japão e
Coreia do Sul como ponto de pressão contra a Coreia do Norte e seus aliados
(Rússia e China) na região, mas tudo seria muito diferente se não fosse o
intenso investimento da Coreia do Norte num projeto nuclear não-pacifista, que
tem tido progressos, especialmente depois dos 3 testes nucleares realizados com
sucesso, sendo o último realizado em fevereiro deste ano.
Outro
ponto é o desenvolvimento de tecnologia para o lançamento de foguetes para o
espaço e mísseis intercontinentais e desse modo, poderiam atingir por exemplo,
bases dos EUA ou mesmo o continente americano.
A
postura belicista e hostil da Coreia do Norte tem se transformado numa espécie
de “círculo vicioso de chantagens”, onde o regime comunista tenta amedrontar o
ocidente e seus interesses, bem como pressionar seus aliados locais (China e
Rússia) para a obtenção de recursos em alimentos e combustíveis e da suspensão
de sanções impostas pela ONU e União Europeia.
Na
opinião de muitos analistas ocidentais, aparentemente, ainda seria muito
prematuro para a Coreia do Norte ter reais condições de atingir os EUA ou suas
bases no Pacífico, e o grosso do arsenal norte-coreano, seria uma herança da
Guerra Fria, com armamentos que estariam obsoletos, como os velhos mísseis
terra-ar Scud, que foram as “vedetes” de Saddam Hussein na 1a Guerra
do Golfo(1990-91), quando sua maioria foi interceptada, evitando o bombardeio
do território de Israel, mas mesmo assim, ocorreram algumas mortes.
Diz
a sabedoria popular que “Cão que ladra, não morde”, mas que a atenção do mundo
está focada nos desdobramentos do Oriente, não há duvidas, inclusive pela
postura cautelosa que a China e a Rússia tem tratado a questão, afinal, ambos
tem exortado o diálogo e a solução diplomática, enquanto os EUA demonstram
força ao enviar seus “bombardeiros invisíveis” B-2 e também não interromperam
os exercícios militares no mar da Coreia.
Sugestões
de Filmes:
Dr.
Fantástico (Direção: Stanley Kubrick), 1964, 95min. : Um general americano acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos "vermelhos". Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial.
Jogos
de Guerra (Direção: John Badham), 1983, 114min. : Um jovem (Matthew Broderick) aficcionado por informática conecta seu micro acidentalmente ao sistema de defesa americano, controlado por um computador ultrasofisticado. O acidente provoca um estado de alerta, que pode acabar causando a Terceira Guerra Mundial.
O
Dia seguinte (Direção: Nicholas Meyer), 1983, 127min. : Década de 80. Em Lawrence, uma pequena cidade próxima a Kansas City, Russell Oakes (Jason Robards) está ocupado com seus afazeres como chefe de cirurgia do hospital local e a família Dahlberg cuida dos preparativos para o casamento da filha mais velha. Paralelamente o exército russo invade Berlim Oriental, o que cria uma crise entre a União Soviética e os Estados Unidos. Logo ambos os lados enviam seus mísseis nucleares, na intenção de vencer a guerra. Nos Estados Unidos um dos alvos é Kansas City, onde estão armazenados dezenas de mísseis nucleares.
Desde o bombardeio de centenas de milhares de civis em Tóquio, em 1945, passando pela Crise dos Mísseis, em Cuba, até os efeitos da guerra do Vietnã, o filme examina a combinação de fatores políticos, sociais e psicológicos que envolvem os conflitos armados. Com uma rica seleção de imagens de arquivo e gravações confidenciais da Casa Branca, também examina as justificativas do governo americano para uso militar da força.
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