As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

sábado, 30 de março de 2013

Tensão no Oriente: a Guerra da Coreia (1950-53)



Na última semana fomos assustados com uma notícia que saiu de 60 anos atrás: a eclosão de uma guerra na península da Coreia, envolvendo potencias nucleares e um resultado sem precedentes para a região e o mundo.

No entanto, os fatos envolvem o momento atual e o delicado equilíbrio na região do Extremo Oriente, pois o recém empossado líder supremo da República Democrática Popular da Coreia do Norte, Kim Jong-un declarou “estado de guerra” à Coreia do sul e aos EUA. Kim Jong-un é filho de Kim Jong-il (1994-2011) e neto do fundador Kim il Sung (1949-1994) e assim, ao que parece, está dando continuidade à dinastia socialista, amparada por um corpo de militares e pelo Partido dos Trabalhadores  da Coreia.

A existência das duas Coreias e deste estado de tensão é um fruto direto da II Guerra Mundial (1939-1945) e por sua vez, da Guerra Fria(1945-1991).



Antes, voltemos ao contexto de ascensão do Império do Japão e como os desdobramentos de uma política de centralização do poder no imperador abriu caminho para a formação de um império militarista e conquistador num curto espaço de tempo.

Até 1868, o governo japonês era descentralizado, sendo o imperador uma figura enfraquecida e os senhores locais (shoguns) muito bem estruturados num processo "semelhante" ao da Europa feudal, durante a chamada formação das monarquias nacionais entre os séculos XV e XVI.
Em 1868 ocorreu a chamada Revolução Meiji ou Era Meiji , que significa “Era das Luzes ou Era Iluminada” quando o imperador Mutsu-Ito centralizou o poder em detrimento do shogunato, cuja exercício do poder de fato estava calcado na ação dos exércitos de samurais (elite de militares treinados em diferentes formas de combate, dotados de um código de honra, o Bushidô, que os tornava semelhantes, em termos de comparação, aos cavaleiros da Europa medieval).

Após a substituição do poder samurai por um exército organizado aos moldes ocidentais, submisso diretamente ao poder imperial, foi responsável por um processo de abertura e ocidentalização do Japão, fator prioritário para lançar as bases da industrialização e o incentivo ao comércio e agricultura, por conseguinte, abrir caminho para o fortalecimento do poder japonês no Extremo Oriente: em 1904 a anexação das ilhas Sacalina e da península da Coréia, depois de derrotar a Rússia e a posterior expansão em direção ao território chinês, tomando a Manchúria e depois, expandido em direção ao litoral chinês ao longo da década de 1930, processo que foi ampliado com a eclosão da II Guerra Mundial em 1939.

Desde 1937, o Japão havia começado um processo de expansão sobre o Extremo Oriente, tomando vastos territórios pertencentes à China, além de atacar Indochina francesa,  as regiões britânicas (Birmânia e Malásia), Indonésia holandesa e Filipinas. O expansionismo japonês ameaçava a Austrália e o arquipélago do Havaí, o qual foi atacado em 7 de dezembro de 1941 pela aviação japonesa na base militar Pearl Harbor – portanto, um ataque direto ao território dos EUA, que provocou sua entrada na Guerra ao lado dos Aliados.

Com a derrota japonesa em 1945, a região transformou-se em dois países: a República Popular da Coreia do Norte, de orientação comunista e área de influência da URSS, e a Coreia do Sul, país capitalista e área de influência dos EUA.

O processo de divisão das chamadas “zonas de influência” começou a ser pensado na Conferência de Potsdam, em julho de 1945, nos arredores de Berlim, pelos dirigentes dos EUA (Harry Truman),  da Grã-Bretanha (Winston Churchill) e da URSS (Josef Stálin), criando o ambiente que marcaria a Guerra Fria em todo o mundo e esta situação se complicou com a ruptura de relações entre EUA e URSS, após pesadas críticas de Truman a Stálin, quando se lança uma ofensiva econômica com o “Plano Marshall”, e a consolidação de uma oposição concreta pelo que ficou conhecido como “Doutrina Truman” e neste contexto, o senador Joseph McCarthy, encabeçou a luta contra o “perigo vermelho” aos perseguir todo envolvido ou suspeito de relação com o Comunismo, um episódio que ficou conhecido como a “caça às Bruxas”: intelectuais, artistas, educadores, sindicalistas foram demitidos ou tiveram seus nomes em “listas negras” que dificultavam a obtenção de um emprego, num claro desrespeito à liberdade de expressão, além de ocorrem prisões e interrogatórios que buscavam “deter a ameaça do comunismo”.

         A conferência de Potsdam: o mundo repartido entre os vencedores

Em julho de 1950, tropas norte-coreanas invadiram a Coreia do Sul, cuja resistência foi fortalecida com o envio de tropas e armas estadunidenses e com o apoio da ONU. A Coreia do Norte foi apoiada pela União Soviética e pela China, as quais também enviaram tropas e armas.

Depois de três anos de conflito e quase cinco milhões de mortos, os ataques foram suspensos por um armistício assinado em 27 de julho de 1953 entre as duas Coreias, criando-se uma zona desmilitarizada entre as fronteiras de ambos os países, tendo por referência o paralelo 38, com 238km de extensão e 4km de largura. A zona desmilitarizada teve a fiscalização inicial de forças armadas de países neutros como a Suíça e Suécia.



Em tese, as duas Coreias estão em guerra desde 1953, mas o armistício assegurou o fim das ações militares, apesar de eventuais atritos, entre ambos os lados, nestas seis décadas, a tensão não voltava para um patamar tão elevado e a dinâmica das ações envolve um novo cenário: os EUA continuam usando Japão e Coreia do Sul como ponto de pressão contra a Coreia do Norte e seus aliados (Rússia e China) na região, mas tudo seria muito diferente se não fosse o intenso investimento da Coreia do Norte num projeto nuclear não-pacifista, que tem tido progressos, especialmente depois dos 3 testes nucleares realizados com sucesso, sendo o último realizado em fevereiro deste ano.

Outro ponto é o desenvolvimento de tecnologia para o lançamento de foguetes para o espaço e mísseis intercontinentais e desse modo, poderiam atingir por exemplo, bases dos EUA ou mesmo o continente americano.

A postura belicista e hostil da Coreia do Norte tem se transformado numa espécie de “círculo vicioso de chantagens”, onde o regime comunista tenta amedrontar o ocidente e seus interesses, bem como pressionar seus aliados locais (China e Rússia) para a obtenção de recursos em alimentos e combustíveis e da suspensão de sanções impostas pela ONU e União Europeia.

Na opinião de muitos analistas ocidentais, aparentemente, ainda seria muito prematuro para a Coreia do Norte ter reais condições de atingir os EUA ou suas bases no Pacífico, e o grosso do arsenal norte-coreano, seria uma herança da Guerra Fria, com armamentos que estariam obsoletos, como os velhos mísseis terra-ar Scud, que foram as “vedetes” de Saddam Hussein na 1a Guerra do Golfo(1990-91), quando sua maioria foi interceptada, evitando o bombardeio do território de Israel, mas mesmo assim, ocorreram algumas mortes.

Diz a sabedoria popular que “Cão que ladra, não morde”, mas que a atenção do mundo está focada nos desdobramentos do Oriente, não há duvidas, inclusive pela postura cautelosa que a China e a Rússia tem tratado a questão, afinal, ambos tem exortado o diálogo e a solução diplomática, enquanto os EUA demonstram força ao enviar seus “bombardeiros invisíveis” B-2 e também não interromperam os exercícios militares no mar da Coreia.


Sugestões de Filmes:

Dr. Fantástico (Direção: Stanley Kubrick), 1964, 95min. : Um general americano acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos "vermelhos". Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial.

Jogos de Guerra (Direção: John Badham), 1983, 114min. : Um jovem (Matthew Broderick) aficcionado por informática conecta seu micro acidentalmente ao sistema de defesa americano, controlado por um computador ultrasofisticado. O acidente provoca um estado de alerta, que pode acabar causando a Terceira Guerra Mundial.

O Dia seguinte (Direção: Nicholas Meyer), 1983, 127min. : Década de 80. Em Lawrence, uma pequena cidade próxima a Kansas City, Russell Oakes (Jason Robards) está ocupado com seus afazeres como chefe de cirurgia do hospital local e a família Dahlberg cuida dos preparativos para o casamento da filha mais velha. Paralelamente o exército russo invade Berlim Oriental, o que cria uma crise entre a União Soviética e os Estados Unidos. Logo ambos os lados enviam seus mísseis nucleares, na intenção de vencer a guerra. Nos Estados Unidos um dos alvos é Kansas City, onde estão armazenados dezenas de mísseis nucleares.

Sob a névoa da Guerra (Direção: Errol Morris), 2003, 95 min. : Narra a história militar recente dos Estados Unidos do ponto de vista de Robert S. McNamara, ex-secretário de Defesa nos governos Kennedy e Johnson (1961-68). Um dos mais controvertidos políticos americanos, McNamara, que também já presidiu o Banco Mundial entre 1968 e 1981, tenta explicar o motivo do século 20 ter sido tão violento. 
Desde o bombardeio de centenas de milhares de civis em Tóquio, em 1945, passando pela Crise dos Mísseis, em Cuba, até os efeitos da guerra do Vietnã, o filme examina a combinação de fatores políticos, sociais e psicológicos que envolvem os conflitos armados. Com uma rica seleção de imagens de arquivo e gravações confidenciais da Casa Branca, também examina as justificativas do governo americano para uso militar da força.

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