As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Trabalho, segundo Tarsila do Amaral

"Operários" Tarsila do Amaral, 1933. Palácio de verão do Governo de São Paulo, Campos de Jordão.

A condição humana, especialmente a do trabalhador, entrou como tema para a História da Arte com o pintor realista Gustave Courbet na França do século XIX.

Tarsila que era filha de cafeicultores e vinha de uma família rica da região de Capivari, estudara pintura  na Europa com os vanguardistas, como Fernand Léger em Paris, estava naquele contexto envolvida com o "aristocrata libertário", membro do Partido Comunista Brasileiro, Oswald de Andrade e dele recebera as influências do pensamento social crítico e do socialismo, trazendo para sua obra a temática social com muita força.

Nesta tela, uma pilha de rostos, cujas origens e características eram diversas, mostravam a cara migrante e imigrante da metrópole paulistana. Uma pilha de pessoas construída numa linha diagonal da esquerda para a direita, que vai crescendo e crescendo, ocupando a tela, em contraste com as chaminés que marcam o canto oposto e que naquele contexto, era o ícone do "desenvolvimento e progresso", cuspindo fumaça e fuligem no ar.

Esta pilha de pessoas, evoca uma saída de fábrica, quando um turno de centenas de trabalhadores estava saindo, depois de sua jornada, voltando para suas casas, tendo a fadiga carregada em seus distintos semblantes. Uma pilha de gente que se assemelha a uma pilha de mercadorias por eles produzidas, que nos estoques, aguardavam a distribuição e venda.

Muitas gentes, de todos os cantos, línguas e credos, que vendiam a sua força de trabalho para sustentarem suas famílias. Alguns descendentes de escravos, outros de caboclos ou de diferentes forasteiros que vieram "fazer a América". Proletários ocupantes dos bairros operários da Móoca, Ipiranga, Brás que aos poucos formavam um amplo exército, responsável pelo acúmulo de capital de algumas pouquíssimas famílias que viviam em resplandescentes palacetes como os Matarazzo, os Crespi, os Buonfiglioli, os Jafet (imigrantes que prosperaram) ou famílias que já eram da elite paulistana desde a colônia, como os Prado, Alcântara Machado, Ferraz de Vasconcelos, entre outros.

Tarsila nos apresenta um quadro que fala do trabalho, fala da potência do coletivo e de seu papel na sociedade, que se uma vez compreendido e valorizado, nas palavras finais do Manifesto Comunista de Karl Marx, poderiam explodir em reação: "Proletários de todo mundo, uni-vos"!

Um comentário:

  1. Muito legal o artigo professor, quem dera se a grande massa pudesse enxergar o trabalho que deve-se realmente ser empregado, o trabalho social, assim como o senhor que acredita e o faz com bastante maestria!

    Parabéns e continue sempre assim ajudando-nos a melhorar nosso entendimento sobre o mundo a partir dos seus grandes conhecimentos!
    Obrigado

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