A redução do poder real na Inglaterra tem seu início com a Magna Carta (1215) imposta pela
nobreza ao rei João Sem-Terra, o monarca ficava proibido de criar
novos impostos e de administrar a justiça, que passavam a ser prerrogativas
exclusivas do Parlamento, composto por nobres, burgueses e clero.
A 1ª legislação escrita do Reino inglês
A 1ª legislação escrita do Reino inglês
Significa
dizer que, na Inglaterra, o estabelecimento de um poder verdadeiramente
centralizado sempre enfrentou duríssimos obstáculos. Com as mãos atadas, os
reis ingleses foram obrigados a lançar mão de uma série de recursos para
ampliar seu poder, sendo o principal deles a perseguição religiosa deflagrada
por Henrique VIII (1509-1547) contra os puritanos (calvinistas), que lideravam
o Parlamento, e contra a Igreja Católica, grande proprietária de terras no
país. Aliás, foram exatamente os monarcas da dinastia Tudor os responsáveis
pela instalação do absolutismo entre os ingleses.
Eduardo VI, por Willian Scrots, c. 1547.
Eduardo VI,
filho e sucessor de Henrique VIII, reinou por pouco tempo (1547-1553), o que
praticamente não afetou a reforma religiosa inglesa. Mas a sucessora de Eduardo
VI, a católica Maria I, fora educada sob o rígido catolicismo da Espanha e
restabeleceu essa religião na Inglaterra, perseguindo ferozmente os
protestantes, o que lhe valeu a alcunha de Bloody Mary: “Maria, a Sanguinária”.
Maria I, por Antônio Mouro c. 1554, Museo del Prado, Madrid, Espanha.
Elizabeth I
(1588-1603), filha do segundo casamento de Henrique VIII, continuou a obra do
pai, perseguindo católicos e calvinistas que se opusessem a ela e ao seu poder.
Construiu uma frota para aumentar o poderio inglês no mar e incentivou a
pirataria, o que lhe garantiu renda para o financiamento da industrialização da
Inglaterra. Foi durante seu governo que teve início o processo efetivo de
colonização da América do Norte. Quando já tinha o respeito dos políticos e
demonstrava dominar a arte da política, o Parlamento passou a ser convocado
raramente e chegou perto de ser extinto.
Elizabeth I em trajes de coroação, c. 1559 National Galery of Portrait, Londres.
Elizabeth I em trajes de coroação, c. 1559 National Galery of Portrait, Londres.
AS REVOLUÇÕES INGLESAS
Com a morte de Elizabeth I, seu
primo Jaime Stuart assumiu o trono. Jaime I (quadro ao lado), que era escocês e católico, uniu o
trono da Escócia ao da Inglaterra e tentou impor-se como rei absoluto,
provocando sucessivos choques com o Parlamento.
Carlos I (1628-1645),
filho e sucessor de Jaime, prosseguiu a política centralizadora de seu pai,
tentando recriar antigos impostos (ship-money). O Parlamento exigiu do
rei o juramento da Petição de Direitos,
sob pena de não mais votarem a aprovação de novos impostos. O rei aceitou a
exigência e jurou a petição, mas tão logo os novos impostos foram votados e aprovados,
o monarca dissolveu o Parlamento, enganando os deputados.
O rei Carlos havia declarado guerra aos
presbiterianos (calvinistas) escoceses, pois estava determinado a impor o
anglicanismo na Escócia. Frustrado em duas tentativas, Carlos I foi obrigado a
convocar o Parlamento para conseguir verbas para a guerra. Os parlamentares,
liderados por Oliver Cromwell, recusaram-se a aprovar novos impostos e
acusaram os conselheiros do rei de alta traição. Em 1641, a Irlanda católica
revoltou-se contra a Inglaterra e o rei solicitou verbas para reprimir os
irlandeses. Diante da negativa do parlamentares, o monarca invadiu o Parlamento
e tentou prender seus líderes.
Como
resultado, iniciou-se uma guerra civil, a Revolução Puritana (1642-1649), que opôs os Cavaleiros (partidários do rei) e os cabeças-redondas (partidários do
Parlamento). Com a vitória das forças parlamentares, o rei fugiu para a
Escócia, onde foi aprisionado pelos presbiterianos e vendido ao parlamento
inglês. Carlos I foi julgado por traição e executado em 30 de janeiro de 1649.
Foi, então, proclamada a república, chamada de Commonwealth, e Oliver
Cromwell assumiu o poder com o título de "Lorde Protetor da Inglaterra".
Durante seu
governo, Cromwell (quadro ao lado) lutou contra a Irlanda e a Escócia, além das perseguições
internas. No caso irlandês, ordenou um massacre de católicos, confiscou as
terras destes e entregou-as aos protestantes. Fez tudo isso acreditando que
estaria “evitando novos derramamentos de sangue no futuro”. Entretanto, a
chamada Questão da Irlanda, se arrastou até a atualidade.
Especialmente
no século XX, com a separação da Irlanda em 1921, formando a República da
Irlanda e a articulação de um movimento armado antibritânico
encabeçado pelo IRA (Irish Republican
Army, o Exército Republicano Irlandês), cujo
objetivo durante várias décadas foi a incorporação da Irlanda do Norte à
República da Irlanda.
Apesar de toda tensão gerada por ações militares e
atentados às autoridades britânicas, a integração não ocorreu, mas em 1998
começou a ser traçado um plano de paz (Acordo de Belfast), ampliado em 2005,
que implicava na deposição das armas por ambos os lados (IRA e milícias
inglesas) para que fosse organizado um Parlamento
na Irlanda do Norte, tendo representação de católicos e protestantes e dotado de ampla autonomia. Hoje o Sinn Féin
(Partido Republicano Irlandês) é reconhecido
como um grupo político legítimo e seu líder, Garry Adams, um dos principais articuladores do
processo de paz pelo lado dos irlandeses.
Sem dúvida,
o fato mais marcante de seu governo foi a aprovação dos Atos de Navegação.
Baixados por Cromwell em 1651, tais atos proibiam a participação de navios de
estrangeiros como intermediários no comércio com a Inglaterra. A Holanda era
responsável pela maior parte dos transportes marítimos na Europa e foi
diretamente atingida pela medida. Para se ter um exemplo, Portugal utilizava
navios construídos na Holanda, mas que eram considerados
"estrangeiros" pela Inglaterra. Esse fato obrigou Portugal a utilizar
exclusivamente navios ingleses no comércio entre os dois países.
A guerra
entre a Holanda e a Inglaterra durou três anos, ao fim dos quais a Holanda
aceitou os Atos de Navegação, que permitiram a supremacia inglesa nos mares. A
morte de Oliver Cromwell em 1658 foi recebida com alívio por toda a Inglaterra.
Seu filho Ricardo não conseguiu manter o poder e foi obrigado a renunciar seis
meses depois.
Carlos II, por John Wright, c. 1661, Coleção Real Windsor, Inglaterra
O Parlamento convidou Carlos II, filho herdeiro de Carlos I, a assumir o trono, o que ocorreu em 29 de agosto de 1660, pondo fim à Republica Inglesa. Em 1679, o Parlamento votou e aprovou o Ato de Exclusão, pelo qual os católicos ficavam proibidos de ocupar cargos públicos e de usar o Habeas Corpus, medida jurídica que garante ao indivíduo proteção legal contra as detenções arbitrárias. O rei reelaborou as leis de navegação e da frota inglesa, aumentando os rendimentos da coroa, e não mais convocou o Parlamento de 1682 a 1685.
Em 1685,
Jaime II (quadro ao lado) assumiu o trono, após a morte do monarca, que era seu irmão. Educado
na França, o novo rei tentou reintroduzir o catolicismo no país, mas sua
atitude não preocupou o Parlamento, devido à sua idade avançada e pelo fato de
suas duas filhas estarem casadas com nobres protestantes. Mas, quando a segunda
esposa do rei lhe deu um filho do sexo masculino (que excluiria suas irmãs da
sucessão ao trono), batizado segundo o ritual católico, os parlamentares
ficaram inquietos e procuraram Guilherme de Orange (Stathouder da Holanda,
protestante e marido da filha mais velha de Jaime II) e pediram que ele
invadisse a Inglaterra para defender o protestantismo.
Guilherme
de Orange (quadro ao lado) assumiu o poder na Inglaterra em 1688, enquanto seu sogro fugia do
país. A transição sem derramamento de sangue ficou conhecida como Revolução
Gloriosa. O Parlamento obrigou Guilherme III a assinar a
Declaração de Direitos (Bill of Rights), na qual se comprometia a dar
tratamento preferencial à Inglaterra e exercer o poder executivo, deixando o
legislativo e a criação de impostos para o Parlamento. Nascia o
parlamentarismo monárquico na Inglaterra: cujo
poder estaria no Parlamento (exercido pelo primeiro-ministro como chefe de
governo) e o rei seria o chefe de Estado (apenas representante da nação).
Esse fato afirmava o poder da burguesia inglesa sobre o rei,
criando as condições necessárias para a Revolução Industrial. Em 1714, Jorge I
herdou o trono inglês, iniciando uma nova dinastia, a dos Hannover – a mesma
até os dias de hoje, só que com o nome Windsor, adotado por George V durante a Primeira
Guerra Mundial, que tinha o interesse de externar um claro sentimento antigermânico.
Rei George V (1910-36), neto e sucessor da rainha Vitória (1837-1901)
A atual rainha, Elizabeth II, desempenha funções públicas de diferentes naturezas, representando a nação em cerimônias locais e internacionais, mas se consolida enquanto símbolo em diferentes eventos que ocorrem no cotidiano político, como por exemplo, a abertura do Ano Legislativo, que ocorre sempre na primavera (mês de maio) e com toda a pompa para reiterar a sua condição de "cabeça da Nação".
Veja o vídeo abaixo:
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