O
tempo, dependendo do contexto, pode ser um precioso aliado ou um cruel inimigo.
No
caso das monarquias, oscilou entre um lado e outro, ora fazendo com que guerras
e revoluções derrubassem “coroas” de séculos de existência como os Bourbon na França (1589-1792/1815-1830)
ou os Romanov na Rússia (1613-1917).
Noutros casos, menos sangrentos, mas ainda assim golpistas, podemos citar a
derrubada dos Bragança do Brasil em 1889 e Portugal em 1910, ambos por golpes
de estado articulados pelos militares.
Na
atualidade, as monarquias europeias remanescentes tem buscado uma progressiva
modernização, aquilo que podemos definir como “uma lufada” de frescor e
jovialidade, varrendo as teias do conservadorismo, mas sem abrir mão da
tradição: herdeiros reais que estudaram em escolas (de elite ou nem tanto),
casamento com plebeus e abdicações que passaram cetro e coroa para a nova
geração.
Em
2011, o príncipe William, neto e 2° na linha de sucessão de Elizabeth II de
Windsor, se casou com a plebeia (sua colega da Universidade de St. Andrews, Escócia) Catherine Middleton, a qual hoje dará a luz ao 3° na linha de
sucessão de uma longeva monarquia de 15 séculos que, somente entre 1659 e 1660,
não teve um monarca reinando, pois fora o período posterior a execução de
Carlos I pela Revolução Puritana, ação que levou a ditadura republicana de
Oliver Cromwell e com a restauração dos Stuart em 1660, ficou conhecido como interregnum, isto é, entre reinados em
latim.
Em
30 de abril de 2013, a rainha Beatriz da Holanda abdicou em favor de seu filho,
Guilherme Alexandre, o 1° rei da Holanda depois de uma longa sequência de
rainhas como chefes de Estado: Guilhermina (1890-1948); Juliana (1948-1980) e
Beatriz (1980-2013). O rei Guilherme Alexandre tem 46 e é casado com a
economista argentina Máxima Zorreguieta, filha de Jorge Zorreguieta (ministro do governo
ditatorial do General Jorge Videla 1976-1981), e por conta disso, Jorge não foi autorizado a comparecer tanto no casamento da filha quanto na cerimônia de investidura da coroa.
Ontem,
21 de julho de 2013, foi a vez do rei Albert II da Bélgica abdicar em favor de
seu filho, o príncipe herdeiro Philippe, depois de reinar por 20 anos
(1993-2013) e devido à saúde debilitada e a idade (79 anos), a abdicação buscou
renovar a monarquia belga que, tem atravessado momentos difíceis, pois o
sentimento separatista tem crescido, fazendo com que a Bélgica rachasse em duas
partes: uma ao norte, Flandres região de
língua holandesa e outra ao sul, a Valônia, de língua francesa. A tensão
cresceu bastante nos últimos anos, em especial, entre 2009 e 2011, quando as
eleições parlamentares não conseguiram
eleger uma maioria absoluta ou formar uma coligação para a gestão do governo.
No
quesito busca de mudanças e rearranjos
na sociedade, o ramo sobrevivente da dinastia de Bourbon, reinante na Espanha
desde 1715, com duas deposições (1873-74 e 1931-75), foi restaurada depois da
morte do General Francisco Franco , ditador entre 1939 e 1975, com a ascensão
ao trono do príncipe Juan Carlos, neto de Afonso XIII, o herdeiro real Juan de Bourbon, o conde de
Barcelona.
Juan
Carlos foi criado na Espanha, sob a severa observação do ditador Franco, tendo
se formado em estudos militares nas 3 Armas e depois se qualificado em Direito
Político e Internacional, Finanças e Economia da Universidade Complutense de
Madrid. Sua ascensão ao trono foi desdobramento de um processo até então, não
pensado por Franco, pois seu sucessor seria o militar Luís Carrero Blanco, a
quem passara a presidência do governo em 1973, cabendo a Blanco das
continuidade ao franquismo. No entanto, um atentado à bomba assumido pelo grupo
basco ETA, conhecido como “Operação Ogro Negro” o matou, quando Blanco se
deslocava de carro para assistir a missa em sua paróquia na cidade de Madrid em
20 de dezembro de 1973. Uma carga de explosivos, instalada na tubulação de
esgotos, na rua próxima à igreja frequentada por Blanco, que repetia rotineiramente,
o mesmo trajeto. A magnitude da explosão fez com que seu carro fosse projetado
para o alto, indo parar no teto de um pequeno prédio de 3 andares.
A
morte de Blanco e a visível decadência de Franco abriram caminho para a
transição política que faria da Espanha novamente uma democracia. Em 20 de
novembro de 1975, Franco faleceu e Juan Carlos foi proclamado rei pelas Cortes
de Espanha em 22 de novembro de 1975, abrindo caminho para a Lei de Reforma
Política de 1976, estabelecendo os parâmetros constitucionais aprovada em 1978.
No
entanto, em 1981, um movimento golpista de cunho militar tentou deter a
consolidação da democracia, mas sem amplo apoio e contanto com a incisiva
atuação de Juan Carlos na defesa da Constituição e das instituições
democráticas.
Na
atualidade, a Espanha atravessa uma terrível crise financeira, com cerca de 28%
da população desempregada, medidas de austeridade que tem provocado o
sofrimento de milhares de famílias. No entanto, a casa de Bourbon não teria
adotado medidas tão austeras para seus padrões de vida, especialmente quanto ao
hobby de Sua Majestade: a caça. Enquanto alguns estavam perdendo seus lares por
inadimplência de seus financiamentos, Don Juan caçava elefantes em Botswana, no
sul da África, em abril de 2012, fora outros episódios na Romênia matando ursos
em 2004 e na Rússia em 2006.
Nos
últimos meses, o noticiário espanhol tem apontado o envolvimento de membros da
Família Real espanhola com negociatas relacionando desvio de verbas públicas e
tráfico de influência. Este foi o caso da Infanta Cristina (filha mais nova do
rei) e de seu marido, o ex-desportista Iñaki Urdangarin, que recebera o título
de Duque de Palma, preside o Instituto Nóos, responsável pelo recebimento de 15
milhões de euros em relação a contratos firmados com os governos regionais das
Ilhas Baleares e Valência.
O
clima ficou tão tenso que grupos republicanos tem se movimentado para catalisar
este momento e assim, colocar um referendo sobre a continuidade da monarquia e
outro evento simbólico foram as vaias recebidas pelo Rei durante a final da
“Copa del Rey” de basquete em 13 de fevereiro de 2013 e a outra pelos Príncipes
de Astúrias, D. Felipe e sua esposa D. Letícia, futuros reis, que entraram no Gran Teatro del Liceo de Barcelona para
assistirem a ópera “Elixir do Amor”(1832), de Gaetano Donizetti (1797-1848) em
31 de Maio de 2013. Apesar das vaias e gritos como “foteu el camp”, que em catalão significa “vão embora”, Suas Altezas
ficaram, mas sendo também aplaudidos por outros.
Vale
lembrar que em setembro de 2012, cerca
de 2 milhões de catalães ocuparam as ruas de Barcelona gritando por
“independência” e o sentimento separatista nunca adormeceu por lá e talvez, a
profunda crise que o país atravessa tem colocado na berlinda o futuro de Suas
Majestades de Espanha.
Hoje,
22 de julho de 2013, às 12:24, nasceu um menino, que ainda não sabemos os nomes
(lembrar que a realeza tem por hábito uma longa nomenclatura), mas sua família,
os Windsor e seus súditos comemoraram, com salvas de canhões e bandeiras
hasteadas, a chegada de “Sua Alteza Real”, mas não é possível prever se este
menino, terá um dia, o cetro nas mãos e a coroa sobre sua cabeça.
O
rei Faruk I, rei do Egito de 1932 a 1952, quando foi deposto por um golpe de
Estado que levou ao poder os militares, disse que: “dentro em breve, só
restarão cinco reis: o de ouros, o de paus, o de copas, o de espadas e o da
Inglaterra”.
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