Caros leitores,
Na semana passada, alguns alunos meus vieram me perguntar sobre uma "Bíblia muito antiga" (foto ao lado) recentemente encontrada (em 2000), mas que a notícia só foi revelada a pouco tempo. No entanto, ninguém tinha uma indicação precisa de onde e quem publicou. Muito bem, nessas horas, temos que buscar ajuda no "Grande Oráculo"...entendam Google, e aí achei a dita notícia, que alias estava copiada e recopiada em diferentes blogs, sites (muitos de caráter religioso) e uma breve matéria no Youtube. Um ou outro texto citava a fonte e foi justamente num destes que citava a fonte que eu encontrei um texto mais completo, que reproduzo (grifado em amarelo) e contra-argumento abaixo, buscando apontar sob a luz da História, o que teríamos de pertinente ou não nessa "novidade" de artefato encontrado.
As páginas do livro, do
século V ou VI, são de couro tratado e estão escritas em um dialeto do
aramaico, língua falada por Jesus. Suas páginas hoje estão negras, por causa da
ação do tempo, mas as letras douradas ainda possibilitam sua leitura.
As autoridades turcas acreditam que se trata de uma versão autêntica do Evangelho de Barnabé, um discípulo de Jesus que ficou conhecido por suas viagens com o apóstolo Paulo, descritas no Livro de Atos.
Autoridades religiosas de Teerã insistem que o texto prova que Jesus nunca foi crucificado, não era o Filho de Deus, mas um profeta, e chama Paulo de “Enganador.” O livro também diz que Jesus ascendeu vivo ao céu, sem ter sido crucificado, e que Judas Iscariotes teria sido crucificado em seu lugar. Falaria ainda sobre o anúncio feito por Jesus da vinda do profeta Maomé, que fundaria o Islamismo 700 anos depois de Cristo. O texto prevê ainda a vinda do último messias islâmico, que ainda não aconteceu.
As autoridades turcas acreditam que se trata de uma versão autêntica do Evangelho de Barnabé, um discípulo de Jesus que ficou conhecido por suas viagens com o apóstolo Paulo, descritas no Livro de Atos.
Autoridades religiosas de Teerã insistem que o texto prova que Jesus nunca foi crucificado, não era o Filho de Deus, mas um profeta, e chama Paulo de “Enganador.” O livro também diz que Jesus ascendeu vivo ao céu, sem ter sido crucificado, e que Judas Iscariotes teria sido crucificado em seu lugar. Falaria ainda sobre o anúncio feito por Jesus da vinda do profeta Maomé, que fundaria o Islamismo 700 anos depois de Cristo. O texto prevê ainda a vinda do último messias islâmico, que ainda não aconteceu.
O começo do texto já começa um pouco enrolado, pois cita autoridades turcas e iranianas, mas não diz quais (arqueólogos, especialistas em línguas antigas, algum grupo de pesquisa de uma Universidade, etc). Este livro foi encontrado junto de um lote de antiguidades que estavam sendo contrabandeadas da Turquia e ficou retido por bastante tempo e agora foi repassado ao Museu Etnológico de Istambul, na Turquia.
A parte mais embaraçosa do texto são as afirmações das ditas "autoridades iranianas", que tendenciosamente estariam apontando o livro encontrado como uma prova da realidade e verdade do Islã e que toda doutrina cristã não passaria de uma farsa.
Em primeiro lugar, como qualquer documento antigo, este livro deverá ser traduzido e datado para verificar seu conteúdo, origem e autenticidade.
Maomé nasceu em 570 e morreu em 632, portanto, num período posterior ao texto escrito entre os anos 400-500 e segundo a tradição islâmica teria recebido a "revelação da palavra de Allah" por volta de 610, tendo 40 anos de idade.
Chama a atenção a hipótese de "Jesus teria anunciado Maomé", uma leitura muito mais coerente com o pensamento islâmico do que com o cristão, pois para o Islã, Maomé é o último profeta, e eles então, aceitam os profetas hebreus e Jesus, mas como profetas menores, cabendo a Maomé a importância maior.
A foto divulgada da capa mostra apenas inscrições em aramaico e o desenho de uma cruz. A Internacional News Agency, diz que a inscrição na fotografia pode ser facilmente lida por um assírio. Os assírios viviam na região que compreende hoje o território do Iraque, o nordeste da Síria, o noroeste do Irã, e o sudeste da Turquia.
A tradução da inscrição inferior, que é o mais visível diz: “Em nome de nosso Senhor, este livro está escrito nas mãos dos monges do mosteiro de alta em Nínive, no ano 1.500 do nosso Senhor”.
Maomé nasceu em 570 e morreu em 632, portanto, num período posterior ao texto escrito entre os anos 400-500 e segundo a tradição islâmica teria recebido a "revelação da palavra de Allah" por volta de 610, tendo 40 anos de idade.
Chama a atenção a hipótese de "Jesus teria anunciado Maomé", uma leitura muito mais coerente com o pensamento islâmico do que com o cristão, pois para o Islã, Maomé é o último profeta, e eles então, aceitam os profetas hebreus e Jesus, mas como profetas menores, cabendo a Maomé a importância maior.
A foto divulgada da capa mostra apenas inscrições em aramaico e o desenho de uma cruz. A Internacional News Agency, diz que a inscrição na fotografia pode ser facilmente lida por um assírio. Os assírios viviam na região que compreende hoje o território do Iraque, o nordeste da Síria, o noroeste do Irã, e o sudeste da Turquia.
A tradução da inscrição inferior, que é o mais visível diz: “Em nome de nosso Senhor, este livro está escrito nas mãos dos monges do mosteiro de alta em Nínive, no ano 1.500 do nosso Senhor”.
A agência citada aparece com o nome incompleto, podendo ser qualquer agência internacional de notícias, talvez tenha sido a IRNA, a agência oficial de notícias do governo do Irã ou então, a AINA, que representaria a minoria assíria, que viveu ali onde hoje é a Turquia e Síria.
Além desta dúvida, há esta tradução que o texto nos relata como elementar, quer dizer, de fácil realização, mas se é um texto escrito em siríaco, uma língua que deriva do aramaico e hoje não é mais falada, como fazer uma tradução tão rápida??? Apelar para o Google não vale....
O Vaticano teria
demonstrado preocupação com a descoberta do livro, e pediu às autoridades
turcas que permitissem aos especialistas da Igreja Católica avaliar o livro e
seu conteúdo, em especial o “Evangelho de Barnabé”, que descreveria Jesus de
maneira semelhante à pregada pelo islã.
O relatório da Basij Press, que divulgou o material para a imprensa, sugere que a descoberta é tão importante que poderá abalar a política mundial. “A descoberta da Bíblia de Barnabé original irá minar a Igreja Cristã e sua autoridade e vai revolucionar a religião no mundo. O fato mais significativo, porém, é que esta Bíblia previu a vinda do profeta Maomé, mostrando a verdade da religião do Islã”.
O relatório da Basij Press, que divulgou o material para a imprensa, sugere que a descoberta é tão importante que poderá abalar a política mundial. “A descoberta da Bíblia de Barnabé original irá minar a Igreja Cristã e sua autoridade e vai revolucionar a religião no mundo. O fato mais significativo, porém, é que esta Bíblia previu a vinda do profeta Maomé, mostrando a verdade da religião do Islã”.
Continuando as excentricidades, temos a citação da preocupação do Vaticano, em virtude do conteúdo talvez ser coerente com a visão do Islã. Como se trata de um texto cristão, o Vaticano está interessado em seu conteúdo, porém a colocação de um grau de "preocupação" é no mínimo tendenciosa e equivocada, pois não houve uma manifestação formal da Igreja Católica, assim, aqui se levanta a teoria conspiratória de há algo escondido, um mistério misterioso...
Porém, há um detalhe que passa despercebido: a citação de um relatório da Basij Press. De onde é esta Agência? Resposta: é a responsável pela comunicação de um grupo paramilitar xiita, defensor do regime iraniano desde 1979, implantado com a Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini.
Aí, portanto, aparece a motivação para colocar em tão elevado grau de importância os "possíveis conteúdos" deste livro antigo e sua ameaça ao Cristianismo. No entanto, o que foi mais bizarro nessa matéria, que como disse acima, foi reproduzida em sites de conteúdo religioso cristão aqui no Brasil, é alguns grupos pentecostais ou neo-pentecostais tentarem usar o texto a seu favor para atacar a Igreja Católica, sem perceberem que ele ataca "todas as igrejas cristãs". Alguns diriam que foi um tiro no pé, eu acredito que foi na cabeça.
A Basij afirma que o capítulo 41 do Evangelho diz: “Deus disfarçou-se de Arcanjo Miguel e mandou (Adão e Eva) embora do céu, (e) quando Adão se virou, ele notou que na parte superior da porta de entrada do céu, estava escrito La elah ELA Allah, Mohamadrasool Allah”, significando “Alá é o único Deus e Maomé o seu profeta”.
Por fim, a tradução desta parte, profundamente tendenciosa, que seria um anúncio do Corão antes do próprio profeta e que nas portas do "céu" e não Jardim do Éden teria a inscrição acima em árabe. Muito estranho, pois o Corão não nomeia o anjo que guardou as portas do Paraíso e expulsa diretamente, Adão e Eva, sem necessitar de se disfarçar.
Moral da história: qualquer fonte deve ser analisada com rigor, seja o que for, sempre tendo a cautela de contrapor as informações presentes com outras e assim, ter uma visão melhor sobre o passado e seus desdobramentos. Um pesquisador deve interrogar suas fontes, sem confiar nelas e assim, verificar se obtém respostas para suas questões. A posição adotada nesta reportagem analisa é tendenciosa ao Islã e teleológica, isto é, o objetivo está claro desde o começo: provar a verdade do Islão sobre as outras crenças.
Como diz a sabedoria popular: "cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém". Eu acrescentaria, a boa leitura também!
Excelente matéria
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa! Muito interessante!
ResponderExcluirÓtima matéria. Gostaria de postar no Facebook porque as pessoas precipitam-se, não pesquisam, não refletem. Parecem gostar de sensacionalismos.
ResponderExcluirConcordo plenamente com seu ponto de vista em relação aos dados históricos, mas devo discordar da parte em que na tradição Islâmica o Cristo é tido como um Profeta "menor". O Islã não considera nenhum Profeta como menor ou maior, simplesmente desempenham funções diferentes para a humanidade. É obrigatório para todo muçulmano crer que é o próprio Cristo que retornará para acabar com o reinado do anti-cristo e trará paz aos homens Quanto a autenticidade ou não da tal bíblia, não acredito que faça qualquer diferença para qualquer muçulmano do mundo, pois temos mais detalhes descritivos do Cristo e da Virgem nos Islã do que os Cristão tem no Cristianismo, e de qualquer maneira a tal biblia (provando-se sua autenticidade) teria mais valor aos Cristãos. Gostaria realmente que houvesse um pouco mais de entendimento entre as religiões verdadeiras, principalmente entre Muçulmanos e Cristãos já que são parecidas..... Abraço á todos e Salam (paz)
ResponderExcluirconcordo
ExcluirMto interessante essa matéria, me fez pensar melhor sobre certos detalhes... Hj em dia é tdo mto jogado ao vento p acertar quem estiver na frente. E concordo plenamente c um dizer da colega Aisha, eu tbm gostaria q houvesse um pouco mais de entendimento entre as religiões... enfim.
ResponderExcluirMuito bem colocada a matéria
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